Inflação negativa não é bom sinal, por Sergio da Motta e Albuquerque

Inflação negativa não é bom sinal

por Sergio da Motta e Albuquerque

O governo Temer anuncia a deflação em junho deste ano como se fosse um grande avanço para a economia, uma nova direção para um “país desgovernado”, como vociferam os atuais ocupantes do poder. As grandes emissoras de TV acompanham a festa, e comemoram o que muitas vezes, como no nosso caso, deveria ser visto como produto de “recessões severas acompanhadas de alto desemprego”, explicou com razão a página da Agência Brasileira de Notícias (7/7).

Acertou na mosca. Nosso caso é semelhante ao Grego, e não deve ser comemorado. A deflação é uma queda generalizada nos preços e serviços produzidos em uma economia em um determinado período de tempo. Ela pode acontecer, como no nosso caso, por baixa de preços provocada por falta de capacidade de pagamento da população. Com as vendas em queda, o cidadão evita o consumo e o empreendedor é obrigado a baixar os preços.

Se a situação persiste por meses, a economia entra em estagnação. Mas as emissoras e sites da chamada “grande imprensa” continuam a saudar “ a menor deflação desde 1998” (G1 da Globo, 20/7). A memória da imprensa hegemônica é curta e oportunista. Como andava nossa economia em 1998? Naquele ano, o mundo vivia o impacto da crise do sistema financeiro dos países emergentes do sul da Ásia, como Coréia do Sul, Tailândia e Malásia em 1997. Além do impacto da crise Russa no ano seguinte. No Brasil, o governo de Fernando Henrique Cardoso havia acumulado dois grandes desequilíbrios: o das contas públicas e do setor externo. Havia endividamento do setor público, e baixa competitividade do produto nacional no mercado internacional. O real estava sobrevalorizado para enfrentar a situação interna e a crise internacional (“A Crise Brasileira de 1998-1999”, maio, 2000, BNDES).

A semelhança com o nosso atual momento é notável. A grande diferença são as nossas substanciais reservas internacionais, acumuladas após os dois mandatos de FHC. O real anda muito apreciado – além da realidade trágica de nossa economia – e só se mantém graças ao  poder do nosso mercado interno e do salário mínimo, valorizado após a subida de Lula ao poder em 2003. E das nossas reservas. O governo atual ainda não conseguiu derrubar totalmente a média dos salários pagos aos nossos trabalhadores, mas está prestes a fazê-lo. A atual administração baila e comemora, irresponsável, sobre as conquistas de outras administrações. Se esta deflação persiste e se a população não voltar a consumir – e não está na lógica deste governo estimular o consumo agora- vai haver a estagnação da economia provocada por uma queda acentuada na demanda.

Fundação Astrogildo Pereira, em 2016 (22/6) avisou sobre o perigo da queda no consumo da população, em um país em que a produção industrial é de apenas 22,7% do PIB e possuiu um mercado consumidor interno forte. A população parou de comprar, não anda a confiar neste governo e não há sinal algum de melhora real em nossa economia. Ela parece caminhar para o caos, como em 1999 e a crise da depreciação do real. Que FHC, em 1998, havia prometido não desvalorizar. Era ano eleitoral.

Redação

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  1. “Naquele ano, o mundo vivia o

    “Naquele ano, o mundo vivia o impacto da crise do sistema financeiro dos países emergentes do sul da Ásia, como Coréia do Sul, Tailândia e Malásia em 1997.”

    Crise disparada, resssalte-se, pelas inconfidências de ministro da Malasia em confessar as fragilidadesde seu país a um agente da agiotagem de nome Armínio Fraga, que repassou de imediato ao patrão George Soros… que não perdeu tempo: quebrou a Malasia e daí saiu quebrando todo mundo.

  2. É que nem temperatura do

    É que nem temperatura do corpo humano. Quando você está com febre, você toma antitérmico e procura um médico. Se você tiver com hipotermia, com 35 graus, você tem que ir rapidamente a um médico, porque você está correndo risco de perder a vida. Só que nossos analistas, por ideologia ou interesses ou as duas coisas, deixam batida esse ciclo de deflação em que o país entrou. EStamos com um pé e 8 dedos numa depressão econômica – e não há nos manuais de economia uma terapêutica pra você tirar um país com 210 milhões de pessoas de uma depressão econômica. A coisa mais parecida foram os EUA dos anos 30 – que só se recuperou de vez da depressão graças à segunda guerra mundial. O New Deal do Roosevlet evitou que o país implodisse, mas não resolveu a depressão econômica em si. E é mais fácil haver uma terceira guerra mundial do que um Roosevelt caboclo rss. 

  3. E como Meireles está

    E como Meireles está maquiando a defalação? Com um inflação artifícial com o aumentos dos impostos sobre combustíveis.

  4. Deflação é consequência da
    Deflação é consequência da recessão brutal. E a imprensa bate palmas, e o governo arrocha mais ainda as contas públicas porque o que importa é a meta do déficit. Ai alimenta a recessão que diminui mais ainda a arrecadação que inviabiliza a meta de déficit. E o governo então arrocha mais orçamento…
    É uma espiral descendente. Quando mais rápido o avião vai caindo mais o piloto vai serrando as asas pra diminuir o peso. Ate nao ter mais asas….

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