Hora da guerra, por Maria José Trindade

Hora da guerra, por Maria José Trindade

Faça o teste. Experimente perguntar a qualquer leitor que associação imediata faz ao nome do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001). Com certeza ele fará referência ao conteúdo sensual e apimentado dos populares gabrielas e tiêtas. Eu também desconhecia a amplitude dos escritos amadianos, sobretudo os de caráter ideológico, anteriores à década de cinquenta, quando Jorge Amado manteve intensa militância política.

Um amigo de longa data despertou minha curiosidade para a leitura de “Hora da Guerra”, coletânea de 103 crônicas publicadas pelo autor, entre dez/1942 e out/1944, em O Imparcial, de Salvador. Escritas no auge da segunda guerra e da ditadura Vargas, as crônicas explicitam as inclinações políticas e libertárias do escritor. Militante comunista e antifascista ferrenho, Amado posicionou-se como inimigo de Getúlio e teve de buscar asilo político na Argentina e Uruguai, de onde só retornou em 1942, após a declaração de guerra do governo brasileiro à Alemanha e Itália.
Hoje terminei de ler “Hora da Guerra”. Em sua crônica inaugural, “O dever de Unidade”, Amado escreve:

“Esse não é o momento de levantar problemas de ordem partidária e de ordem ideológica, problemas que dividem. Esse é o momento de pôr de parte tudo que desune, de estender lealmente a mão ao adversário de ontem, para que, juntos, possamos marchar todos para a vitória contra o inimigo implacável. E só esse inimigo tem a ganhar com qualquer atitude de oposição ou de resistência à Unidade Nacional”.

Há 75 anos o escritor baiano, lucidamente, indicou o caminho. Oportuno recordá-lo.

(2017-08-27 17:13:42 -0300)

Redação

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