#Libertem Assange, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Julian Assange tinha o direito de publicar fatos relevantes que chegaram ao seu conhecimento. Mas ao fazer isso ele revelou ao público que a liberdade de imprensa havia sido sequestrada por militares

#Libertem Assange

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Desde a guerra do Vietnan, os militares dos EUA aprenderam uma lição: a verdade é um inimigo terrivel. A cobertura livre das atrocidades cometidas contra civis vietnamitas predispos a população americana, contra a guerra.

Ao estudar as causas da derrota no Vietnan o Pentagono percebeu duas coisas: que os jornalistas apunhalaram os militares americanos pelas costas (Hitler dizia que a Alemanha havia sido apunhalado nas costas pelos judeus); que em tempo de guerra a imprensa não pode ser livre.

Na primeira Guerra do Golfo eles mantiveram a imprensa distante dos combates e inundaram a TV com imagens produzidas pelos armamentos que eles usaram. Na segunda Guerra do Golfo os militares dos EUA autorizaram jornalistas engajados nos batalhões e controlados por militares.

Assange provou duas verdades incomodas: que os militares dos EUA mataram jornalistas não engajados e cuidadosamente esconderam a verdade sobre crimes que não haviam sido divulgados pelos jornalistas engajados. Ele colocou em risco a estrutura que foi imaginada e colocada em ação para garantir que as Forças Armadas dos EUA possam empregar a violência militar sem sofrer qualquer tipo de controle pela população norte-americana.

É fato: a limitação da liberdade de imprensa passou a ser tratada como a “arma não letal” que possibilita aos soldados usar seus armamentos letais sem o temor de serem abandonados pela opinião pública ou eventualmente responsabilizados por crimes de guerra que forem cometidos:

“Ao contrário dos conflitos armados ocorridos durante a ‘Idade do Aço’ , cujos resultados finais foram obtidos, em geral, por meio do embate das forças armadas no campo de batalha; nas guerras pós-industriais, a vitória tem sido alcançada basicamente no ambiente informacional, de acordo com a percepção da opinião pública acerca dos fatos e dos pormenores que os cercam.

Dessa forma, operações de combate ofensivas e defensivas devem estar intimamente associadas a intensas campanhas de comunicação estratégica  e serem conduzidas simultaneamente a operações de estabilidade e apoio, contrainsurgências, ações de assistência humanitária  e medidas de garantia da lei e da ordem.” (A guerra na era da informação, Alessandro Visacro, Editora Contexto, São Paulo, 2018, p. 126/127)

Julian Assange tinha o direito de publicar fatos relevantes que chegaram ao seu conhecimento. Mas ao fazer isso ele revelou ao público que a liberdade de imprensa havia sido sequestrada por militares e que a versão militar dos fatos foi transformada numa “arma não letal”. Não só isso, ele mostrou que os jornalistas não tem obrigação nenhuma de atuar como agentes do esforço de guerra norte-americano. Esses foram os verdadeiros crimes  militares que Assange cometeu.

O problema: divulgar a verdade não é e não pode ser considerado um ato antijuridico nem mesmo no injusto sistema legal dos EUA. Portanto, Assange não deve ser deportado pela Justiça inglesa.

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