Ficção necessária x revolução necessária, por Carlos Ernst Dias

Ficção necessária x revolução necessária

por Carlos Ernst Dias

Comentário ao post “Pesquisa inglesa informa que brasileiros vivem longe da realidade dos fatos”, de Sérgio da Motta e Albuqueque.

“Um dos fatos de mais difícil explicação, para o sociólogo, é o caráter fictício e da vida e da produção intelectual no Brasil. Um fato tão dominante, desde o início de nossa formação até os nossos dias, não pode ser fortuito. Deve ser necessário. Deve ser resultante de fatores reais vigentes na sociedade brasileira. E a dificuldade da explicação que se deseja decorre forçosamente da sutilidade e da pouca visibilidade destes fatores”.[i]

Caros leitores, não sou um sociólogo, mas sou um estudioso das culturas brasileiras, o que torna inevitável a leitura e consultas aos conteúdos produzidos pela literatura e pelas ciências sociais. Entendo que o assunto colocado em pauta pelo Sergio da Motta e Albuquerque converge para a mesma direção apontada por Guerreiro Ramos em 1957 e para a que muitos outros autores e leitores vêm apontando aqui no GGN e em outros blogs. Quero ressaltar o seguinte trecho de Albuquerque:

A imprensa e os meios de comunicação em geral escondem do público as boas notícias. Melhor seria dizer ocultam a realidade da população. Não existe “boa notícia”, em oposição à “má notícia”. Existem interesses contrariados, ou não, pelas narrativas dos meios de comunicação sobre a realidade. No momento, no Brasil, estamos sob a ditadura da maior ação de agendamento jamais realizada pela imprensa neste país. Numa época em que estas operações pareciam coisa do passado, nossa imprensa produz e reproduz a cada dia uma falsa consciência. Não acredito nesses cenários devastadores que a imprensa publica e transmite como peste contagiosa. Principalmente quando apontam certo partido (PT) e em certo ex-presidente (Lula da Silva) como culpados de tudo de ruim que existe neste Brasil”.

Já o Leandro Fortes diz no Brasil247:

“Não é só um roteiro pronto de uma tragicomédia do absurdo, é a própria desfiguração da realidade em uma outra, distópica, onde os atores sociais se submetem aos vícios e loucuras daqueles que deveriam representá-los”. Leandro fala ainda em alegorias, enquanto o canal Curta! inicia uma série chamada Alegorias do Brasil.

Outro a questionar frontalmente a postura da Rede Globo foi o Wilson Roberto V Ferreira em “Para a Globo vingança é um prato que se come quente

E a vingança à jato é a principal arma para manter todos personagens do cenário político (não importa a posição no espectro, da direita à esquerda) na linha, dentro da narrativa que a Globo quer impor de acordo com sua logística”.

Parece haver, portanto uma mesma direção de pensamento que aponta a mídia televisiva, e em especial a Rede Globo de televisão como uma das grandes responsáveis por este fenomenal falseamento da realidade e manipulação mental e comportamental de imensa maioria da população brasileira. Esta rede de TV ultrapassou em muito os limites da ética e da responsabilidade, e vem se comportando de forma criminosa, respaldada por grandes interesses internacionais, como aqueles que agora se propagandeiam como “infraestrutura em movimento”, exibido na terça feira a noite na Globo. Acreditem, meus amigos, há inclusive uma manipulação do clima e dos dados da previsão do tempo, disfarçados naquele teatrinho cínico e falacioso exibido em belos modelitos pela Maria Júlia Coutinho! E não sou eu que o digo, vários cientistas e climatologistas já apontaram a farsa do aquecimento global e da mudança climática como fenômenos “naturais”.

É preciso que se diga, já que o Albuquerque citou também a sucessão de crises brasileiras, que a “crise” brasileira já foi percebida e combatida por ilustres sociólogos brasileiros de outras épocas, como Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos, sem falar nos grandes educadores como Anísio Teixeira, Paulo Freire, Josué de Barros e Darcy Ribeiro. Ocorre que esta produção intelectual foi espertamente apropriada ou apagada de grande parte do mapa do pensamento brasileiro pela “reforma” universitária ocorrida em 1968, a qual contou with a GREAT help from USAID, uma das inúmeras agências norte americanas que se habituaram a se infiltrar no governo brasileiro, muito além da CIA.

Consta que a biblioteca do ISEB, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros, foi destruída após o seu fechamento, ou seja, importantes avanços alcançados por intelectuais no que diz respeito ao autoconhecimento do país e de seus problemas não foram absorvidos pelas gerações seguintes, o que as privou de conhecer, de refletir e de avançar ainda mais no sentido de buscar o desenvolvimento do país. Trata-se, portanto, de um crime cultural e intelectual de amplo e longevo alcance, ainda sentido por nós brasileiros de 50 anos de idade ou menos. O que se persegue, no Brasil são a inteligência e a capacidade de sentir e de pensar o país por conta própria, independente do controle desta rede de televisão que se arroga o direito de apitar em todos os quadrantes da vida cultural e intelectual do Brasil segundo uma ótica estrangeira.

Ainda que se dê um voto de confiança à pesquisa inglesa, é importante frisar que o hábito de se entender o Brasil por lentes estrangeiras tem a mesma idade do país, ou seja, 517 anos, e que muito do que se pensou, se refletiu e se escreveu por autores brasileiros costuma ser repetidamente apagado do mapa em detrimento de leituras estrangeiras, as quais frequentemente atendem a espertos interesses de seus países de origem sobre o Brasil.

Penso, portanto, assim como o Leandro Fortes, que está na hora da revolução brasileira, como já disse o Darcy Ribeiro, na necessária revolução brasileira, para o Brasil e para o mundo. Antes de deflagrá-la, no entanto, é preciso cuidar para que a Globo e a grande mídia não se aproprie da revolução e a transforme convenientemente, como fez em 2013. Pois, como dizia o Guerreiro Ramos, o caráter fictício da vida brasileira parece ser necessário desde o início de nossa formação.

Termino citando o Darcy Ribeiro.

“A revolução necessária, colocada como tarefa histórica para o povo brasileiro, situa-se, no plano ideológico, como o desafio de amadurecer uma consciência crítica capacitada a compreender a conjuntura em que ela se desencadeará; a formular um projeto nacional realista e motivador de um desenvolvimento pleno, autônomo e auto-sustentado; e apta, ademais, para encontrar a estratégia que permita mobilizar as forças populares para enfrentar a conjura de interesses minoritários que mantêm a nação atada ao subdesenvolvimento. Esta consciência crítica revolucionária que não poderia jamais surgir como um mero produto da criatividade intelectual, está surgindo, forçada pela conjuntura presente que, calando todo pensamento livre como subversivo e reprimindo toda manifestação revolucionária, tornando-a necessária, a está fazendo possível. A melhor demonstração deste fato é a difusão, nos últimos anos, de uma postura crítica  virtualmente revolucionária, em amplos setores antes hostis a qualquer mudança. Apesar das prodigiosas máquinas de doutrinação, de suborno e de repressão ideológica montadas para erradicar todo questionamento e qualquer contestação; apesar do domínio estrangeiro, da imprensa, do rádio, do cinema e da televisão, utilizados intensamente para impor ao Brasil uma nova incorporação histórica; apesar também da copiosa produção paracientífica das instituições oficiais de pesquisa.”[ii]


[i] Ramos, Guerreiro. Meditação para os sociólogos em flor. In Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editorial Andes Limitada, 1957, p. 102.

[ii] Ribeiro, Darcy.  Os brasileiros Livro I – Teoria do Brasil, Petrópolis: Vozes, 1978, p. 165.

 

 

Redação

5 Comentários

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  1. E o que é pior, talvez a
    E o que é pior, talvez a revolução necessária venha ocorrer em uma época em que não correrá o risco de ser apropriada pela Globo, e sim por coisa muito pior, tipo Google e Facebook.

  2. E o que é pior, talvez a
    E o que é pior, talvez a revolução necessária venha ocorrer em uma época em que não correrá o risco de ser apropriada pela Globo, e sim por coisa muito pior, tipo Google e Facebook.
    A Globo condiciona.
    O Google rastreia e vigia.

  3. Ficção Necessária x Revolução Necessária

    Análise providencial, atual, quæ sera tamen. Eu também fiquei e estou incomodado com a campanha “Infraestrutura em movimento”. A campanha do “Agro” remete que a agricultura seria a maior responsável pela economia do Brasil que, na verdade representa somente 5% do PIB. Acho que a CNI ficou com ciúmes e reivindicou espaço na lavagem cerebral.

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