Imunidade tributária para templos deve ser revista

Sugerido por Edsonmarcon
 
Do Consultor Jurídico
 
Imunidade tributária para templos religiosos deve ser revista
 
Por Carlos Henrique Abrão
 
28 janeiro 2014
 
O conceito hermético constitucional sobre a ampla e irrestrita imunidade tributária dos templos religiosos e atividades congêneres precisa urgente e rapidamente ser revisto.
 
Com razão, não se justifica mais essa parafernália no modelo de expansão do neoprotestantismo e do ecumenismo cotidianos.
 
Estamos assistindo ao crescimento desmesurado de pseudosseitas religiosas, as quais mais enriquecem seus pastores do que o próprio rebanho.
 
Mas não é só, a própria Igreja Católica, sem qualquer dúvida, também quando explora atividade econômica, ou de conteúdo empresarial, igualmente sofreria tributação.

 
Os monges, quando usam suas técnicas e habilidades e vendem guloseimas e qualquer tipo de prato atrativo pelo preço de mercado ou superior, ainda que estejam provisionando os cofres da entidade, não podem ser imunes a tudo e a todos.
 
Bem de ver, portanto, que o conceito largo da imunidade fez desenvolver riquezas e obras absurdas de várias entidades, as quais competem entre si para colocar piso de mármore e outras riquezas exteriores, já que aquelas interiores estão nos bolsos de seus dirigentes.
 
Nessa percepção, o Fisco vem se mostrando sensível na radiografia e monitoramento das entidades associativas religiosas, de tal modo que o conceito constitucional utiliza o viés do templo, mas existem centenas ou milhares deles espalhados pelo país, além de livros, jornais e revistas, tudo em nome do bom pastor, no caso, o chefe religioso da seita, que blinda seu patrimônio e tudo o faz naquele em quem confia, o imposto de renda sem incidência.
 
Decodificada a natureza específica e o seu traço peculiar, não é mais admissível que a Constituição de 1988 privilegie alguns em detrimento de muitos, já que o fausto e o luxo são por conta e risco de quem efetivamente realiza a obra.
 
A imunidade plena ou alíquota zero para essas atividades não reprime os desvios e muito menos a ganância que ostentam seus líderes, mormente com rádios e canais de televisão, tudo sob o aspecto da não concorrência, já que estão, em tese, isentos ou mais fortemente imunes.
 
Não é sem razão que estados e prefeituras exigem atendimentos de regras específicas que confluam com a imunidade e não permitam que patrimônio e fortunas fiquem ao largo da tributação.
 
De modo semelhante, nas escolas religiosas, de uma forma geral, se o ensino é particular e bem paga a mensalidade, não se justifica uma autoimunidade para aqueles que, em igualdade de condições, realizam suas tarefas de caráter empresarial.
 
No Brasil a situação é ainda mais grave, pois muitos ligados às entidades pentecostais se aproveitam dos seus espaços, principalmente em redes de rádio e televisão e divulgam suas imagens para as respectivas candidaturas ao parlamento, ao custo zero.
 
Uma revolução nesse sistema equivale à completa reviravolta, de manter somente o essencial imune, mas as demais atividades complementares e paralelas tributadas.
 
Ao assistir um culto, o cidadão estaciona o seu veículo em um estacionamento que é explorado pela entidade e paga o correspondente a qualquer outro particular.
 
Catolicismos e protestantismo entraram em disputa por causa da finalidade de cada qual, mas, o que observamos nos dias atuais, é bem diferente.
 
Um bom número de entidades do novo ecumenismo ganhou corpo e disparam sua vocação ao recebimento de doações e outras interferências e, por tal ângulo, começam a acumular fortunas para compras de jornais, empresas de propaganda e marketing, fazendo do templo um comércio regado à imunidade e bastante discurso de imersão nos dogmas de doações polpudas.
 
Renascer desse grilhão significa mudar a legislação e permitir somente o fundamental, a destacada imunidade e tudo o mais que estiver em descompasso, receber o mesmo tratamento do sistema tributário para as empresas privadas.
 
Essa riqueza visível aos olhos de muitos e invisível para fins de tributação acaba gerando uma distorção de natureza da capacidade contributiva, fazendo com que os assalariados recolham mais, enquanto outros vagam pelos caminhos religiosos, sob a capa da absoluta certeza de que suas obras pertencem a Deus, e não a Cesar, no conceito jurídico tributável, com o que não podemos simpatizar.
 
Carlos Henrique Abrão é desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo.
 
Revista Consultor Jurídico, 28 de janeiro de 2014
Redação

10 Comentários

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  1. a) A maior parte dos pastores

    a) A maior parte dos pastores são pessoas pobres;

    b) A maior parte das igrejas são de comunidades, onde os membros são os mais pobres,

    c) O fim da imunidade tibutária recairá sobre estas pessoas que fazem um grande trabalho em suas comunidades;

    d) Esse desembargador estudou nos melhores colégios e nunca deve ter ido em Heliópolis ou em São Miguel Paulista e deve ter estudado nos melhores colégios;

    e) A cobrança de impostos para os templos, incitará intolerância religiosa por parte de muitos políticos que isentará as religiões amigas ou punirá todas as religiões pois são instituições que enganam o povo como pensam alguns, inclusive deste site.

    Me admiro você que é um batalhador contra a intolerância religiosa defender um absurdo deste. 

    1. a) É o famoso ditado, os

      a) É o famoso ditado, os justos pagam pelos pecadores;

      b) Faltou a justificativa por que devem ser isentos;

      c) Faltou também apresentar quem deve ser isento.

  2. Parabéns ao Desembargador, é

    Parabéns ao Desembargador, é importante que figuras públicas e do Direito se manifestem a respeito dessa palhaçada que não mais se convalida com os tempos atuais.

    Pena que a bancada religiosa e a covardia do PT jamais deixaria isso entrar em discussão no Legislativo.

  3. isso não vai dar em nada, e

    isso não vai dar em nada, e materia escrita por um ateu, e propagada por outro!  não tem repercussão e o grupo não tem força!

    a bancanda evangelica que apoia o governo em troca de concessões de radio e TV barram isso facilmente!  se o governo tivesse a minima vontade nesse assunto não se aliaria com esse grupo ultra-conservador!

     como eu disse isso é materia do bloco do eu sozinho, nem perca tempo!

  4. Absurdo!

    Se existem religiosos que se aproveitam da imunidade tributária para captar fortunas pessoais que sejam combatidos, pois isso é ilegal.

    Mas o fim dessa imunidade inviabilizaria, por exemplo, centros espíritas, que não possuem sacerdócio profissional, e a duras penas conseguem manter suas sedes. Sem falar da imensa maioria de pequenas comunidades evangélicas e católicas que também sofrem aperto econômico.

    Realiza-se desonerações tributárias para aumentar artificialmente o consumo, perde-se dinheiro que é de todos, e surgem as “soluções” mágicas.

    O correto seria aumentar o imposto sobre o consumo, diminuir o imposto sobre investimentos, e deixar o que é sagrado isento. Felizmente, o povo reagirá contra qualquer proposta antirreligiosa.

  5. Ulderico, o que é e o que não

    Ulderico, o que é e o que não é sagrado? Está evidente, até mesmo pelos comentários, que há religiosos que consideram o dindin sagrado. Então como ficamos?

  6. Arapucas

    Só perto da minha humilde residência existem OITO arapucas que enganam os mais humildes e lhes surrupiam os parcos recursos.Ontem descobri mais uma,se chama “ministério do calvário” (?).Seus pastores(?) desfilam em carrões  que são comprados  com isenção fiscal.O pior é que acreditam que DEUS seja surdo.

  7. O Banco do Vaticano é um

    O Banco do Vaticano é um exemplo disso com seus escândalos financeiros. Com tantas seitas oportunistas quie tiram a credibilidade de algumas igrejas, em cidades do interior a maioria das lojas está nas mãos de pastores. São bons de negócios, às vezes tem duas ou mais lojas no mesmo lugar. Só não sei como vai ser calculada a riqueza real desses bons negócios. Pelos 10% de cada fiel? Muitos deles vivem de biscates. Pelo IR do doador? Pela superexposição de riquezas dos pastores? Mas já que tudo virou negócio, vale ainda  a mensagem do’ a Deus o que é de Deus e a Cesar o que é de Cesar’.

  8. Como sempre, neste país onde

    Como sempre, neste país onde a injustiça fincou raízes, generaliza-se uma questão delicada e muito complexa. Por causa daqueles que abusam e enriquecem, vão pagar milhares de associações religiosas que não têm a mínima condição de pagar os tributos mencionados. Porque não cobrar apenas daqueles que PODEM ? O que vai acontecer na prática, é que os grandes impérios daráo seu “jeitinho”, burlarão o fisco como as grandes empresas fazem. Aos pequenos e sérios grupos religiosos, nada restará senão fechar. Isto na prática vai gerar é mais uma CONCENTRAÇÃO, desta vez no campo religioso, onde apenas os poderosos permanecerão. É a cara do Brasil.

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