Nosso atraso civilizatório, por Henrique Matthiesen

Nosso atraso civilizatório
por Henrique Matthiesen

Dizia o antropólogo Darcy Ribeiro: “As elites brasileiras são cruéis, elas asfixiam as massas mantendo-as na escuridão da ignorância. As escolas não cumprem com o papel de educar e preparar os meninos do Brasil. Só vamos acabar com a violência quando resolvermos a questão da educação”.

Visivelmente as entranhas do nosso atraso social estão entrelaçadas à constituição de nossas elites, que por meio de sua concepção, perpetuam-se no seu exercício de coexistirem de privilégios e de se locupletarem do estado.

Diferentemente de outros processos coloniais onde se edificaram elites pátrias com percepção de nacionalidade e projeto de desenvolvimento pátrio, como por exemplo, os góticos americanos; aqui, nossa colonização barroca se caracterizou pela subserviência e subalternidade internacional.

Característica essencial de nossas elites é sua completa e inequívoca concepção antipátria e antinação, como também seu DNA escravocrata.

Evidente que para lograr êxito neste processo elas se utilizam de inúmeras artimanhas, como a ideologização de que a ordem social é sagrada e divina, estabelecida segundo a vontade de “Deus”. Outro instrumento comum é a utilização do medo – asfixiamento de qualquer contestação -, como também a manutenção de nosso atraso educacional.

Em nossa estratificação da pirâmide social evidencia-se o êxito destas engrenagens que retratam de forma perversa nosso atraso civilizatório.

No topo, as classes dominantes repartidas e articuladas, em um patronato moderno, e tradicional (grandes capitalistas parasitários e produtivos, rurais e urbanos) que se organizaram de altas posições nas instituições do Estado. Oligarcas patriarcais e antipátrias, porém poderosíssimas, e se necessárias profundamente violentas; não titubeiam em golpear o estado quando quaisquer interesses seus ficam em perigo.

Dentre a engrenagem os setores intermediários compostos da dita “classe média”: de funcionários públicos civil e militar; profissionais liberais; médios proprietários de negócios, etc. são anteparos para os interesses dominantes. Não se intitulam trabalhadores e são profundamente preconceituosos com projeções políticas e radicais.

Como classes subalternas têm a aristocracia operária: empregados nas indústrias pertencentes às corporações multinacionais, assim como os trabalhadores prestadores de serviços que não entendem os conceitos de luta de classes, e são amordaçados em seus pleitos de elevação social, do mesmo modo que acreditam na ordem social sagrada.

Na base está uma classe dilatada: os marginalizados e oprimidos submetidos ou ao subemprego ou ao desemprego crônico; os despossuídos de direitos e cidadania sofrem do mais absurdo desprezo das demais classes sociais e são os grandes vitimados de nosso atraso civilizatório.

Nada obstante toda esta estratificação só foi possível por meio de uma forte e inquebrável ideologia social, a qual as elites laboram há séculos para sua manutenção. Qualquer ameaça ou simplesmente reivindicação é brutalmente estancada, como também é violentamente reprimida.

Até porque o atraso civilizatório é o banjo necessário e inegociável para mantermos nossas elites abastecidas de privilégios e poderosas.

Redação

Redação

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  • O Brasil faliu como civilização. Não assimilamos nada das grandes transformações que se processaram na trajetória dos humanos e tampouco vamos deixar algum legado.

  • Vocês viram as capas dos jornais no dia de hoje. Viram o Rio Tiête? O Rio Tiête em Salto / SP? Onde estão as ONG's Ambientalistas? Onde está a FMA e seu contrato com Governo do estado de SP de mais de 170 milhões? Não Governamental? Para dizer que o Tiête está 'mais limpinho'? Onde está a pressão para que Coca Cola e Unilever recolham suas garrafas plásticas? Responsáveis por mais de 80% deste lixo. Onde está a prática da Lei de Resíduos Sólidos? Onde está a defesa do Meio Ambiente, onde estão os Brasileiros? Não é bem a Humanidade que interessa!!! E aí Gisele Bundchen? Não tem a Agropecuária Brasileira para sabotar, não tem repercussão nem interesse internacional?! País de muito fácil explicação.

    • O comentário era para outra matéria. Mas lá foi censurado. Aqui foi censurado o comentário desta matéria. Mas divulgado o de lá. Obrigado pelo espaço, mas lamento pela censura. A Censura é o escudo dos que tem argumentos medíocres.

  • Malhar o Judas é fácil e gostoso: tudo é culpa dessa tal "elite". Mas quem é exatamente essa elite?

    Eu comecei a me fazer essa pergunta anos atrás, na época que o Saturnino Braga fazia campanha para prefeito do Rio, e acusado de estar ligado a bicheiros, replicou: "Prefiro ter o apoio dos bicheiro ao apoio da elite". Ora veja, pensei, para o Saturnino, os milionários banqueiros do bicho não eram membros da elite. Um artista milionário como Chico Buarque tampouco pertence à elite, porque defende causas populares. O mesmo se dizia de um arquiteto milionário chamado Oscar Niemeyer. Lula não é membro da elite porque é operário. Lulinha da Gamecorps também não é membro da elite, porque é filho de operário. Então, quem?

    No fim das contas, essa elite nada mais é do que um TOTEM, uma entidade maligna que encarna determinados atributos. Sabe-se que todo o mal vem da elite, mas não se sabe exatamente o que é essa elite, exceto que seus integrantes são sempre os outros.

    Considerando o histórico de formação de nosso povo, nota-se que a diferença entre a camada mais rica e o resto da população é tão somente a renda: de resto, ambos são assemelhados cultural e psicologicamente. Indiscutível é que a elite seja superior ao resto por ser mais estudada e viajada, o que aliás é característica comum de todas as elites do mundo. A elite é sempre superior à média, e quem diz isso não sou eu. Está no dicionário, na definição do verbete "elite". Uma elite ruim nada mais é do que o sintoma de uma média pior ainda.

    • Caro sr., a Elite sempre foram os mesmos que acusavam a tal Elite. Esta farsa manteve o Poder entre estes Feudos que ascenderam juntamente com Golpe Civil-Militar Fascista Caudilhista de 1930. Todos eram comparsas fingindo serem antagônicos.

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