Miriam Leitão e a balcanização partidária do Brasil, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Entender o que se passa no Brasil nos últimos anos não é algo fácil. Analistas políticos de direita simplificam a derrocada da oposição culpando o Bolsa Família. Ideólogos de esquerda projetam o passado no presente do país, especulando sobre golpes planejados com ou sem ajuda da CIA. Telejornalistas que vivem num universo totalmente apartado do cotidiano da maioria da população inventam explicações esquemáticas e até exotéricas para a maneira como o povo vota.

A atitude dos partidos derrotados nas últimas eleições presidenciais é risível e de certa maneira esquizofrenica: candidatos que perderam  eleições se comportam como se fossem governantes e tentam empurrar o governo para a oposição. A politização exagerada do Judiciário em detrimento de suas funções institucionais é, sem dúvida alguma, um fator de complicação. A insistência da imprensa de impor à nação sua agenda política, de criminalizar o PT, Lula e Dilma Rousseff e de se elevar à condição de STM (Supremo Tribunal do Moralismo) já está colocando em risco até mesmo os direitos e garantias individuais dos réus nos processos como bem observou um colega notável aqui no GGN (A mídia está substituindo o juiz no ato de julgar, denuncia Mariz). 

O Brasil, contudo, segue em frente. O sucesso financeiro e tecnológico da Petrobras, os recordes de produção do Pré-Sal deveriam ser considerados indicadores de um futuro brilhante, mas os telejornalistas seguem irritando o respeitável público com denúncias cotidianamente requentadas, sempre contra o governo (raramente contra a oposição igualmente implicada no escandalo da Lava Jato). Um criminoso foi transformado em heróico delator profissional e a celebridade do momento é um  Juiz Federal que parece gostar mais do espetáculo do que de cumprir suas obrigações funcionais (dentre as quais a de se desviar da notoriedade fácil). 

As finanças do país estão em dia, as reservas internacionais e moedas consideradas fortes garantem a solidez dos fundamentos da economia brasileira. A inflação é moderada e a taxa de desemprego  baixa não correspondem à imagem do país afundando artificialmente divulgada pelos jornalistas e telejornalistas. A própria imprensa é que parece estar afundando numa crise de identidade.  Os especialistas em comunicação não se dão mais ao trabalho de observar o país que apresentam ao respeitável público, eles se transformaram em caixas de ressonância de uma oposição frustrada que não tem nada a oferecer aos brasileiros além de aulas de como bater panelas https://www.facebook.com/aloysionunes/videos/896707770370959/ . Poucas panelas foram maltratadas para desespero do Senador e dos jornalistas que cobriram com grande intensidade emocional o fiasco do “panelaço”.

A falta de foco dos jornalistas é evidente. O discurso deles está em algum lugar entre a sonolência e a decadência ideologizada. Isto explica o sucesso dos blogues e a queda acentuada da pontuação no IBOPE do tradicional Jornal Nacional. As tiragens das revistas e dos jornais impressos também estão em queda, em parte por causa da internet. Os jornalistas, sempre eloquentes ao apontar a estupidez dos políticos (especialmente se eles forem do PT) não conseguem entender a razão da existência de um abismo entre a “opinião pública” (aquela que é consolidada pelo resultado das eleições presidenciais) e a “opinião publicada” por eles em favor dos derrotados nas urnas.

Não há perigo de ruptura. Verdade. O perigo talvez seja o de balcanização. Por isto vou recorrer ao grande Eric Hobsbawm para tentar entender e explicar o Brasil tal como o vejo. Diz o historiador:

“Precisamos distinguir entre os dois significados do termo ‘Estado nacional’. No sentido tradicional, refere-se a um Estado territorial sobre o qual o povo que nele vive, a Nação, tem um poder soberano. Este é o sentido do Estado nacional que surgiu com a Revolução Francesa e, em parte, com a Revolução Americana. Trata-se de uma definição política, e não étnica ou linguística, do Estado: é um povo que escolhe seu governo e decide viver sob determinada Constituição e determinadas leis.

Em comparação, o outro significado do termo é muito mais recente e consiste na ideia de que todo Estado territorial pertence a um povo específico, definido por determinadas características étnicas, linguísticas e culturais  – e que isso constitui a Nação. Segundo essa ideia, apenas a Nação pertence ao Estado nacional, e todos os outros não passam de minorias que, embora vivam no mesmo local, não fazem parte da Nação.

Ambos os tipos de Estado nacional estão em crise, mas é fundamental estabelecer uma distinção entre eles. O que vemos na Iugoslávia é o colapso de um Estado no qual coexistem várias nações no sentido étnico, cada qual empenhada em negar às outras seus direitos de cidadania.” (O Novo Seculo – entrevista a Antonio Polito, Companhia das Letras, São Paulo, 2014, p. 27)

O fenômeno referido por Hobsbawm (a balcanização étnica) seguiu uma direção ainda mais terrível no Oriente Médio, onde as aventuras políticas e militares dos EUA resultaram na criação de um Estado Islamico. Neste a Nação se define não por etnia ou adesão política e sim pelo pertencimento a uma versão política e intolerante do islamismo. Todos os que não pertencem à nova matriz nacional podem ser mortos e, eventualmente, decapitados diante das câmeras de TV. Os tesouros arquitetonicos e artísticos das civilizações antigas que existiram naquele território antes do surgimento do Estado Islamico tem sido sumariamente destruídos. Estes objetos não tem qualquer valor no presente ou no futuro da nova nação islâmica.

No Brasil a balcanização não segue uma direção étnica, nem religiosa e sim partidária. Tudo que não espelhe o “ideal tucano” de governança (o que quer que isto signifique, pois FHC quebrou o Brasil três vezes e Geraldo Alckmin deixou os paulistas sem água) é sumariamente rejeitado pela mídia. Alguns jornalistas não escondem que desejam destruir o PT, outros falam em “despetização” do Estado como se os Senadores e Deputados da oposição tivessem “mais direito” ao mesmo do que os petistas eleitos pelo povo brasileiro.

O perigo da balcanização partidária do país existe. De fato, o fenômeno é diariamente fomentado pela imprensa. Há alguns dias, por exemplo, Mirian Leitão acusou Dilma Rousseff de estar “aparelhando o STF”. Vários jornalistas fizeram coro e forçaram o candidato indicado pela Presidenta à vaga no STF a suportar uma verdadeira tortura no Senado Federal. Curiosamente, nem Mirian Leitão nem seus colegas acusaram FHC de ter “tucanizado” o STF quando ele, então Presidente, indicou vários dos membros daquela Corte.

É evidente que a imprensa não tem qualquer compromisso com a normalidade constitucional. A balcanização partidária do país é a ante-sala da violência política? O princípio de uma “solução final”, do extermínio físico dos petistas? E se os petistas começarem a se armar para reagir à ameaça crível de violência? O desejo frustrado de domínio dos sérvios implodiu a Iugoslávia. O desejo frustrado de império dos tucanos pode implodir o Brasil, principalmente porque em nosso país a imprensa é altamente concentrada.

O Brasil está longe de ser um Estado falido, mas o perigo existe. Afinal, aqueles que apostam na falência do regime constitucional seguem instigando ódios partidários diariamente. Um rompimento da legalidade colocará em risco a unidade territorial do país e fomentará a guerra civil entre os brasileiros de diversas orientações partidárias, políticas e ideológicas. Os prejuízos para a indústria, comércio e arrecadação de impostos serão catastróficos alimentando um ciclo de violência que pode durar décadas.

A quem compete interromper a balcanização partidária do Brasil? Ao TSE, que deve começar a analisar com seriedade a possibilidade de punir os partidos da oposição que fomentam o ódio ao PT. O próprio governo não pode se furtar à sua responsabilidade de quebrar a dinâmica jornalístico-partidária mediante a regulação e democratização da imprensa. Se nada for feito o ódio explodirá nas ruas e depois que isto ocorrer, nem mesmo as Forças Armadas poderão salvar o país, seu povo e a nossa economia.

Fábio de Oliveira Ribeiro

24 Comentários

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  1. OS CARAS ESTÃO DESESPERADOS…

    A notícia agora é que a VEJA vai publicar no seu períodico de fim de semana todos os bens do filho do Lula. 

    Tem que vender a notícia, senão é rua!!!

  2. O trecho abaixo resume tudo, mas parece faltar colhão

    “A quem compete interromper a balcanização partidária do Brasil? Ao TSE, que deve começar a analisar com seriedade a possibilidade de punir os partidos da oposição que fomentam o ódio ao PT. O próprio governo não pode se furtar à sua responsabilidade de quebrar a dinâmica jornalístico-partidária mediante a regulação e democratização da imprensa. Se nada for feito o ódio explodirá nas ruas e depois que isto ocorrer, nem mesmo as Forças Armadas poderão salvar o país, seu povo e a nossa economia.”

     

    Sim, parece faltar colhão a quem pode acabar com esta palhaçada!

    1. Carlos,

      E vc acha que o momento atual com os 2 presidentes do legislativo que temos, o governo conseguirá algo neste sentido? Talvez a oportunidade, no 2º governo Lula, tenha ficado para trás.

  3. Caro Fábio,

    muito bom texto.

    Pela Constituição (artigo 127), a defesa do Estado Democrático de Direito compete ao Ministério Público (“… incumbindo-lhe a defesa … do regime democrático…”). Causa tristeza a omissão do MP neste campo. Pessoas vão  às ruas levantar cartazes pedindo intervenção militar e nada acontece, é como se fosse a coisa mais natural do mundo.

    Os quadros pensantes das Forças Armadas (EMFA, ESG etc) podem não ter nenhuma simpatia por uma presidente que institui uma Comissão da Verdade, mas eles sabem muitíssimo bem que o comunismo acabou faz tempo, que o único inimigo externo potencial é aquele que ambiciona nossas riquezas naturais (o pré-sal, o aquífero Alter-do-Chão, a biodiversidade da Amazônia) – e esse inimigo potencial tem nome e sobrenome -, e que a política externa brasileira precisa ser altiva e defensora de um mundo multipolar ao invés de unipolar.

    Se (se) essa instabilidade toda acabar convergindo para uma espiral de violência (dentre outros fatores, pela omissão do Ministério Público), inevitavelmente haverá clamores separatistas. Mas não haverá meios (militares) para tanto. Após 1932, as milícias (atuais PMs) dos governadores (em São Paulo chamava-se Força Pública) foram subordinadas ao Exército pois, se os governadores continuassem livres para aparelhá-las, acabariam dotando-as de armamento de guerra como tanques e aviões de combate (não fosse pela aviação militar, possivelmente 1932 teria tido outro desfecho, pois a Força Pública de São Paulo encontrava-se tão ou melhor aparelhada que o Exército, à época).

    Ademais, a identidade histórica (que é o que define a razão última de existência) do Exército é a manutenção da integridade territorial (e falo aqui do Exército, não do conjunto das nossas Forças Armadas). Aos olhos do Exército, nenhum fracionamento do nosso território poderá jamais ser tolerado.

    O que não significa que sangue não possa vir a ser derramado, em vão. O Brasil necessita, urgentemente, de um esforço de fundo CULTURAL para a superação dos atuais conflitos.

    Abraços

     

  4. Por que a referência à Miriam Leitão?

    Surpreendeu-me positivamente seu artigo em que se posiciona criticamente diante da balcanização da política e pela regulamentação do exercício e do desenvolvimento descentralizado dos veículos de comunicação. Até o ano de 2006 estes veículos constituiam a única fonte de informação, veiculação de notícias e formação de opinião pública. A regulamentação dos artigos da Constituição no que concerne a comunicação já deveria ter sido aprovada pelo Congresso e estar em efetiva operacionalização. Porem foi imposta uma resistência liderada principalmente pelo Instituto Millenium que se tornou porta-voz do pensamento neo-liberal. O país avançou criticamente em função do exercício da interatividade digital o que exigiu que os próprios veículos se atualizassem E hoje há uma premência para a regulamentação e a implantação de medidas que reflitam essa nova realidade.

    Também a reforma política que há muito se tornou urgente enfrenta resistências de setores que reagem a mudanças. Tanto a regulamentação do exercício da política de comunicação assim como a reforma política dependem de um entendimento nacional em torno de grandes questões. Tanto em um campo como em outro o que está em curso é uma revisão de medidas e não a necessária transformação do modelo e por conseguinte do paradigma. A realidade e as novas condições pressionarão para que os legisladores venham a rever suas resistências e portanto venham a ser protagonistas das verdadeiras mudanças que são fundamentais para o avanço social e a modernização das relações entre poder, mídias e sociedade civil.

    1. o porque

      Porque ela se passa por jornalista e por especialista em economia, mas o que faz na TV é militancia aberta contra a esquerda e o governo eleito democraticamente.

  5. E ………………….

    “Um rompimento da legalidade colocará em risco a unidade territorial do país e fomentará a guerra civil entre os brasileiros de diversas orientações partidárias, políticas e ideológicas.”

    O que faço desta leitura, nada mais é que, se houver de fato uma guerra civil, todos seremos troféus, e quem vai estar rindo, é o império e seus capachos que contribuiram para tal aventura !!!

    Á frente, a midia prostituta que até hoje não foi regulamentada conforme determina a CF.

    Esperar para ver !!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Como disseram – “falta culhões”! para por um fim nisto !!!!!!!!!!!!!!!

  6. NASSIF, A IMPRENSA

    NASSIF, A IMPRENSA BRASILEIRA, EM SUA GRANDE MAIORIA CERROU FILEIRAS PARA DERRUBAR A NOSSA PRESIDENTE (A).

    É RIDÍCULO O PAPEL QUE ELA ESTÁ FAZENDO E SE PRESTANDO A FAZER.

    PIOR AINDA SÃO OS MIDIOTAS QUE COMPRAM NUVENS E VENDEM ARROTOS.

    DIGO A QUEM POSSO: VOLTAMOS A IDADE MÉDIA. TORQUEMADA RESURGIU DAS CINZAS POR OBRA E GRAÇA DA TUKANALHA.

    RESURGIRAM COM O MALEUS MALEFICARUM EMBAIXO DO BRAÇO….

    A IMPRENSA MANDA PRENDER, JULGA E CONDENA BASEADA NAS OPINIÕES DE DELATORES CRIMINOSOS.

    TUDO O QUE TU DISSESTES A RESPEITO DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS (FALTOU IR FUNDO NA CONDIÇÃO SOCIAL DA MAIOR PARTE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA, DEPOIS DE LULA, ATÉ O MOMENTO….) É VERDADE MAS DESPREZADO E DESPREZIVEL PARA A NOSSA MALDITA IMPRENSA PELÊGA.

    HOJE FORAM LANÇADOS AO MAR DOIS NAVIOS DA TRANSPETRO, PADRÃO SUEZMAX, NOS ESTALEIROS DE IPOJUCA (PE) E A MALDITA IMPRENSA VENDIDA AO INTERESSE DOS BICUDOS EMPLUMADOS NA REPERCUTE ESTE FATO, É QUE ELE É IMPORTANTE E MARAVILHOSO POR DEMAIS…..

    E AÍ…..??????

    SDS.,

    ROGÉRIO RIVA RAYMUNDO

  7. Explicação para isso? Fácil:

    Explicação para isso? Fácil: vão tentar no golpe, o que não conseguiram nas urnas. Pior- já estão antevendo que vão perder a próxima também. Ó generosas tetas federais, que saudades!

  8. Me parece que, enquanto AMBOS

    Me parece que, enquanto AMBOS OS LADOS não se derem conta de suas responsabilidades na tal “balcanização”, o fomento ao ódio sempre será do outro. PSDBistas incitam ódio ao PT ou Petistas incitam ódio ao PSDB. Ou ambos. Afinal, Narciso acha feio o que não é espelho…

    1. Ironia…

      Narciso acha feio o que não é espelho…

      uma frase de nordestino falando de São Paulo usada para defender os mauricinhos de sempre da mídia… Certamente adequado, mas mal interpretado…

    2. Discordo. Os petistas fazem o

      Discordo. Os petistas fazem o que é necessário para atender as necessidades do povo brasileiro. Os tucanos fazem exatamente o oposto, eles parecem gostar de ser odiáveis:

      1- FHC quebrou o Brasil e foi a praia como se nada tivesse acontecido;

      2- José Serra interrompeu o combate ao mosquito da dengue, provocou uma verdadeira epidemia e faz de conta que não é o responsável pela mesma;

      3- Alckmin deixou os paulistas sem água e culpa as núvens que não choram de dó dos tucanos;

      4- Nero Richa mandou espancar professores em greve e depois se lamenta do ocorrido;

      5- Tucanos estão envolvidos até o pescoço com o tráfico de grandes quantidades de cocaína e tem chiliques quando a “cocaína de campanha” deles é apreendida pela PF;

      6- O representante do PSDB no STF, Gilmar Mendes, está há um ano sentado num processo que poderia resolver o problema da corrupção banindo o financiamento privado de campanha;

      7- FHC recebe aposentadoria como Senador e como Presidente, mas fala mal do Brasil no exterior.

      Preciso continuar dando exemplos de como os tucanos são odiáveis? Os petistas nem precisam falar mal dos tucanos para o povo odiar o PSDB. 

       

  9. E por se falar em Bálcãs em balcanização em balcão de negócios..

    E por se falar em Bálcãs em balcanização em balcão de negócios… umas ideias político-partidária da Revolução de Veludo deles, os balconistas:

    “A estranha derubada de Slobodan Milosevic

    O terceiro motivo da derrota de Milosevic foi que Djindjic e outros conseguiram controlar egos briguentos o suficiente para concordar com a candidatura de Vojislav Kostunica, líder do pequeno Partido Democrático da Sérvia, que se separara do Partido Democrático no começo da década de 1990. Kostunica relutou em se candidatar – ele diz em tom meio brincalhão que era o primeiro eleitor indeciso – , mas a escolha era perfeita, pois ele tinha uma combinação única de quatro qualidades: era anticomunista, nacionalista, incorrupto e sem graça.

    Kostunica nunca pertenceu ao Partido Comunista. Advogado constitucionalista e cientista político, escreveu sua tese de doutorado, em 1970, sobre o papel da oposição num sistema multipartidário. Posteriormente, traduziu The federalist papers e estudou Tocqueville e Locke. Foi demitido da Universidade de Belgrado por se opor à Constituição de 1974 de Tito, que julgava injusta para com os sérvios. Ao contrário da maioria dos líderes de oposição jamais estivera com Milosevic – até sexta-feira, 6 de outubro, quando o comandante do Exército, general Nebojsa Pavkovic, arranjou um breve encontro entre o presidente que saía e o que entrava. “Assim, encontrei-o pela primeira vez quando ele perdeu o poder”, disse-me Kostunica com orgulho.

    Ele era um nacionalista moderado que havia apoiado a República Sérvia na Bósnia e criticado acerbamente a guerra da OTAN no Kosovo. Ao contrário de Djindjic e Draskovic, nunca fora visto de braços dados com Madeleine Albright. Permanecera em Belgrado durante todo o bombardeio, enquanto Djindjic havia fugido para Montenegro, temeroso, talvez com razão, por sua vida.

    Era incorrupto. Raramente vi um escritório de partido mais espartano que o dele. Morava num apartamento pequeno com a esposa e dois gatos e dirigia um velho e gasto automóvel Yugo. De novo, o contraste era agudo com outros líderes de oposição, em especial Djindjic e Draskovic. Com seus ternos elegantes e carros velozes, era voz corrente que metiam a mão no caixa – à velha maneira da maioria dos políticos do mundo pós-otomano.

    Achava-se que sua grande desvantagem era a falta de brilho. No fim das contas, até isso se transformou numa vantagem. Ouvi muita gente dizer que gostava de seu estilo lento, pesado, fleumático. Diziam que era um contraste muito bem-vindo com o histrionismo trágico-heroico de Milosevic, mas também de muitos de seus oponentes, como o vociferante Vuk Draskovic. “Sabe, eu quero um presidente enfadonho”, disse-me um importante jornalista independente (como Seu Nassif, pero si). “E quero viver num país enfadonho.”

    […]

    A outra explicação parcial é menos dramática, mas também convincente e importante. É que muita gente que no passado tinha votado em Milosevic simplesmente decidiu que já bastava. O líder perdera o contato com a realidade. Por estar no poder havia tanto tempo, era culpado pelas dificuldades do presente. Era hora de mudar. Segundo Ognjen Pribicevic, velho crítico de Milosevic, foi como o que aconteceu com Margaret Thatcher e Helmut Kohl, depois de seus onze e dezesseis anos no poder. A comparação com Thatcher ou Kohl pode parecer surpreendente, até insultuosa. Contudo, é um lembrete útil de que para muitos eleitores sérvios Milosevic não era um criminoso de guerra ou um tirano. Era apenas um líder nacional que fez algumas coisas boas e algumas ruins, mas que agora tinha de ir embora.”

    OS FATOS SÃO SUBVERSIVOS, Timothy Garton Ash. Trad.Pedro Maia Soares. Companhia das Letras, 2011.

     

    1. Nao entendi “a moral” do seu

      Nao entendi “a moral” do seu texto. A historia dos Balcas tem uma complexa luta de etnias (especialmente eslavos vs “povos autocnes”) e nacionalismos bem arraigados em varias populacoes da area. Nao ha dois povos e dois partidos brigando por algo, ha uma serie de “cicatrizes” historicas (inclusive antes do Milosevic) que aparentemente demoram para fechar. Ao contrario do que pensam ele tb nao foi condenado como responsavel pelo genocidio mas cumplice. Ao contrario do que pensam os servios nao sao mais tao nacionalistas pois estao migrando em massa para EU tanto que se esta construindo um muro na Hungria.

      No meu entender, o paralelo que o autor do texto faz é um alerta para o papel da midia na “polarizacao” da sociedade esquerda e e direita, se aproveitando da formacao dos que tem mais de 30 anos receberam na epoca da ditadura, com claro apoio à direita e os setores menos progressitas da sociedade. A palavra “balcanizacao” numa alusao a “guerra civil” foi talvez uma escolha infeliz dele pois a situacao etnica que faz a questao dos balcas tao complexa é muito peculiar. O Brasil esta a anos luz  de uma dinamica dessas, primeiramente por nao ser uma luta etnica mas de status. Setores economicos e classes de trabalhadores acostumados com gordos privilegios (gdes empresariado, profissionais liberais e determinadas categorias de servidores publicos, inclusive politicos) estao perdendo seu “espaco”, eles nao se conformam e eles lançaram junto com a midia um projeto anti-esquerda que logicamente é contra o Brasil (nenhuma novidade até aí, a direita nunca governou para os brasileiros mas para si, suas familias e amigos).

      Nao havera guerra civil no Brasil pq a tradicao da direita é colonial. Eles nao sujam as maos para nada, traço cultural caracteristico deles é que os outros sujem as maos trabalhando. Nao vao pegar nas armas (nao pega na louca, nao pegam no batente, até o filho quem cria é a moça que trabalha na casa…), mas usariam os militares para tanto. Muita gente logico nao tem essa condicao mas apoia a direita na esperanca de realizar esse ideal cultural, parte da identidade de muitos brasileiro que encontra sua difusao, refinamento e manuntencao atraves da midia de massa privada.

      No caso de golpe, fora um obvio condenamento por parte da comunidade internacional (na europa o governo do PT tem uma otima imagem, talvez o unico apoio seria os EUA) havera no min 50 milhoes de pedidos de asilo pelo mundo (especialmente na europa que ja tem o problema dos refugiados, especialmente os servios). A mera tentativa de golpe, vai mandar Aecins e Beto Hitlers para tribunais internacionais, assim como o Milosevic.

      A esquerda tem se atualizar no discurso (pois nao lutamos contra o ancien regime ou poder absoluto mais) e saber que com o olho tao grande da “comunidade internacional” so a nao violencia vale como argumento. Seria superacao uma historica da esquerda brasileira e a certeza da garantia no espaco politico para eternidade. Na violencia é que o humano perde sua humanidade.

       

       

  10. O texto só mostra como é

    O texto só mostra como é difícil construir um país. Enquanto tem aqueles que tentam andar para frente, sempre tem uma grande parcela de estúpidos (e seus muitos seguidores) que, de tanto ficar de joelhos, se esqueram de como é fazer uma coisa tão simples como ficar em pé.

  11. Tudo que vem acontecendo é em

    Tudo que vem acontecendo é em razão dos almofadinhas da oposição não conseguirem sobreviver sem as tetas dos cofres públicos. 

  12. Parabéns, professor Fabio de

    Parabéns, professor Fabio de Oliveira Ribeiro, por mais estas sábias palavras em defesa da liberdade do povo brasileiro. Assim, como o senhor, creio que o exemplo para sairmos deste impasse político é mirar o passado e seguir o exemplo de Getulio Vargas, que em uma atitude corajosa tomou o poder para si e baniu da vida pública os traidores da Pátria. Coragem, presidenta Dilma! Com Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Sergio Moro será impossível manter a governabilidade social rumo à independência do capital estrangeiro. Somene com pulso firme o olhos voltados para o futuro conseguiremos alcançar um pleno Estado de Soberania!

    1. Golpe

      Deixe-me ver se eu entendi: Você prega um estado de soberania mas invoca o golpe militar ditatorial do tiranete Getúlio Vargas?

      Vamos rumo a ditadura do proletariado ? 

      Afff

  13. Parabéns, professor Fabio de

    Parabéns, professor Fabio de Oliveira Ribeiro, por mais estas sábias palavras em defesa da liberdade do povo brasileiro. Assim, como o senhor, creio que o exemplo para sairmos deste impasse político é mirar o passado e seguir o exemplo de Getulio Vargas, que em uma atitude corajosa tomou o poder para si e baniu da vida pública os traidores da Pátria. Coragem, presidenta Dilma! Com Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Sergio Moro será impossível manter a governabilidade social rumo à independência do capital estrangeiro. Somene com pulso firme o olhos voltados para o futuro conseguiremos alcançar um pleno Estado de Soberania!

  14. ATÉ QUE EM FIM ALGO SENSATO, PARA APARAR ARESTAS.

    Pessoal, foi a maior burrice que o PSDB cometeu em cofrontar o Brasil para atingir o PT, queiram ou não queiram são unhas e carne. Pensar o Brasil era muito mais importante, embora eu goste de oposição para que a unanimidade tornem todos burros. no Brasil de hoje não há mais espaço para retoricas desnecessárias. O Brasil não pode ser mais coadjuvante na geo-política mundial, nem econômica e nem política, não podemos mais nos da o luxo de voltar no tempo, não há mais espaço para tentar dividir o Brasil, panelas são necessárias, mas nem por isso devemos contrapor a maioria, não sei de quem partiu essa loucura, mas o certo é que tentaram chutar o balde e matar o Brasil por assim dizer. não foi educativo pessoas feito zumbis sem saber nem o que estava acontecendo, foi a celebrização da burrice ideológica. leiam  o que o General Villas Bôas, comandante do Exército durante a vista a Mato Grosso disse:

    http://www.ocafezinho.com/2015/05/15/exercito-alerta-golpistas-dilma-e-a-comandante-em-chefe/#more-28551

     

     

  15. Miriam

    Essa Miriam tem de explicar melhor aquela estória de passar uma noite numa cela escura com uma  anaconda, lá nos princípios da “redentora”.A própria informou sobre o pretenso ocorrido.Sindrome de Estocolmo???

  16. Complemento com:

    E assim ficará muito mais fácil que roubem o pré-sal. Só não vê quem não quer. Alguém acha que a direita está preocupada com isso? Que nada, já roubaram muito. Na hora que o bicho pegar eles fogem pra morar fora e deixarão os – desculpem o termo – “imbecis inúteis” para brigar por algo que nem eles mesmo sabem.

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