Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
[email protected]

Na recessão brasileira, os maiores lucros bancários do mundo, por Andre Motta Araujo

Entre as causas da recessão brasileira estão os JUROS MAIS ALTOS DO MUNDO para o consumidor pessoa física e entre os mais altos para as empresas.

Na recessão brasileira, os maiores lucros bancários do mundo

por Andre Motta Araujo

A política monetária ultrapassada, medíocre, burra, do bunker econômico, vai enterrar o Brasil por mais 20 anos. Porque não se abre um debate sobre a MODERN MONETARY THEORY, algo que hoje é tema central na discussão no novo pensamento econômico que vai muito além da Teoria Monetarista ortodoxa? Nada muda na doutrina e prática monetária do nosso Banco Central desde 1994, está congelada quando BCs do mundo inteiro mudaram?

Nada evolui, não tem ideias novas? Não tentam ao menos discutir, lançar o debate, patrocinar seminários internacionais com Prêmios Nobel?

Que tal SOLUÇÕES para o cataclisma social do desemprego e da estagnação? NÃO HÁ NENHUM PROBLEMA NO BRASIL, está tudo em ordem?

[O GGN prepara uma série no YouTube que vai mostrar a interferência dos EUA na Lava Jato. Quer apoiar o projeto pelo interesse público? Clique aqui]

O Banco Central é parte  crucial da profunda crise econômica, financeira e social que só aumenta no Brasil, não se conhece manifestação do nosso BC sobre alguma evolução em suas crenças sobre o mercado de juros na economia real, juros que não cessam de subir mesmo quando cai a taxa básica, o Banco Central acha normal, não faz nada, deixa correr. Por que não ameaça com algo mais drástico para conter a escalada nos juros e a consequente evolução estratosférica no lucro dos bancos?

As desculpas de sempre, não mudam há 20 anos, o spread é alto porque bla, bla, bla, nem se dão ao trabalho de inventar desculpa nova. O BC não faz absolutamente nada e deixa correr, por que não ameaça criar um TETO para os juros? Ah, não pode porque o mercado é livre, com três bancos que, por coincidência, sobem juntinhos as taxas para cartão de crédito rotativo, cheque especial e crédito pessoal.

Os bancos centrais, em qualquer País, fazem parte do contexto político e social, não são ilhas acima do quadro geral econômico que afeta a população. Se no Brasil acontecer um cataclisma social causado pela RECESSÃO SEM FIM com um agravamento da miséria, o Banco Central vai ser engolido junto com os demais escombros institucionais, não adianta uma MOEDA ESTÁVEL EM UM PAÍS INSTÁVEL, da paz monetária dos cemitérios não brota nada.

OS JUROS ALTOS

Entre as causas da recessão brasileira estão os JUROS MAIS ALTOS DO MUNDO para o consumidor pessoa física e entre os mais altos para as empresas.

Os inacreditáveis comentaristas econômicos da mídia brasileira, que seguem a mesma cartilha dos economistas de mercado, atribuem os juros no cartão de crédito, no cheque especial e nos créditos pessoais à FALTA DE COMPETIÇÃO no mercado bancário brasileiro.

Mas quem foi que criou a falta de competição? FOI O BANCO CENTRAL E SEU ENTORNO, a mesma cabeça que vem desde o Plano Real. Antes de 1994, o Brasil tinha 600 bancos, 38 bancos de médios a grandes, 18 bancos estaduais, TUDO FOI LIQUIDADO DE PROPÓSITO para gerar os 3 MEGA BANCOS PRIVADOS de hoje. Os Ministros da Fazenda e Presidentes do BC são os responsáveis pela fusão e liquidação de bancos que reduziram a concorrência.

Foram fechados bancos de grande tradição e considerável porte como o BANESPA, onde havia algumas operações políticas mas que jamais justificariam a liquidação pura e simples do banco, que tinha agências em todas as capitais brasileiras e uma grande em Nova York; o BAMERINDUS com 600 agências e perfeitamente recuperável com algumas irregularidades que bancos em qualquer lugar do mundo tem, forçado à venda ao HSBC e hoje mais um engolido pelo BRADESCO. Então a diminuição da concorrência é PRODUTO da política do BANCO CENTRAL. O custo de salvamento de um banco como o BANESPA ou BAMERINDUS seria infinitamente menor do que o seu desaparecimento na barriga dos três grandes de hoje, criando um mega cartel que custa caro.

Também contribuíram para o fim da concorrência a proposital diminuição do papel dos bancos públicos como BANCO DO BRASIL E CAIXA ECONOMICA como contraponto aos mega juros dos três grandes privados. Ao fundo está sempre o cérebro do BANCO CENTRAL, que é o pai dos TRÊS GRANDES gestados por ele quando forçou liquidações e fusões por IDEOLOGIA DE CONCENTRAÇÃO, para dar “mais solidez sistêmica ao sistema bancário”, eufemismo que  disfarça o gosto pela CARTELIZAÇÃO, o cartel de onde hoje saem os dirigentes do Banco Central, a maior usina de lucros bancários do mundo, gerados pelos juros escorchantes cobrados à população brasileira, onde o Santander, um dos cinco maiores bancos do planeta, tem 32% do seu lucro aqui, onde tem o maior lucro sobre ativos, o maior lucro sobre patrimônio líquido e onde mais cresce entre todos os países onde atua.

A LIQUIDAÇÃO DO BNDES

O BNDES é mais uma das vítimas da cruzada moralista, ao lado das 15 maiores empreiteiras do País, dos estaleiros e das firmas de engenharia. O BNDES foi um dos instrumentos centrais do desenvolvimento do Brasil entre 1960 e 2010, o que por si só o tornou alvo de fechamento por parte dos “economistas de mercado”, que não querem a concorrência do BNDES nos seus negócios, só não fecham à fórceps porque precisam do Congresso.

O BNDES, desde o Governo Temer, vem sendo sangrado pelo Tesouro que raspa seu caixa e o transfere para o Governo em benefício dos credores, deixando o País com cada vez menos fontes de financiamento para a infraestrutura, tarefa que o setor privado dificilmente pode suprir porque os prazos de maturação dos grandes projetos de infraestrutura são longos e os retornos são baixos. Fica assim o Brasil sem um dos motores do crescimento, para alegria dos “mercados” e dando sequência ao grande projeto de desmonte institucional do Estado brasileiro, demolindo a Era do Crescimento para que o País sobreviva na Era da Estagnação, onde 180 milhões de brasileiros tem pouca ou nenhuma renda e nenhum futuro.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Quase toda a elite do país hoje tem como plano transformar o Brasil numa mistura de Ilhas Caymãn tamanho família e um Fazendão, vendedor de commodities e importador de tudo o que de melhor o mundo tem – claro que os compradores serão os 30 milhões ou menos que são beneficiados desse sistema. Enquanto o mundo está num momento de discussão de novos modelos econômicos e de trabalho, o país está hoje numa orgia de thatcherismo mofado a la Paulo Guedes e darwinismo social com pitadas de teocracia dos infernos . Essa falta de visão de nossa elite nem é novidade na nossa história. Lembremos que o Brasil foi o último país do ocidente a colocar fim ao sistema econômico baseado na escravidão enquanto as nações fortes da época estavam no capitalismo industrial ( outra forma de escravidão, é verdade ). Ouso dizer que se não fosse pelo Vargas Ditador o Brasil mal mal teria tido parque industrial. Os senhores de bancos de hoje agem do mesmo modo dos senhores de escravos, mantendo um regime que os beneficiavam até não poder mais. E mesmo que mantiver tal aberração custe o fim do país, pra essa gente isso não é problema. Todos são cidadãos do mundo, possuem passaporte e renda (herdada a maior parte) que abrirão todas as portas. Quanto aos que trabalham pra eles, bem, que se fodam. Essa realidade já pode ser vista = basta ver o vidão dos Civvitas e a situação desesperadora dos funcionários da Abril. Enfim o país caminho com rapidez a ter duas classes sociais = os que têm um Vidão e os que sobrevivem na Servidão.

  2. Na economia reina a soma zero: uns ganham outros perdem. Mesmo numa situação econômica menos desfavorável à classe, o que ocorre quando há boom econômico e acumulação de capital, o trabalhador sai perdendo para o capitalista:

    “Let us now take a society in which wealth is increasing. This condition is the only one favorable to the worker. Here competition between the capitalists sets in. The demand for workers exceeds their supply. But: In the first place, the raising of wages gives rise to overwork among the workers. The more they wish to earn, the more must they sacrifice their time and carry out slave-labor, completely losing all their freedom, in the service of greed. Thereby they shorten their lives. This shortening of their life-span is a favorable circumstance for the working class as a whole, for as a result of it an ever-fresh supply of labor becomes necessary. This class has always to sacrifice a part of itself in order not to be wholly destroyed”.

    Karl Marx

  3. Sempre muito lúcido… tão lúcido que é um sempre meio pesado ler os artigos de André Araújo, porque é jogada na nossa cara a hipocrisia do capitalismo brasileiro, bate aquele misto de revolta com impotência (sou economista, a carreira em que se faz a lavagem cerebral da galera já na faculdade), pq vc vai falar com seus pares, e eles estão lá, alheios, concordando com tudo isso, às vezes ajudando a promover isso. E não são os ‘analfas’ que estão em todas esquinas… gente formada nas melhores instituições do país… Não é fácil…

  4. Onde estão Aqueles que batiam palmas nas PRIVATARIAS TUCANAS? (Privatiza que melhora, lembram?!) A Concorrência Estrangeira traria ares de progresso e concorrência no Mercado Bancário Brasileiro. Ou outros. O inacreditável é que não aprendemos com a mediocridade. Onde estão as ‘Viúvas’ de Pedro Malan? Não precisamos de 2 décadas para voltarmos com o mesmo discurso. A embalagem e as moscas até mudaram. O conteúdo e mal cheiro continuam os mesmos. Não adianta nem olhar para os 4 anos de mediocridade de Macri na vizinha Argentina. O Neoliberalismo de cartilha traz o cabresto de Banco Mundial e FMI de volta à Argentina. Taxas de Juros de BNDES que são assemelhadas às mundiais, e não próximas às extorsivas no varejo bancário brasileiro, são taxadas por Nós mesmos como subsidiadas e errôneas. Somos Surreais. Mas o Brasil que tem o Sol, a terra, a água do planeta, como nenhum outro, mais produção agropecuária inigualável, alimentos, minerais, petróleo, oceano, território, população, fronteiras pacíficas,…precisa de Investimentos e Subserviência Estrangeiros para que? Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador