Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Jilmar Tatto e o extravio petista, por Aldo Fornazieri

A pesquisa do Ibope confirma a injustiça que vem sendo cometida contra Tatto por setores do PT. Na verdade, Tatto é vítima de dois equívocos e de um preconceito.

 Filipe Araujo/Divulgação

Jilmar Tatto e o extravio petista

por Aldo Fornazieri

Deste o início dos debates sobre as eleições municipais sustentei algumas posições que reafirmo aqui. A primeira delas é que seria um equívoco dos partidos de esquerda subordinar suas decisões e escolhas para as disputas municipais à lógica da formação de frentes. O argumento pró-frentes partia do pressuposto do enfrentamento ao fascismo, essas coisas todas. Duas razões explicam o equívoco desta tese: 1) não há nenhuma necessidade objetiva de formar frentes a não ser onde os interesses locais a determinem, pois, nas eleições municipais, há uma pulverização de adversários, na sua maioria, de centro-direita e não de candidatos ideologicamente bolsonaristas, de extrema-direita fascistizante; 2) O momento das eleições municipais é o momento específico da construção partidária e do fortalecimento dos partidos. É o momento em que os partidos precisam otimizar seus interesses.

O segundo ponto a reafirmar, diz respeito à disputa em São Paulo. Foi indicado que, do pouco de certeza que havia, a única coisa mais provável era a ida de Covas para o segundo turno. Esta afirmação foi feita antes da campanha começar. Trata-se de uma simples análise da conjuntura. O que define as tendências de uma eleição municipal é se a conjuntura é de conservação ou de mudança. O ponto de referência é sempre a gestão e a avaliação do governante, no caso, do prefeito. Há um claro equilíbrio entre a avaliação positiva e negativa da gestão Covas. Este fator é determinante para a passagem dele para o segundo turno. Como Covas e Russomano têm o mesmo perfil político e ideológico, a tendência seria a de Russomano espirar em prol de um candidato da esquerda, com maiores chances para Boulos.

No artigo da semana passada, antes da pesquisa do Ibope, disse que a candidatura de Jilmar Tatto estava sendo injustiçada e que se atribuía ao candidato o patamar de 1% de intenção de votos. O elevado grau de extravio de petistas se expressa na exigência de estabelecer prazos para a decolagem da candidatura e na disseminação da perigosa tese da retirada da candidatura na reta final se Boulos tiver chance de passar para o segundo turno. É uma proposta de autodestruição do partido. A pesquisa do Ibope confirma a injustiça que vem sendo cometida contra Tatto por setores do PT. Na verdade, Tatto é vítima de dois equívocos e de um preconceito.

Antes, os equívocos. O primeiro equívoco é a tese da frente – a tese de que ele deveria abrir mão em favor de Boulos, já que Boulos aparece em melhor posição. No processo de definição das candidaturas não havia, e não há, nenhuma justificativa racional e razoável para que Tatto e o PT abrissem mão da candidatura para Boulos, assim como não havia e não há justificativa para que Boulos e o PSol abrissem mão da candidatura em favor do PT. Nem em São Paulo e nem no Rio de Janeiro. Os partidos devem assumir as consequências de suas escolhas. E propor abrir mão na reta final em favor de quem aparece melhor nas pesquisas é desconhecer como funciona a política, a lógica dos partidos e o orgulho das pessoas.

O segundo equívoco é o de que Tatto seria um candidato ruim, por duas razões: porque é desconhecido e porque não teria uma boa imagem (aqui está o preconceito). Excetuando Haddad, Tatto é o melhor candidato que o PT poderia ter, sem demérito para Padilha e para Zarattini. Nem um e nem outro é muito mais conhecido do que Tatto. Tatto tem a vantagem de ser, dentre os três, o que mais tem a mostrar em termos de experiência de gestão municipal e em termos de realizações: ocupou duas vezes a Secretaria dos Transportes e foi Secretário do Abastecimento. Esta experiência agrega a ele uma vantagem sobre os outros.

Quem conhece o PT internamente não pode negar que há um preconceito contra Jilmar Tatto, justamente onde precisa ser visto um mérito: o seu trabalho de base junto aos setores populares, de periferia. Nas disputas internas do PT, as correntes com inserção maior nas camadas médias têm disseminado preconceitos contra a base popular de militância da família Tatto. Isto tem feito com que parte dos petistas das classes médias migrem para a candidatura Boulos.

Dito isto, com a ressalva de que há uma forte tendência de Covas passar para o segundo turno, pode-se afirmar que a segunda vaga está em aberto, com forte tendência de Russomano espirar. A pesquisa espontânea do Ibope, que é mais fidedigna em relação à estimulada, mostra que 40% dos eleitores ainda não definiram o candidato.

Na espontânea, Covas aparece com 13%, Russomano com 10%, Boulos com 9% e Tatto com 2%. Tatto foi o que mais cresceu na estimulada, 3 pontos, seguido por Boulos, 2 pontos. Mas Tatto cresceu mais no eleitorado de Russomano: eleitores de renda mais baixa e nos evangélicos. Boulos vem mostrando uma dificuldade de crescimento neste segmento. Se a tendência é a de Russomano espirar, a candidatura de Tatto torna-se estratégia, seja para levar Boulos para o segundo turno, seja para o próprio Tatto passar para o segundo turno.

A candidatura de Boulos corre dois tipos de riscos: 1) o risco de não ser capaz de encontrar uma tática correta para crescer nos segmentos mais populares, tirando votos de Russomano; 2) o risco de uma arrogância típica das esquerdas quando vivem um bom momento e julgam que alcançarão os céus.

O maior desafio de Tatto é fazer-se conhecido e reduzir o antipetismo – algo que a direção burocrática do partido vem negligenciando desde 2015. Até para reduzir o antipetismo a  candidatura de Tatto é importante.

Boulos foi muito bem na entrevista ao Estadão quando afirmou que não vê o PT como adversário. O PT e Tatto também não podem ver Boulos e o PSol como adversários. Cada lado deve fazer seu jogo, construindo uma nova relação de respeito entre os partidos de esquerda. Os inimigos são Covas/Doria e Russomando/Bolsonaro. Esta nova relação pode ser um degrau muito importante para construir alianças e frentes no futuro, quando condições propícias e necessidades políticas e estratégicas surgirem.

Boulos, Tatto e Orlando Silva podem e devem ser artífices do lançamento dos alicerces de uma nova relação entre as agremiações de esquerda, pautando-se pelo respeito mútuo e pela ênfase do que há em comum entre as candidaturas. Afinal de contas, os três pertencem a facções diferentes e um mesmo partido, o partido orgânico do povo, no dizer de Gramsci. O que este partido precisa agora é da construção da sua unidade orgânica nas lutas e na visão de mundo, na construção de um projeto estratégico, respeitando as nuances de cada fração e as singularidades de cada grupo e de cada movimento.

Se estes objetivos e se esse respeito forem estabelecidos, os eleitores de esquerda e do campo progressista – os eleitores do PCdoB, do PT e do PSol – terão a sabedoria de fazer a escolha certa na reta final do primeiro turno, levando um candidato das esquerdas para o segundo turno.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (Fespsp).

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

20 Comentários

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  1. “O elevado grau de extravio de petistas se expressa na exigência de estabelecer prazos para a decolagem da candidatura e na disseminação da perigosa tese da retirada da candidatura na reta final se Boulos tiver chance de passar para o segundo turno. É uma proposta de autodestruição do partido. A pesquisa do Ibope confirma a injustiça que vem sendo cometida contra Tatto por setores do PT. Na verdade, Tatto é vítima de dois equívocos e de um preconceito.”

    Aldo, tomara que o PT leve a candidatura do Tatto até o final!!!

    https://noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2020/10/18/o-pt-segue-firme-rumo-ao-fim.htm

  2. “O maior desafio de Tatto é fazer-se conhecido e reduzir o antipetismo – algo que a direção burocrática do partido vem negligenciando desde 2015. Até para reduzir o antipetismo a candidatura de Tatto é importante”

    A cada vez mais famosa “burocracia do Partido Dos Trabalhadores” vai MORRER torcendo, suplicando para que os donos da comunicação os tratem como postulantes legítimos ao poder. Podem fazer o textão que quiserem, sao autistas, 40 anos nessa e nao aprendem. A fascistada rapidinho aprendeu a usar a internet, e tá dando de 7 x 1 na guerra cultural. Assumiram até a cabeça de chapa do bloco reacionário.

    Enquanto isso…

  3. Nosso drama mais importante é que enfrentamos um pensamento conservador que é tão antigo quanto o Brasil… em 1985, quando tivemos uma greve que paralisou a cidade e envolveu várias categorias de trabalhadores, a cidade elegeu o conservador Janio Quadros… há um divórcio perigoso entre os movimentos sociais e a disputa política e eleitoral… a tarefa do PT é diminuir (e eliminar essa distância)… a candidatura de Jilmar Tatto é a que melhor pode nos ajudar a enfrentar esse desafio…

  4. Os melhores políticos do pt estão, vários, no RGS, Bahia, Minas e outros estados e foram expurgados do partido pela obediência doentia que o partido tem no Lula, que não pode ver qualquer ameaça ao seu prestígio e hegemonia administrativa, de direção. O centralismo de estilo estalinista (antes tivesse a ideologia do Stalin) afastou e permitiu até que se criassem partidos concorrentes na esquerda com a perda, aqui também, de seus melhores quadros. Hoje o que resta na direção do pt, além do Lula, velho e ressentido, com um ressentimento e amargura que não interessa politicamente a ninguém, só à recuperação de seu amor próprio, é a loirinha burra da Gleise, cuja obediência servil ao Lula causa vergonha alheia.

  5. A lição que fica é que não bastam símbolos partidários, isso só vale para a militância, para o povão, é preciso que haja um líder de verdade: e Guilherme Boulos é um líder.
    Jilmar Tatto é vítima dos próprios erros do PT, 14 anos no poder sem uma lei de comunicação que evitasse esse preconceito arquitetado pela direita, o PSDB, o fascismo e a Globo. O PT precisa pensar em novas estratégias, mas a principal é a de saber se comunicar: volte às periferias e monte lá seus comitês do partido para lidar diretamente com os cidadãos.

  6. Do ponto de vista das virtudes eleitorais, o prof. Fornazieri acerta ao afirmar que Zarattini e Padilha não se destacavam de Tatto ao se comparar com o potencial de recall de Haddad que preferiu se preservar para 2022.
    Mas se eram semelhantes os que disputavam a vaga de candidato, então o que explica a série de facada nas costas que o vitorioso levou da direção partidária? O que explica o abandono de intelectuais históricos e artistas (ainda que fora de SP e até no exílio europeu) para o apoio do PSOL?
    Não há dúvidas que Jilmar Tatto é petista. Não esconde como outros candidatos a estrela nem o vermelho da bandeira. Talvez por não negar os símbolos a classe média de esquerda o rejeite.
    Mas há um outro fator na construção deste preconceito e que ajudou a Tatto ser vitorioso no processo partidário de escolha de candidato do PT. Tem a ver a qual petismo ele se formou. E que mentalidade brasileira historicamente ele representa.
    A sociedade desde os anos 80 se urbanizou. O PT foi se construindo nas lutas sociais e sindicais. O êxodo no campo inchou as periferias das capitais do sudeste e a Igreja Católica não atendeu a demanda por opção ou pela própria crise interna que em São Paulo dividiu o poder poĺitico e administrativo liderado por D. Arns.
    Há quem diga que o camponês tem duas almas: uma conservadora e uma revolucionária. Os séculos XIX e XX registraram mais revoluções camponesas que operárias.
    Tatto pode combater o antipetismo, sem abandonar os simbolos do petismo, pois é isso mesmo que o povo da periferia espera: o brasileiro não troca de time, mas não vai ao estádio para apoiar time com jogador perna-de pau mercenário que não divide a bola. Portanto já estamos no segundo tempo, mas o jogo não acabou.
    O risco de perder SP para Russomano/Bolsonaro não é pouco. Confiam demais nas suas analises racionais quando os tempos só confirmam as doideiras. Há risco de divisão da Nação brasileira, nem falo de desmonte do Estado. Uma vitória bolsonarista unira geograficamente RJ ao Sul protestante. Irlanda do Norte e do Sul. É o alerta que faço. O Nordeste (e MG + Norte) ainda está longe de trocar de religião.
    O PSOL e a classe média petista não poderão enfrentar, combater e triunfar sobre este problema não por serem identitários, não. Se eles morassem ou trabalhassem nas periferias isto somaria ao esforço de barrar o obscurantismo. Seu problema é que são ateus e se recusam a dialogar sobre o assunto. Ok respeitamos.
    Tatto não é padre, teólogo …ele é o que é.
    E é 13!

  7. “2) o risco de uma arrogância típica das esquerdas quando vivem um bom momento e julgam que alcançarão os céus.”

    Ora, ora, ora mas é o sujo falando do mal-lavado.

  8. Sua campanha não é p ganhar e sim fazer o seu nome e talvez manter os 30% de petista,não tem a menor vontade de captar os desejos de mudanças da esq. no pós golpe é mais do mesmo,tá na cara,só faz média,na derrota já imagino as manchetes,SP REJEITA O LULISMO/PETISMO,alguém precisa dar algum tipo de reset aí ou deixa pra próxima fazer o quê(aprender com os erros)
    Obs.;Na campanha em sua última semana,colocar as palavras,psssiu,não falem pra ninguém,votem no pt e sejam felizes de novo(isso irá despertar as pessoas!)

  9. Muito boa a análise do Fornazieri. Já cansei de ouvir que a esquerda deveria fazer frentes de um único candidato nestas eleições municipais, mas os argumentos do Fornazieri (e do Gustavo Conde) são muito melhores.

  10. Esse Fornazieri deve sofrer do fígado. Na minha opinião, só dá palpite infeliz. Conheces, realmente, o opositor ou estas “na onda”, ou… és mesmo do cntra?
    Imprescindível a leitura pra refrescar a nossa memória!
    Texto brilhante e preciso de Yuri Carajelescov
    “Hoje acordei meio nostálgico, com saudade daquele Psol que chamava o Lula de gângster e dizia que o PT era uma quadrilha ou que no auge do julgamento do mensalão, com o Joaquim Barbosa e a Globo massacrando o PT dia após dia em horário nobre, ainda exigia a autoimolação de petistas pelas redes sociais.
    Sabe aquele Psol que metia a louca e junto com a FIESP, o DEM e o PSDB votava contra a prorrogação da CPMF e tirava 400 bilhões do SUS só para ferrar o Lula ou passava o primeiro turno das eleições presidenciais fustigando o PT para aparecer bem no Jornal Nacional e no segundo turno lavava as mãos, soltava que PT e PSDB eram iguais e subia para Visconde de Mauá para recarregar as energias? Saudade do Plínio se derretendo pelo Serra contra o Haddad em 2012.
    Por onde anda aquele partido que enchia o peito para dizer que “não ia ter Copa” e que não era apenas por 20 centavos ou que no auge do golpe de 16, numa manobra diversionista manjada, se recusava a unir forças nas ruas e bradava que “Dilma era indefensável?” Saudade de um tempo em que ainda não era moda falar que a esquerda precisava se unir.
    Escafedeu-se o partido que fechava com Freixo e com os neonazistas da praça Maidan na Ucrânia ou que segurava faixa em homenagem ao juiz Marcelo Bretas e demais lavajatistas?
    E por falar no Freixo, sinto falta também daquela época que, segundo ele, havia uma parte do PSDB não alinhada ao Dória que era “conversável”, mas que para isso seria preciso abandonar a bandeira “Lula livre”, que “não agregava”. Saudade da Luciana Genro incensando a Lava Jato.
    Esse Psolzão raiz não morreu, só está estrategicamente homiziado no quartinho dos fundos, longe do gabinete do amor, que é a versão atualizada do “Lulinha paz e amor de 2002″. Agora andam por aí fingindo curtir o Lula para atrair umas ovelhas desgarradas da classe média lulista. Lançaram até um candidato parecidinho com o Lula dos anos 80 para despertar a memória afetiva da galera. Pois é, parece que a lógica eleitoral se impôs. Saudade, enfim, daquele povo sincerão que dizia “nossos sonhos não cabem nas urnas”, que mandava beijos de luz e odiava o Lula, a Dilma e o PT.”

  11. Eu também sou avesso à ideia de frentes de unicidade perpétua na esquerda, pois apaga o pluralismo, o que talvez seja a característica mais importante dos progressistas contemporâneos: aceitação e diálogo com os diversos e diferentes. Contudo, as “condições de temperatura e preção” da sociedade parecem pedir movimentos amplo com unidade perceptível, contra a pulverização que tanto tem prejudicado no campo da tática (no sentido de Lênin) [vejamos o enfraquecimento dos sindicatos, ataques aos grandes movimentos sociais, golpe nos povos originários…]. Ainda, abrir mão da candidatura agora, na reta final, parece que seria outro erro tático, maior ainda.
    Assim como não há patrão bom ou ruim, afinal patrão é patrão neste sistema, também não existe candidato bom ou ruim: cada candidato, neste sistema cumpre seu papel. Logo, Tatto não é um candidato ruim, nem Boulos, nem os energúmenos da direita.
    E, no tocante às injustiças contra o PT, contra o Lula: óbvio. Quanto ao risco de acabarem com o PT: não vão. Quanto ao antipetismo criado e viabilizado em especial na grande mídia, uma das melhores formas de combatê-lo parece ser, quando voltar ao poder, porque vai, fortalecer-se nas bases e negar-se aos riscos das políticas de coalisões (conchavos), tão presentes na política tupiniquim. Afinal, parece um contrassenso ter se aliado a ruralistas, ao setor financeiro e, entre outros, ao Antônio Carlos Magalhães (puts) e ao Temer, e agora, neste momento, não ter tido habilidade tática para uma frente mais forte com os seus mais próximos, o que praticamente eliminaria “o risco de uma arrogância típica das esquerdas quando vivem um bom momento e julgam que alcançarão os céus”.
    As possibilidades de alianças (não gosto deste termo, prefiro frente, mas não quero fugir do assunto) não deveriam ser eternamente estudadas para um futuro, deveriam ter sido estudadas no passado, e talvez o presente não fosse tão aterrador para a população. As alianças são possíveis no presente, são desejáveis, necessárias.
    Estabelecer respeito é um dos fundamentos dos campos progressistas. Ter sabedoria… É urgente, com ou sem frentes, estabelecer articulações, colocar as táticas em prática e ter firme em mente a estratégia e fundamentalmente, nunca, nunca parar o trabalho de base.
    É claro que esta é só a minha humilde opinião, sujeita a fracassos, erros e, assim espero, muitos aprendizados. Forte abraço, camaradas. Ninguém solta a mão de ninguém.

  12. Eu também sou avesso à ideia de frentes de unicidade perpétua na esquerda, pois apaga o pluralismo, o que talvez seja a característica mais importante dos progressistas contemporâneos: aceitação e diálogo com os diversos e diferentes. Contudo, as “condições de temperatura e preção” da sociedade parecem pedir movimentos amplo com unidade perceptível, contra a pulverização que tanto tem prejudicado no campo da tática (no sentido de Lênin) [vejamos o enfraquecimento dos sindicatos, ataques aos grandes movimentos sociais, golpe nos povos originários…]. Ainda, abrir mão da candidatura agora, na reta final, parece que seria outro erro tático, maior ainda.
    Assim como não há patrão bom ou ruim, afinal patrão é patrão neste sistema, também não existe candidato bom ou ruim: cada candidato, neste sistema, cumpre seu papel. Logo, Tatto não é um candidato ruim, nem Boulos, nem os energúmenos da direita.
    E, no tocante às injustiças contra o PT, contra o Lula: óbvias. Quanto ao risco de acabarem com o PT: não vão. Quanto ao antipetismo criado e viabilizado em especial na grande mídia, uma das melhores formas de combatê-lo parece ser, quando voltar ao poder, porque vai, fortalecer-se nas bases e negar-se aos riscos das políticas de coalisões (conchavos), tão presentes na política tupiniquim. Afinal, parece um contrassenso ter se aliado a ruralistas, ao setor financeiro e, entre outros, ao Antônio Carlos Magalhães (puts) e ao Temer, e agora, neste momento, não ter tido habilidade tática para uma frente mais forte com os seus mais próximos, o que praticamente eliminaria “o risco de uma arrogância típica das esquerdas quando vivem um bom momento e julgam que alcançarão os céus”.
    As possibilidades de alianças (não gosto deste termo, prefiro frente, mas não quero fugir do assunto) não deveriam ser eternamente estudadas para um futuro, deveriam ter sido estudadas no passado, e talvez o presente não fosse tão aterrador para a população. As alianças são possíveis no presente, são desejáveis, necessárias.
    Estabelecer respeito é um dos fundamentos dos campos progressistas. Ter sabedoria… É urgente, com ou sem frentes, estabelecer articulações, colocar as táticas em prática e ter firme em mente a estratégia e fundamentalmente, nunca, nunca parar o trabalho de base.
    É claro que esta é só a minha humilde opinião, sujeita a fracassos, erros e, assim espero, muitos aprendizados. Forte abraço, camaradas. Ninguém solta a mão de ninguém.

  13. Espero estar errado, mas minha impressão é que a esquerda desunida não vai mitigar o antipetismo e nem vai ganhar nada, ou seja, não vai ter nem uma coisa nem outra.

  14. O objetivo maior do PT não é salvar o país, mas salvar-se a si mesmo… Quanto arrogância e autocentramento. E vamo que vamo! À espera do retorno de Dom Sebastião em 2022…

  15. Li e aprendi com a lúcida e ponderada análise do prof. Fornazieri. Qualquer partido, seja a inclinação política que tenha, não pode abrir mão da construção permanente de sua representação na esfera municipal. É esta que dá densidade e serve de alavanca para a representação no cenário estadual e federal. Sem estrutura de representação local o resto não se viabiliza de forma expressiva e sem isto não há sustentação local. Lógica elementar.
    Quanto ao abandono à candidatura Tatto acredito que a razão não dá amparo a atribuir-se como causa principal as dissenções internas do PT. O principal fator é que, como produto, Tatto tem pouco apelo e, por conseguinte, baixa penetração de mercado. No jargão, não gira. Em que se reconheça seus méritos pessoais e capacidade para o cargo, falta-lhe carisma que inspire, motive e seja visto como uma liderança. Covas também não. Chegou onde está herdando posição, colado a Dória que é outro ponto fora da curva advindo da conjuntura “desses tempos estranhos”. Mas, simbolicamente, por estar sentado na cadeira de prefeito, representa a figura do líder. Já Boulos é líder, tem todas as características e as atitudes, logo, inspira e motiva. Por isso, aposto em Boulos e Covas no segundo turno.
    Quanto ao PT, penso já passar a hora de parar de bater ou desferir “fogo amigo” e reconhecer o vigor e a resiliência demonstrados nesses últimos 6 anos. Qual outro partido brasileiro que já suportou ou suportaria, sem desmelinguir-se e desaparecer na poeira da estrada da política, tamanho massacre?

  16. Bom dia. Algo que aprendi nas soporíferas aulas de Direito [mormente Constitucional] e pelo que entendo o que seria um partido: um verdadeiro [partido] não abdica, não se exime da luta, não “cede a cadeira”; visa ao poder. Não se trata de mero acordo de camaradagem; é bem mais profundo. A política como um processo, não um fim ensimesmado, impõe aos partidos expor e vender suas ideias. O segundo turno tem a função de filtro ideológico. A ele acorrem os vencedores da filtragem (assim o deveria), e, a partir daí, da vontade do eleitor, escolher-se-ia o mais sintonizado com os anseios dos eleitores.
    O que propõem alguns articulistas, alguns de renome e conhecedores dos escaninhos políticos, felizmente contrapostos por Aldo e poucos mais cientes, é flagrante desrespeito à convenção do partido (PT) e ao candidato escolhido.
    Em tempo: complexo fazer política [séria], no Brasil. Enquanto há essa corrente antidemocrática, sem tato (trocadilho intencional!), sem eira nem beira, a candidata à prefeitura, por Fortaleza, Luiziane, é solenemente ignorada pelo Governador, que se diz do PT, mas apoia candidato de outra legenda. Não vi uma réstia de protesto contra essa ignomínia. O quê podemos fazer pelo processo?

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