Minha imensa solidariedade ao Papa Francisco e meu imenso repúdio aos falsos cristãos, por Lucia Helena Issa

Depois de receber o presidente Lula na Piazza San Pietro, depois de conversar com ele sobre programas concretos de combate à fome, Francisco tornou-se novamente alvo dos Torquemadas sedentos de sangue.

Minha imensa solidariedade ao Papa Francisco e meu imenso repúdio aos falsos cristãos

por Lucia Helena Issa

Amanhecia no Rio de Janeiro, depois de um longa noite de tempestades assustadoras, quando começaram a chegar até mim as primeiras mensagens com as abjetas ofensas que os brasileiros estavam deixando ao Papa Francisco por ter decidido receber o ex-presidente Lula em Roma, cidade onde morei durante vários anos de minha vida .

“Traidor!”, “comunista!”, “filho de prostituta argentina!” e outras ofensas estavam sendo bradadas em uníssono pelos pseudocristãos de quem um dia me senti irmã em espírito.

A crueldade dos falsos cristãos, o ódio aos mais pobres, o ódio à empregada doméstica que ousou ir para a Disney, o terraplanismo medieval, o comportamento dos novos inquisidores alimentados por extremistas de várias vertentes, como Macedos e Olavos, nos catapultaram para os círculos do Inferno descritos por Dante na Divina Comédia.

Depois de receber o presidente Lula na Piazza San Pietro, depois de conversar com ele sobre programas concretos de combate à fome, Francisco tornou-se novamente alvo dos Torquemadas sedentos de sangue.

O mais sábio dos homens que já ocuparam o trono de Pedro, o homem que lavou os pés de um grupo de moradores de rua e os recebeu no Vaticano, o homem que trocou a luxuosa e medieval “sedia gestatoria” por uma cadeira de imenso simbolismo e simplicidade ao assumir o pontificado, o homem que pede que a Igreja seja a porta-voz da tolerância e do diálogo entre as religiões, o homem que tem pedido aos católicos menos julgamentos e mais empatia, o homem  que  recebeu os refugiados no Vaticano e lavou os pés de um deles, como Jesus o fez,  o Papa que eu tive a uma imensa emoção de conhecer na coletiva de imprensa no hospital São Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude em 2013, num dos momentos mais inesquecíveis da minha carreira, tem sido alvo de uma série de ataques protagonizados pelos mais abomináveis pseudocristãos e membros da extrema-direita mais mercenária e mais distante da mensagem de Cristo que se possa imaginar.

Esses pseudocristãos são parte do mesmo grupo, financiado por Steve Bannon, que em 2019  escreveu uma Carta Aberta em que acusavam Francisco de “heresia” por sua opção de dar voz aos excluídos, aos pobres e refugiados, uma opção que me emociona imensamente por eu ter tomado a decisão de dar voz às mulheres e crianças refugiadas depois de tudo o que tenho testemunhado na Palestina e na Síria.

Roma está repleta de refugiados muçulmanos e cristãos, vindos de países bombardeados e destruídos pelos EUA e pelo Ocidente por razões econômicas, por gás e petróleo, e não pela hipócrita justificativa de “restaurar a democracia”, e Francisco tem aberto as portas do Vaticano e feito a diferença na vida de milhares de refugiados.

Mas tem sido odiado por uma parte dos católicos europeus, americanos e brasileiros justamente pelo que faz e não apenas pelo que diz.

Morei em Roma durante seis anos, escrevi matérias sobre o Vaticano para a Folha de São Paulo e escrevi um livro, “Quando amanhece na Sicília…” , em que relato a histórica relação entre bispos de extrema-direita em Roma e os mafiosos da Cosa Nostra siciliana, e a misteriosa morte do Papa Joao Paulo I (que foi papa por apenas 33 dias e foi assassinado dentro do Vaticano), e sei exatamente como agem os falsos cristãos no Brasil ou na Itália. São pessoas repletas de crueldade, xenofobia, pequenez espiritual, e matariam o próprio Jesus (como o fizeram os militares romanos e os líderes religiosos judaicos da sua época) se ele voltasse a viver entre nós.

Os autores dos maiores ataques a Francisco, anões morais como Olavo de Carvalho ou como o italiano Carlo Maria Vigano, ou como o cardeal Burke, um norte-americano manipulador cuja máscara caiu há alguns anos, representam o que há de mais desumano, putrefato, triste e doentio dentro da minha Igreja.

Alegam que Francisco não tem se declarado abertamente o bastante contra o aborto” (o que é falso), ou  que ele tem sido “muito hospitaleiro com os homossexuais do mundo”, ou que ele  tem sido “conciliador demais na questão da imigração” ( Como Jesus agiria hoje em relação aos refugiados?).

Cardeais absolutamente hipócritas têm encontrado amplo apoio em “cristãos” como Olavo de Carvalho, que chegou a “excomungar” Francisco. Sim, ele acha que tem esse poder.

Olavo e seus seguidores psicopatas, claro, têm proferido ameaças e covardes ataques a Francisco há anos, mas durante essa semana eles têm sido ainda mais cruéis.

Como jornalista e católica, deixo aqui meu imenso repúdio aos falsos seguidores de Cristo, e minha imensa solidariedade e meu amor pelo imenso Papa Francisco.

Lucia Helena Issa é jornalista, escritora e embaixadora da paz por uma organização internacional. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro “Quando amanhece na Sicília”. Pós-graduada em Linguagem, Simbologia e Semiótica pela Universidade de Roma. Atualmente, vive entre o Rio de Janeiro e o Oriente Médio e está terminando um livro sobre mulheres palestinas que lutam pela paz.

Redação

10 Comentários

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  1. Ser cristão é ser como cristo, um professor, ensinar que a espiritualidade é a compreensão objetiva da diferença entre o bem e o mau e a escolha, pelo livre arbitrio, pela prática do bem. Nunca se soube que quis que fundasse religiões ou igrejas, que colocassem intermediários para se falar com Deus, lutou contra o governo (romanos), contra a religião da hora (fariseus e seduceus) e os trocadores de moeda (banqueiros). É exatamente o anti-cristo aquele que apoia governos, religioes institucionalizadas e o militarismo – foi a polícia de sua época quem matou cristo a mando de seu governo. Além dessa crítica de falsidade de propósitos do vaticano, as principais críticas também não foram aqui abordadas – uma história de genocídio – mas sobretudo por que Bergoglio já repetiu os erros dos anteriores, acobertamento de casos de pedofilia e escândalos do banco – e repetiu pq não foram escândalos isolados, é prática sistêmica. Não há como ser verdadeiramente cristão e apoiar o vaticano ou qualquer outra instituição diversionista dos valores cristãos que surgiram posteriormente, como as milhares de variações protestantes. A igreja romana católica foi o diversionismo original do cristianismo esotérico, as novas igrejas só expandem a função de que ninguem realmente entenda as mensagens simples de amor, justiça e liberdade.

  2. Lucia Helena esses brasileiros que criticaram e ofenderam o Papa por receber o Lula, não só no Rio de Janeiro mas, também, por todo o Brasil, na verdade sempre foram preconceituosos, fascistas e falsos cristãos, o problema é que agora usam este governo neoliberal e fascista como bengala, para expor o que sempre pensaram.

  3. Sra Lucia, boa tarde!

    A senhora sabe que um movimento dentro da igreja deseja destituir ou que ele morra?E que seu sucessor seja da ala conservadora e influenciada por setores localizados da igreja norte americana? Aliás assassinar papas não é nenhuma novidade. Eu tenho pena daqueles(as) que acham que as religiões de base cristã pregam valores fraternos, solidários, amorosos e de compaixão. É um ledo engano. Tudo se baseia em escravizar e controlar.
    É triste constatar esta realidade!

  4. Em sua última entrevista antes de falecer em julho de 2019 aos 90 anos, a filósofa Agnes Heller, questionada sobre suas crenças respondeu: “Tenho que acreditar em algo? Talvez possa responder à sua pergunta. Acredito numa coisa: as pessoas boas existem, sempre existiram e sempre existirão.
    O Papa Fransisco é isto: uma pessoa boa, sábia e com uma missão de ajudar a humanidade a encontrar um caminho de paz, justiça, amor, solidariedade além do homem, com a natureza. Estas pessoas a que você se refere são espíritos inferiores, almas pequenas qu,e infelizmente, estão entre nós. Toda nossa solidariedade ao Fransisco.

  5. Ola, O papa recebe qualquer ser.No caso, esse cidadão não é mais chefe de Estado. O Papa não receberia , nós
    Os Comuns.
    O que eu fico indignada. É como o nosso poder JUDICIÁRIO. Como o Lula foi para o Exterior> com qual passaporte? Com ,Italiano não poderia, pois ,saiu do BRASIL. Como permitiram em entregar o passaporte para esse sr. que esta condenado. Responde por mais processos. Judiciário esta louquinho que ele Fuga.
    Acredito sim! Que ela tenha ido pedir perdão ,por tantas pessoas que ele prejudicou aqui no Brasil. Com a corrupção ele
    matou muitas pessoas, em Hospitais ,escolas, em esperança, sonhos. Merenda escolar, etc…..

    1. Ana rita fuga,
      fazendo jus ao seu nome você poderia muito bem fugir deste país de bárbaros que é o brasil.
      É mesmo de se ficar indignada que um homem como o papa consinta em receber um criminoso estrangeiro em audiência particular.
      Pior que isso é o criminoso do Lula não se arrepender do que fez ao Brasil, porque, afinal, quem se arrepende do bem que faz, só faz o bem para se exibir, e Lula não é disso.
      Lula não foi pedir perdão ao papa, foi agradecer a solidariedade e pedir pelo bem do Brasil e do mundo. Essas coisas que as pessoas indignadas demoram pra entender.
      Abraços.

  6. Ana rita fuga,
    fazendo jus ao seu nome você poderia muito bem fugir deste país de bárbaros que é o brasil.
    É mesmo de se ficar indignada que um homem como o papa consinta em receber um criminoso estrangeiro em audiência particular.
    Pior que isso é o criminoso do Lula não se arrepender do que fez ao Brasil, porque, afinal, quem se arrepende do bem que faz, só faz o bem para se exibir, e Lula não é disso.
    Lula não foi pedir perdão ao papa, foi agradecer a solidariedade e pedir pelo bem do Brasil e do mundo. Essas coisas que as pessoas indignadas demoram pra entender.
    Abraços.

  7. De pleno acordo, Amoraiza. E a Senhora Fuga, pelas afirmações que fez, pertence àquela grande parcela da sociedade que faz absoluta questão de acreditar, MESMO SEM PROVA ALGUMA, nas acusações que se fazem a Lula. Logo, não adianta tentar convencê-la da verdade.

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