Militares caem na armadilha. Bem feito, por Helena Chagas

Há algo de podre no reino de Bolsonaro, que depois do acordo com o Centrão está se sentindo muito seguro para cutucar e desautorizar seus generais

Foto: Divulgação/PR

Por Helena Chagas

No Brasil 247

O prazo de validade de Ricardo Salles no governo já venceu há muito tempo. Ainda que saibamos que o descalabro na política ambiental tem a digital explícita de Jair Bolsonaro, uma simples troca na pasta do Meio Ambiente já teria, há meses, melhorado o ambiente internacional a a imagem do Brasil nesse assunto. Mas Salles, espertamente, se abraçou ao bolsonarismo ideológico, e agora sua saída — ou não — virou uma batalha importante na guerra entre essa ala e os militares. Até memo os filhos presidenciais pegaram em armas em sua defesa neste fim de semana.

Do outro lado, os militares, sobretudo no Alto Comando do Exército, estão furiosos — e não só com o fato de Salles ter chamado o general Luiz Eduardo Ramos de Maria Fofoca. Além das trombadas do ministro do Meio Ambiente com o vice Hamilton Mourão, não estão gostando da forma como outro general, Eduardo Pazuello, foi tratado pelo chefe do episódio da vacina “chinesa”contra o coronavírus. Sem contar no vazamento gratuito de notícias de que o próprio Mourão será rifado da chapa presidencial de 2022.

Há algo de podre no reino de Bolsonaro, que depois do acordo com o Centrão está se sentindo muito seguro para cutucar e desautorizar seus generais — aqueles mesmos que, lá trás, dizia-se que iriam “tutelá-lo”. Assim como, justiça seja feita, o presidente vem fazendo com os próprios ideológicos em sua estratégia de se recompor com o establishment político e o próprio STF.

Talvez Bolsonaro tenha percebido que nem ideológicos e nem militares têm para onde ir sem ele. Uns, porque não vão encontrar, nem em 2022 nem nunca, um candidato mais à direita do que ele para apoiar. Outros, porque entraram numa canoa furada e agora não têm como sair. Ao passar por cima de valores como a lealdade ao Estado — e não a governos — os militares que correram para apoiar Bolsonaro e ocupar, aos milhares, os cargos da administração, talvez não tenham percebido a armadilha em que caíram. Ou talvez os espaços a preencher na volta ao poder tenham falado mais alto.

Agora, divididos e enfraquecidos, os militares percebem que sua imagem se colou a de um governo que contraria tudo aquilo que prometeu no quesito austeridade e combate à corrupção. O inevitável desgaste das Forças Armadas já se manifesta nas pesquisas. Bem feito.

Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Furiosos com a etiqueta “Maria Fofoca” ? Os militares caíram numa armadilha ? Lealdade ao Estado ?
    O que mais os militares entreguistas precisam fazer para provar que são militares sem honra ?
    É preciso parar de divulgar essa falsa imagem dos militares entreguistas. São traidores do povo que os sustenta e cuja soberania deveriam defender. Preferem, covardemente, submeterem-se ao poder dos EUA. Se isto não for verdade, então me responda: o general Alcides Valeriano está trabalhando para quem e remunerado por quem ?

  2. Algumas elocubrações sobre um governo com mais militares que os da ditadura:
    1) Freud explica o provável prazer orgásmico do capetão alijado trazer a “nata” (e que “nata”…de coalho?) ao
    seu comando dvil direto e humilhá-los. Fica entre o deslumbramento de sua visão de 3 pixels (P&B) de que o mundo é um quartel (plano, evidentemente) e a doce e fria vingança de quem “caiu para cima”…
    2) O golpe de 64 destruiu um então rico tecido cultural brasileiro (a despeito de alguns poucos projetos nacionais razoáveis), incuindo ai a cultura social, artistica, empresarial, politica e até militar. Como se formaram oficials tão mediocres como esses que despontam por aí?!
    3) Sabe-se que os principios, valores, objetivos e funcionamento militares pouco tem a ver com os civis, de um governo democrático. Generais não são eleitos, Almirantes não têm mandato, Brigadeiros não sofrem pesquisas de aprovação. Suas opiniões e ações não são questionadas por subordinados (pelo menos publicamente). Soldados não fazem manifestações de protesto. E por último, salvo grandes aberrações (como a do adolinquente…), têm emprego vitalicio, com benefícios extensivos.
    Adicionemos ai a questão do impeachment:
    a) Maia é um neoliberal do DEM, o partido então mais conservador até o surgimento desta ultra-direita alucinada.
    b) Havia?) um resquício de esperança numa candidatura presidencial dele pelo sistema que (sem querer) ajudou a colocar um cavalo babante e escoiceante. A idéia seria executar um plano econômico “bem sucedido” e demonstrar que isto independeria do psicótico sentado no trono, mas apesar dele.
    c) Uma terceira elocubração seria o risco de estragar e desmoralizar o “exemplar” impeachment de Dilma (e da “esquerda”), caracterizando que a (extrema) direita também teria seu exemplo negativo (apesar do já esquecido Collor).
    A desculpa de que o impeachment (que já poderia ter sido feito em tempo de anular a chapa) seria “traumático para o país, já deixa um prejuízo imensamente maior do que este suposto “trauma”.
    O fato é que Maia é, seja lá por que razão for, é cúmplice fundamental deste trágico desgoverno.
    Suas “sensatas palavras não correspondem aos fatos (@Cazuza).

    1. Nassif, Lourdes e envolvidos na operação: Tenho tido dificuldades eventuais em postar, devido ao fato do captcha não aparecer. Não sei se é um problema meu ou daí. O que as vezes faço é captar o texto escrito na tela do notebook com um reconhecedor de textos (OCR) no celular, corrigir eventuais distorções de leitura e postar através dele, celular (aí funciona, e a rede é a mesma). Em textos mais longos alguns erros passam despercebidos (ex: dvil em vez de civil, quebras de linha, etc.). Talvez valha a pena dar uma verificada nisso.

  3. Helena, bem feito para nós, esquerda e centro (se é que isso existe de verdade…)!
    Estivemos no poder desde o impeachment de Collor. E o que fizemos para enquadrar os militares a obedecerem a uma democracia civil? Quantos incidentes de leitura de ordem do dia de ministros, comandantes de Força, comandantes de unidade tivemos, nos mais de trinta 31 de março desses anos todos? Quantas centenas de manifestações públicas de militares em defesa daquele regime não foram punidas exemplarmente, por puro medo?
    A Democracia brasileira aceitou ser tutelada pelos militares, esses anos todos. Ficavam quietinhos no seu canto, dando um ou outro berro, porque ainda temiam mostrar as garras, não contar com apoio popular e serem obrigados a uma anacrônica aventura golpista, desaprovada pelo Patrão do Norte, que a essa altura já desenvolvia outros métodos de derrubar governos populares.
    NÓS deixamos que o Colégio Militar, as Escolas Preparatórias, as Academias Militares, as Escolas de Sargentos, as Escolas de aperfeiçoamento do oficialato, deixamos que tudo que se refere à formação dos militares ficasse nas mãos deles, daqueles mesmos militares que se formaram no golpismo dos anos 1950, na ditadura dos anos 1960 / 70. Porque não ensinamos aos nossos jovens, futuros militares, a verdadeira história do país? Porque deixamos que fossem conduzidos a cultivar uma ignorância econômica astronômica, uma ignorância política e social ainda maior?
    Bem feito para nós… nossa pusilânimidade nos legou isso.

  4. Nassif: sem essa dos milicos darem, agora, de MadalenaArrependida. Sabiam, sabem e têm o futuro projetado. Garantindo as regalias, o soldo, as mamatas (dos “patentados”) praças-de-pré e Povo que se lasquem. Roube quem roubar, desde que no pirão político-social não falte molho e peixe prós da caserna.

  5. Engana-se a Colunista: nenhum dos miliquentes que se-ajudam-com-bolsonauro foram enganados. Estão lá porque quiseram e querem lá permanecer, nem que seja pelo soldo-extra no final do mês, mas, a grande e imensa (diria o Correio do Povo de Porto Alegre: multidão de microcrateras na Lua) maioria – se não a totalidade, sempre foi direita-direita-direitona-ditatorial-com-tortura-com-ustra: então, não há de se falar em brabeza de “altos comandos”, que todos obedecem ao descalabro-comando dos bolsonazis (e aplaudem), dos heleninho (e aplaudem), dos mourão-de-banhado (e aplaudem), sem contar que, por eles, o herói mór das forças armadas seria substituído pelos filhotes-da-ditadura-armados-tal-milicianos. Vão se catar.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador