Lula imperdoável, por Sergio Saraiva

O ódio a Lula como uma doença oftalmológica do homem cordial brasileiro: miopia política de fundo emocional.

Lula imperdoável, por Sergio Saraiva

A XP Investimento publica mensalmente uma pesquisa de avaliação do governo. O público alvo dessa pesquisa são as classe-média e alta brasileiras. Basta, para perceber isso, ver o perfil da amostra: 66% dos que responderam têm mais de 35 anos, 63% têm ensino superior ou médio e 49% ganham mais do que R$ 2.078,01.

Para termos de comparação, a pesquisa nacional por amostra de domicílio contínua do IBGE – PNADc – out2019 – identificou que 60% dos brasileiros tinham renda muito inferior – de até R$ 928,00. Sabemos, pela pesquisa, que as classe-média e alta estão infelizes e pessimistas quanto ao seu futuro próximo – 74% acreditam que sua situação financeira vai ficar de como está para pior, e 45% acreditam que suas dívidas vão aumentar e aumentar muito. Reflexo das reduções salariais e da economia paralisada por conta do COVID-19 e da quarentena.

Em função disso, há um quadro interessante nessa pesquisa, é o questionamento sobre quem o entrevistado considera ser o responsável pela situação econômica atual. É a resposta é: O culpado é o Lula. Nada menos do que 38% dos que responderam à pesquisa consideram os governos do PT – Lula e Dilma – como os responsáveis pela situação atual da economia. Isso apesar do PT não ser mais governo há 4 anos – ou seja, tempo de um mandato inteiro, pelo qual passaram dois outros presidentes: Temer e Bolsonaro.

Em relação a Lula, a aversão é ainda mais extremada, 26% – o maior coeficiente individual – disseram a XP que o ex-presidente é o responsável pela situação atual da economia. Porém, por vários motivos, isso não tem base factual – inclusive quanto ao tempo. Lula deixou o poder em 2010. Uma década não foi o suficiente para apagar Lula do coração das nossas classes dominantes. Bolsonaro – o atual presidente, desde 2019 – nunca esteve tão mal avaliado e, mesmo assim, somente 19% o responsabilizam pelo estado atual da economia. Menos do que os que não responsabilizam a ninguém – 20%. O que dizer de algo assim? Que se trata de uma avaliação emocional – as classe-média e alta odeiam Lula. E isso lhes basta. Ocorre que, pela maturidade e pela escolaridade desse estrato da nossa sociedade, era de quem se esperaria uma análise racional. São também os mais ricos – sabem ganhar dinheiro. E seria de esperar que seriam, portanto, também capazes de análises situacionais mais apuradas. Seriam nossa “elite pensante”. Não são – respondem emocionalmente, quando o objeto é Lula.

Nada a surpreender – trata-se do homem cordial brasileiro. Sempre capaz de odiar.  

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – em algum lugar sempre em frente e à esquerda.

Redação

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