Minha visita a Lula em Curitiba, por Leonardo Padura

"O encarceramento do presidente e sua atual permanência na prisão escancaram que houve no Brasil uma ruptura de um sistema verdadeiramente democrático de Estado."

Leonardo Padura (centro) e Monica Benício (esquerda) em visita ao acampamento Lula Livre em frente à Política Federal. 15 ago. 2019. Foto: Ricardo Stuckert.

do Blog da Boitempo

Padura: Minha visita a Lula em Curitiba

por Leonardo Padura

Em turnê pelo Brasil para lançar seu romance A transparência do tempo, o escritor cubano Leonardo Padura fez questão de fazer uma visita ao ex-presidente Lula em Curitiba. O encontro se deu ontem, dia 15 de agosto de 2019, junto com a ativista Monica Benício, viúva de Marielle Franco. Após a visita, o autor de O homem que amava os cachorros nos enviou a seguinte declaração pública em que manifesta, por escrito, sua solidariedade ao ex-presidente e relata um pouco de suas impressões a respeito do encontro e sobre a situação do país. Confira também, ao final deste post, um registro em vídeo da passagem dele e de Monica pela vigília Lula Livre.

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Declaração:

Desde o início do processo criminal contra o ex-presidente Lula, suspeitávamos que se tratava de uma estratégia desenhada para inviabilizar o acesso à disputa eleitoral ao candidato cujas pesquisas apontavam como nome mais seguro à Presidência do Brasil nas eleições de 2018.

As revelações que surgiram posteriormente, em especial durante os últimos meses, confirmaram o fato de que Lula foi criminalizado por motivos políticos, mais do que por questões puramente jurídicas.

O encarceramento do presidente e sua atual permanência na prisão escancaram que houve no Brasil uma ruptura de um sistema verdadeiramente democrático de Estado.

Acredito firmemente que em nenhum país ou sob nenhum sistema, uma pessoa deva ser perseguida, criminalizada, atacada por suas posições políticas. É um direito universal do homem ter liberdade de opiniões políticas, desde que essas ações, ideias, posturas não gerem manifestações de ódio, xenofobia, discriminação ou perseguição de outros indivíduos.

Da minha modesta posição pessoal e considerando-me amigo do presidente Lula da Silva, me solidarizo com todos os homens e mulheres que no mundo sofreram e sofrem perseguição e assédio por defenderem sem violência suas ideias a respeito da sociedade e do mundo.

Por ocasião da visita que pude lhe fazer em seu cárcere na Polícia Federal de Curitiba, encontrei um Lula animado, lutador, convencido de suas razões, disposto a permanecer na prisão até que possa sair como um homem livre. E confiante de que, mais cedo ou mais tarde, a justiça desempenhará o papel que lhe cabe.

Leonardo Padura, escritor.

Curitiba, 15 de agosto 2019

Foto: Ricardo Stuckert.

Foto: Ricardo Stuckert.

Foto: Ricardo Stuckert.

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Leonardo Fuentes nasceu em Havana em 1955. Formado em Letras (Spanish Language and Literature) pela Universidade de Havana, trabalhou como escritor, jornalista e crítico literário até a década de 1990, quando ganhou reconhecimento internacional por uma série de romances policiais estrelando seu mais famoso personagem, o detetive Mario Conde. Mas foi com o romance O homem que amava os cachorros que Padura se consolidou no mundo literário, ganhando prestígio para além do gênero policial. Traduzida para vários países (como Espanha, Portugal, França e Alemanha), a obra recebeu diversos prêmios internacionais – Prix Initiales (França, 2011), Prix Roger Caillois (França, 2011), Premio de la Critica (Cuba, 2011), XXII Prix Carbet de la Caraïbe (2011) e V Premio Francesco Gelmi di Caporiacco (Itália, 2010). Em 2012, Padura recebeu o Premio Nacional de Literatura de Cuba. Seu romance, Hereges, ganhou o X Prêmio Internacional de Romance Histórico “Ciudad de Zaragoza” e foi finalista dos prêmios Médicis e Fémina. Leonardo Padura ganhou em 2015 o Prêmio Princesa das Astúrias, pelo conjunto de sua obra. Seu mais novo livro O romance da minha vida, escrito depois de A transparência do temposai ainda em 2019 e já está em pré-venda nas principais livrarias do país.

Redação

2 Comentários

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  1. Para quem declarou no programa Roda Viva que ao visitar um país evitava fazer declarações sobre o que pouco viu e sabe do local, é deveras estranho a visita do escritor Padura ao preso Lula da Silva, além de considerá-lo como vítima de processo ilegal e destinado a impedir sua candidatura à presidência.

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