Foto: Ferdinand de Saussure
O apanhador no campo do sentido – Vol. 2
Por Gustavo Conde
[continuação…]
Do erudito ao popular
A velharia das citações literárias e eruditas que até então subsidiavam o imaginário pretensamente técnico sobre língua humana foi relegada a um papel secundário – para não dizer, insignificante. Em outras palavras: se se quisesse entender – a sério – o que é uma língua humana seria preciso, a partir dali, buscar o falante espontâneo e real, não o escritor empolado de gabinete ou o autor consagrado das bibliotecas.
É uma mudança e tanto. Mais que uma mudança, é uma ruptura de grandes proporções. Saussure hesitou e teve muita dificuldade de se expor para romper com toda uma tradição de estudos linguísticos porque também sabia que romper com isso seria desafiar o poder acadêmico e seus nichos mais violentos.
Não admira que Saussure ele mesmo não tenha escrito seu livro demolidor. A densidade autoral ali subscrita é tanta e tão avassaladora que repeliu a fragilidade de um sujeito que era apenas um apaixonado pela língua humana. Os mensageiros de sua visionária antecipação teórica foram seus ex-alunos – que, aliás, fizeram-no de maneira talentosa e reverente.
Esse ponto será crucial para se entender o poder da fala em Lula. Porque Lula não é um erudito literato. Ele é, na verdade, muito mais do que isso.
O sujeito deixa o palco para a protagonista ‘língua’
Antes de avançar nos desdobramentos da revolução saussuriana, convém alertamos para mais alguma de suas façanhas metodológicas. Ao circunscrever a língua humana pela primeira vez na história em um campo controlado e objetivo – de forte viés científico – Saussure afiançou um corolário epistemológico igualmente devastador: ele retirou o sujeito falante de cena – que voltaria depois muito mais soberano, tecnicamente falando.
E por que ele fez isso? Para que os estudos da língua se concentrassem naquilo que interessava de fato – a língua – e não se dispersassem em subjetividades e impressionismos do pesquisador. É uma atitude assaz ousada e igualmente visionária.
Para finalizar este breve preâmbulo sobre o nascimento dos estudos contemporâneos da linguagem, é irresistível dizer aquilo que ainda não foi dito a respeito de Saussure – e especular livremente sobre sua genialidade e precisão epistemológica.
[continua…]
Aqui, os links do ensaio:
O apanhador no campo do sentido – Vol.1
O apanhador no campo do sentido – Vol.2
O apanhador no campo do sentido – Vol.3
O apanhador no campo do sentido – Vol.4
O apanhador no campo do sentido – Vol.5
O apanhador no campo do sentido – Vol.6
O apanhador no campo do sentido – Vol.7
O apanhador no campo do sentido – Vol.8
O apanhador no campo do sentido – Vol.9
O apanhador no campo do sentido – Vol.10
O apanhador no campo do sentido – Vol.11
O apanhador no campo do sentido – Vol.12
O apanhador no campo do sentido – Vol.13
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
‘Escutem’ bem o que escreve FHC
Li a primeira parte desse texto ontem e agora e pensei aqui com meus botões: deve ser por isso e tanto mais que Fernando Henrique Cardoso vive a remoer sua inveja e rancor por não ter sido um grande presidente da republica, muito menos um homem de Estado, como gostaria, até tentando durante seu governo varrer o varguismo para debaixo do tapete.