No Brasil medieval de Bolsonaro, uma explosão de feminicídios e poucos motivos para celebrar, por Lucia Helena Issa

Minha alma se dilacera hoje pelas mais de 60 mil brasileiras assassinadas por seus parceiros, em claros feminicídios, apenas entre 2010 e 2019 no Brasil

No Brasil medieval de Bolsonaro, uma explosão de feminicídios e poucos motivos para celebrar

por Lucia Helena Issa

Fui despertada hoje por centenas de mensagens me felicitando pelo Dia Internacional da Mulher.

Fico muito feliz e agradeço em meu nome, mas sobretudo agradeço em nome das 146 mulheres mortas em uma fábrica de tecidos em Nova York, em março de 1911, mulheres que trabalhavam 12 horas por dia, trancadas em um lugar insalubre, sem pausas no trabalho, comendo apenas para continuarem vivas, e sujeitas a todos os abusos morais e a perigos, como o incêndio que finalmente as matou.

Agradeço em nome de Simone de Beauvoir, de Frida Kahlo, da humanista Olga Benario, enviada pelo Brasil, grávida de uma menina, para morrer em um campo de concentração na Alemanha.

Agradeço em nome de Rosa de Luxemburgo, de Rosa Parks (a mulher que lutou contra o Apartheid norte-americano), agradeço em nome de Fatima, filha do Profeta Maomé, que lutou muito pelos direitos da mulher, em nome de Aisha, mulher muçulmana, líder de milhões de homens muçulmanos, mas cuja história o Ocidente tenta silenciar, agradeço em nome de Marielle, de Luiza Mahin, a escrava muçulmana que lutou pela Abolição dos escravos e pela liberdade religiosa no Brasil, agradeço em nome de Ahed Tamimi, ativista Palestina que luta contra a ocupação ilegal de Israel nos territórios palestinos e contra o genocídio de crianças e jovens palestinos.

Agradeço em nome de Leila Diniz, de Maria da Penha, de Pagu, de Santa Teresa D Ávila, de Maria Madalena e da princesa Fatma, a mulher muçulmana que fundou a primeira universidade do mundo.

Agradeço em nome das centenas de muçulmanas feministas que conheci e entrevistei na Palestina, que lutam pelos direitos da mulher, mas nunca aparecem na sua TV.

Amo ser mulher, fui casada duas vezes, tenho uma filhota linda e sempre tive e tenho relacionamentos longos. Amo ter nascido mulher, mas minha alma hoje não vê razões para celebrar o retrocesso do Brasil de Bolsonaro, um dos países com maiores índices de feminicídio do mundo cujo presidente afirma que o feminicídio não existe.

Minha alma se dilacera hoje pelas mais de 60 mil brasileiras assassinadas por seus parceiros, em claros feminicídios, apenas entre 2010 e 2019 no Brasil. Por todas as Lucias, Anas, Isabellas e Helenas que tiveram suas vidas e sonhos ceifados pelo machismo e pela misoginia. Por crimes que colocam o Brasil entre os 5 países onde morrem mais mulheres por violência doméstica no mundo. Pelas 47.000 mulheres estupradas no Brasil apenas em 2014. Minha alma chora por cada mulher que, segundo a ONU, é violentada a cada 11 minutos no Brasil. Pela hipocrisia dos brasileiros quando dizem que odeiam os muçulmanos porque eles tratam mal suas mulheres, enquanto o que testemunhei na Palestina foi o oposto e enquanto a própria ONU afirma que, estatisticamente, há muito mais estupros e violência contra a mulher na América Latina do que na Palestina.

Desculpem-me, amigos, se eu, a jornalista, a escritora e embaixadora da paz e a menina apaixonada pela vida, hoje não vê muitos motivos para celebrar.

Redação

1 Comentário

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  1. Estamos vivendo momentos terríveis no nosso país, mulheres guerreiras, uni-vos! Não se deixem humilhar por psicopatas, neuróticos, procurem se defender de todas as maneiras, meu Deus, tanta mulher sofrendo, que triste! E pior, assassinadas cruelmente, jovens ainda e com filhos pequenos!!

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