Marx no século XXI, por Reginaldo Nasser

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Foto: WikimediaMarx descreveu as contradições da expansão capitalista

da Carta Capital 

Marx no século XXI

por Reginaldo Nasser 

As advertências do pensador a respeito das contradições da globalização continuam atuais e reconhecidas mesmo pelos mais ferrenhos “turbocapitalistas”

Até mesmo fervorosos defensores do “turbocapitalismo” como John Micklethwait, diretor da agência Bloomberg, e Adrian Wooldridge, editor da revista The Economist, apesar de avaliarem que, como profeta do socialismo, Marx está derrotado”, reconhecem a pertinência de sua advertência sobre a globalização. Quanto mais bem-sucedida esta se torna, mais parece estimular a própria reação a ela, devido às contradições que carrega em sua estrutura.

Assim, apesar dos erros nas previsões e das profecias não cumpridas, os ideólogos do capitalismo ainda levam muito a sério os escritos marxistas, pois revelam uma análise acurada sobre a expansão internacional do capital e os impactos nas transformações nas relações sociais de produção, por um lado, e sua tendência a exacerbar a desigualdade social e as turbulências, por outro.

Os ideólogos do capitalismo sabem que a dialética de Marx fez com que se percebesse o caráter contraditório do desenvolvimento capitalista, que, à medida de sua expansão, gera, em seu próprio seio, uma negação permanente da mesma sociedade que a gerou.

Vejamos os próprios dados do “insuspeito” Federal Reserve. O 1% mais rico dos estadunidenses controlava 38,6% da riqueza do país em 2016. Ou seja, quase o dobro dos 90%, que detêm agora apenas 22,8% da riqueza, contra cerca de 33% em 1989. Por volta de 7 milhões de indivíduos que integram o grupo do 1% mais rico do mundo concentra 82% de toda a riqueza global gerada em 2017. No Brasil, cinco bilionários brasileiros possuem a mesma riqueza da metade mais pobre.

Trata-se da configuração daquilo que se convencionou denominar, posteriormente, de uma situação revolucionária, em sua essência internacional. As revoluções aspiraram à transformação interna das sociedades, mas à medida que as sociedades nacionais e seus respectivos Estados estão intimamente conectados, acaba por repercutir nos próprios modos, nos quais Estados e povos interagem.

Em 1854, quando a política mundial era dominada pelas cinco grandes potências (Rússia, Prússia, Áustria, Grã-Bretanha e França), Marx alertava para a sexta grande potência que, em momentos de crise internacional, os faz tremer: “De Manchester a Roma, de Paris a Varsóvia e Budapeste, a Revolução é onipresente, levantando a cabeça e despertando de seu sono. Múltiplos são os sintomas de sua vida de retorno, em toda parte visível na agitação e inquietação que tomaram a classe proletária.”

Portanto, se a revolução aparecia como elemento fundamental do sistema internacional a partir da Revolução Francesa, o mesmo poderia ser dito a respeito do movimento que tentava impedir, conter ou reverter as revoluções.  De certa forma, a contrarrevolução é irmã siamesa da revolução, fazendo uso de suas ideias, objetivos, estilos e métodos.

Não se iludam a imaginar que a contrarrevolução fica à espreita para reagir mecanicamente a qualquer momento quando ocorrer a revolução. Ela também se refere, fundamentalmente, aos “esforços preventivos” que tentam impedir a simples emergência daquilo que consideram uma situação de conturbação social. Seja por invasão militar, sanções comerciais, sabotagem diplomática, golpes civis-militares ou “legais, intimidações econômicas; a estratégia contrarrevolucionária está permanentemente em ação internacional.

Parafraseando Marx pode-se dizer que Um fantasma ronda o mundo, o fantasma da contrarrevolução.  

Nesses 200 anos de nascimento de Marx, podemos dizer como o filosofo Marshall Berman que, enquanto durar o capitalismo, valerá a pena ler seus escritos.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

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  1. A propósito recomendo a

    A propósito recomendo a leitura de excelente palestra do professor Michael Hudson na Escola de Estudos Marxistas da Universidade de Pequim

    https://www.counterpunch.org/2018/05/04/creating-wealth-through-debt-the-wests-finance-capitalist-road/

    segue uma tradução caseira do texto 

    “Criando Riqueza” Pelo Débito: O Caminho do Capitalismo Financeiro Ocidental

    Michael Hudson

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Michael_Hudson

    Os volumes II e III do Capital de Karl Marx descrevem como o débito cresce exponencialmente, sobrecarregando a economia com custos crescentes. Essa despesa está submetendo as economias financeiras capitalistas ocidentais atuais à austeridade, a um padrão de vida e investimento de capital reduzidos enquanto aumenta o custo de vida e o custo de fazer negócios. Essa é a principal razão de estarem perdendo seus mercados de exportação e se tornando desindustrializados.

    Que políticas são apropriadas para a China evitar essa doença neo-rentista e aumentar os padrões de vida numa justa e eficiente economia de baixo custo? O desafio político mais urgente é manter o baixo custo habitacional. Aumento nos preços habitacionais significam mais e mais dívidas extraindo juros da economia. O modo mais vigoroso de prevenir isso é taxar os aumentos de preços imobiliários, coletando o valor de aluguel para o governo ao invés deixá-lo empenhado aos bancos como juros hipotecários.

    A mesma lógica se aplica ao arrendamento da coleção pública de recursos naturais e monopólios. Se não taxados propiciam aos bancos criarem débitos contra esses arrendamentos, criando encargos financeiros e rentistas na precificação de necessidades básicas.

    As escolas de administração americanas e européias são parte do problema, não da solução. Elas ensinam táticas de vendas de ativos e como substituir a engenharia industrial pela engenharia financeira, e essa financeirização cria riqueza mais rápido que o aumento da carga de débito. Tendo avançado rapidamente nas últimas três décadas, a China deve se manter livre da ideologia rentista que imagina que a riqueza pode ser criada pela inflação, alavancada pelas dívidas, dos preços imobiliários e de ativos financeiros.

    O capitalismo ocidental não se tornou o que Marx esperava. Ele foi otimista em prever que os capitalistas industriais ganhariam o controle dos governos para libertar as economias de desnecessários custos de produção na forma de juros e aluguel que aumentam o custo de vida (e portanto, o equilíbrio do nível de renda). Junto com muitos outros economistas de sua época, ele esperava que a renda de aluguel e a propriedade de terras, recursos naturais e o sistema bancário fossem tirados das aristocracias hereditárias que as mantinham desde o período feudal europeu. O socialismo era visto como a extensão lógica da economia política clássica, cuja principal política era abolir os aluguéis pagos aos proprietários e os juros pagos aos bancos e acionistas.

    Um século atrás havia uma crença quase universal em economias mistas. Esperava-se que os governos taxassem o aluguel de terra e recursos naturais, regulassem os monopólios para manter os preços compatíveis com os custos de produção, e criassem infra estrutura básica com dinheiro criado pelos seus próprios tesouros ou bancos centrais. Socialização da renda proprietária era o núcleo da Fisiocracia e do pensamento econômico de Adam Smith, cuja lógica foi refinada por Alfred Marshall, Simon Patten e outros economistas burgueses do fim do século 19. Esse era o caminho que o capitalismo europeu e americano pareciam estar seguindo nas décadas anteriores à primeira guerra mundial. Essa lógica buscava usar o governo para apoiar a indústria ao invés das classes proprietárias e financeiras.

    A China está progredindo ao longo desse caminho de “economia mista” rumo ao socialismo. Mas as economias ocidentais estão sofrendo com o ressurgimento das classes rentistas do pré-capitalismo. Seu slogan de “menos governo” significa uma mudança do planejamento para as finanças, propriedade imobiliária e monopólios. Essa filosofia econômica está invertendo a lógica do capitalismo industrial, substituindo investimento e subsídios públicos por privatização e extração de rendas. As mudanças de taxação das economias ocidentais favorecendo os ganhos financeiros e a propriedade imobiliária é um caso exemplar. Elas invertem o “Socialismo Ricardiano” de John Stuart Mill baseado na coleta pública do valor de arrendamento da terra e do “imerecido aumento” crescente dos preços das terras(propriedades).

    Definindo o rentismo econômico como a desnecessária margem de preços sobre o valor intrínseco do custo, economistas clássicos desde Marx descrevem os rentistas como parasitas econômicos, não produtivos. Rentistas não “merecem” suas rendas sobre a propriedade, os juros ou o monopólio, porque não têm base no real valor de custo (ultimamente reduzível aos custos do trabalho). As reformas políticas, fiscais e regulatórias que se seguiram a essa teoria de valor e renda foram um importante fator em direção à teoria de valor de Marx e o materialismo histórico. A pressão política dessa teoria explica o porque dela não ser mais ensinada.

    Pelo final do século 19 os rentistas reagiram, patrocinando a reação contra as implicações socialistas da teoria de valor e renda clássica. Nos EUA, John Bates Clark negou que a renda econômica fosse imerecida.Ele a redefiniu como pagamento pelo trabalho e o empreendimento do proprietário, e não acumulação “enquanto dorme”, como J. S. Mill a caracterizou. O juro foi descrito como o pagamento pelo “serviço” de empréstimo produtivamente, não como exploração. A riqueza e os rendimentos de todos representariam o pagamento por sua contribuição à produção. A pressão dessa abordagem foi resumida pela alegação da Escola de Chicago de Milton Friedman de que “não existe almoço grátis” – em contraste ao ditado da teoria econômica clássica que o legado feudal da propriedade privada das terras, crédito bancário e monopólios era totalmente sobre como conseguir um almoço grátis, pela exploração.

    A outra grande reação contra a teoria clássica e marxista foi a teoria utilitária inglesa e austríaca. Focalizando na psicologia do consumo em vez de custos de produção, ela defende que não existe diferença entre valor e preço. Um preço é o que os consumidores “escolhem” pagar por mercadorias, baseados na “utilidade” que estas proporcionam – definido por um raciocínio circular como sendo igual ao preço que pagam. Produtores devem investir em produzir bens para “satisfazer as demandas do consumidor” como se os consumidores fossem a força diretriz da economia, não os capitalistas, os donos de propriedades e os gerentes financeiros.

    Usando uma psicologia rasteira, os juros são retratados como se os banqueiros e acionistas se “abstivessem” de consumir, emprestando seu auto negado gasto a consumidores “impacientes” e empreendedores “merecedores de créditos”. Essa visão se opõe à idéia do juro como uma carga predatória alavancada pela riqueza hereditária e pelo direito do monopólio privatizado de criar crédito bancário. Marx ironiza essa visão, os Rothschilds devem ser a família mais auto desprovida e abstinente da Europa, e não uns viciados em riqueza.

    Essas teorias em que qualquer rendimento é merecido e que os consumidores (o termo burguês para assalariados), ao invés dos capitalistas, determinam a política econômica foram uma reação  contra a clássica teoria de valor e renda que pavimentou o caminho da análise de Marx. Depois de analisar os ciclos de negócios industriais em termos de sub consumo ou super produção no volume I do Capital, o volume III lida com o problema financeiro pré capitalista herdado do feudalismo e do precedente e “antigo” modo de produção: a tendência dos débitos de uma economia a crescer pela “lei puramente matemática” dos juros compostos.

    Qualquer taxa de juros pode ser pensada como uma duplicação. O que dobra não é o crescimento real, mas o custo financeiro parasítico sobre esse crescimento. quanto mais cresce o custo da dívida, menos renda sobra para ser gasta em bens e serviços. Mais que qualquer um de seus contemporâneos, Marx enfatizou a tendência do débito de crescer exponencialmente, a juros compostos, extraindo mais e mais renda da economia como um todo a medida que os débitos dobram e redobram, para além da habilidade dos devedores de pagarem. Isso reduz o investimento em novos meios de produção, porque encolhe os mercados domésticos por produtos.

    Marx explicou que o sistema de crédito é externo aos meios de produção. Ele existiu nos tempos antigos, Europa feudal, e sobreviveu ao capitalismo industrial para existir até em economias socialistas. A questão em todos esses sistemas econômicos é como prevenir que o crescimento do débito e sua carga de juros encolham as economias. Marx acreditou que a pressão natural do capitalismo industrial substituiria o sistema bancário e a criação de moeda privados por dinheiro e crédito públicos. Ele diferenciou o débito direcionado pelo juro sob o capitalismo industrial como, pela primeira vez, um meio de financiar o investimento de capital. Ele então era potencialmente produtivo por financiar o capital para produzir um lucro que seria suficiente para pagar o débito.

    O sistema bancário industrial deveria financiar a formação de capital industrial, como estava ocorrendo na Alemanha na época de Marx. Os exemplos de folhas de balanço industriais de Marx por conseguinte assumiam o débito. Em contraste com a análise de Ricardo do Armageddon do capitalismo resultante do crescimento do arrendamento das terras, Marx esperava que o capitalismo se libertasse do domínio político das classes proprietárias, assim como do legado pré capitalista da usura.

    Esse tipo de livre mercado clássico via o papel histórico do capitalismo como libertador da economia da despesa do débito “usurário” não produtivo, juntamente com o problema da ausência da propriedade fundiária e da propriedade privada de monopólios – que Lenin chamava de “alto comando” da economia na forma de infra estrutura básica. Governos devem tornar as indústrias competitivas ao suprir necessidades básicas livremente ou pelo menos a preços públicos bem mais baixos do que economias privatizadas podem alcançar.

    Esse programa de reforma do capitalismo industrial começa a ocorrer na Alemanha e nos EUA, mas Marx reconhecia que tal evolução não seria suave e automática. Gerenciar economias no interesse dos assalariados que formam a maioria da população requer revolução onde os interesses reacionários lutam para prevenir a sociedade de ir além do “socialismo burguês” que parou antes de nacionalizar a terra, os monopólios e o sistema bancário.

    A primeira guerra mundial descarrilhou até esse rumo do “socialismo burguês”. Forças rentistas lutaram para prevenir reformas, e os bancos se concentraram em emprestar para negócios estabelecidos, não em financiar novos meios de produção. O resultado desse retorno ao crédito bancário pré industrial é que quase 80 por cento dos empréstimos bancários nos Estados Unidos e na Inglaterra agora tomam a forma de hipotecas imobiliárias. O efeito é submeter o arrendamento proprietário ao juro.

    Essa transformação do aluguel em juros deu aos bancos um forte motivo para se oporem à taxação de aluguéis e arrendamentos, sabendo que isso iria terminar com o que fosse que os contribuintes renunciassem. A maioria dos empréstimos bancários remanescentes está concentrado em empréstimos para aquisições corporativas, fusões e aquisições, e empréstimos ao consumidor. O investimento de capital corporativo no ocidente hoje não é financiado por empréstimos bancários, mas quase inteiramente por ganhos corporativos retidos, e secundariamente por emissões de ações.

    O mercado de ações mesmo se tornou extrativo. Ganhos corporativos são usados para recompra de ações e mais altos pagamentos de dividendos, e não para novos investimentos tangíveis. Essa estratégia financeira foi explicitada pelo professor da Escola de Administração de Harvard Michael Jensen, que defendeu que os salários e bonus para os gerentes corporativos fossem baseados em quanto eles podem aumentar o preço das ações da companhia, não em quanto eles pudessem aumentar em produção e/ou no tamanho do negócio.  Em torno de 92 por cento dos lucros corporativos em anos recentes foram gastos em programas de recompra de ações e pagamentos de dividendos. Isso deixa somente 8 por cento disponível para ser reinvestido em novos meios de produção e contratações. Gerentes financeiros da América corporativa estão transformando companhias financiadas em cápsulas corporativas dominadas pelo débito.

    A maior vantagem de um governo como banqueiro chefe e criador de crédito é que quando os débitos estão para ultrapassar a capacidade de pagamento, o governo pode reduzir o débito. É assim que os bancos chineses têm operado. Isso é um pré requisito  para salvar as empresas da falência e prevenir que sua propriedade seja transferida para estrangeiros, aventureiros ou abutres.

    Políticas clássicas de impostos e sistema bancário eram supostas de impulsionar economias industriais, diminuindo sua estrutura de custos enquanto os governos substituiriam os senhorios como donos da terra e dos recursos naturais (como na China de hoje) e criando seu próprio dinheiro e crédito. Mas apesar da compreensão de Marx que esse seria o modo mais lógico para o capitalismo industrial evoluir, o capitalismo financeiro falhou em financiar a formação de capital. O capitalismo financeiro sequestrou o capitalismo industrial, e o neoliberalismo é sua ideologia anti clássica.

    O resultado da aliança do setor finanças/seguros/imobiliário com os monopólios de recursos naturais e infra estrutura foi reverter aquelas reformas do século 20 que promoviam taxação progressiva de riqueza e renda. O capitalismo industrial no ocidente foi desviado ao longo do caminho para uma privatização extratora de renda, para a austeridade e servidão de débito.

    O resultado é uma dupla crise: austeridade derivando de deflação de débito, enquanto a saúde pública, comunicações, tecnologia de informação, transporte e outras infra estruturas básicas são privatizadas por monopólios corporativos que aumentam os preços cobrados do trabalho e da indústria. A crise de dívida aumenta o débito governamental (estadual, local, bem como nacional), débito corporativo, débito de hipotecas imobiliárias e débito pessoal, causando austeridade, que encolhem a economia real enquanto seus ativos e rendas são despojados para o serviço da despesa de um débito exponencialmente crescente. A economia se polariza enquanto a propriedade da riqueza e da renda se muda para a aliança neo-rentista capitaneada pelo setor financeiro.

    Essa verdadeira contra revolução inverteu o conceito clássico de livre mercado. Ao invés de defender uma ação pública para baixar a estrutura de custo dos empreendimentos e do trabalho, o ideal neoliberal exclui a infra estrutura pública e a propriedade governamental dos monopólios naturais, sem falar da produção industrial. Liderado por lobistas de bancos, o neoliberalismo se opõe, até,  à regulamentação pública da finança e do monopólio para manter os preços de acordo com o custo de produção socialmente necessário.

    Para defender essa contra revolução econômica, as medidas de Produto Interno Bruto (PIB) e da Renda Nacional e Contas de Produtos (RNCP) agora usadas através do mundo são inspiradas pela oposição à taxação progressiva e à propriedade pública das terras e dos bancos. Essa medidas estatísticas retratam as finanças, seguridades, e imóveis como os líderes da criação de riqueza, não os meros criadores de débito e despesa rentista.

    O que são o “real” PIB e a “real criação de riqueza” Chineses?

    A rejeição do foco em aluguel econômico da teoria de valor clássica – o excesso do preço de mercado sobre o custo intrínseco do trabalho – sustenta o conceito pós clássico de PIB. A teoria rentista clássica adverte contra o setor finança/seguridade/imobiliário que suga o crescimento em riqueza e renda. As teorias econômicas de Adam Smith, David Ricardo, J. S. Mill e Marx têm em comum a visão que esse rendimento rentista deve ser tratado como um encargo e, como tal, subtraído da renda e produto nacionais por não ser relacionado à produção. Sendo estranho ao processo produtivo, esse encargo rentista é responsável pela atual deflação de débito e privatização economicamente extrativa que está impondo austeridade e encolhendo os mercados da América do Norte à Europa.

    A crise de débito ocidental é agravada pela privatização de monopólios (a crédito) que historicamente pertenceram ao setor público. Ao invés de reconhecer as virtudes de uma economia mista, Frederick Hayek e seus seguidores de Ayn Rand a Margareth Tatcher, Ronald Reagan, a Escola de Chicago e republicanos libertários declararam que qualquer propriedade ou regulação pública é, ipso facto, um passo em direção a políticas totalitárias.

    Seguindo essa ideologia, Alan Greenspan abortou a regulação econômica e descriminalizou a fraude financeira. Ele acreditou que em princípio, a massiva fraude bancária, empréstimo a hipotecas-lixo e a invasão corporativa que nos conduziram à crise de 2008 eram mais eficientes que a regulamentação de tais atividades ou processar os fraudadores.

    Essa é a ideologia neoliberal ensinada nas escolas de administração Americanas e européias. Ela pressupõe que seja o que for que aumente a riqueza financeira o mais rapidamente é o mais eficiente para a sociedade como um todo. Ela também assume que banqueiros acharão que negócios honestos são mais do seu próprio interesse que a fraude, porque os consumidores iriam banir banqueiros fraudulentos. Mas junto com a matemática dos juros compostos, a dinâmica inerente do capitalismo financeiro é estabelecer um monopólio e capturar as agencias reguladoras governamentais, o sistema de justiça, o banco central e o tesouro para prevenir qualquer política alternativa e o julgamento das fraudes.

    O objetivo é ficar rico por meios puramente financeiros – pelo aumento de preços do mercado de ações, não por formação de capital tangível. Isso é o oposto da lógica industrial de expandir a economia e seus mercados. Ao invés de criar uma economia mais produtiva e aumentar os padrões de vida, o capitalismo financeiro está impondo austeridade ao desviar rendas de salários e também rendas corporativas para pagar serviços de dívidas crescentes, seguros de saúde e pagamentos a monopólios privatizados. Renda progressiva e taxação de riqueza têm que ser revertidos, sugando salários para subsidiar as privatizações para a classe rentista.

    Essa combinação de crescimento excessivo de débito e política fiscal regressiva produziu dois resultados. Primeiro, a combinação de deflação de débito com deflação fiscal deixa apenas um terço de renda de salários para ser gasto no produto do trabalho. O pagamento de juros, aluguéis e taxas – e preços de monopólios – encolhe o mercado doméstico por bens e serviços.

    Segundo, a soma de serviço de dívida, preços monopolizados e a mudança de taxação para o custo de vida e o ambiente de negócios causam um alto custo às economias neo-rentistas. Isso é o porque da economia americana estar sendo desindustrializada e o seu meio-oeste se tornou um cinturão de ferrugem (Rust Belt).

    Com o esquema econômico de Marx explica o problema neo-rentista ocidental

    No volume I do Capital, Marx descreve a dinâmica e a “lei do movimento” do capitalismo industrial e suas crises periódicas. A contradição interna básica que o capitalismo tem que resolver é a inabilidade dos assalariados serem pagos o suficiente para comprar os produtos que produzem. Isso foi chamado superprodução ou subconsumo, mas Marx acreditava que o problema era em princípio apenas temporário, não permanente.

    Os volumes II e III do Capital d Marx descrevem uma forma de crise pré capitalista, independente da economia industrial: crescimento exponencial do débito, sobrecarregando a economia e finalmente levando sua expansão a um final com uma quebra (crash) financeira. A descida à falência, execução de hipotecas e a transferência da propriedade de devedores para credores é a dinâmica do capitalismo financeiro ocidental. Sujeitando as economias à austeridade, encolhimento econômico, emigração, diminuição da expectativa de vida e daí a despopulação, essa é a raiz do legado de débito de 2008 e o destino dos estados bálticos, Irlanda, Grécia e o resto da Europa mediterrânea, como foi anteriormente a dinâmica financeira de países do terceiro mundo dos anos 1960 aos anos 1990 sob os programas de austeridade do FMI. quando a política pública se torna favorável aos credores, eles usam seu poder para suas capturas de ativos, insistindo que todos os débitos devem ser pagos sem considerar como isso destrói a economia como um todo.

    A China trabalhou para evitar essa dinâmica. Mas devido a que enviou seus estudantes para estudar em escolas de administração americanas e européias, eles foram ensinados das táticas da captura de ativos ao invés da formação de capitais – como ser extrativo, não produtivo. Eles foram ensinados que a privatização é mais desejável que a propriedade pública, e que a financialização cria riqueza mais rápido que cria carga de débito. O produto de tal educação entretanto não é o conhecimento mas a ignorância e a distorção da boa análise política. A austeridade báltica é aplaudida como o “milagre báltico” não como um colapso demográfico e encolhimento econômico.

    A experiência das economias pós soviéticas quando os neoliberais tiveram a mão livre depois de 1991 proporciona uma lição objetiva. Muito da mesma sina desabou sobre a Grécia, junto com o endividamento crescente de outras economias para acionistas estrangeiros e para sua própria classe rentista operando por fora dos centros capitalistas. Economias são obrigadas a suspender políticas governamentais democráticas em favor do controle emergencial dos credores.

    O lento crash econômico e a deflação de débito dessas economias são descritos como “escolha de mercado”. Isso passa a ser uma “escolha” pela estagnação econômica. tudo isso é racionalizado pela teoria econômica ensinada nos departamentos de economia das escolas de administração ocidentais. Tal educação é uma doutrinação em estupidez – o tipo de visão de túnel que Thorstein Veblen chamou de “incapacidade treinada” para compreender como as economias realmente funcionam.

    Muitas das fortunas privadas no ocidente foram extraídas da habitação e outros ativos imobiliários financiados pelo débito. Até a crise de 2008 a magnitude dessa riqueza proprietária se expandiu grandemente pela inflação dos preços de ativos, agravada pela relutância dos governos em fazer o que Adam Smith, John Stuart Mill, Alfred Marshall e quase todos os economistas clássicos do século 19 recomendavam: manter o aluguel de terras fora das mãos privadas, e fazer com que o aumento do valor no aluguel de terras sirva de base para a taxação.

    O fracasso em taxar as terras deixa o seu valor de aluguel livre para ser empenhado como juros para os bancos – que fazem cada vez maiores empréstimos ao emprestar contra crescentes razões de débitos. Esse “crédito fácil” aumenta o preço de se obter a casa própria. Os vendedores celebram o resultado como “criação de riqueza”, e a grande mídia descreve a classe média como ficando mais rica pelos maiores preços pelas casas que seus membros compraram. Mas o aumento financiado pelo débito nos preços das casas ultimamente cria riqueza principalmente para os banqueiros e acionistas.

    Os americanos hoje têm que pagar até 43 por cento de sua renda para o serviço do débito das hipotecas, com garantia federal. Isso impõe tais altos custos para a propriedade habitacional que está precificando os produtos do trabalho americano para fora dos mercados mundiais. A pretensão é que ao usar o crédito bancário (ou seja, débito de hipoteca dos compradores de habitações) para inflar os preços habitacionais tornam os trabalhadores americanos e a classe média prósperos por possibilitarem a eles venderem suas casas para uma nova geração de compradores a preços cada vez maiores a cada geração. Isso certamente não tornam os compradores mais prósperos. Isso desvia sua renda de comprar os produtos do trabalho para pagar juros aos bancos por preços habitacionais inflacionados pelo crédito bancário.

    Os gastos dos consumidores em quase todo o mundo miram sobretudo em obtenção de status. No ocidente esse status se apóia principalmente na própria casa e vizinhança, suas escolas, transporte e outros investimentos públicos. Ganhos em preços imobiliários resultam do investimento público em transportes, parques e escolas, outras amenidades públicas e infra estrutura, e pelo re-zoneamento do uso do espaço. No ocidente esse crescente aumento do valor dos aluguéis se tornou num custo, sobre os compradores de imóveis habitacionais, que precisam pegar mais emprestado dos bancos. O resultado é que o gasto público ultimamente enriquece os bancos – às expensas dos pagadores de impostos.

    Débito é a grande ameaça ao desenvolvimento da China moderna. Sobrecarregar as economias com uma despesa rentista impõe encargos quasi-feudais dos quais os economistas clássicos do século 19 esperavam livrar o capitalismo industrial. A melhor proteção contra os encargos rentistas é simples: Primeiro, taxar a valorização crescente do aluguel imobiliário para prevenir que seja usado para pagar por empréstimos bancários; e sugundo, manter o controle dos bancos em mãos públicas. Crédito é necessário, mas deve ser direcionado produtivamente e os débitos devem ser amenizados quando o seu pagamento ameaçar a criação de Armaggedon financeiro.

    As visões de Marx sobre a dinâmica maior da história econômica

    Platão e Aristóteles descreveram um grande padrão histórico. Em seus pensamentos esse padrão era eternamente recorrente. Observando três séculos da experiência grega, Aristóteles descobriu uma sequência triangular perpétua: a democracia se tornando oligarquia, cujos membros se tornam em aristocracia hereditária – e então algumas famílias buscam trazer os democratas ao seu próprio campo ao patrocinar a democracia, o que por sua vez leva a famílias ricas que substituem a democracia por um oligarca e assim por diante.

    O filósofo islâmico medieval Ibn Khaldun via a história como uma ascensão e queda. As sociedades ascendiam à prosperidade e poder quando lideres mobilizavam a ética da ajuda mútua para ganhar amplo suporte enquanto um espírito comunal trazia prosperidade a todos seus membros.Mas a prosperidade tende a criar egoísmo, especialmente nas dinastias governantes, às quais Ibn Khaldun atribuía um ciclo de vida de apenas 120 anos aproximadamente. Pelo século 19, filósofos iluministas escoceses elaboraram a teoria de ascensão e queda, aplicando-a a regimes cujo sucesso criou arrogância e oligarquia.

    Marx viu o longo desenrolar histórico como seguindo uma firme tendência secular ascendente, desde o antigo modo de produção de escravidão e usura através do feudalismo ao capitalismo industrial. E não apenas Marx mas quase todos os economistas clássicos do século 19 assumiam que o socialismo de um modo ou de outro seria o estágio seguinte ao capitalismo industrial na sua trajetória tecnológica e econômica ascendente.

    Ao invés disso, o capitalismo industrial ocidental se transformou em capitalismo financeiro. Em termos aristotélicos a mudança foi de proto-democracia a oligarquia, Ao invés de libertar o capitalismo industrial de senhores de terras, proprietários de recursos naturais e monopolistas, bancos ocidentais e acionistas juntaram forças com eles, os vendo como grandes fregueses para ainda mais crédito visando juros que poderia absorver o aluguel econômico que os governos poderiam deixar de taxar. Seu sucesso permitiu que bancos e acionistas substituíssem os senhores de terras como a principal classe rentista. Antitética ao socialismo, essa regressão ao privilégio do rentismo feudal deixou que a propriedade imobiliária, interesses financeiros e monopolistas explorassem a economia ao criar uma cunha de débito expandida.

    As Teorias de Valor Excedente de Marx (German Mehrwert), sua história da economia política clássica, ironiza as advertências de David Ricardo de Armaggedon econômico se as economias permitissem aos senhores de terras sugar todos os lucros industriais para pagar o aluguel das terras. Os lucros e daí o investimento de capital se pulverizariam numa estagnação. Mas como as coisas aconteceram, o Armaggedon rentista de Ricardo está sendo criado pela sua própria classe de banqueiros. Lucros corporativos estão sendo devorados pelo pagamento de juros para aquisição de débitos corporativos e encargos financeiros para recompensar acionistas e aventureiros, e pela engenharia financeira usando a recompra de ações e altos pagamentos de dividendos para criar ganhos de “capitais” às expensas de formação de capital tangível. Os lucros também são reduzidos por empresas que têm que pagar salários maiores para cobrir o custo de habitação, educação e outras despesas básicas financiadas por débitos para os trabalhadores.

    Essa dinâmica financeira sequestrou o capitalismo industrial. E está levando as economias a polarizar e ultimamente colapsar sob o peso de suas cargas de débito. Essa é a dinâmica inerente ao capitalismo financeiro. Essa despesa de débito conduz à crise financeira que se torna uma oportunidade para impor leis de emergência que substituam legislações democráticas. Então, ao contrário das advertências de “livre iniciativa” anti governamentais de Hayek, a “ladeira escorregadia” em direção ao totalitarismo não se dá por reformas socialistas que limitem a extração de aluguel econômico e juros pela classe rentista, mas justamente o oposto: o fracasso da sociedade em enfrentar a extração rentista de renda entronizando uma autocracia hereditária cujo plano de negócios financeiros empobrece a economia como um todo.

    A crise da dívida grega simplesmente aboliu sua democracia na medida que credores estrangeiros tomaram o controle, superando a autoridade de funcionários eleitos. Da falência da cidade de Nova York à insolvência de Porto Rico e devedores terceiro mundistas sujeitos aos “programas de austeridade” do FMI, falências nacionais deslocaram os controles para planejadores financeiros no que Naomi Klein chamou de Capitalismo de Crise. O planejamento termina centralizado não nas mãos de governos eleitos, mas em centros financeiros, que se tornam governos de fato.

    A Inglaterra e os EUA ajustaram o rumo de suas economias nesse caminho sob Margareth Thatcher e Ronald Reagan nos anos 1980. Foram seguidos pelos lideres ainda mais pró-finança e privatizadores no novo partido trabalhista de Tony Blair e nos novos democratas de Bill Clinton buscando reverter um século de reformas e políticas clássicas  que moviam gradualmente o capitalismo em direção ao socialismo. Ao contrário, esses países sofrem de um retorno a um neo feudalismo, cuja ideologia econômica e política neo rentista se tornou a corrente dominante em todo o ocidente. Apesar de ver que essa política levou a América do Norte e a Europa a perderem sua anterior liderança econômica, a elite do poder financeiro está simplesmente pegando seu dinheiro e saindo fora.

    Então somos trazidos de volta à questão sobre o que isso significa para  a política educacional chinesa e também como descrever as estatísticas econômicas para distinguir entre riqueza e despesa. A grande vantagem de tal distinção está em ajudar a direcionar o crescimento econômico ao longo de linhas produtivas favorecendo a formação de capital tangível ao invés de políticas de enriquecimento por tomar mais e mais débitos e por desviar a propriedade para longe do domínio público.

    Se o principal objetivo social chinês é aumentar o rendimento real para levantar os padrões de vida para sua população – enquanto minimiza a despesa improdutiva e a desigualdade econômica – então é hora de considerar o desenvolvimento de seu próprio formato de contabilidade para traçar seu progresso (ou deficiências) ao longo dessas linhas. Medindo como sua renda e riqueza está sendo obtida pode sinalizar como a economia se aproxima do que Marx chamou de socialismo.

    De importância especial, tal formato contábil deve reviver a clássica distinção de Marx entre renda merecida e não merecida. Suas estatísticas devem mostrar o quanto do aumento da riqueza (e gastos) na China – ou qualquer outra nação – é o resultado de nova formação de capital tangível quando comparado a aluguéis mais altos, empréstimos e juros, ou o mercado de ações.

    Essa estatísticas devem isolar rendas e fortunas obtidas por transferências de pagamentos de soma zero tais como o aumento dos valores de aluguéis de terras, recursos naturais e monopólios de infra estrutura básica. A contabilidade nacional também deve rastrear as cobranças de despesas por juros e relacionadas a encargos financeiros, como ainda à evolução da estrutura econômica de crédito e débito. Isso deve propiciar à China a medição dos efeitos econômicos dos privilégios bancários e outros direitos proprietários dados a alguns indivíduos.

    Esse não é o objetivo das estatísticas de rendas nacionais ocidentais. De fato, aplicando a estrutura contábil descrita acima pode-se sinalizar como as economias ocidentais estão se polarizando como resultado de seu alto aluguel econômico e pagamentos de juros comprimindo os gastos em bens e serviços reais.  Esse tipo de contraste vai ajudar a explicar as tendências globais em precificação e competitividade.

    Distinguindo o setor finança/seguridade/imobiliário do resto da economia propiciará à China comparar suas tendências de custo econômico e despesa em relação às de outras nações. Acredito que essas estatísticas mostrarão que seu progresso em direção ao socialismo também explica a notável vantagem econômica que obteve. Se a China fizer realmente essa mudança, vai ajudar as pessoas tanto dentro como fora da China a ver mais claramente o que seus governos estão fazendo em prol da maioria do seu povo. Isso pode ajudar outros governos – incluindo o meu próprio – a aprender com seu exemplo e enaltecê-lo ao invés de temê-lo.

    Esse texto é de um discurso de Michael Hudson apresentado na Escola de Estudos Marxistas da Universidade de Pequim, 5-6 de Maio de 2018.

     

  2. Marx foi brilhante ao

    Marx foi brilhante ao perceber que o capitalismo é auto-destrutivo. Foi uma das análises mais radicais e originais da história da humanidade. Infelizmente, poucos ouviram sua mensagem.

    Enquanto isso o capitalismo global avança, criando todo tipo de absurdo social, deixando seus fiéis economistas sem uma explicação. Uma hora a canoa vira. Como se diz, o comunismo ou a barbárie.

  3. A Globalização da miséria conduzirá à libertação do Operariado?

    “Under the freedom of trade the whole severity of the laws of political economy will be applied to the working classes. Is that to say that we are against Free Trade? No, we are for Free Trade, because by Free Trade all economical laws, with their most astounding contradictions, will act upon a larger scale, upon a greater extent of territory, upon the territory of the whole earth; and because from the uniting of all these contradictions into a single group, where they stand face to face, will result the struggle which will itself eventuate in the emancipation of the proletarians”.

    Engels, To Free Trade Congress at Brussels (1847)

     

    Marx era cientista e ativista, não profeta.

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