Moro, o anti-herói sem caráter
por Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)
Macunaíma está a reclamar largamente o seu epíteto. Não sem razão.
Temos assistido a formação de heróis em nosso cotidiano. E não vemos nenhum problema na construção mitológica de heróis. Mas a sua constituição heróica se vê impedida quando a caracterização daquele que pudesse atuar em seu lugar, na aventura que é a vida, seja a antítese de sua atuação heróica. Neste sentido, um herói que se constrói contra a virtude, contra os valores que se quer afirmar, só pode ser dito o anti-herói.
Quem atua como juiz e pretende atualizar o arquétipo do juízo imparcial, não se vale de notas à imprensa, não vive a falar fora dos autos, não combina estratégias com o órgão de acusação, não faz juízo negativo da defesa pretendendo desqualificar o seu trabalho frente à opinião pública. Não há como dizer que a atuação contrária a tudo aquilo que se espera de um juízo imparcial possa ser tomada como modelo e enaltecida como heróica. Ao contrário, uma atuação pautada pelo excesso de exposição, por pronunciamentos fora dos autos, por solicitação de que a acusação se pronuncie na imprensa contra o discurso da defesa e explore as suas supostas contradições, somente pode chamar-se de anti-heróica.
E quando um tal anti-herói vem a público negar tudo aquilo que fez e dizer que houve o máximo respeito ao devido processo legal e a lídima aplicação imparcial da lei, só nos resta dizer que a ausência de caráter marca a presença do anti-herói. Aquele que procura naturalizar o malfeito não tem o menor apreço à Justiça.
Sua fala soa como uma sentença : somos todos parciais e, portanto, a parcialidade, a inequidistância do juízo em relação às partes, a realização de juízos políticos são práticas corriqueiras em nossa tradição jurídica. É como afirmar que a proibição de que se faça uso de procedimentos judiciais para atingir inimigos políticos não existe em nosso sistema. O que o anti-herói diz é que o judiciário brasileiro é inexistente enquanto poder que procura realizar o valor Justiça. Que o Judiciário brasileiro é, tradicionalmente, bandido como ele é.
Ao defender o anti-herói que atribui as suas faltas ao suposto costume do judiciário faltoso, o que fazem os “cidadãos de bem” é dizer que todos os atores judiciais são inimigos do justo. Que não há dores na consciência de quem erra na prática judicial, pois a naturalização do erro torna desnecessário o seu reconhecimento e, portanto, impede a sua correção. O Poder Judiciário, para o anti-herói, é a canalha.
É por isso que, hoje, Macunaíma reclama largamente o seu epíteto, pois, tal e qual um dia sumiu a Muiraquitã, agora roubaram o que o qualifica, o que o faz ser “o herói sem nenhum caráter”. Ao menos já não se pode dizer que seja “o” herói sem nenhum caráter. Um forte concorrente roubou-lhe a caracterização. A sua definição, antes contida no original, abriu-se indefinidamente pela inovadora intervenção de um anti-herói a serviço da desmoralização da justiça.
Vimos a deambular sob os holofotes televisivos, em uma das mais importantes Comissões do Senado da República, a presença da mais colossal ausência de caráter. Vai ver que também foi o hacker que, criminosamente, invadindo a alma do anti-herói, retirou-lhe todo o caráter.
É uma infelicidade que o nosso Batman seja uma invenção Tabajara. O Batman dos quadrinhos atuava a noite, no escuro, para que o Comissário Gordon e o Promotor Dent pudessem, sob a luz do Sol, fazer com que as pessoas permanecessem acreditando na Justiça.
O nosso Batman, o concorrente macunaímico, a presença da ausência de caráter em toda a sua plenitude, obnubila as consciências (e até mesmo a sua própria, há muito deixada para trás) e quer brilhar… E quer ver atingidas as visões, quer todos comprando ouro de tolo, pois vende como justiça a injustiça formal e substancial.
Resta-nos rezar aos deuses para que, antes de desacreditarmos em qualquer possibilidade de que se faça o justo, Macunaíma encontre o anti-herói, primeiro tome aquilo que é seu e de que sempre fez bom uso, e depois o transforme em um bicho preguiça de pedra exemplar…
Celso José Ferreira de Oliveira *
Wilson Luiz Müller *
*Integrantes do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)
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O ex-juiz vive um paradoxo. Perdeu 10% de sua aprovação, parcela certamente formada por antipetistas com nocao política mais apurada, mais críticos, que enxergam que sua parcialidade traz mais risco a valores civilizatórios importantes (democracia, liberdades e garantias) do que beneficios à bandeira de limpeza da corrupção. O apoio popular que lhe restou, ainda alto, é formado pelos antipolíticos raivosos (não apenas antipetistas), turma mais tosca e maipulável pela mídia hipócrita, é que tb é a mais sujeita ao efeito manada. É a galera do fla x flu rasteiro, que por ora vê na parcialidade de moro justamente sua grande virtude: a de combater o inimigo, custe o que custar. Disso resulta a dicotomia, a escolha de Sofia que tem feito moro regurgitar um discurso dúbio, contraditório, argumentativamente pueril e suicida (“quântico”, segundo RA). Seu emparedamento tende a faze-lo definir aquilo que, de um ou outro modo, significará a perda de um de seus pilares. Ou bem ele segue com discurso de juiz correto e imparcial e decepciona aqueles minions que veem nele o porta-estandarte contra a “velha política”, supostamente corrupta por natureza, ou bem mantém seu “eleitorado” assumindo politicamente o papel de herói, mas deslegitimando juridicamente sua atuação à frente da LJ
Aplaudo com veemência essa nota dos auditores fiscais pela democracia. Cada vez que vejo categorias públicas conscientes do que esse lado podre do judiciário, ministério público e polícia federal, fez de mal ao país, fico esperançosa de que a derrota desses canalhas está próxima.