Marina Silva defende saída de políticos envolvidos na Lava Jato

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Em artigo, a ex-senadora criticou o uso dos “poderes públicos como navios de guerra de onde os litigantes disparam contra os outros”
 
Jornal GGN – Desde que perdeu a eleição presidencial de 2014, Marina Silva manteve um afastamento do cenário político, com poucas entrevistas e posicionamentos públicos. Sem mencionar nomes de parlamentares ou críticas diretas, a ex-senadora voltou à cena e, em artigo, defendeu a saída das legislaturas de políticos que venham a ser denunciados no processo da Lava Jato, alertando para a “tentativa de sabotagem”. Disse, também, que é preciso manter as “bases institucionais democráticas”.
 
“Quando as investigações resultarem em provas e denúncias formais ao Supremo Tribunal Federal, devemos exigir o afastamento dos que ocupam cargos cujos poderes possam interferir nas decisões. Mas, desde já, precisamos estar atentos contra qualquer tentativa de sabotagem”, escreveu Marina Silva em artigo enviado ao blog de Matheus Leitão, do G1.
 
A ex-senadora pelo PSB, que ainda aguarda a análise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para criar o partido Rede Sustentabilidade, fez críticas ao estado em que se encontra o Congresso Nacional. Mesmo sem citar o nome de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, Marina enfatizou que a democracia brasileira foi conquistada a “duras penas” e que “ao menos em nome do bom senso, impõe-se evitar mexer mais ainda num equilíbrio institucional que já está precário, não usando poderes públicos como navios de guerra de onde os litigantes disparam contra os outros”.
 
Se de um lado a ex-senadora demonstrou ser contra uma derrubada da presidente da República, por ferir a democracia, por outro, disse que “boa parte dos que saem gritando ‘fora Cunha’ parecem querer apenas aproveitar a oportunidade de apontar um novo inimigo público para desviar a atenção dos gritos de ‘fora Dilma'”.
 
E acrescentou: “assim como saímos do impeachment de Collor para outro ciclo de evolução, da mesma forma podermos ser capazes de sair da crise atual para outro momento positivo”.
 
Leia o artigo completo, concedido ao blog do Matheus Leitão:
 

Justiça a tempo

Por Marina Silva

Quem ainda tem esperança de um mundo e de um Brasil melhores deve manter neste momento uma grande atenção nas conquistas democráticas e apoiar com firmeza o trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça. O que está em curso no Brasil não é apenas a desconstrução de um sistema político que revela, a cada dia, sua falência. Há também uma lenta construção da democracia e de instituições independentes e fortes, instrumentos de navegação em meio às crises.

Assim como saímos do impeachment de Collor para outro ciclo de evolução, com a estabilização econômica nos governos de Itamar e Fernando Henrique, que possibilitou avanços sociais no governo Lula, da mesma forma podermos ser capazes de sair da crise atual para outro momento positivo. Para isso, entretanto, devemos cuidar de manter as bases institucionais democráticas que construímos a duras penas e, como diz o ditado popular, não jogar a criança fora com a água suja.

Aparentemente, há apenas sujeira. Mas devemos ver além das aparências, ou seja, além da crise e da confusão política que se profundam e crescem. Na realidade, as novidades são poucas. A crise é a mesma e todos os envolvidos nela já faziam o que fazem e diziam o que dizem – com os mesmos maus resultados na vida do povo brasileiro – há vários meses. Os rompantes dos dirigentes políticos e as manifestações de seus seguidores, a histeria na guerrilha virtual, as justificativas diante das denúncias, tudo igual.

Num artigo que escrevi há alguns meses, quando reclamavam que eu estava em silêncio, mostrei que continuava participando da vida política brasileira com os poucos meios que tenho à minha disposição. Naquela ocasião afirmei: “basta olhar o ambiente político para ver que tudo serve à manipulação, que o objetivo não é sair da crise, mas usá-la”. Isso também continua.

Se a manipulação da crise foi o modo como o presidente da Câmara encontrou para aumentar seu poder, é normal que ele agora tente explicar as denúncias de corrupção que recebe como sendo manipulação dos outros – o governo, no caso. Não há novidade nisso e boa parte dos que saem gritando “fora Cunha” parecem querer apenas aproveitar a oportunidade de apontar um novo inimigo público para desviar a atenção dos gritos de “fora Dilma”.

O Congresso Nacional divide com o governo as responsabilidades pela crise e a atenção pública se volta para os parlamentares. Neste momento, deveria predominar entre eles a consciência de que o Poder Legislativo é maior que seus membros, mesmo aqueles que ocupam cargos de direção. Como poder independente, deve respeitar a independência dos demais poderes e avaliar suas ações em conformidade com a Constituição Federal.

Repito o que disse há pouco mais de uma semana, numa nota pedindo apoio aos órgãos de investigação e do sistema judiciário: “a confiança vigilante nas instituições é a melhor maneira de evitar precipitações ou aventuras”. Precisamos estar alertas contra a manipulação política de qualquer lado e contra todas as formas de pressão e intimidação sobre a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal.

Quando as investigações resultarem em provas e denúncias formais ao Supremo Tribunal Federal, devemos exigir o afastamento dos que ocupam cargos cujos poderes possam interferir nas decisões. Mas desde já precisamos estar atentos contra qualquer tentativa de sabotagem.

Aos denunciados resta rever suas práticas e posturas. Ao menos em nome do bom senso impõe-se evitar mexer mais ainda num equilíbrio institucional que já está precário, não usando poderes públicos como navios de guerra de onde os litigantes disparam contra os outros.

Obviamente, ninguém mais espera um comportamento minimamente virtuoso da maioria dos personagens no palco da política brasileira dos dias atuais. Mas se temos que respeitar as instituições que eles, infelizmente, dirigem tão mal, e respeitar a população que lhes confiou seu voto, temos também que manter viva nossa esperança de que a Justiça será feita e os erros serão punidos. Afinal, como disse Rui Barbosa, “a Justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada”.

Que o epílogo desse drama, quando ocorrer, seja o prólogo de uma nova história de afirmação da democracia no Brasil.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

17 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Texto ponderado

    Belas palavras, um posicionamento sóbrio e ponderado. A favor do que ninguém em sã consciência poderia ser contra, mas como é Marina quem escreveu, deve ser criticada não pelo o que disse, mas por ser Marina. Assim funcionam as críticas dos “progressistas”.

    PS.: Não votaria nesta senhora para um cargo do executivo por conta do que já observei de seu comportamento. Estaria em frangalhos se estivesse no lugar de Dilma, sendo bombardeada dioturnamente. Dilma é forte e honesta, qualidades necessárias mas não suficientes para nos tirar dessa incerteza golpista.

  2. Umas das práticas da direita

    Umas das práticas da direita para a manutenção de poder, além do tradicional boicote à uma identidade nacional, da manipulação da mídia e do uso seletivo da lei, sempre foi a divisão da esquerda. Hoje como nuca na história recente a esquerda está divida, e por isso fraca e acuada.

    1. Só que, neste caso, isso nao se aplica: Marina NAO É D ESQUERDA!

      E é uma hipócrita, um representante do Solidariedade prestou solidariedade a Cunha no Congresso. Ela nao sabe nem como agem os adeptos do partido que quer criar?

  3. Marina não se dá conta da sua
    Marina não se dá conta da sua falta de objetividade. Dentre os políticos ela eh imbatível. Uma fala do tipo LEGO. Tudo se encaixa.

  4. Bom, como o caso do jatinho

    Bom, como o caso do jatinho foi resolvido, ela pode dar seus pitacos, não é mesmo?

     

     

    Não, péraaaaa…

    (Modo Irônico ON)

  5. Viva Marina e contra o jogo sujo eleitoral

    se fosse oportunista, teria se pronunciado e botado lenha na fogueira bem antes. Recolheu-se. A defendi quando todo o blog (exceção do Gunter) sobre o jogo sujo (mas tb. vi na candidatura um apelo pra alguns retrocessos). Até Carta Capital se arrependeu numa edição seguinte em que páginas internas mostrava reportagem com ela sorridente visitando uma sala de aula de escola pública e artigo contra abusos de campanha (numa edição anterior, CC botou uma capa de fazer inveja a Veja, Marina com semblante que parecia a malvada, a raivosa. Mas a irmandade persistia numa luta eleitoreira do vale-tudo. Dá no que deu, e erros são não pra corar leite derramado mas pra se aprenderem a não repeti-los.

    1. peito teve e tem em externar suas crenças, e não disfarçar como

      Tive simpatias p/ ela p/ver progressismos e hipótese de 3ª via(possível,mas difícil num Brasil dos maniqueismos,nos dualismos,do ou preto ou branco,nuances e misturas se atribuem a alienados,coxinhas,trolls,por uma centro-esquerda tolinha metida a besta.Outras candidaturas(adivinhem)iam a missas,ajoelhavam,tomavam cafezinho em mercados públicos.Marina foi a quem menos fez de demagogia e de proselitismo religioso.Apelou pra espertezas(q acho q acredita, não sei o q passa na cabeça dela,não tenho poder de vidência)como referendo sobre ensino pelo criacionismo.Quem nao tem suas escorregadelas e pensamentos contrários,chame-se de defeito,mas peito tem em externar suas crenças,e não disfarçar.

  6. MARINA SILVA DEVERIA SE PREOCUPAR COM SEU PARTIDO REDE!

    Afinal, a “Rede” Sustentabilidade, que se diz nova política, fez uma convenção secreta em Brasília, e dificultou as formas para seus filiados intervirem diretamente no partido, além de tornar facultativa as assembleias, convenções, e reuniões do partido pela rede virtual (internet). Ou seja, a “Rede” não é REDE!

    Pra ajudar ainda mais, não reconheceram o mandato coletivo no estatuto, e seus parlamentares continuam com suas decisões nos parlamentos vinculadas ao que decidir a cúpula do partido; não os filiados, que perderam até o direito de participar pela internet, que ficará ao livre arbítrio da cúpula partidária.

    Nada contra formar um novo partido, o problema é querer se passar pela NOVA POLÍTICA desenvolvida na Europa, mas no fundo ser apenas mais do mesmo. Isso é hipocrisia, e precisa ser denunciada. Saiba mais sobre a nova política:

    https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/576815335787466/?type=3&theater

  7. Fora a traíra !

    Quem sabe assim desviamos o foco do Fora Cunha, né Marina ? – a boazinha ! Ela mostrou que jamais foi a 3a. via e sim a mesma via de sempre,junto com banqueiros e Armínios , para impedir a vitória de Dilma, já que o Aécio estava fraco.

  8. Quem é o dono do jatinho que

    Quem é o dono do jatinho que caiu matando Eduardo Campos e que também a transportava pra baixo e pra cima? Será que ela poderia informar, essa paladina da moralidade e da boa ética?

  9. Um adepto do Solidariedade no Congresso se solidarizou c/ Cunha

    Marina nao sabe nem como agem os adeptos do partido que quer criar? Que moral tem entao para falar de outros?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador