Não verás Brasil nenhum, por Fábio de Oliveira Ribeiro

por Fábio de Oliveira Ribeiro

As forças que sustentaram, em sua fase final, a Ditadura de 1964/1985 estão, grosso modo e por uma razão ou outra, ao lado de Michel Temer. Elas são compostas por civis, militares e policiais (aposentados e da ativa) que sonham controlar um Estado forte e excludente que trata os empresários a pão-de-ló e os militantes de esquerda com torturas, prisões, deportações e execuções a sangue frio. Alguns deles sonham cometer os crimes que foram apurados pela Comissão da Verdade, outros temem ser punidos pelas barbaridades que cometeram no passado.

No centro da disputa que levou ao golpe de 2016 estão dois elementos importantes: um é político (a Comissão da Verdade e seu desdobramento); o outro é econômico (a entrega do pré-sal ás petrolíferas norte-americanas e a revogação de direitos trabalhistas, previdenciários e sociais dos trabalhadores brasileiros).

Todavia, o golpe de 2016 não pode ser considerado um retorno da Ditadura de 1964/1985. O imaginário dos restolhos do regime ditatorial que apóiam Temer difere em muito daquele que se apropriou a força do país em 1964. É sobre esta diferença que procurarei refletir.

Militar que gozava de suficiente prestígio para publicar um livro pela Biblioteca do Exército em 1977, o general Meira Mattos afirmava que era preciso:

“Construir uma sociedade desenvolvida, de 200 a 210 milhões de habitantes, ocupando um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, com acréscimo de 3 milhões de quilômetros quadrados de águas territoriais – parâmetro com que devemos alcançar o ano 2000 -, considerando-se, ainda, o dinamismo dos avanços da tecnologia e da ciência neste último quarto de século, exige tremendo esforço e heróica tenacidade.

O Brasil do ano 2000, que nós imaginamos, deverá, igualmente, já ter corrigido a distorção geopolítica de possuir imensa massa continental vazia e quase desconhecida. A vertebração de nosso território por linhas interiores, despertando os estímulos da continentalidade, é uma das maiores tarefas a realizar. Incorporará às fronteiras econômicas do país extensas porções geográficas do Norte, do Oeste, da Amazônia e do sertão mato-grossense e goiano. Transformará potencial territorial em poder, como fizeram os Estados Unidos com os seus territórios interiores, já 100 anos passados. Tal façanha hercúlea de interiorização terá que ser realizada em cooperação com nossos vizinhos fronteiriços, num esforço conjunto para despertar a continentalidade de toda a América do Sul. Benefícios muito maiores para todos advirão, quando virmos as nossas fronteiras transformadas em áreas de progresso econômico e social.

No tocante à política marítima, igualmente, devemos chegar ao início do século XXI com uma tecnologia adiantada, no que se refere aos processos para exploração das riquezas das águas e do fundo do mar; com uma indústria naval respeitada no mundo; com nossos portos bem aparelhados e modernizados; com uma força naval capaz de garantir o uso de nossas rotas de comunicação e de comércio no Atlântico Sul, dentro de um sistema de alianças com nossos vizinhos do continente e com algumas nações africanas da vertente atlântica.

Seguindo o pensamento de Rio Branco, citado abaixo do título deste capítulo, preferimos a política de ‘fraternal intercâmbio’ à outra, de ‘esplêndido isolamento’, que talvez nos levasse mais depressa aos resultados de desenvolvimento perseguidos.” (A Geopolítica e as Projeções do Poder, General Meira Mattos, Bibliex, Rio de Janeiro, 1977, p. 138/139). 

Por mais que se possa condenar a Ditadura de 1964/1985 é forçoso reconhecer que os militares tinham um projeto de nação. Um projeto que, no entanto, era diferente daquele que João Goulart tentou realizar através das reformas de base.

“O que propôs Goulart em diversos pronunciamentos é que deveria haver uma melhor participação da classe popular na renda nacional, ou seja, redistribuição de renda. Entretanto, pode-se especular que ele assumia como prioridade as reformas que atendiam a demanda de suas bases de sustentação política, e não a estabilização monetária e o crescimento econômico. Talvez Goulart entendesse que seria mais fácil convencer as elites da necessidade de mudanças em um ambiente de crise do que num momento de pujante crescimento econômico. Além disso, percebe-se claramente a idéia de continuação com o projeto Vargas. A palavra ‘fidelidade’ e o trecho ‘ninguém nos arrancará das mãos a bandeira que Getúlio nos entregou’, no discurso anterior, reafirmava a convicção, por parte de Goulart, em relação á continuação dos ideais de Vargas e do projeto trabalhista, o que politicamente era explorado como continuador de um processo histórico que estava em marcha.

Ademais, nos últimos meses do governo presidencialista, suas ações alcançaram a linha tênue da legalidade. Entretanto, o governo entendia que o uso de decretos e as convocações de plebiscitos eram um recurso legal e não iam de encontro com as normas constitucionais.”  (O Projeto de Nação do Governo João Goulart, Cássio Silva Moreira, Editora Sulina, Porto Alegre, 2014, p. 303/304) 

Apesar do tom crítico empregado no texto por Cássio Silva Moreira, é evidente que Goulart procurou transformar o povo brasileiro em protagonista do seu destino. Levando em conta as palavras do general Meira Mattos, podemos dizer que os militares elevaram a nação à condição de protagonista de seu presente para que um futuro melhor pudesse ser construído.

Os governos Lula e Dilma retomaram o projeto de nação de João Goulart, transformando o povo em protagonista do seu destino através dos programas sociais que foram criados (especialmente na área de educação superior). Mas não se afastaram das metas ambiciosas traçadas pelos militares. Tanto isto é verdade que fortaleceram o Mercosul e as relações diplomáticas com países africanos e estimularam a indústria naval brasileira (destruída por FHC). Não só isto: Lula e Dilma iniciaram a exploração do pré-sal com base numa Lei que atendia os interesses da nação e contrariava os interesses mesquinhos do mercado.

Michel Temer se coloca como herdeiro da Ditadura de 1964/1985 e é apoiado pelos restolhos da mesma. Todavia, ele não tem um projeto de nação. Tanto isto é verdade que o novo governo está destruindo tudo que foi feito por Lula e Dilma na área de educação e pretende entregar o pré-sal às petrolíferas norte-americanas. Sob o comando do administrador por ele nomeado, a Petrobras resolveu afundar a indústria naval brasileira cancelando contratos com estaleiros nacionais a fim de encomendar a construção de navios no exterior.

Os militares censuraram a imprensa e amordaçaram os sindicatos operários. Mas não ousaram congelar gastos em saúde e educação, nem revogar a CLT e extinguir a Justiça do Trabalho. O legado de Vargas foi por eles considerado uma peça importante para manter a ordem interna, sem a qual o regime poderia entrar em colapso. O usurpador está censurando economicamente os blogs e se mostra determinado a universalizar a terceirização. Temer já começou a estrangular financeiramente a Justiça do Trabalho. Não bastasse isto, com a PEC 241 o novo governo pretende fazer aquilo que os militares não fizeram: congelar os investimentos em saúde e educação por 20 anos.

Tudo bem pesado, aqueles que apóiam Michel Temer sonhando com um retorno da Ditadura de 1964/1985 estão, na verdade, traindo os fundamentos do regime militar que findou em 1985. O mal dos militares era o excesso de autoritarismo empregado na construção da nação por eles imaginada. O dos novos tiranos é o autoritarismo para destruir qualquer futuro da nação brasileira.

Os militares amavam o Brasil e odiavam a esquerda. Temer e seus apoiadores agem movidos pelo ódio ao PT e são incapazes de demonstrar qualquer amor pelo Brasil. Vem daí o crime maior que eles estão cometendo e que não poderá ser perdoado nem pelo povo brasileiro, nem pelos militares nacionalistas.

Fábio de Oliveira Ribeiro

8 Comentários

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  1. Repressão sem projeto

    De fato repressão é sempre repressão, mas a que se afigura no horizonte é terrível, pois não virá de um projeto repressivo como o da Ditadura,, mas virá sim da pulverização caótica das nossas instituições e dos poderes. Qualquer juiz de primeira instância poderá se sentir no direito de fazer sua pŕopria LavaJato. Qualquer juiz ou promotor do MP, que tenha convicção pode prender e ou indiciar e ou condenar com provas duvidosas levando alguém para a cadeia.  Qualquer policial poderá invadir, grampear e expropriar bens. Já estamos presenciando  com estes ataques sistemáticos ao MST, mas que no fundo defendem apenas interesses da Aurapel. Os poderes excepcionais só dão lugar a mais poderes e arbítrio.

  2. Fábio, embora há mais de

    Fábio, embora há mais de vinte anos eu vote, sistematicamente na esquerda, cansei de “apanhar” de amigos puristas ao ousar pensar fora da caixa como você. A sociedade costuma criar “escaninhos mentais” para classificar pessoas por pura preguiça de ouvir o outro.

    Venho denunciando há meses que o projeto desses usurpadores golpistas não coincide com o projeto dos governos militares, mesmo porque Lula/Dilma retomaram muitas das linhas anteriores, tendo o cuidado de acrescentar um propósito capitalista de massa (idiotas rotulam de comunismo!) com a criação, que aqueles não enfatizaram, de uma enorme classe média. O projeto, ora em pauta, é o do PSDB, que fora interrompido pela eleição de Lula. Este não passa da destruição de nossa nação, que atende aos interesses, não por coincidência, do Império Romano atual.

    O que está “fundindo a minha cuca” são duas coisas: o verdadeiro interesse do Império e a enorme passividade de nossas Forças Armadas.

    O verdadeiro interesse do Império passa por diversas especulações:

    1) A velha questão do petróleo como sempre urgência de abastecimento do sanguessuga Império. Afinal de contas, sem energia o homem não teria saído das árvores, pois foi o advento do fogo que o permitiu se defender dos predadores, e a primeira explicação óbvia: é o preço e a liberdade de comprá-lo barato e com verdinhas sem lastro, num mundo que já reluta em aceitá-las. Calculo que se possa retirar do pré-sal, no máximo, uns três milhões de barris diários (posso estar errado) isso perfaz um saque de pouco mais de dez bilhões de barris (contra cerca de cento e cinquenta bilhões) em dez anos. Por que três milhões de barris? Porque quanto mais se inundar o mercado de óleo, mais cairá o preço do barril, chegando ao ponto de inviabilizar a exploração. O Oriente Médio, a Rússia e o Brasil alimentariam o mundo e os outros produtores quebrariam. Por que dez anos? Porque dez anos é o espaço de tempo que visualizo para: o povo destituir nas armas estes traidores ou, o Império ruir de vez e ou, estourar uma guerra nuclear no Hemisfério Norte. Provavelmente combinações de duas dessas hipóteses ou mesmo, todas elas.

    2) Destruir a economia russa inundando o mundo com petróleo. Não deu certo uma vez, mas podem tentar com o custo de extração mais barato do pré-sal. Creio que não irá dar certo novamente. A Rússia provou ser particularmente resistente, sobreviveu e é uma das economias que mais crescem no mundo. Além disso a China vai se aproveitar e comprar todo o óleo excedente e estocá-lo em cavernas subterrâneas. Isso cria dois problemas: a inundação de dólares no mercado e o reequilíbrio do preço do petróleo pelo aumento da demanda. Além disso, elimina um calcanhar de Aquiles do gigante chinês.

    3) Aproximar as fontes de suprimento e torná-las mais defensáveis que o Oriente Médio. Lembrar que os americanos necessitam importar a cada dia cinco milhões de barris e não creio, pelas razões acima que o pré-sal possa suprir todo esse montante.

    4) Essa é bem estranha, mas não a descartaria: preservar a maior nação do Hemisfério Sul como casa e renascimento da civilização, com os líderes do Império devidamente transplantados, no caso cada vez mais provável de uma guerra nuclear no Hemisfério Norte.

    Quanto à passividade das FAs, muitas coisas me estranham bastante. É claro que no curto prazo poder civil algum resistiria à simples presença das armas. O estupro da Polícia Civil de São Paulo à Escola Florestam Fernandes ilustra, perfeitamente o que quero dizer. Somente uma turba enfurecida e que não tenha mais nada a perder avança contra um corpo armado. Em defesa da maioria da população civil e das instituições estupradas pelo golpe poderiam, perfeitamente, cercar e destituir os três poderes, convocar uma Constituinte e promover eleições gerais no país de forma a restaurar o projeto de país, que sem dúvida, está na mente de quase todos os brasileiros, sejam coxinhas ou petralhas. Porque não o fazem?

    1) Picuinha com a Dilma por conta da maior ênfase na Comissão da Verdade? Dima já é carta fora do baralho e Lula é bem palatável pelos militares. Diz-se que foram militares da Aeronáutica que evitaram sua prisão pela Polícia Federal. Além disso foram em seus governos que muitos dos projetos dos governos militares, inclusive na ciência e tecnologia, foram retomados. Por tanto não acredito nesta hipótese.

    2) O poder sempre corrompe, sem dúvida, e quanto mais tempo naquele, pior. A pichação que foi feita aos militares pela ação de uns poucos nos porões e outros tantos nos gabinetes enlameou toda uma classe que mantém sua hierarquia através de rígido código moral. É dificil se comparar corrupção neste ou naquele governo, pois ao meu ver a maior corrupção é aquela que aliena, com milhões de desculpas esfarrapadas, o futuro de toda uma nação. Ao invés de alguns ladrões que roubam milhões são as transações que alienam dezenas ou centenas de bilhões de dólares, as que deixam aleijada uma nação e isso não se constatou durante os governos militares. Não nos esqueçamos que a imprensa jamais foi aliada (era subserviente, capacha mesmo, mas nunca aliada) desses governos. Quem não se lembra do sumiço de Carlos Lacerda, seu pupilo predileto? Como não estamos mais na guerra fria, bastaria que impusessem a si mesmos uma permanência temporária para evitar a corrupção do poder. Mais ainda, se nada fizerem corromper-se-ão como poder de polícia, que é o que lhes restará numa eventual colônia do Império.

    3) Não acredito também em prurido democrático, quando todo mundo constata no dia a dia que a nação virou uma zona. Juizecos de 1ª instância desafiando juízes do STF. Juízes deste fazendo política partidária. Deputados e senadores da República envolvidos em falcatruas. Impedimento de uma presidenta honesta, que pode se gostar ou não, por razões, absolutamente falaciosas. Policiais invadindo o Congresso Nacional sem autorização do STF. O usurpador da PR com deposição agendada para 2017, só para forçar uma pseudo eleição indireta de alguém que mal se elege para síndico de seu prédio. Só se respeita o cafetão da zona se ele for muito forte ou estiver bem armado.

    4) Acho que todo mundo advinha quem seria o cafetão desta zona. O problema é que ele está muito ocupado em várias frentes alhures e sem a desculpa da guerra fria não há como mover, aos olhos do mundo, uma força armada de intervenção. Se fosse fácil a Venezuela, já teria sido…Porrada nos três poderes seria naturalmente acompanhada da clava forte na imprensa familiar entreguista…Qual é então o medo? Depois que tratados forem assinados e desejarmos rompê-los no futuro os caras terão o Tribunal de Haia, o Conselho de Segurança ou a Coalizão…No momento nenhuma ameaça parece estar no nosso horizonte de meros espectadores. O que rola no subterrâneo? Guerra biológica, climática? Porque subversão nós tiramos de letra fechando com fita adesiva a boca do PIG e a tropa na rua. João Goulart abandonou a PR porque quis evitar o derramamento de sangue, visto que o III Exército estava com Brizola, mas não vejo nada disso agora.

    Meu Deus, já que a população brasileira vai sofrer demais com esses patifes no poder temos o direito de saber se há outros sofrimentos no horizonte e decidir que caminho tomaremos. 

     

     

  3. Programa Morgenthau

    “Em 2 de setembro de 1944, o secretário do Tesouro dos EUA apresentou um plano de 14 pontos para a Alemanha pós-guerra. Entre eles estavam a completa desmilitarização do país e o desmonte de seu parque industrial.” Os militares nacionalistas brasileiros vão deixar este programa ser implementado aqui?

  4. Quanto mais gente souber melhor

    Anos atrás, um alarmado jornalista sentiu o drama: «Eu circulava pelas antigas dependências do Dops de São Paulo, hoje um museu, quando perguntei a dois visitantes jovens de classe média se já tinham ouvido falar em Vladimir Herzog e João Goulart. Ambos disseram que não. Depois veio o pior quando um deles, que se apresentou como recém formado em publicidade, de 21 anos, argumentou que o nome de João Goulart não lhe era estranho. “Não foi um guerrilheiro que lutou contra a ditadura?»   ——   Faz algum tempo, o GGN publicou um artigo suspeito ”Prefiro acreditar na ingenuidade dos que defendem a ditadura”, assinado pelo cadete militar Lucian Freitas. E’ impossível, cadete (com nome e sobrenome), criticar general publicamente. Quem defende ditadura é alienado, é ignorante mas não pode ser —de maneira nenhuma— considerado ingênuo.    ——–    Em março de 2014 um professor conceituado dera o alarme: «estão contando uma história que não faz sentido impedindo-nos de aprender suas lições» e elencou sete lições que já deveríamos ter aprendido sobre a ditadura  —    http://www.fpabramo.org.br/golpe50anos/?p=348

    Agora aparece o Fábio de Oliveira com «forças que grosso modo e por uma razão ou outra [?], estão ao lado do Temer.»  As diferenças entre golpistas que ele traça é pura picaretagem e cita as abobrinhas de um general só para justificar o gancho  ——> «por mais condenáveis que sejam, os militares da ditadura tinham um projeto de nação».  Isso chama-se revisionismo histórico. E’ lixo.  —   Problema: a opinião pública acredita que os generais de 2016 não pensam os generais de 1964. Muitos nem lembram mais que meses atrás o mediocre general Antonio Hamilton Martins Mourão, big shot na região sul, discursou pelo “despertar para a luta patriótica” em nome de “bons costumes”. Criticou os políticos que “vendem ilusões” e foi direto ao assunto: “mudar é preciso” [Dilma] para descartar a incompetência, a má gestão e a corrupção. Mourão repetia a mentira publicada na edição de 18 março de 1964 no ”O Estado de São Paulo”, semanas antes do golpe: «o impeachment do presidente [Jango] vale por uma frente legítima de combate – o chefe da Nação não se encontra à altura do cargo, independente até da cogitação de crime de responsabilidade – o caso é de impeachment, em benefício da tranquilidade da família brasileira e da prosperidade do país»  No dia 7 de março de 2016 a Folha de São Paulo publicou o editorial — Vamos à Guerra! —  do patético general Rômulo Bini Pereira, desprezando, desqualificando o Lula e todos nós e ameaçando mobilizar as tropas se convocassem o ”exército do Stedile”; o titulo desse editorial aludia ao discurso do ex-presidente Lula, que usara a expressão “vamos à guerra” ao conclamar a militância na defesa da Petrobrás!! O general Bini, além de faltar com respeito ao ex-Presidente da República, ameaçou acionar a tropa contra brasileiros mobilizados na defesa do nosso maior patrimônio industrial! A reação dele é coerente com a sua (de)formação profissional, de matriz francesa, implantada por Castello Branco, ou seja, encarar o povo brasileiro como força adversa, como inimigo. Os golpista de 1964, saldamente no poder até hoje, atribuem-se o direito de ”arranhar” direitos dos cidadãos, inclusive o de assassiná-los. Aos que não sabem disso, proponho a leitura de alguns artigos da Folha de São Paulo, publicados nos governos do FHC:

    1—>  02/08/2001: Exército chama operação no Araguaia de ”Anjo da Guarda”.
    Negado oficialmente, o monitoramento é mencionado em documentos apreendidos pela PF,
    a pedido do Ministério Público. Um dos documentos traz o título: “Necessidades de Marabá”.
    http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u23030.shtml

    2—>  Retiraram o artigo do Josias de Souza, datado 05/08/2001: ”Os 541 agentes são treinados
    para espionar jornais, empresas, sindicatos, autoridades publicas” (e até o governo).

    3—>  FHC, monitorava militantes e políticos de esquerda que participavam de seminários,
    encontros e fóruns contra o neoliberalismo através da Subsecretaria de Assuntos
    Estratégicos (SAE), o órgão que substituiu o Serviço Nacional de Inteligência (SNI),
    em 1990, até a criação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em 1999.
    http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/Servico-Secreto-de-FHC-monitorou-militantes-antineoliberalismo/5/25788

    4—>  09/08/2001, Hélio Schwartsman: «O Exército brasileiro segue perpetrando ações
    clandestinas. As provas reveladas por Josias de Souza, diretor da Sucursal de Brasília,
    são irrefutáveis. E’ amedrontador constatar que a famigerada doutrina de segurança
    nacional permanece de pé»
    http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult510u26.shtml

    5—>  09/08/2001, Hélio Schwartsman: «Ainda que se ensinasse a matar ilegalmente,
    torturar e cuspir na Constituição, por que diabos é preciso …
    http://www1.folha.uol.com.br/co…33-pinteligencia-militarp.shtml

    6—>  15/08/2001, Josias de Souza: «O Exército deflagrou no final de 1998
    um plano secreto, com duração indeterminada, para espionar o MST.»
    http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u23533.shtml

    7—>  19/12/2002, Josias de Souza: «”Brasil velho” produz turbulências em série»
    http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u43742.shtml

    Deboche do Fábio:  «os militares elevaram a nação à condição de protagonista de seu presente para que um futuro melhor pudesse ser construído»  E’ possivel elevar um pais sodomizando seu povo?

    Deboche do Fábio:  «Os governos Lula e Dilma retomaram o projeto de nação de João Goulart, transformando o povo em protagonista através dos programas sociais mas não se afastaram das metas ambiciosas traçadas pelos militares [da ditadura]»

    Metas ambiciosas? Em 1950, o secretário de Estado, George Kennan, dera instruções aos embaixadores latinoamericanos para agirem contra a heresia que se alastrava no continente, ou seja, que o Estado é diretamente responsável pelo bem-estar do povo. O Partido Comunista Brasileiro seguia cumprindo o seu papel de força de sustentação da politica de desenvolvimento nacional e autônoma do imperialismo. Em 1953 Goulart ocupava a pasta do Ministério do Trabalho. E’ daquela época o claim ”República Sindicalista” que excitava as mentes doentias nos esquálidos meandros dos quartéis. O comando das nossas FFAA recebera da Escola Superior de Guerra francesa um programa ao alcance da inteligência rasteira de generais golpistas, transformando-se, em 1956, na teoria dominante dos circulos imperialistas contra os movimentos de libertação nacional: interpretar o protagonismo do povo como guerra subversiva, típica de país colonial. Autoconveceram-se que estava em curso uma guerra revolucionária: comunistas ”apátridas” urdiam com a cumplicidade de Jango, apoiados na massa de manobra dos sindicatos de trabalhadores. Quando a coalizão que os incitava (CIA, complexo IPES-IBAD, Associação Comercial do Rio de Janeiro, FIESP, Camara de Comércio dos EUA, latifundiarios e classe media representados por Magalhães Pinto, Lacerda, Adhemar e setores católicos), levantou os bueiros, os militares ensandecidos afloraram brutalizando tudo.

    Lula e Dilma retomaram o projeto que não fora iniciado por Goulart e sim pela ala militar nacionalista sob a liderança, entre outros, dos generais Estillac Leal e Horta Barbosa; foi um grande momento da intelectualidade militar com Nelson Werneck Sodré na direção do Departamento Cultural do Clube Militar, cuja revista foi a tribuna dos oficiais empenhados a fundo na batalha pelo desenvolvimento nacional, por uma política externa independente e por reformas sociais avançadas.
    Lula e Dilma combateram o complexo de vira-latas que a direita civil/militar golpista incutira no subconsciente coletivo no longo período entre 1964 e 2002. Lula reconquistou-nos a dignidade e o orgulho da nossa nacionalidade, rompendo uma linha esticada, longa de 500 anos. Portanto, Lula e Dilma não podiam seguir nenhuma meta traçada por militares entreguistas, sobretudo porque nas escolas militares, a ideia de subordinação existia desde 1952, quando o limpa-bunda yankee, Golbery, escrevera numa monografia para uso da Escola Superior de Guerra que o Brasil só teria futuro se fosse ancorado aos EUA, ideia-projeto que está por trás do golpe militar de 1964 – do qual ele foi um expoente).  

    Para Fábio de Oliveira, o ”lungimirante” general Mattos teve um ”insight”: «O Brasil do ano 2000 deverá já ter corrigido a distorção geopolítica de possuir imensa massa continental vazia e quase desconhecida, uma das maiores tarefas a realizar. Incorporar às fronteiras econômicas do país extensas porções geográficas do Norte, do Oeste, da Amazônia e do sertão mato-grossense e goiano. Transformar potencial territorial em poder, seguindo o exemplo dos EUA» Segundo estudos da Universidade de São Paulo, o período de 1964 até 1985 serviu para grupos econômicos darem corpo à uma frente ampla, uma aliança entre latifundiários e burguesia industrial na exploração de mão de obra e de recursos em áreas imensas, com incentivos para ocupar terras na Amazônia. Bradesco, Shell e grandes grupos internacionais arrendaram ”terras”; capitalistas tornavam-se latifundiários, expulsando camponeses e indígenas com métodos criminosos e brutais.

    Vale citar o pouco conhecido ”Relatório Figueiredo”, documento fundamental na discussão sobre violações de direitos humanos de camponeses e sobretudo de indígenas no Brasil. As denúncias de genocídio estavam circulando pouco antes do AI-5. Foi o PGR da época, Jader Figueiredo de Correa, que produziu esse relatório. Com 5.115 páginas, apresentava denúncias sobre desvios de dinheiro público dentro do SPI Serviço de Proteção ao Indio, sobre a corrupção na exploração das riquezas dos territórios indígenas, sobre as graves violações de direitos humanos perpetradas contra aldeias inteiras e contra indivíduos de forma seletiva, especialmente caciques e lideranças. No documento, o procurador mostrava o envolvimento dos agentes de estado, muitos deles militares. O que sobrou desse relatório são matérias de jornais, feitas por jornalistas presentes na coletiva de imprensa com o procurador-geral, em março de 1968. O relatório original e os inquéritos dele decorrentes foram queimados pelos militares da ditadura.  As matérias denunciam os genocídios apontados no relatório como, por exemplo, aldeias exterminadas com bananas de dinamite jogadas de aviões e de fuzilamentos de índios opositores. Foram muitos casos em várias partes do país. Denunciam a inoculação de doenças nos indígenas, tanto por roupa quanto por comida contaminada. Práticas que o procurador denunciou publicamente. Já na justificativa da Resolução 65 da Câmara, que criou a CPI do Índio de 1968, encerrada depois com o AI-5, os deputados citavam que o major Luiz Vinhas exterminou duas tribos pataxós inteiras, inoculando varíola na população, para tomar suas terras. Esse major foi processado pelo PGR e perdeu o cargo de diretor do SPI onde chegara por ordens  expressas do ditador Castelo Branco. Foi processado na Polícia Federal, junto com outras 23 pessoas que também trabalhavam no SPI. Notícias da época fazem saber que todos fugiram sem responderem por seus crimes.

    Deboche do Fábio de Oliveira: «Os militares censuraram a imprensa e amordaçaram os sindicatos operários. Mas não ousaram congelar gastos em saúde e educação, nem revogar a CLT e extinguir a Justiça do Trabalho. O legado de Vargas foi por eles considerado uma peça importante»   Entendi. Vargas deu um tiro no peito só para impressionar os pósteros…  Os generais censuraram a midia, infiltraram delatores nas fábricas, nos sindicatos, nos locais de trabalho, nas universidades, nas escolas e igrejas. Praticaram ostensivamente a tortura, organizaram-se em grupos terroristas e vincularam-se com setores do mundo civil: muitos porteiros de edificio, professores e empresários transformaram-se delatores e espiões, Esquadrões da Morte, com elementos oriundos das PMs, agiram no inferno do subproletariado urbano.  

    A ditadura não colocou em pauta a liquidação da CLT porque a usava como válvula de escape. Eram proibidas as mobilizações sindicais. Na impossibilidade de mobilizar-se através de greves ou qualquer outro tipo de mobilização, a única alternativa do trabalhador era recorrer à Justiça do Trabalho. Os militares nunca deram e nem dão a menor importância a Vargas e menos ainda ao seu legado.   — E o arrocho salarial? —  O sociólogo Emir Sader, lembrou que o arrocho salarial foi tão importante para a sustentação da ditadura quanto a repressão sistemática, comprometendo a qualidade dos serviços como a saúde pública mas sobretudo a educação. «O santo do chamado “milagre econômico” foi o arrocho salarial.»   
    Especialistas em educação, reunidos em audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Câmara em abril de 2014, foram unanimes em apontar as heranças do regime ditatorial como principais responsáveis pela atual má qualidade da educação pública e pela falta de acesso a ela para os cerca 14 milhões de analfabetos, além de número maior ainda de analfabetos funcionais. Foi lembrado que os militares puseram fim ao ambiente de otimismo pedagógico dos educadores brasileiros com o avanço da educação popular e emancipatória já nos primeiros dias após o golpe. Em 14 de abril de 1964, um dia antes do Castelo Branco assumir, foi extinto o Programa Nacional de Alfabetização, decisão que fora tomada um ano antes por ele: “Querem dar asa à cobra”, vaticinou ele. Foi lembrado também que Paulo Freire já dizia que educar é politizar sim. “Não podemos formar estudantes na velha teoria do capital humano: estude-trabalhe-ganhe dinheiro; ”A Educação que não é emancipadora faz com que o oprimido queira se transformar em opressor”, insistia Freire.  Mas os generais queriam reformas que arrasassem com o modelo de educação brasileira. E impuseram-as com a violência. O embaixador Rubens Ricupero contou de documentos por ele vistos em que os “reformistas”  sujeitavam aos estadunidenses até a revisão do currículo escolar. «Me impressionou a intimidade que se criou entre funcionários americanos chefiados pelo embaixador Lincoln Gordon e a equipe tecnocrática incumbida de planejar o governo Castelo Branco, dirigida por Roberto Campos. Chegava-se à ingenuidade de discutir em telegrama qual seria o salário das professoras primárias!»

    Tem muita tramoia pra apontar no texto do Fábio de Oliveira mas vou encerrar esse ”comentário”, com Janio de Freitas:  «O cinquentenário de 64 mostra-se como um brado uníssono de “ditadura nunca mais”. Talvez seja assim. Mas só poderá ser se consumadas duas condições. O ensino das escolas militares precisaria passar por reformulação total. A do Exército, mais que todas. Nas escolas militares brasileiras não se ensinam apenas as matérias técnicas e acadêmicas apropriadas para os diferentes ramos da carreira militar. Muito acima desse ensino, as escolas militares ocupam-se de forjar mentalidades. Uniformes, planas, infensas à reflexão, e, por aí já está claro, ideológica e politicamente direcionadas. São produtos criados ainda para a Guerra Fria.  É por isso que se vê, há tantos anos, tão igual solidariedade e defesa dos atos e militares que, para a lei e para a democracia, são criminosos, muitos de crimes hediondos e de crimes contra a humanidade. As escolas militares não preparam militares para a democracia.»

  5. Quanto mais gente souber melhor (revisto e corrigido)

    Anos atrás, um alarmado jornalista sentiu o drama: «Eu circulava pelas antigas dependências do Dops de São Paulo, hoje um museu, quando perguntei a dois visitantes jovens de classe média se já tinham ouvido falar em Vladimir Herzog e João Goulart. Ambos disseram que não. Depois veio o pior quando um deles, que se apresentou como recém formado em publicidade, de 21 anos, argumentou que o nome de João Goulart não lhe era estranho. “Não foi um guerrilheiro que lutou contra a ditadura?»   ——   Faz algum tempo, o GGN publicou um artigo suspeito ”Prefiro acreditar na ingenuidade dos que defendem a ditadura”, assinado pelo cadete militar Lucian Freitas. E’ impossível um cadete (com nome e sobrenome), criticar generais publicamente. Será que o cadete Lucian leu o artigo de Eugênia Gonzaga, publicado em junho de 2015 aqui no GGN? «Maurício Tupinambá Fernandes de Sá, cadete, entrou para a Academia Militar das Agulhas Negras em 1967. A espionagem do Exército recolheu duas redações dele escritas no Externato S. José; o comandante do Corpo de Cadetes, coronel Antônio Cúrcio Neto o submeteu a dois dias de interrogatório e sessenta encenações de fuzilamento, todos os dias, com o objetivo de retirá-lo da AMAN. —  No auditório da OAB/RJ, quinze ex-militares torturados nas próprias Forças Armadas contaram e mostraram suas sequelas físicas e psíquicas, causadas por dias, meses e até anos de brutalidades: chutes, choques, humilhações públicas, fome, solitária, ingestão de urina, queimaduras na pele, dentes e unhas arrancados…»    

    Em março de 2014 um professor conceituado dera o alarme: «estão contando uma história que não faz sentido impedindo-nos de aprender suas lições» e elencou sete lições que já deveríamos ter aprendido sobre a ditadura  —    http://www.fpabramo.org.br/golpe50anos/?p=348



    Agora aparece o Fábio de Oliveira com «forças que grosso modo e por uma razão ou outra [?], estão ao lado do Temer.»  As diferenças entre golpistas que ele traça é pura picaretagem e cita as abobrinhas de um general só para justificar o gancho  ——> «por mais condenáveis que sejam, os militares da ditadura tinham um projeto de nação».  Isso chama-se revisionismo histórico. E’ lixo. 

    —   Problema:  incutiram no subconsciente coletivo a falsa idéia de que as FFAA de 1964 não têm mais nada a ver com as FFAA de 2016, como se a doutrina dos covardes antinacionalistas agora pertença exclusivamente ao passado. Esse drama transparece periodicamente no relatório ICJ Brasil da FGV onde a confiança dos brasileiros nas instituições coloca as FFAA no top, acima das igrejas e relegam o Congresso Nacional e os Partidos políticos ao mais absoluto descretido (!)  Apesar da significativa perda percentual dos últimos cinco anos (de 72% para 61%), as FFAA lideram a lista onde vergonhosamente o Congresso Nacional e os Partidos permanecem com 12 e 6 %, respectivamente.

    Joel Silveira: «Nos debates da ESG (Escola Superior de Guerra), duas obsessões se fizeram notar. Uma era a crença na infalibilidade da democracia americana. A outra, a certeza da falência das elites civis do Brasil, incapazes de dirigir a Nação. Em conversa com um dos lideres da ESG, trouxe daquele encontro os cinco pontos básicos em que eles assentavam os pontos de vista com os quais justificavam suas ações, ostensivas ou conspirativas. São eles: –  1) Faliram as elites civis do Brasil  –  2) Tem havido completo descaso pelos problemas fundamentais do País  –  3) Os quadros dirigentes vêm sendo mal escolhidos  –  4) Tem prevalecido no trato das coisas públicas, o interesse pessoal sobre o interesse nacional  –  5) A corrupção se alastra.  Rigidamente fechados nesse pentágono, a FEB-ESG negava-se ferozmente a aceitar na direção do Pais quem decidissem que nele não se enquadrasse. Daí a sua permanente conspiração». «Chegando ao poder, a FEB reformulou tudo o que apredera na campanha da Italia, transformando-se num corpo extremamente reacionário, agressivo, intolerante — como uma Divisão SS. Se vivo, o marechal Kesselring sentiria prazer e orgulho de comandar a FEB francamente hitlerista, de 1° de abril de 1964»

    Meses atrás, o mediocre general Antonio Hamilton Martins Mourão, big shot na região sul, discursou pelo “despertar para a luta patriótica” em nome de “bons costumes”. Criticou os políticos que “vendem ilusões” e foi direto ao assunto: “mudar é preciso” [Dilma] para descartar a incompetência, a má gestão e a corrupção. A opinião pública não fora informada que o ”papagaio” Mourão repetia a mentira publicada na edição de 18 março de 1964 no ”O Estado de São Paulo”, semanas antes do golpe: «o impeachment do presidente [Jango] vale por uma frente legítima de combate – o chefe da Nação não se encontra à altura do cargo, independente até da cogitação de crime de responsabilidade – o caso é de impeachment, em benefício da tranquilidade da família brasileira e da prosperidade do país» 

    No dia 7 de março de 2016 a Folha de São Paulo publicou o editorial — Vamos à Guerra! —  do patético general Rômulo Bini Pereira, desprezando e desqualificando o Lula e todos nós, ameaçando mobilizar as tropas se convocassem o ”exército do Stedile”; o titulo desse editorial aludia ao discurso do ex-presidente Lula, que usara a expressão “vamos à guerra” ao conclamar a militância na defesa da Petrobrás!! O general Bini, além de faltar com respeito ao ex-Presidente da República, ameaçou acionar a tropa contra os brasileiros mobilizados na defesa do nosso maior patrimônio industrial! A reação dele é coerente com a sua (de)formação profissional, de matriz francesa, implantada por Castello Branco, que ensinava a encarar o próprio povo como força adversa, inimiga.

    A Folha de São Paulo revelou num artigo de Josias de Souza, datado 5 de agosto de 2001: ”Documentos sigilosos comparam o MST ao crime organizado e admitem «arranhar direitos dos cidadãos e eliminar adversários.»  O Exército equipara os Movimentos Sociais com o narcotráfico. O material cancela a tese que a extinção do SNI (Serviço Ncional de Investigação) daria lugar a um modelo de inteligência apartidário e submetido ao controle do Congresso. Alheio à curiosidade de deputados e senadores, o governo de FHC criou no dia 13 de junho de 1994, a Escola de Inteligência Militar do Exército, que elegeu a mentira como um dos principais métodos de espionagem. Chamam-na de ”estória cobertura”» 

    Outros artigos sobre o tema, publicados na Folha nos governos do FHC:



    1—>  02/08/2001: Exército chama operação no Araguaia de ”Anjo da Guarda”.
Negado oficialmente, o monitoramento é mencionado em documentos apreendidos pela PF,
a pedido do Ministério Público. Um dos documentos traz o título: “Necessidades de Marabá”.
 http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u23030.shtml

    2—>  Retiraram o artigo do Josias de Souza, datado 05/08/2001: ”Os 541 agentes são treinados
para espionar jornais, empresas, sindicatos, autoridades publicas” (e até o governo).



    3—>  FHC, monitorava militantes e políticos de esquerda que participavam de seminários,
encontros e fóruns contra o neoliberalismo através da Subsecretaria de Assuntos
Estratégicos (SAE), o órgão que substituiu o Serviço Nacional de Inteligência (SNI),
em 1990, até a criação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em 1999.  
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Direitos-Humanos/Servico-Secreto-de-FHC-monitorou-militantes-antineoliberalismo/5/25788

    4—>  09/08/2001, Hélio Schwartsman: «O Exército brasileiro segue perpetrando ações
clandestinas. As provas reveladas por Josias de Souza, diretor da Sucursal de Brasília,
são irrefutáveis. E’ amedrontador constatar que a famigerada doutrina de segurança
nacional permanece de pé»
  http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult510u26.shtml

    5—>  09/08/2001, Hélio Schwartsman: «Ainda que se ensinasse a matar ilegalmente,
torturar e cuspir na Constituição, por que diabos é preciso …
  http://www1.folha.uol.com.br/co…33-pinteligencia-militarp.shtml

    6—>  15/08/2001, Josias de Souza: «O Exército deflagrou no final de 1998
um plano secreto, com duração indeterminada, para espionar o MST.»
  http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u23533.shtml

    7—>  19/12/2002, Josias de Souza: «”Brasil velho” produz turbulências em série»
  http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u43742.shtml

    Deboche do Fábio:  «os militares elevaram a nação à condição de protagonista de seu presente para que um futuro melhor pudesse ser construído»    —-    E’ possivel elevar um pais sodomizando seu povo?



    Deboche do Fábio:  «Os governos Lula e Dilma retomaram o projeto de nação de João Goulart, transformando o povo em protagonista através dos programas sociais mas não se afastaram das metas ambiciosas traçadas pelos militares [da ditadura]»



    Metas ambiciosas? Em 1950, o secretário de Estado, George Kennan, dera instruções aos embaixadores latinoamericanos para agirem contra a heresia que se alastrava no continente, ou seja, que o Estado é diretamente responsável pelo bem-estar do povo. O Partido Comunista Brasileiro seguia cumprindo o seu papel de força de sustentação da politica de desenvolvimento nacional e autônoma do imperialismo. Em 1953 Goulart ocupava a pasta do Ministério do Trabalho. E’ daquela época o claim ”República Sindicalista” que excitava as mentes doentias nos esquálidos meandros dos quartéis.

    O comando das nossas FFAA recebera da Escola Superior de Guerra francesa um programa ao alcance da inteligência rasteira dos generais golpistas, transformando-se, em 1956, na teoria dominante dos circulos imperialistas do continente contra os movimentos de libertação nacional: interpretar o protagonismo do povo como guerra subversiva, típica de país colonial. Autoconveceram-se que estava em curso uma guerra revolucionária: comunistas ”apátridas” urdiam com a cumplicidade de Jango, apoiados na massa de manobra dos sindicatos de trabalhadores.

    Quando a coalizão que os incitava (CIA, complexo IPES-IBAD, Associação Comercial do Rio de Janeiro, FIESP, Camara de Comércio dos EUA, latifundiarios e classe media representados por Magalhães Pinto, Lacerda, Adhemar e setores católicos), levantou os bueiros, os militares ensandecidos afloraram brutalizando tudo.



    Lula e Dilma retomaram o projeto que não fora iniciado por Goulart e sim pela ala militar nacionalista sob a liderança, entre outros, dos generais Estillac Leal e Horta Barbosa; foi um grande momento da intelectualidade militar, com Nelson Werneck Sodré na direção do Departamento Cultural do Clube Militar, cuja revista foi a tribuna dos oficiais empenhados a fundo na batalha pelo desenvolvimento nacional, por uma política externa independente e por reformas sociais avançadas.


    Lula e Dilma combateram o complexo de vira-latas que a direita civil/militar golpista incutira no subconsciente coletivo no longo período entre 1964 e 2002. Lula reconquistou-nos a dignidade e o orgulho da nossa nacionalidade, rompendo uma linha esticada, longa de 500 anos. Portanto, Lula e Dilma não podiam seguir nenhuma meta traçada por militares entreguistas, sobretudo porque nas escolas militares, a ideia de subordinação existia desde 1952, quando o limpa-bunda yankee, Golbery, escrevera numa monografia para uso da Escola Superior de Guerra que o Brasil só teria futuro se fosse ancorado aos EUA, ideia-projeto que está por trás do golpe militar de 1964 – do qual ele foi um expoente).  



    Para Fábio de Oliveira, o ”lungimirante” general Mattos teve um ”insight”: «O Brasil do ano 2000 deverá já ter corrigido a distorção geopolítica de possuir imensa massa continental vazia e quase desconhecida, uma das maiores tarefas a realizar. Incorporar às fronteiras econômicas do país extensas porções geográficas do Norte, do Oeste, da Amazônia e do sertão mato-grossense e goiano. Transformar potencial territorial em poder, seguindo o exemplo dos EUA» Segundo estudos da Universidade de São Paulo, o período de 1964 até 1985 serviu para grupos econômicos darem corpo à uma frente ampla, uma aliança entre latifundiários e burguesia industrial na exploração de mão de obra e de recursos em áreas imensas, com incentivos para ocupar terras na Amazônia. Bradesco, Shell e grandes grupos internacionais arrendaram ”terras”; capitalistas tornavam-se latifundiários, expulsando camponeses e indígenas com métodos criminosos e brutais.

    Vale citar o pouco conhecido ”Relatório Figueiredo”, documento fundamental na discussão sobre violações de direitos humanos de camponeses e sobretudo de indígenas no Brasil. As denúncias de genocídio estavam circulando pouco antes do AI-5. Foi o PGR da época, Jader Figueiredo de Correa, que produziu esse relatório. Com 5.115 páginas, apresentava denúncias sobre desvios de dinheiro público dentro do SPI Serviço de Proteção ao Indio, sobre a corrupção na exploração das riquezas dos territórios indígenas, sobre as graves violações de direitos humanos perpetradas contra aldeias inteiras e contra indivíduos de forma seletiva, especialmente caciques e lideranças. No documento, o procurador mostrava o envolvimento dos agentes de estado, muitos deles militares.

    O que sobrou desse relatório são matérias de jornais, feitas por jornalistas presentes na coletiva de imprensa com o procurador-geral, em março de 1968. O relatório original e os inquéritos dele decorrentes foram queimados pelos militares da ditadura.  As matérias denunciam os genocídios apontados no relatório como, por exemplo, aldeias exterminadas com bananas de dinamite jogadas de aviões e de fuzilamentos de índios opositores. Foram muitos casos em várias partes do país. Denunciam a inoculação de doenças nos indígenas, tanto por roupa quanto por comida contaminada. Práticas que o procurador denunciou publicamente. Já na justificativa da Resolução 65 da Câmara, que criou a CPI do Índio de 1968, encerrada depois com o AI-5, os deputados citavam que o major Luiz Vinhas exterminou duas tribos pataxós inteiras, inoculando varíola na população, para tomar suas terras. Esse major foi processado pelo PGR e perdeu o cargo de diretor do SPI onde chegara por ordens  expressas do ditador Castelo Branco. Foi processado na Polícia Federal, junto com outras 23 pessoas que também trabalhavam no SPI. Notícias da época fazem saber que todos fugiram sem responderem por seus crimes.



    Deboche do Fábio de Oliveira: «Os militares censuraram a imprensa e amordaçaram os sindicatos operários. Mas não ousaram congelar gastos em saúde e educação, nem revogar a CLT e extinguir a Justiça do Trabalho. O legado de Vargas foi por eles considerado uma peça importante»   Entendi. Vargas deu um tiro no peito só para impressionar os pósteros… 

    Os generais censuraram a midia, infiltraram delatores nas fábricas, nos sindicatos, nos locais de trabalho, nas universidades, nas escolas e igrejas. Praticaram ostensivamente a tortura, organizaram-se em grupos terroristas e vincularam-se com setores do mundo civil: muitos porteiros de edificio, professores e empresários transformaram-se delatores e espiões, Esquadrões da Morte, com elementos oriundos das PMs, agiram no inferno do subproletariado urbano.  



    A ditadura não colocou em pauta a liquidação da CLT porque a usava como válvula de escape. Eram proibidas as mobilizações sindicais. Na impossibilidade de mobilizar-se através de greves ou qualquer outro tipo de mobilização, a única alternativa do trabalhador era recorrer à Justiça do Trabalho. Os militares nunca deram e nem dão a menor importância a Vargas e menos ainda ao seu legado.   — E o arrocho salarial? —  O sociólogo Emir Sader, lembrou que o arrocho salarial foi tão importante para a sustentação da ditadura quanto a repressão sistemática, comprometendo a qualidade dos serviços como a saúde pública mas sobretudo a educação. «O santo do chamado “milagre econômico” foi o arrocho salarial.» 

    Especialistas em educação, reunidos em audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Câmara em abril de 2014, foram unanimes em apontar as heranças do regime ditatorial como principais responsáveis pela atual má qualidade da educação pública e pela falta de acesso a ela para os cerca 14 milhões de analfabetos, além de número maior ainda de analfabetos funcionais. Foi lembrado que os militares puseram fim ao ambiente de otimismo pedagógico dos educadores brasileiros com o avanço da educação popular e emancipatória já nos primeiros dias após o golpe. Em 14 de abril de 1964, um dia antes do Castelo Branco assumir, foi extinto o Programa Nacional de Alfabetização, decisão que fora tomada um ano antes por ele: “Querem dar asa à cobra”, vaticinou ele. Foi lembrado também que Paulo Freire já dizia que educar é politizar sim. “Não podemos formar estudantes na velha teoria do capital humano: estude-trabalhe-ganhe dinheiro; ”A Educação que não é emancipadora faz com que o oprimido queira se transformar em opressor”, insistia Freire.  Mas os generais queriam reformas que arrasassem com o modelo de educação brasileira. E impuseram-as com a violência.

    O embaixador Rubens Ricupero contou de documentos por ele vistos em que os “reformistas”  sujeitavam aos estadunidenses até a revisão do currículo escolar. «Me impressionou a intimidade que se criou entre funcionários americanos chefiados pelo embaixador Lincoln Gordon e a equipe tecnocrática incumbida de planejar o governo Castelo Branco, dirigida por Roberto Campos. Chegava-se à ingenuidade de discutir em telegrama qual seria o salário das professoras primárias!»



    Tem muita tramoia pra apontar no texto do Fábio de Oliveira mas vou encerrar esse ”comentário”, com Janio de Freitas:  «O cinquentenário de 64 mostra-se como um brado uníssono de “ditadura nunca mais”. Talvez seja assim. Mas só poderá ser se consumadas duas condições. O ensino das escolas militares precisaria passar por reformulação total. A do Exército, mais que todas. Nas escolas militares brasileiras não se ensinam apenas as matérias técnicas e acadêmicas apropriadas para os diferentes ramos da carreira militar. Muito acima desse ensino, as escolas militares ocupam-se de forjar mentalidades. Uniformes, planas, infensas à reflexão, e, por aí já está claro, ideológica e politicamente direcionadas. São produtos criados ainda para a Guerra Fria. 

    É por isso que se vê, há tantos anos, tão igual solidariedade e defesa dos atos e militares que, para a lei e para a democracia, são criminosos, muitos de crimes hediondos e de crimes contra a humanidade. As escolas militares não preparam militares para a democracia.»

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