Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Meia dúzia de ideias ruins não fazem um plano econômico, por Andre Motta Araujo

Guedes é um personagem com meia dúzia de ideias ruins, sem maior elaboração, e joga com essas ideias para dar a impressão que toca a economia, mas o quadro da realidade  demonstra o não-projeto, a não-ação, a incapacidade de gerar propostas e ideias factíveis.

Foto Agência Brasil

Meia dúzia de ideias ruins não fazem um plano econômico

por Andre Motta Araujo

O Ministro da Economia não tem a formação, a experiência, o interesse em construir um plano econômico de Estado, com políticas públicas a serviço da população em geral e não apenas a serviço dos “mercados”, que é a única coisa que ele conhece numa vida sem nenhum registro de interesse público.

Uma pessoa na faixa dos 60 anos que, durante sua vida, teve um interesse mais geral, além da vida privada, que teve um interesse cultural, social, político, mostra necessariamente alguma preocupação que se aflorou em algum artigo, livro, conferência, debate onde essa preocupação ficou registrada.

O atual Ministro da Economia NÃO TEM registro dessa preocupação por toda sua vida. O que se conhece se refere exclusivamente à sua ocupação de banqueiro, voltada unicamente ao enriquecimento pessoal. Como um personagem com essa limitação pode cuidar da economia de um grande e complexo País, com imensos problemas sociais cuja solução depende de um plano econômico de visão MACRO, de Estado e não apenas de apoio a empresários?  De uma visão mais geral de mundo combinada com um sentido de solidariedade, de generosidade que move um estadista com liderança?

O caso do Ministro é outro. É um personagem com meia dúzia de ideias ruins, sem maior elaboração e joga com essas ideias para dar a impressão que toca a economia, mas o quadro da realidade  demonstra o não-projeto, a não-ação, a incapacidade de gerar propostas e ideias factíveis e de resultado comprovável e não mera suposição,  como a de que reduzir encargos na folha por si só cria empregos. Sua base de pensamento não tem evidências, o rito operacional é um conjunto de ideias velhas, ruins, sem reverberação no dia-a-dia, mais ideologia do que planos práticos de políticas reais de resultados.

Quais são essas ideias ruins?

1.DESONERAR A FOLHA DE PAGAMENTOS CRIA EMPREGO: Ideia falsa que gira em torno de ilusão. O que gera emprego é o CRESCIMENTO QUE VEM PELA DEMANDA de produtos e serviços. Não havendo demanda, o empregado não será contratado nem que trabalhe de graça. Nos períodos de maior crescimento da economia brasileira, nos anos 5O a 70, os encargos na folha já eram altos e havia pleno emprego, nunca foi isso que causou desemprego. Uma leitura errada com uma solução errada. O problema do desemprego não é o custo da mão de obra, é a falta de compradores para os produtos da indústria.

2.ABRIR A ECONOMIA TRAZ CRESCIMENTO: Nenhum País, pobre ou rico, abre sua economia de graça, só por ideologia. Os EUA, central das grandes economias ricas, TEM TARIFAS e está criando mais tarifas para proteger seu mercado. Todos os países protegem seu mercado, NINGUÉM ABRE A ECONOMIA SÓ POR ABRIR, como ideia de que isso é bom por si só, como quer Guedes. Os neoliberais de aldeia dizem que abrindo a economia aumenta a competição e isso é bom, mas para quem? Que imensa tolice. Mercado tem valor por existir, quando um dono de padaria vende o ponto, ele está vendendo mercado, é um valor.

Nenhum País dá seu mercado de graça, como os neoliberais burros querem fazer com o mercado de combustíveis no Brasil, “abrir o mercado para aumentar a competição”, quer dizer, a PETROBRAS cede mercado à SHELL porque isso é bom para o Brasil, é de uma estupidez única, mercado não se cede de graça.

A ideia de uma “economia aberta” como algo ideológico é de fanáticos neoliberais que não operam com a realidade real do mundo. As economias têm barreiras, e sempre tiveram, por razões objetivas. E quando se reduzem barreiras, é por negociação com vantagens recíprocas, ninguém abre porque é bonito abrir.

O Brasil cresceu a altíssimas taxas com economia super fechada dos anos 40 a 😯 e deixou de crescer quando Collor abriu a importação de tudo em 1990.

3.O BRASIL ESTÁ QUEBRADO, VAMOS CORTAR GASTOS – Desde os primórdios da ciência econômica sabe-se que só o Estado pode impor e operar políticas ANTI-CÍCLICAS para combater recessão e depressão econômica através de MAIS E NÃO MENOS GASTOS FISCAIS. São os estímulos, que só o Estado pode produzir, que enfrentam crises. Na última grande crise global, a de 2008, foi o Tesouro dos EUA quem salvou a economia privada, através do programa TARP, com DINHEIRO PÚBLICO, acabando aí com o NEOLIBERALISMO DE CHICAGO, causador da crise, seita que fugiu para o Brasil, onde se escondeu no Leblon.

4.CAPITALIZAÇÃO NA PREVIDÊNCIA SOCIAL – Um modelo de resultados mais do que controverso, quebra o princípio da SOLIDARIEDADE, que é do modelo tradicional de repartição, onde os mais novos ajudam a aposentadoria dos mais velhos, os mais abonados ajudam os mais desvalidos e miseráveis, toda a lógica do primeiro sistema de previdência social criado por Bismarck, na Alemanha, em torno de 1875. O sistema de CAPITALIZAÇÃO é egoísta e NÃO DÁ CERTO PARA OS MAIS POBRES, exatamente o grupo social que a Previdência visa proteger. O sistema de CAPITALIZAÇÃO é discutível em países ricos, mas é absolutamente imprestável para países com os níveis de pobreza do Brasil. Como é que um trabalhador que ganha 1.000 Reais vai ter sobra de renda para CAPITALIZAR numa conta financeira? Por que tirar da empresa qualquer obrigação de suportar parte da previdência social de seus colaboradores?

POR QUE ESSA ÂNSIA DE FAVORECER O CAPITAL À CUSTA DO TRABALHO, que parece ser toda a lógica da vida do Ministro Guedes?

5.ABAIXAR OS IMPOSTOS PARA AS EMPRESAS – A velhíssima ideia, desmoralizada já ao tempo de Milton Friedman, de que abaixando os impostos para as empresas e para os ricos, esses com mais dinheiro, vão investir e criar empregos. A ideia é mera questão de fé, PORQUE ISSO NÃO ACONTECE NO MUNDO REAL. O ganho extra, que os ricos e as empresas vão auferir com essa política, irão pra o mercado financeiro, para contas no exterior, para iates e aviões privados, para comprar outras empresas e concentrar ainda mais a renda. Nos EUA, 200 bilionários fizeram um abaixo assinado para o Presidente Trump sugerindo aumento de imposto de renda para os mais ricos porque acham mais justo para a sociedade. A estrutura tributária brasileira já é regressiva e penaliza os mais pobres, dividendos não pagam nenhum imposto de renda, acionistas controladores de bancos receberam em 2018 R$17 bilhões em dividendos sem pagar um centavo de imposto. O Ministro quer melhorar ainda mais a situação para os mais ricos, compensando com aumento da carga fiscal dos mais pobres e classe média, retirando deduções fiscais com saúde e educação. São ideias muito ruins, sob o ângulo moral e de eficiência econômica, fruto de uma péssima visão de mundo, de sociedade, de lógica social e econômica, não há justificativa alguma para ideia tão perniciosa.

6.PRIVATIZAÇÕES – O Ministro propala que privatizações vão promover o crescimento. Não há qualquer liame entre uma coisa e outra. Privatizações significam troca de controle de ativos já existentes, o padrão geral é o novo dono CORTAR A FOLHA, CORTAR MANUTENÇÃO, ENXUGAR DESPESAS para gerar caixa a curto prazo e amortizar seu investimento na compra da empresa. Portanto, privatização provoca desemprego e não emprego. A meta é gerar dividendos, vender parte dos ativos e mesmo se a nova gestão for muito boa não gera crescimento só porque foi privatizada, MAS a gestão pode não ser tão virtuosa e, em vez de progresso, pode provocar ruindades, caso da VALE, LIGHT RIO, ELETROPAULO,  TELEMAR, BRASIL TELECOM depois OI.

As estatais foram a locomotiva de compras de equipamentos e obras que puxaram o crescimento entre 1950 e 1990, desenvolveram com isso a indústria de bens de capital ,o Brasil se tornou o maior fabricante de hidrogeradores do mundo por causa das compras da ELETROBRAS E CESP, todo o grande ciclo de crescimento econômico do Brasil, pós Segunda Guerra, veio das estatais na siderurgia, energia elétrica, saneamento, petróleo e gás, petroquímica.

As empresas privadas NÃO têm esse papel e, se forem estrangeiras, tendem a comprar equipamento nos seus países de origem, mesmo que o Brasil produza.

É uma lenda que PRIVATIZAÇÕES impulsionam o crescimento, não há qualquer histórico ou evidência, é mera crença da seita neoliberal tosca, atrasada.

As estatais brasileiras em 2018 produziram R$60 bilhões de lucros para o Estado, ao contrário da lenda, NÃO SÃO UM PESO NEGATIVO.

Esse balaio de PÉSSIMAS IDEIAS ISOLADAS não constituem uma política econômica em lugar nenhum do mundo. O que faz um plano econômico é um CONJUNTO DE POLÍTICAS ARTICULADAS E COORDENADAS, onde entra a política monetária, fiscal, de rendas, de investimentos públicos, de câmbio, com prazos e metas, que NÃO DEPENDAM DE LEIS NOVAS E DO CONGRESSO. É ação, dentro do Poder Executivo, com os instrumentos que o Poder Executivo tem, e sempre teve, no Brasil. É ação de Governo! O Ministério da Economia já tem imensos poderes concentrados, basta fazer, mas precisa saber fazer.

AMA

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Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

10 Comentários

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  1. Caro André

    Grande artigo, mas pode-se observar que o ministro da economia tem problemas cognitivos severos. Não à toa, está nesta porcaria que quer destruir o Brasil, o “governo” Bozo. Outro país grande que sofreu humilhações como a que passamos com esse bando de amebas, creio eu, foi a antiga URSS quando se tornou na Rússia; com Boris Yeltsin. Yeltsin é um Bozo de pileque permanente

  2. Para mim o projeto dele é claro e está sendo bem sucedido…,

    Destruir todo o estado de bem estar social…… redução de impostos para empresas enquanto aumenta os impostos para o contribuinte em geral….. perdão de dividas ….vender todo patrimônio público que puder, incluindo grandes estatais….. arruinar a previdência pública implementando a capitalização….. reduzir ao mínimo os direitos trabalhistas, inclusive congelando o salário mínimo…

    Renda, salário, emprego, recessão, crescimento econômico……..isso não é com ele, não deve ter o conhecimento para tanto…….ele mesmo já disse que quer largar tudo, como estivesse sendo útil ao país e não a meia dúzia de abutres do mercado…..

    E o anúncio que está passando nas TVs com o “novo modelo” de escola que querem implementar no país com um monte de estudantes fantasiados é um pesadelo sessentista………..logo logo o exame de aptidão retorna também…..

  3. Caro André, posso até não concordar com algumas das tuas interpretações das ideias isoladas do ministro, mas chego por outras vias nas mesmas conclusões.
    Parabéns pela síntese que está muito boa.

  4. Gostei do artigo, um belo resumo das mentiras que contam atualmente.
    Essa é para guardar e ler no futuro próximo… ver no que deu… tipo daqui a um ou dois anos, se sobrarmos para ver a história..

  5. Excelente. Acrescento 2 pitacos:
    5.ABAIXAR OS IMPOSTOS PARA AS EMPRESAS – Só teria efeito se atraísse investimentos novos de outros países ou se tornasse exportações mais competitivas. Sem demanda interna, a Univeler não vai construir uma fábrica de sabão em pó só porque baixou impostos. Senão o Azerbaijão seria o mais industrializado do mundo. E exportações já não pagam impostos pela Lei Kandir.
    6.PRIVATIZAÇÕES – atrapalha também porque compete por investimentos.Dinheiro em carteira para investimento (farto no mundo) que poderia ir para startups de energia, vai para compar ações da Eletrobras, por exemplo.

  6. André, dá uma olhada na campanha do candidato Andrew Yang nas prévias democratas dos EUA.
    Ele propõe um dividendo da liberdade (renda básica): US$ 1000 mensal para qualquer cidadão acima de 18 anos (fiz conta rápida e isso dá uns 15% do PIB dos EUA, se não errei).
    Seu argumento é de que são os robôs e não os imigrantes que tiram empregos na Pensilvânia e entorno nos EUA (estados tradicionamente dos Democratas, onde Trump venceu).
    Ele diz que daqui a 5 ou 10 anos 500 mil caminhoneiros estarão desempregados nos EUA porque os caminhões serão robotizados.
    Eu achei que não deixa de ser uma versão de um New Deal século XXI.
    Aliás Keynes previu em 1931 que o homem só precisaria trabalhar 3 horas por dia em 2030.

  7. Vc então é totalmente contra a idéia de cada um viver do suor do próprio trabalho e a favor do assistencialismo,eu quando abri minha empresa nós primeiros anos cheguei a trabalhar 18 horas por dia pra empresa dar certo isso não era um ato isolado,foi assim por vários anos quase todos os dias do mês esforço na tua visão é burrice eu deveria ter trabalhado menos e hoje estar com a cuia de esmola igual muitos estão

    1. Você eu não sei, mas eu trabalharia, mesmo que ganhasse uma renda mínima universal.
      No Alaska, desde 1982 paga um dividendo universal para todos cidadões (independentemente de renda e patrimônio) uma vez por ano, vindo das receitas do estado como mineração e petróleo.
      Andrew Yang é milionário, tem uma Venture Capital que investe em mais de 250 startups, e disse que fez a experiência de pagar os US$ 1000 para algumas pessoas, e ver o que elas fazem com dinheiro. Um comprou uma guitarra e se tornou músico profissional em bares. Outro abriu uma oficina em casa. Outra voltou a estudar. Todo mundo buscou realizar potencialidades, ou seja, trabalhar.
      Você está com dificuldade de entender o conceito. Primeiro que industria 4.0 possibilita uma pessoa controlar uma fábrica inteira em um notebook, eliminando empregos. Na verdade fica apenas monitorando a produção, porque quase todas as decisões são tomadas por inteligência artificial, para acelerar ou diminuir a produção, para consumir o mínimo de energia, para não ter estoques ociosos. Supermercado aqui perto de casa já tem caixa por autoatendimento. Tem banco digital sem agência nenhuma. Uber investe em carros autônomos para eliminar a necessidade de motoristas, ganhando a parte que fica com o motorista. O Bradesco já usa sistema da IBM para atendimento por AI que elimina gerentes de contas. Textos jornalísticos sobre resultados esportivos ou cotações que você lê em portais na internet já são escritos por software no lugar de jornalista. Amazon já tem um loja física piloto sem vendedor nenhum por auto-atendimento. Indústria, comércio e serviços estão desempregando para PRODUZIR MAIS. E não há como realocar toda a mão de obra dispensada, pois 500 mil motoristas de caminhão não virarão engenheiros de software só porque abriu algumas vagas nesta área. E mesmo que algum vire, não havá vagas para todos.
      Então se seu filho ou neto quiser abrir uma loja, restaurante, mesmo se trabalhar 24hs por dia, não terá consumidores suficientes para fechar no azul. Isso porque quem ganha dinheiro é só a minoria dona dos robôs e uma pequena parcela de engenheiros e técnicos que os fazem funcionar.
      É para resolver esse problema que surge a ideia do dividendo para o cidadão, como se cada um fosse um pequeno acionista indenizado do próprio sistema de produção que eliminou a necessidade do seu trabalho.

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