Mani Pulite explica a Lava Jato, e a Lava Jato desmistifica Mani Pulite, por Rogerio Maestri

Mani Pulite explica a Lava Jato, e a Lava Jato desmistifica Mani Pulite

por Rogerio Maestri

Por volta dos anos 90 o juiz Giovanni Falconi fazia uma rigorosa enquete e luta contra a Máfia Italiana, mais precisamente a Cosa Nostra, e surpreendentemente há em 23 de maio de 1992 uma ação que rompia com a tradição secular modo de operação desta organização criminosa. O juiz, a sua esposa e mais membros da escolta são assassinados com 200kg de explosivos colocado numa autoestrada e acionado por controle remoto. Logo após outro juiz italiano, Paolo Borsellino, é morto por explosivos em 19 de julho de 1992.

A morte violenta e cinematográfica dos dois magistrados que investigavam uma verdadeira organização criminosa, com ramificações tanto com a política como com o meio empresarial, comove a Itália, pois é evidente que a ação teve participação como executantes a Cosa Nostra italiana e vários políticos estavam envolvidos com esta.

Com esta ação fez a população italiana reagir com vigor, fazendo com que partidos políticos expulsassem membros envolvidos com esta organização criminosa e editassem leis duras e muitas delas consideradas anticonstitucionais, a operação mãos limpas, que se configurou claramente após a morte destes dois juízes, atingiu tanto a política como a economia italiana.

Pulando duas décadas, se começa em Curitiba, sem morte de nenhum juiz, sem a existência de uma organização criminosa secular, como a Cosa Nostra, uma operação em que um deslumbrado promotor mostra com ênfase a existência de uma organização criminosa que ele monta através de uma apresentação de Power Point, onde há uma combinação entre o “Capo di tutti capi” e os políticos envolvidos durante mais de uma centena de anos são os mesmos do que os mafiosos.

Como diz claramente Marx primeiro capítulo de O 18 de Brumário de Luiz Bonaparte: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.” (Nota: É esta a origem da frase atribuída a diversas pessoas com diversos textos semelhantes), e parece que o início das operação “Mani Pulite” e “Lava a Jato” tem início diferente, no lugar de uma verdadeira tragédia grega, que é a primeira, a segunda começa como uma Ópera Bufa.

A diferença principal das duas operações no início, é que a tragédia real do assassinato dos juízes, é substituída por uma tragédia fabricada do domínio da corrupção pelo Partido dos Trabalhadores, ou seja, enquanto na Itália se matou cinematograficamente os juízes, a apresentação do Power-Point de Deltan Dallagnol, pretendia substituir uma apresentação de vídeo por centena de anos de assassinatos e domínio da política Italiana pela Máfia. Começando por aí o grande erro, enquanto a Máfia italiana sempre protegeu e financiou a direita e atacou principalmente movimentos operários de esquerda, a suposta organização criminosa brasileira, tentava proteger os movimentos de esquerda e tinha origem nos movimentos operários de esquerda. Ou seja, desde a origem das duas operações, uma é tragédia e outra é ópera bufa.

Um segundo ponto que tem alguns aspectos convergentes entre as duas operações foi que o endurecimento da jurisdição italiana, como exemplo, os chamados aprisionamentos 41-bis (26 de julho de 1975), tiveram origem anterior a operação “Mani Pulite” em 1982 com o juiz Antonio Di Pietro, este juiz lança em 1988 um partido liberal (l’Italia dei Valori) que em 2009 atinge seu ponto máximo de representação (8%) nas eleições para o parlamento europeu. Nas eleições de 2018, mesmo estando fundido com uma série de pequenas organizações, não chega a atingir 1% nas eleições. Da mesma forma, os governos pós 64 fazem uma série de leis que além de endurecer as condições carcerárias, criam condições para a sua própria perseguição posterior.

O terceiro ponto que dá uma falsa impressão de semelhança entre as duas operações, é que enquanto o clamor popular contra Máfia, principalmente por seu carácter claramente direitista da organização criminosa, era real e não precisava de uma imprensa para cria-lo. A imprensa serviu de apoio, enquanto no Brasil a imprensa não foi um apoio, foi o principal sustentáculo de um movimento pequeno burguês que foi insuflado e desmistificado mesmo durante as manifestações por fotos verdadeiramente escandalosas como a do pai e da mãe indo para a manifestação com uma babá, devidamente fardada, carregando os filhos dos manifestantes. Mais uma vez aqui, a tragédia se contrapões a ópera bufa.

Seria possível descrever mais uma série de coincidências notáveis entre a tragédia “Mani Pulite” e a farsa “Lava Jato”, porém para todos os crimes sempre há a pergunta básica: A quem serve o crime? E é na resposta a esta pergunta que está a verdadeira correlação em 100% entre as duas operações. A entrega do Petróleo, no caso italiano, a privatização da Ente Nazionale Idrocarburi (ENI), e no Brasil a Petrobras, as duas empresas de petróleo e as maiores empresas dos respectivos países. Outra ação foi a destruição de outras empresas importantes nacionais, como a enigmática fusão entre a Fiat e Chrysler (que andou faliu e foi recuperada com dinheiro do contribuinte norte-americano), que de única notícia importante foi a venda da verdadeira “joia da coroa” a Ferrari para uma empresa holandesa que nem existia antes da venda. Além das joias da coroa a Itália perdeu uma imensa quantidade de empresas de grande e médio porte, causando desemprego em massa e desindustrialização do país. Por outro lado, a operação “Mani Pulite” conseguiu o que a “Lava a Jato” ainda não teve êxito, a destruição dos partidos brasileiros, principalmente porque esta última sempre se negou a levar a diante a destruição do PSDB.

Logo a partir das consequências das duas operações, entrega do patrimônio nacional, desindustrialização do país e destruição do sistema partidário, é possível montar de trás para frente a origem das duas operações a influência do capital norte-americano nos negócios internos dos dois países. algo que ainda é obscurecido em parte pelas “Mani Pulite” mas que ficou escrachado pelas próprias manifestações dos norte-americanos, que como o Brasil faz parte do seu quintal, eles ficam mais à vontade e quando vão saltar na piscina terminam mostrando as partes do corpo que deveriam estar encobertas.

 

Redação

8 Comentários

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  1. A Itália hoje não passa de um

    A Itália hoje não passa de um coadjuvante de Alemanha e França. Sua função principal é servir hoje de barreira contra a multidão desesperadas de refugiados que tentam entrar na europa. O Brasil vai pro mesmo declínio italiano e com um agravante = hoje o presidente do Peru renunciou por um escândalo da oderbrecht. Em toda américa latina a oderbrecht e outras empreiteiras, que representavam o brasil forte, hoje viraram minas enterradas no solo – e que podem ou não explodir conforme a habilidade dos políticos locais. No Peru explodiu. Ou seja, hoje a América Latina e a África, que viam o Brasil como parceiro, nos vê como leprosos. Bilhões de dólares evaporados e um trabalho de hércules para refazer a imagem – se é que virá um dia ao poder um governante que queira isso – e não fazer do país um paraisão fiscal. 

  2. Um contraponto

    Meu chará de sobrenome Maestri: li seu comentário em minha publicação “Lula em pratos limpos”, onde fiz a analogia da Lava-Jato e a operação italiana (nenhuma novidade além dos detalhes que procurei destacar). Respondi-o, mas como a página do GGN estava há muito aberta no meu pc, quando enviei o comentário ele simplesmente sumiu. Teria que atualizar a página antes de escrever porque ela estava como offline. Não sabia e ia me dar um trabalho danado escrever tudo de novo, pois não foi nada tão “suscinto”…

    Para surpresa minha, acompanhei suas duas últimas publicações sobre a mani pulite. O Diego Fusaro conheci por um post aqui mesmo do GGN (não lembro se foi você mesmo quem publicou), e gostei muito de um vídeo mais longo onde ele trata do tema. É uma boa cabeça pensante. Vou procurar arrumar um tempo para colocar as legendas no vídeo que você traduziu. Trabalho importante!

    Em relação a essa publicação que agora utilizo para escrever meu comentário, faria uma breve consideração: o atentado contra os políticos iltalianos pode ter servido de catalizador para a ação. Mas não se deve esquecer que a máfia não foi sequer tocada com a Mãos Limpas. Igualmente aqui, fala-se tanto de lavagem de dinheiro (como o fato inusitado de a OAS ter servido de laranja de si própria no negócio do triplex, num “crime de lavagem de dinheiro sem dinheiro” – palavra literal do desembargador revisor do processo) e o que se vê é a entrada da gangue associada ao mercado financeiro, este sim o lavador nato de dinheiro, principalmente do tráfico de drogas, que serve, no atacado, para dar liquidez ao sistema financeiro, por natureza entrópico. Uma ação diversionista como qualquer ação imperialista. E nisso não devemos deixar de considerar grupos internacionais dentro e fora dos EUA. Resumir tudo como jogada americana é sempre um truque retórico. O braço armado do império não é o seu cérebro.

    No mais, Fusaro para mim é cirúrgico ao apontar para a falha do suposto consenso pós-1989. Nisso há muita história e que devemos recontar. Sem esse burro consenso, não subiria a dinastia Bush ao poder e teríamos a farsa das duas guerras no Iraque e a farsa maior, o 11/09. Sem a janela de oportunidade aberta (e não aproveitada) em 1989, não se compreende o 11/09, assim como a oportunidade de continuação de um sistema internacional mais justo como proposto por Roosevelt no pós-guerra não pode ser compreendido sem o verdadeiro golpe de morte que foi para a cultura política norte-americana o assassinato de JFK. Desse evento ao que ocorreu com as Torres Gêmeas é toda uma nova história que precisa ser contada, para além das versões tradicionais da imposição de uma nova ordem mundial (na verdade, uma fala de Bush pai logo depois de eleito), ou Consenso de Washington, a partir de Thatcher e Reagan. Deve-se compreender, nesse tema, a continuidade orgânica dos governos de Bush Jr. e Obama. É o mesmo grupo, os ultraliberais ou o partido da guerra, que se revezam na insensatez e no respeito mútuo, como entre Hillary Clinton e o republicano John McCain.

    Ver a Lava-Jato em conjunto com a Mãos Limpas é ver, acima de tudo, o mundo de ponta-cabeça.

    1. Obrigado pelas observações, elas complementam…..

      Obrigado pelas observações, elas complementam o texto trazendo coisas que não pensei no momento mas poderiam ser agregadas perfeitamente ao texto.

  3. Caro Maestri, sempre

    Caro Maestri, sempre denominei de “Mani putane” a operação da força tarefa da CIA operando em Curitiba e comandada desde Washington. Tal qual prostitutas, servidores públicos brasileiros entregaram-se aos braços do imperialismo (não só americano, mas tambem seus tentáculos pelo mundo, especialmente na Europa) para propiciar-lhes não só gozo e prazer como tambem para assaltar a soberania do Brasil.

  4. Muito bom, ai o diferencial

    Muito bom, ai o diferencial do GGN ao permitir realidade não percebidas pelo senso comum, mas uma hora vai cair a ficha dos manifestoches.

  5. Esse ótimo e claro texto

    Esse ótimo e claro texto deveria bombar na rede, pois é disso que se trata a Lava Jato: a destruição de um grande pais

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