Governo Dilma não acabou, mostra Ibope, por Paulo Moreira Leite

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Paulo Moreira Leite

No Brasil 247

Ao examinar a visão dos brasileiros sobre 2016, uma pesquisa do Ibope estimulou profecias previsíveis em diversos Cavaleiros do Apocalipse de plantão nos tele-jornais. Compreende-se.

Para quem está empenhado em tentar demonstrar a incapacidade absoluta de Dilma Rousseff recuperar-se até o fim do mandato — melodia obrigatória para embalar o projeto de impeachment — a pesquisa deve ser apresentada como uma prova de que a paciência dos brasileiros esgotou-se e chegou a hora de mandar a presidente para casa sem muita demora.

O problema são os números. Para 50% dos brasileiros, o ano de 2016 será melhor do que 2015. Para 32%, será pior. Trata-se de um resultado claro, sem direito a tergiversações.  Embora esse mesmo índice tivesse superado os 70% no início do primeiro mandato de Dilma, é impossível negar o significado de 50% no momento atual. A queda é inegável mas alguém vai achar que era inesperada?

O levantamento mostra que as mesmas pessoas que em todos levantamentos sobre o desempenho da presidente atribuem a  Dilma os piores índices de aprovação da história das pesquisas de opinião, acham que o país pode melhorar até o final do ano.

Esta é uma grande notícia para qualquer governo, em qualquer época. Ainda mais para um país que atravessou um ano de recessão e corre o sério risco de repetir a dose em 2016, na opinião da maioria dos analistas, muitos deles simpáticos ao governo e ao PT.

Estes 50% mostram que iniciativas destinadas a melhorar a situação do país — ou pelo menos tornar o quadro menos ruim — terão acolhida junto a maioria dos brasileiros. Eles serão capazes de prestar atenção no que o governo vai dizer. Podem até acreditar que poderão  vir medidas que podem dar certo. Para eles, em resumo, o governo não acabou.

Os dados sugerem que, mesmo com a popularidade baixíssima, o governo possui uma reserva de credibilidade para agir e tentar encontrar uma saída. Isso é ainda mais notável  quando se considera o massacre permanente dos meios de comunicação contra tudo que se faz no Planalto. (Pode-se concluir, daí, que a mídia dispõe de uma credibilidade muito menor do que se costuma acreditar — mas não vamos discutir isso agora.)

A maioria de 50% a 32% mostra que a população pode não aprovar Dilma, mas não desistiu do país. Minha hipótese: isso pode acontecer porque, apesar do desastroso ano de 2015, não se perdeu inteiramente a memória das mudanças ocorridas no país.

Seja como for, os 50% dão ao governo uma margem para agir. Caso venha a atuar na direção certa, oferecendo respostas que interessam à maioria, pode-se até pensar numa recuperação de verdade.  

Esta é a questão a ser encarada, agora.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. O PT perdeu para os rentistas!!!

    Com esta política economica que está aí, qualquer iniciativa de aumento de gastos será excessivamente danosa.

    The End!

  2. Sem falar que esses números

    Sem falar que esses números não são fixos, se a economia voltar a crescer, os indiferentes, 18%, migram automaticamente para os otimistas e uma boa parcela dos 32% também deixará o pessimismo de lado.

    Ao final, o que a grande maioria quer é dinheiro no bolso, e uma melhor sensação de bem estar social, o caminho, como disse o presidente Lula hoje em entrevista aos blogueiros, o caminho é o crescimento, e em tempo de crise mundial, a solução é o consumo interno.

  3. A gente da uma envergadinha, mas não quebra

    Parece-me que podemos creditar esse otimismo para 2016 em cima da pessoa Dilma Rousseff. Pelo menos uma parte disso. Apesar do bombardeio diario da imprensa, apesar da vociferação da oposição, apesar dos pedidos de impeachment e até a ridicula intervenção militar, Dilma Rousseff tem credibilidade com boa parte dos brasileiros. Até mais que Lula, em certos estratos sociais. Vem da pessoa firme, digna e honesta de Dilma o fato de que muitos não apoiam o empeachment. A carta de Michel Temer so levou à si mesmo ao ridiculo publico, o presidente da Câmara se revelou muito pior do que acreditavamos e a pior operação para um governo de que se tem noticia, a manipulada Lava Jato, tem dado credibilidade à Dilma, ainda que a força-tarefa trabalhe dia e noite para afundar o PT.

  4. Nunca li um artigo tão

    Nunca li um artigo tão melancólico. Tão “fim de festa”. Nada se lê de segurança, apenas esperança. Não se governa baseado em esperança. Quem não governa, não governa. Simplesmente.

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