Pense-se um brasileiro litorâneo, em 9,2 mil quilômetros de extensão, consideradas saliências e reentrâncias, e que vive da pesca. Se em águas nordestinas, suas vendas caíram 90%, causa de temeroso óleo, sem origem definida. Como ficam esposas, filhos, cachorros, roças, bananeiras, para seus sustentos? Provavelmente, restar-lhe-á um silêncio aparvalhado, como o de Damares ‘Tinder’ Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que convocou uma entrevista, apanicou, nada falou.
Também não têm origem definida os mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Outro brasileiro, cuidador de greenings no Gávea Golf Club, Rio de Janeiro, calmamente assobiava o hino do Flamengo, quando viu passar a seu lado dois players, um deles com sapatinhos apropriados ao leve pisar, cores branco e marrom, cara de fuinha e ralo bigode.
Ouve o inusitado naquelas plagas: “O PIB não destrava sem redução de desigualdade (…) não é possível esperar o bolo crescer para distribuí-lo”.
Volta ao assobio e matuta, “o que terei feito de errado”, dando mais uma acarinhada no gramado verde.
Em Brasília, servidor público de baixa renda, evangélico, atende ao chamado de colega que votou em Jair Bolsonaro e o acompanha ao lançamento de seu novo partido político, Aliança pelo Brasil. Se impressiona com os gritos de glória a Deus, o grande escudo construído com cápsulas de balas, e o número 38, escolhido para representar a sigla. Trezoitão? Faz sentido. Em seu programa, predominam menções religiosas, armas e liberalismo econômico. Milícias ainda não. Por enquanto.
Em Washington, D.C., EUA, o ministro da Economia, certo “Keds”, ao se referir às manifestações das ruas a favor de Lula, imita um dos filhos do Regente Insano Primeiro e ameaça: “Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente?”
Resultado, dólar a R$ 4,27. Aquele que iria cair com o “Fora Dilma”. E o Brasil se torna, a cada dia, mais estranho. E ouço empresários se dizendo otimistas. Com o quê? Os números da economia que revelei na coluna passada? O anacronismo de uma política neoliberal tão bem autopsiada pelo professor Delfim Netto, em CartaCapital, comentando o livro “Escassez na Abundância Capitalista”, de Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo, na visibilidade e premonição de que a teoria marxiana dá aos tempos atuais?
Fosse só isso, a economia, poderíamos usar o adjetivo e a interjeição de James Carville, “estúpidos”, mas não! A insanidade é veloz, diária e irrestrita.
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