Home office – as dores e os desafios atuais, por Ana Beatriz Prudente 

Embora seja uma atividade já exercida por muitas e que tende a se intensificar, as empresas e o departamento de Recursos Humanos devem adotar políticas empáticas

Banksy

Home office – as dores e os desafios atuais

por Ana Beatriz Prudente 

Ainda que 12 milhões de pessoas no Brasil já exercessem o trabalho remoto em 2018, segundo dados da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e de Teleatividades, estar hoje trabalhando de casa é um novo desafio. Mesmo para quem já estava habituado a esse tipo de atividade, a quarentena forçada em função da pandemia provocou uma mudança grande de rotina para todos – não só para os que trabalhavam em escritório.  Quem fazia home office com frequência e tinha seus filhos na escola, agora enfrenta uma nova realidade: crianças em casa, acúmulo de tarefas domésticas e a necessidade de equilibrar o trabalho com o auxílio no estudo dos filhos e as funções para o bom funcionamento da casa. Muitas famílias têm ainda que dividir computadores dentro de seus lares.

Assim, o home office tem sido de grande estresse e frustração, seja pela falta de estrutura, seja pelas novas condições. É necessário pensar no home office de forma mais contundente; empresas e departamentos de RH, ainda mais importantes nesse momento, devem olhar com cuidado para seus funcionários. Devem promover caminhos para se trabalhar da forma mais saudável possível. Mas, muitas vezes, a expansão do home office também tem sido um espaço de abuso, pois algumas empresas extrapolam pedidos além do horário da jornada combinada ou estipulam prazos muito curtos para retornos de atividades solicitadas. Outras, levando em consideração que não há o deslocamento, exigem que as jornadas comecem mais cedo do que o horário convencional. Essas atitudes têm sido um fator adicional de estresse para os colaboradores.

No entanto, nem todas as empresas são vilãs. Muitas organizações têm feito esforço para democratizar o acesso ao trabalho remoto, dando condições adequadas para todos os funcionários.  É preciso ter em mente que este momento é de adaptações e ajustes e nem sempre esse caminho tem sido fácil. Líderes devem compreender, entre outras particularidades, as mulheres com filhos, principalmente as mães que estão sozinhas. É necessário que as companhias entendam que em uma reunião ou vídeo conferência online, por exemplo, ela poderá estar com uma criança no colo. É preciso compreensão da maternidade. Vivemos um cansaço generalizado e, mais do que nunca, o mundo empresarial precisa adotar políticas empáticas para seus funcionários. É um momento de ajustes e nesse contexto há dores. Elas devem ser diagnosticadas e minimizadas, na medida do possível.

O que seria, então um home office ideal? Além do apoio do empregador em relação aos equipamentos adequados e a empatia para com as necessidades individuais do trabalho em casa, é muito importante que o colaborador se organize para que seja produtivo e consiga lidar com o novo cenário, de maneira menos dolorosa. Definir um local apropriado para o trabalho é um dos primeiros passos –  a mesa da cozinha, por exemplo, por mais próxima que seja de uma mesa de escritório convencional, é um lugar de grande movimentação e pode atrapalhar não só a ele, como todas as pessoas da casa. O ideal é pensar no local em que tenha menos circulação, o sofá de casa é tentador, mas não é adequado. Manter os horários habituais de trabalho, horário de começar e terminar o trabalho, também é fundamental: parar para comer, paradas para esticar as pernas, pequenas paradas de descanso. Algumas pessoas têm a tendência de querer fazer as tarefas de casa antes de começar sua jornada de trabalho e, assim, acabam ficando com menos tempo para exercer as funções do trabalho, outras querem começar cedo demais e trabalhar sem parar. Nenhum extremo é bom. É importante ter uma rotina fixa para manter o equilíbrio emocional e a produtividade.

É preciso ainda adotar a rotina que já se tinha de trabalho, ou seja, não basta levantar no mesmo horário, é necessário manter os rituais de antes: tomar café, tomar banho, tirar o pijama.  Pode-se vestir uma roupa mais confortável, mas não uma roupa de ficar em casa. Os demais integrantes da casa também precisam entender que quem está trabalhando não pode ir à farmácia a qualquer momento ou ver um filme, como se estivesse de férias ou de folga. Quem trabalha em casa precisa ter disciplina e disciplinar os demais. Lembre-se também que atitudes que não se praticam no escritório, não devem ser praticadas em casa.

Há uma tendência maior ainda, não só por conta da Covid-19, de que o home office cresça. Muitas empresas que estão adotando o home office momentaneamente, podem adotá-lo de forma mais regular em função de custos, por exemplo. Nesse cenário, as empresas vão priorizar sempre quem é mais produtivo trabalhando de qualquer lugar. É um desafio que veio para ficar, por isso, é importante que a sociedade comece a discutir o trabalho remoto e a regulamentação de protocolos mais claros para esta atividade. O home office agora ou num futuro pós pandemia não pode violentar o empregado – que continua sendo a parte mais frágil desse elo. Essas políticas são urgentes, já que mesmo quem voltar ao ambiente convencional de trabalho pode ter que realizar o home office com mais frequência.  Atividades híbridas também podem ser uma nova solução. Portanto, organizações privadas e públicas devem priorizar nessas novas configurações o respeito ao colaborador, amparando-o.

É necessário pensar nas garantias do trabalhador no home office

Depois de decretada oficialmente a pandemia do Coronavírus, as relações de trabalho foram impactadas diretamente. Como primeira medida para contenção da propagação do vírus, adotou-se o home office. Mas é preciso que trabalhadores e empregadores entendam que o home office não é o teletrabalho. No home office, a empresa não está mudando o local de trabalho do colaborador, ela está apenas colocando-o temporariamente dentro de casa. Assim, ela pode deixar de pagar o transporte destinado ao deslocamento do funcionário, mas continua tendo que pagar todos os seus direitos, como por exemplo, a limitação da jornada de trabalho, com intervalos e períodos de descanso, além de benefícios como vale alimentação, refeição, seguros de saúde, entre outros.

Já o teletrabalho tem algumas características particulares, ele surgiu com a reforma trabalhista, na lei 13.467, de 2017. Na nossa CLT, os artigos 75-A a 75-E abordam esta forma de atividade. No teletrabalho, já há uma discussão sobre a limitação da jornada, pois em outro artigo da CLT, o de número 62, consta que neste caso não haveria a necessidade de bater o ponto. No teletrabalho, o colaborador pode fazer seu horário, mas, deve combinar com o empregador previamente. Além disso, para passar do regime presencial para o teletrabalho, a nossa CLT prevê um acordo bilateral e que deve ser efetivado em quinze dias.

Outra lei, criada em 6 de fevereiro de 2020, a de número 13.979, com o intuito de tentar controlar a transmissão da Covid-19, em seu artigo terceiro diz que as faltas ocorridas na quarentena são consideradas faltas justificadas, assim o trabalhador não pode ser descontado em caso de ausência durante o isolamento.  Lembre-se ainda que tanto nos casos de home office quanto de teletrabalho, os direitos são os mesmos, em relação às férias, décimo terceiro etc.; além disso, em ambos os casos o contrato de trabalho deve estabelecer quem vai cuidar da aquisição e manutenção dos equipamentos necessários para o desenvolvimento das atividades remotas. Segundo o mesmo artigo 75 da CLT, já citado, o empregado deve assinar o termo de responsabilidade, comprometendo-se a seguir instruções fornecidas pelo empregador.

De maneira estruturada, o home office surgiu no começo do ano 2000 e cresceu de maneira exponencial por conta do desenvolvimento tecnológico. Hoje, 45% das empresas brasileiras já adotam a prática do home office, a maioria delas no Sudeste. A qualidade de vida é um dos fatores que faz com que muitos optem pelo home office. Por isso, é mais urgente ainda que se pensem em políticas adequadas e empáticas não para este momento, mas para o futuro.

Já o teletrabalho, não é exclusividade das empresas privadas, o Tribunal Superior do Trabalho foi o primeiro órgão do poder judiciário a aderir à iniciativa em 2012, como projeto piloto e hoje é exemplo de eficiência na organização, pois trouxe modernização na gestão de pessoas, inovação e acompanhou o ritmo moderno de trabalho.  Seja qual for a escolha de atividade profissional remota de indivíduos ou empresas, é fundamental que o diálogo, o respeito e a empatia estejam presentes no dia a dia e que se deem condições e direitos para todos.

Ana Beatriz Prudente é gestora de Economia Criativa, Educadora de Mulheres Empreendedoras, Ativista pelo Empreendedorismo Social com Design Thinking,  Membro da Comissão Permanente de Combate à Covid-19 da Faculdade de Educação da USP e Membro da Comissão de Cooperação Internacional da FEUSP.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador