Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Infeliz Ano Velho, pior 2020 ou Fora Bozo ou Expiação da Inveja, por Armando Coelho Neto

Selfie de picanha talvez fosse um bom título para esse texto, que tem como eixo o exibicionismo incentivado pela TV Globo

Infeliz Ano Velho, pior 2020 ou Fora Bozo ou Expiação da Inveja

por Armando Rodrigues Coelho Neto

A TV Globo não toma vergonha. Ela que sempre desprezou o avanço social, viveu a serviço da ditadura de 1964 e apoiou o golpe de 2016, teve que, no passado, por meio da voz necrófila de Cid Moreira, ser obrigada a ler sentença em favor de Leonel Brizola, a quem difamou, caluniou.

Ela, que nos tempos da ditadura, ao invés de divulgar a alta da inflação, enganava o povo divulgando a alta dos rendimentos da poupança, nunca teve escrúpulos.

A TV Globo que mentiu sobre as “Diretas Já”, mostrando o evento como se fosse comemoração do aniversário da cidade de São Paulo, sempre foi mesmo sórdida.

Ela, que transformou em pedrada uma bolinha de papel atirada no então candidato José Serra, não cria vergonha, mesmo!

A TV Globo, cujos pecados fiscais não se sabe ao certo (Cadê o Darf?), que transforma acusações vis em sentenças irrecorríveis, que durante anos perseguiu o ex-Presidente Lula, provoca náuseas. Símbolo do jornalismo instrumental do sistema, covarde, serviçal e raivoso, ignorou a morte do jornalista Paulo Henrique Amorim – seu ex-funcionário, durante a retrospectiva 2019. Mas, enalteceu Gugu Liberato (homem da banheira pornô).

Como pioneira do escândalo da Escola de Base, que ajudou a quebrar uma escolinha infantil e aniquilar reputações dos proprietários, não toma tenência. Ela, sabuja que transformou em herói um encantador de burros, o qual ajudou a derrubar nossa nascitura e esquálida democracia, não se emenda. Ela, que editou o debate Lula x Collor, ela sempre ela vil e contumaz – cuja capivara interminável não cabe nesse esboço, se revela como crime contra a humanidade.

Formou um povo que levou à Presidência da República, alguém que entrará para a História como estrume.

Ela, sempre ela, que infernizava a vida dos brasileiros sugerindo: não compre, estamos na bancarrota, o Brasil sucumbiu e que de forma incessante fazia comparativos sobre “o pior dado da contagem história” disso e daquilo… Ela que anunciava o “pibinho” de 2% por meio de seus abutres, comemora zero vírgula sabe-se lá do quê. Ela, que escandalizava o dólar a R$ 1,99, gasolina a R$ 2,90… Ela, sempre ela, que confundiu Lua com Lula de tão impregnada de maldade… Ela, a Globo, resolveu divulgar pesquisa sobre o aumento das vendas nos festejos de final de ano, com base em pesquisa que não se deu ao trabalho de aferir. Quem fez? Por quê? No interesse de quem? Ao que consta, não existiu.

Eis que, nesse contexto, após percorrer a derrocada da Democracia, um idiota querendo fechar o Supremo Tribunal Federal com uma Kombi e um soldado, de ver uma legião de desempregados se transformarem em camelôs perseguidos pelas polícias e fiscais municipais, a Globo noticia a boa nova. Feliz, claro, por que um de seus repórteres finalmente foi recebido por aquele que se diz presidente do Brasil. Para mim, portanto, que como cidadão, temo, como hipótese, por um pior 2020, constato apenas de concreto um Infeliz Ano Velho.

Nesse mesmo contexto, um amigo me pergunta se não seria esse o mais infeliz Natal/Ano Novo dos últimos tempos. Disse que não, obviamente, por que para mim o Natal mais infeliz foi o do golpe de 2016; da prisão de Lula; do ano em que se pretende reformular cláusula pétrea da Constituição por meio de Lei Ordinária ou por projetos de leis ordinários – no sentido vagabundo, elaborado com a ajuda de um ex-juiz golpista, em conluio com um ex-advogado do Primeiro Comando da Capita (PCC). Some-se a eles uma trupe de arruaceiros que perderam a noção civilizatória, se é que algum dia a tiveram. Gente que não entende o sentido da palavra Estado (que tem como meta o bem comum).

Meu amigo, nesse contexto de infeliz ano velho, lembrou o papel das redes sociais. Destacou como vai ser difícil para as pessoas se exibirem no Facebook, sobre os critérios do se mostrar bem aos olhos do outros. Chegou a brincar sobre os anúncios de pessoas que se prontificaram a alugar picanha para que pobres pudessem aparecer “bem na fita”. Selfie de picanha talvez fosse um bom título para esse texto, que tem como eixo o exibicionismo incentivado pela TV Globo, tema que nos reporta à inveja, elemento motriz sem o qual não se estimularia o consumo desnecessário.

Sim, posso entender o processo dinâmico de se manter uma economia ativa. Mas, há controvérsias não comportáveis para o momento.

Lembro, pois que, não necessariamente com essas palavras, a escritora Melanie Klein diz que ciúmes é querer não perder o que se tem. Cobiça, seria querer o que a pessoa não tem. Inveja, na visão dela, seria querer que o outro não tenha.

Como ciúmes são sentimentos gratuitos de Moro e FHC para com Lula, deixo um pouco de lado. Volto às artimanhas da TV Globo no desenvolvimento da cobiça, a cobiça gratuita. Aquela por meio da qual a tal emissora estimula o desejo (por meio de toda sua grade televisiva), incentivando o consumo até mesmo daquilo que as pessoas não precisam.

(Se há uma necessidade primária do ser, é provável que todos queiram ser. Se para ser, é preciso ter, todos querem ter para ser, ainda que não necessariamente dentro da lei. Mesmo assim, não se vê nisso relação objetiva entre criminalidade social e busca do ser).

Passo batido pelo ciúme (Moro/Bozo) e entro direto na inveja, não sem registrar a inveja-classe-média, que para não se sentir empobrecida no sistema que defende, não quer a ascensão do pobre.

Pulo para a inveja que se expia por meio das redes sociais. A autoimagem sedimentada pela Globo de que todos devem parecer bonitos no Instagram, felizes no Facebook, inteligentes no Twitter, ocupados no Linkedin e originais no WhatsApp.

Penso, pois, na minha incessante luta contra a corrente, como resgatar vínculos com familiares, “amigos” no contexto do ódio, que ela, a Globo, ajudou a construir e hoje prova do próprio veneno.

Sim, nesse contexto de esperança que a liberdade de Lula inspira, reconheço como tal esse Infeliz Ano Velho. Ainda que as projeções sejam de um pior 2020, meu Fora Bozo com a expiação da Inveja possa resultar em algo diferente. Que pelo menos a TV Globo tome vergonha!

Armando Rodrigues Coelho Neto – Jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

4 Comentários

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  1. A crise fabricada, pelos servos da plutocracia burguesa, que se abateu sobre todo o povo brasileito, como toda crise, entre as perdas gerais, enseja algumas oportunidades. Uma delas, com certeza, seria deixar de criticar os reflexos e os sintomas, como a GLOBO, por exemplo, e tudo de nefasto que em torno dela orbita, e passar a identificar e combater as causas do Mal que se alastra e se banaliza entre nós. O Mal é, e sempre foi, nos últimos duzentos anos, o CAPITALISMO. Destarte, o sonho de um 2020 melhor, pode-se iniciar com um esforço coletivo para conscientização das pessoas de quem, ou o que, é o inimigo comum e que em poucos anos esse inimigo passe a ser combatido por meios e formas adequados até que seja eliminado e varrido da face do planenta Terra.

  2. Excelente texto do Armando Rodrigues Coelho Neto!
    A GLOBOSTA É TUD0 ISSO E MUITO MAIS…

    Lembrando o Fernando de Morais é importante ressaltar:

    “As Organizações Globo e a família Marinho são inimigas do Brasil e dos brasileiros e assim devem ser tratadas.”

  3. A globo é uma prostituta de luxo. Quem tiver mais grana leva.
    Então, concordando parcialmente com um leitor acima que a identificou (a globo) como consequência e não causa, sugiro que identifiquemos corretamente a cafetina.
    Quanto ao artigo, é sempre redentora a oportunidade de ler algo do Armando Rodrigues e fico cada vez mais decepcionado com a ineficácia de Dilma que não pensou no articulista quando montou ou reformulou seu ministério.
    Armando seria o personagem perfeito para o ministério da justiça. Não apenas por (me perdoe) ser uma raposa felpuda quando se trata dos bastidores da pf, mas, e principalmente, por sua coragem.

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