Última Flor do Lácio… foi assim que Olavo Bilac chamou o Brasil para enfatizar de maneira poética a importância do legado romano na construção das nossas instituições. Aqui mesmo no GGN já falei um pouco sobre esse assunto aqui e aqui. Volto ao tema por causa de um deslocamento.
A receita neoliberal tradicional para resolver o deficit orçamentário é a adoção da austeridade (conter os gastos com saúde, educação e segurança; reduzir os direitos dos tralhadores; diminuir o valor das pensões previdenciárias; aumentar os juros pagos pelo Estado etc…). O objetivo seria reequilibrar as contas. Entretanto, a austeridade sempre afeta de maneira negativa a atividade comercial e industrial. E isso quase sempre provoca uma nova queda na arrecadação tributária que levará inevitavelmente a um novo desequilíbrio orçamentário que exigirá mais austeridade e causará uma nova queda na arrecadação fiscal.
Ao apresentar um de seus livros ao público norte-americano, o economista Yanis Varoufakis comenta esse fenômeno e diz o seguinte.
“Se um país fizer isso ele vira a Grécia!”
Ontem a Câmara dos Deputados aprovou um pacote de medidas previdenciárias que pode ser resumido da seguinte maneira: com exceção das categorias privilegiadas de sempre (oficiais militares, juízes, procuradores, legisladores, prefeitos, governadores, etc…) os brasileiros trabalharão mais e receberão benefícios previdenciários menores. O impacto no orçamento será benéfico dizem os defensores da medida. O impacto na economia como um todo será devastador.
Sobre os efeitos negativos e a desnecessidade da Reforma da Previdência vale a pena conferir o que dizem dois especialistas: o economista Thomas Piketty e o brasileiro Eduardo Moreira.
A Reforma da Previdência aprovada na Câmara (que provocará um aumento da desigualdade social e aprofundará a crise econômica) transformará o Brasil em Grécia e os brasileiros em gregos como disse Yanis Varoufakis. Entretanto, e essa é uma questão importante que deve ser aqui ressaltada, os brasigregos não estão sendo convidados a viver no apogeu da civilização grega.
“O princípio estruturante da economia privada é a acumulação privada. O que deve estruturar a vida em comum é a amizade. Por isso, Aristóteles elogia o governo que respeita o interesse comum, critica o excesso de riqueza e de pobreza e sugere que o melhor cidade é aquela que se esforça para resgatar os cidadãos da miséria.” Veja aqui.
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) certamente rejeitaria o neoliberalismo. Além disso ele provavelmente ficaria espantado ao ver a popularização da decadência grega atual entre os bárbaros de um mundo que ele sequer imaginava que poderia existir. Em Pindorama (como gosto de chamar o Brasil pré-cabralino), cada tribo cuidava dos seus jovens e dos seus velhos. Ao adotar e/ou aceitar o paradigma grego neoliberal, nós estamos abandonando as crianças pobres à miséria e condenando os velhos miseráveis à morte por inanição.
A grecização a que se refere Varoufakis é o empobrecimento programático da população para beneficiar ou salvar os Bancos privados de uma crise que eles mesmos criaram. Foi isso o que ocorreu na Grécia, com um agravante: os bancos salvos pelos empréstimos associados às medidas de austeridade não eram gregos e sim franceses e alemães.
Pobreza, incerteza, ressentimento e ódio formaram o caldo de cultura que possibilitou a extrema direita emergir como força política dominante na Grécia. O Brasil está sendo empurrado por esse caminho desde que Michel Temer assumiu o poder instituiu um teto de gastos em saúde e educação, reduziu programas sociais e a interrompeu obras públicas.
Jair Bolsonaro se beneficiou da crise política que Aécio Neves conseguiu transformar em crise econômica (devidamente amplificada pela Lava Jato) e está aplicando o receituário neoliberal. Ele se beneficiará da depressão econômica que está sendo plantada ou apenas abrirá a porta do inferno para que alguém muito pior do que ele chegue à presidência? A liberdade de Lula conseguirá interromper esse processo histórico? Essas são as questões que os novos brasigregos deveriam fazer nesse momento.
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