Guido e Eliane enfrentaram uma segunda morte com a perseguição da Lava Jato, por Ricardo Miranda

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Divulgação
 
 
Jornal GGN – Colunista de Os Divergentes, Ricardo Miranda publicou artigo no domingo (12) relembrando, de forma respeitosa, o calvário enfrentado pelo casal Guido Mantega e Eliane Berger por causa das perseguições da Lava Jato. O ápice dos episódios de abusos foi atingido com a ordem de prisão e rápida soltura de Mantega, há pouco mais de um ano, escancarando o “cerceamento ao direito de defesa, uma antecipação do julgamento dos acusados e uma execração pública sem limites”.
 
Na visão de Miranda, os “excessos imperdoáveis” da Lava Jato tiveram o sabor de uma segunda morte para o casal. Eliana sucumbiu ao câncer que enfrentava há anos no último final de semana. O colunista destacou que a ordem de prisão de Mantega o atingiu no dia em que sua esposa precisava enfrentar uma cirurgia em decorrência da doença. Foi o que fez Sergio Moro e demais autoridades recuarem.
 
Ao final, Miranda ainda avaliou que a despeito de todo o sofrimento, nada indica que a Justiça será feita no caso de Mantega. O ex-ministro foi acusado pelo réu e pretenso delator Eike Batista de demandar R$ 5 milhões para pagar contas do PT.
 
 
Por Ricardo Miranda
 
A morte e a morte de Eliane Berger
 
Em Os Divergentes
 
Em setembro do ano passado, a longínquos um ano e dois meses atrás, a Lava Jato, até então mais incensada do que discutida, teve um forte baque em sua credibilidade. Não foi nenhuma trama do governo Temer para liquida-la, nem projetos casuístas do Congresso buscando autoproteção. A prisão do ex-ministro Guido Mantega pela Polícia Federal, autorizada pelo juiz Sérgio Moro, quando ele estava no Hospital Albert Einstein acompanhando a cirurgia da mulher, que sofria de câncer, foi vista por muita gente como um exemplo de que a Lava Jato, sem entrar no mérito de sua origem e de seus acertos, estava se desviando da rota e cometendo excessos imperdoáveis.
 
As justificativas pouco críveis para a prisão e para a rápida soltura, horas depois, segundo criminalistas, expunham um cerceamento ao direito de defesa, uma antecipação do julgamento dos acusados e uma execração pública sem limites – e sem volta. Na época, a Polícia Federal respondeu, em nota burocrática, que a detenção ocorreu “de forma discreta”. Blogueiros canalhas postaram, em festa, que a cirurgia da mulher do petista Mantega “podia ser uma farsa para escapar da Lava Jato”. Acreditem, pesquisem no google, vão achar os autores.
 
A psicanalista Eliane Berger, mulher de Mantega, morreu neste domingo, 12, aos 56 anos, no mesmo hospital em São Paulo que foi cenário da caçada a Mantega. Casada com o economista há 22 anos, Eliane lutava desde 2011 contra um câncer no intestino. Nos últimos dias, teve piora do seu quadro de saúde e sofreu falência múltipla dos órgãos.
 
A primeira morte de Eliane, no entanto, ocorreu antes. “Guido e Eliane suportaram um prolongado sofrimento nos últimos anos, agravado por inaceitáveis manifestações de ódio e perseguição. Ela merece descanso e ele, o nosso carinho e respeito por sua dedicação ao Brasil”, diz nota, distribuída pelo PT. Na época, o ex-ministro foi acusado pelo empresário Eike Batista, em depoimento à Lava Jato, de ter pedido R$ 5 milhões para pagar dívidas de campanha do PT. Moro revogou a prisão do ex-ministro após tomar conhecimento do estado de saúde da sua mulher. Mas o estrago estava feito. Depois disso, ele nunca mais foi chamado pelas autoridades.
 
Mantega e a esposa mal podiam sair em público, mesmo antes da prisão do ex-ministro, para não serem hostilizados. Em fevereiro de 2015, correu as redes sociais um vídeo onde Mantega era agredido verbalmente dentro do hospital ao acompanhar a mulher com câncer. No vídeo, é possível ouvir frases como “não tem vergonha na cara”, “vai para o SUS” e “filho da puta”, ditas por um grupo de homens e mulheres no salão do hospital. Numa rara entrevista, em maio passado, à Folha, Mantega falou do calvário do casal. E disse esperar que “a Justiça faça justiça”. Não há nenhum sinal de que isso vá acontecer.
 
Que Eliane fique em paz.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Para acrescentar, muitos

    Para acrescentar, muitos coxinhas ainda comemoram (em silêncio enverginhado, é verdade) o calvário do casal e o desfecho de Eliane Berger.

    Não adianta, o coxinha em geral é, antes de mais nada, um sórdido.

  2. Solidariedade ao ex-ministro

    Essa forma fascista de perseguição esta muito bem demonstrada no artigo do Fernando Horte de hoje. Até quando petistas notorios serão xingados e destratados em publico? Até que se ponha fim na forma como o Judiciario e MPF estão fazendo justiçamento publico no Brasil. 

  3. Fala-se muito em juiz que usa

    Fala-se muito em juiz que usa dois pesos e duas medidas, e isso é coisa corriqueira no meio deles. Porém, das ações de Moro, essas medidas, embora usuais, são mais contundentes, porque o cara não se envergonha de ser até selvagem, se preciso, como no caso de homens como Othon, Mântega, e Lula, sem contar Dirceu, que virou mesmo um trunfo pra esse carrasco, vide o que foi feito com mãe e irmãs do ex-ministro, que nem tinham luxo, e mesmo assim foram tão miseravelmente atingidas, que nem discutimos se ele não causou a morte da velhinha, como contribuiu, a seu modo selvagem, para a morte prematura de Mariza. Em contrapartida, por que não ser afeta por seus crimes, a mulher de Cabral? Nem me refiro à prisão porque sou contra prender por prender. 

    Mântega enterra a mulher como quem enterra também sonhos pessoais, paz no coração e na alma, e até a chance de saber perdoar, porque qualquer pessoa de bem tem necessidade de perdoar para se livrar do passado. Acontece que, a ser Moro quem é, talvez aguardasse a morte da esposa para voltar a atacar, como fez com Lula. E faz.

  4. Mais uma vítima dessa

    Mais uma vítima dessa perseguição insana,

     

    o primeiro, não devemos nos esquecer foi Gushiken, a que foi difamado de uma forma vil pela midia asquerosa, e ainda há quem defenda jornalista racista e reaça, num porcorativismo sem vergonha…..

  5. Mais uma vítima dessa

    Mais uma vítima dessa perseguição insana,

     

    o primeiro, não devemos nos esquecer foi Gushiken, a que foi difamado de uma forma vil pela midia asquerosa, e ainda há quem defenda jornalista racista e reaça, num porcorativismo sem vergonha…..

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