Nóias, paranóias e metanóias para sair da solitude de estar sozinha, por Mariana Nassif

Nóias, paranóias e metanóias para sair da solitude de estar sozinha

por Mariana Nassif

Não foram poucas as vezes na vida nas quais me senti sozinha. Acho que foram tantos os momentos que de certa forma me acostumei a encontrar explicação para meus incômodos com o argumento da solitude.

Sim, realmente alguns episódios foram solitários, um ou outro traumaticamente incrustados mas, de verdade, avaliando em retrospecto, na grande maioria das vezes usei a solidão como uma desculpa para estar sofrendo, quando o que provavelmente acontecia é que determinada situação não saía conforme meus desejos. Ficava brava, esperneava por dentro – e vez ou outra por fora também – e alegava “me sinto sozinha, por isso dói assim”.

Para ser honesta, avalio que eu era muito mais mimada do que sozinha.

De uns tempos pra cá, especialmente durante o período de recolhimento destes últimos meses, este conceito vem amadurecendo em mim de forma a me perdoar por essa mania egoísta e dolorida e, especialmente, a libertar aqueles que “me deixaram sozinha” de suas culpas.

As pessoas podem não querer estar comigo, eu posso não querer estar com elas e tá tudo bem. Tem que estar tudo bem, continuemos ou não a caminhar juntos. Essa é uma outra escolha, que pode ser feita em critérios mais adultos, mais amplos e efetivamente mais atuais do que meus traumas infantis.

Expelir estes momentos está me custando a saúde da bexiga, mas desejo viver este processo de um jeito ou de outro. Eu mereço crescer. Eu mereço ser feliz. Eu mereço escolher minhas companhias e, inclusive, mereço errar e não me sentir abandonável por isso. Que alívio!

A metanóia de estar sozinha, que passeou pela paranóia do abandono como caminho fundamental para a caminhada em direção a auto-suficiência e a construção de uma autonomia menos ligada aos modelos familiares que não me servem, sem necessitar do rompimento emocional – já experimentado – e geográfico – também experienciado, sem sucesso, em ambos os casos, porque a casa interna é tão maior do que as paredes físicas… – enfim, essa transformação vem acontecendo de tal forma que hoje, quando me sinto incomodada com determinadas situações, mesmo que mantenha presente a característica de personalidade da expansão e extroversão, essa que me faz desejar a partilha para sentir a vida, bem, tenho me recolhido muito mais do que procurado as respostas no mundo externo. Livros, rezas, lembranças: meu refúgio seguro e sim, solitário, com a sensação forte e firme de não estar sozinha. Estar comigo, mesmo que ainda precise me identificar como filha de Oyá para enfrentar as situações. Ela existe porque eu existo, e a vida segue mais segura assim.

 

Mariana A. Nassif

3 Comentários

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  1. Diria a Janis Joplin: All is loneliness

    Solitude

    (Black Sabbath)

     

    My name it means nothing

    my fortune is less

    My future is shrouded in dark wilderness

    Sunshine is far away, clouds linger on

    Everything I posessed – Now they are gone

     

    Oh where can I go to and what can I do?

    Nothing can please me only thoughts are of you

    You just laughed when I begged you to stay

    I’ve not stopped crying since you went away

     

    The world is a lonely place – you’re on your own

    Guess I will go home – sit down and moan.

    Crying and thinking is all that I do

    Memories I have remind me of you

     

  2. Eu mereço…
    Eu mereço…
    Eu

    Eu mereço…

    Eu mereço…

    Eu mereço…

    Aristóteles dizia que precisamos conhecer nossas relações para tirar o melhor proveito delas. A relação do homem com a natureza, com a sociedade e com o Estado não é necessariamente baseada no merecimento. A natureza é brutal. A sociedade é injusta. O Estado é um espaço político de disputas brutais e injustas. Portanto, ao invez de dizer “Eu mereço…”, seria muito mais razoável cada qual tirar o melhor proveito do que consegue (inclusive da dor, do abandono e da solidão, etc…). Isso nos poupa de um sofrimento adicional causado pela frustração de falsas expectativas. 

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