Manifestantes anti-Dilma lembram os caras pintadas, por Janio de Freitas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Janio de Freitas

A alegria política

Na Folha

Venha do Datafolha ou da confusão que a PM faz entre somar e multiplicar ou diminuir, o número de manifestantes contra a corrupção, contra Dilma, ou simplesmente do contra, não é o mais revelador do presente nem do provável futuro dessas manifestações.

Quem, desavisado e sem saber português, se deparasse com tais manifestantes em qualquer das tantas cidades onde ocuparam ruas não imaginaria tratar-se de manifestação política. Antes se sentiria brindado pela oportunidade de ver o carnaval fora de época desses foliões pintados, mascarados, fantasiados, brincalhões de berreiros desconexos. Ah, são mesmo alegres os brasileiros.

A manifestação política adota os primeiros modos de diversão, ao que me consta, com a meninada que vai para as ruas de cara pintada contra Collor. A crônica política atribui aos “caras pintadas” papel decisivo na queda de Collor, mas a eles deveu-se apenas o colorido que disfarçou o novo drama a manchar a história do país. A queda de Collor estava fadada pela conjuntura de insatisfações e temores que a sua conduta e a de PC Farias provocaram.

Desde então, as extensões de farra carnavalesca tornaram-se costumeiras, e crescentes, nas manifestações pretensamente políticas e mesmo em muitas das reivindicatórias, “de esquerda”. Aquelas e estas igualadas, porém, no comum a todas: o insucesso.

Parece haver, subjacente a tudo isso, a intuição de que protestos e reivindicações sérios são sérios em si mesmos. Nas caras, nos olhos, nas palavras, nas formas.

Também quando manifestações degeneram em violência: aquela que aproveitou as manifestações de junho de 2013 viu-se logo que não passaria de baderna. Não trazia os traços desde cedo perceptíveis, por exemplo, no tumultuoso 1968, o da Europa e o nosso.

Manifestações com efeitos reais na história recente, das quais os exemplos mais notórios são a “passeata dos cem mil” no Rio, com muito mais de cem mil, e as manifestações da Diretas Já em São Paulo e no Rio, foram tão eloquentes na sobriedade, na dimensão moral, quanto na dimensão física. A percepção da sua gravidade era bastante para se imporem, mudando o rumo histórico, ainda que o objetivo declarado não se consumasse.

Mas, cada qual com as suas motivações, a alegre vida dos manifestantes de política como divertimento está na cara.

CIDADÃOS

No recente Datafolha, um dado para não ser esquecido quando se fale da política no Brasil: “63% não sabem quem é o vice-presidente” da República. E ainda 1% citam nomes que não o de Michel de Temer, já no quinto ano sucessivo como vice.

São muitas as razões para essa miséria da cidadania. Nenhuma, exceto a discrição do próprio Temer, escapa à categoria das grandes imoralidades em que a classe dirigente se formou e se nutre.

VICES

É já antiga, e não infundada, a acusação de custosa inutilidade à vice-presidência da República. Quando Michel Temer se encarrega de uma atividade governamental, para a imprensa e a oposição é como se ocorresse o mais desmoralizante ato de um governo.

A vice foi adotada no Brasil por imitação à criada nos Estados Unidos –onde o vice John Biden está em permanente atividade política para o presidente, e nunca pareceu haver nisso uma depreciação de Obama ou do governo. Como negociador do presidente, a Biden se deve a reaproximação entre Dilma e Obama.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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  1. Se esse hipotético “turista

    Se esse hipotético “turista desavisado” estivesse usando uma camiseta vermelha, certamente testemunharia em primeira mão, a “alegria” desses foliões.

  2. “É já antiga, e não

    “É já antiga, e não infundada, a acusação de custosa inutilidade à vice-presidência da República. Quando Michel Temer se encarrega de uma atividade governamental, para a imprensa e a oposição é como se ocorresse o mais desmoralizante ato de um governo.”

    Nisso a direita brasileira é especialista: em condenar quando faz e também quando não faz. O modelo essencial pode ser visto na crítica que costumavam fazer ao PT e ao PCdoB, condenando aquele por ser um amontoado de tendências, e este por ser monolítico.

    Em que lugar mesmo da Constituição está escrito que o Vice-Presidente tem de ser uma espécie de virgem intocada, proibido de exercer qualquer atividade política (exceto talvez a de conspirar para “ser califa no lugar do califa”)?

  3. A oposição brasileira se

    A oposição brasileira se comporta contra o governo como lá no interiorzão se compotaram como o causo oo avô, do neto e do burro.

    Lá em minha cidade no interior de Minas (Malacacheta), quando alguém é contra tudo, os caipiras contam o seguinte causo:

    O avó puxava um burro, montado pelo neto. Comentário de um assistente da cena: que menino mal educado, deixando seu velho avô andando a pé,  e o malvado no bem-bom.

    O neto desce do burro, e o avô o monta, continuando a andança. Mais adiante, vendo aquela cena, uma pessoa diz: velho covarde, no bem-bom no lombo do burro, e a pobre criança puxando o animal nesre mormasso.

    Então,  o neto monta no burro junto com o avô e continuam a viagem.

    Mais adiante, vendo os dois montados no burro, outra pessoa mais censura: que covardia, dois marmanjos montados num pobre animal.

    Os dois descem e põem o burro nas costas, continuando sua jornada. Quando encontram outra pessoa, eles ouvem o seguinte comentário: estes dois aí são mais burros do que o próprio burro.

    Assim é a oposição brasileira: tudo que o governo faz está errado. Para ilustrar, vejam esta, apenas esta: antes das eleições de 2014, o PIG e a posição batiam no governo pelo preço baixo dos combustíveis e da energia eletrica. Quando os preços destes insumos foram ajustados, continuaram patendo em Dilma, dizendo que ela cometeu estelionato eleitoral.

    Vai entender esse pessoal.

     

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