O ato de ler: olhos de contemplação, em Abril Despedaçado, filme de Walter Salles

“Meu nome é Pacum. É um nome novo , tão novo que ainda nem peguei custume. Tô aqui tentando alembrar uma história, às vezes eu alembro, às vezes eu esqueço. Vai ver que é porque tem outra que eu não consigo arrancar da cabeça: a de meu irmão e de uma camisa no vento”

 

A leitura ajudando a suportar o destino cruel e inexplicável.

Uma cascata de metáforas espalhadas ao vento.

https://www.youtube.com/watch?v=bsO5TXBXvxI]

 

Templo

Chico César

  

Se você olha pra mim

Se me dá atenção

Eu me derreto suave

Neve no vulcão

Se você toca em mim

Alaúde emoção

Eu me desmancho suave

Nuvem no avião

 

Himalaia himeneu

Esse homem nu sou eu

Olhos de contemplação

 

Inca maia pigmeu

Minha tribo me perdeu

Quando entrei no templo da paixão

 
As histórias de cada um.

Sagas.

 

O livro e o filme Abril Despedaçado são o registro de um destino impresso na memória.

É a história impressa em um livro que precisa ser lido . ‘E se não for a minha história, a gente inventa outra.’

E se eu puder fugir e voar com a leitura, com as histórias das personagens? Das sereias… do mar …

”  O pai é que toca os boi para rodá a bolandeira. No tempo de vô, os escravo fazia o serviço todo. Agora é nóis mesmo. Tonho, meu irmão, é o que mói a cana. A Mãe recolhe os bagaçu. A Mãe costuma dizer que Deus num manda um fardo maior que a gente consegue carregá. Cunversa fiada. Às vez ele manda um peso tão grande que ninguém guenta. Nóis vive em Riacho das Alma. fica no meio do nada. De certo mesmo, só precisa ter ciência de que fica embaixo do céu e debaixo do sol e o sol daqui é tão quente, mas tão quente que, a cabeça da gente ferve que nem rapadura no tacho”.

A amizade com o irmão e a ‘ciência’ de uma saga que tem que se cumprir. Ou não.

 

A trama se ambienta em 1910, no sertão nordestino, em clima árido, com escassez de recursos. Em meio a isso, a violência entre duas famílias rivais.

 

 

FILME COMPLETO: 2002

 

[video:https://www.youtube.com/watch?v=wqzx1fWF2cY

 

Imagens: de divulgação da internet.

Redação

23 Comentários

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  1. quando li o título, quase

    quando li o título, quase achei que era sobre a Veja – seria obra interessantíssima, recheada de drama, comédia e disputas por poder com tudo terminando, claro, num final feliz. 

  2. Minha vida é feita de páginas

    Palavras  de tudo

     

    Minha vida é feita de páginas.

    Sem ler não concretizo voos

    Sem ler não amanheço nem anoiteço,

    e se entardeço

    é porque sou em mim mesma um feixe de páginas

    qual bambu

    em touceiras

    de difícil esfacelamento, destruição ou perda .

     

    Quando de palavras me guarneço,

    é com elas que me acasamato do mundo,

    me resguardo das dores simples,

    me afogo nas mais complexas,

    irremediáveis e etéreas.

     

    Palavras alimentam meu corpo,

    atiçam meus desejos mais incompreensíveis,

    sensorializam meu cotidiano mínimo,

    transformando-o em rasantes sobre oceanos.

     

    Odonir Oliveira 

    1. Ô post bonito da gota!

      Conheci o filme na faculdade, vai fazer 10 anos e nunca mais esqueci.

       

      Há de se fazer um trabalho de resgate e restauração dos bons filmes nacionais, que ficam relegados apenas aos DVD’s e não são assistidos pelas novas gerações, consumidoras do VOD e dos discos azuis.

       

      Ótimo post

  3. Contemplações

    Uma boa ideia ler o livro, não é, Odonir. O filme muito me marcou. Acho o melhor de Walter Salles, junto à Central do Brasil. E o Barsil despedaçado e arcaico continuam ai.

    Muito bonito seu post, com muita sensibilidade. 

    1. Uns trechos de Campo Geral, do qual gosto muito

      De MIGUILIM e MUTUM

       

      Um certo Miguilim, morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-Frango-d’Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covoão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali, pela primeira vez: o tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha. De uma, nunca pode esquecer: alguém, que já estivera no Mutum, tinha dito: – ‘É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre…’

      (GUIMARÃES ROSA, 2001, p. 27).

       

      “Quando voltou para casa, seu maior pensamento era que tinha a boa notícia para dar à mãe: o que o homem tinha falado – que o Mutum era lugar bonito… A mãe, quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo desse jeito de cor, como uma salvação, deixava-o febrilaté nas pernas. Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de esperar; e assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação. A mãe não lhe deu valor nenhum, mas mirou triste e apontou o morro; dizia – ‘Estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver… ‘Era a primeira vez que a mãe falava com ele um assunto todo sério. No fundo de seu coração, ele não podia, porém, concordar, por mais que gostasse dela: e achava que o moço que tinha falado aquilo era que estava com a razão. Não porque ele mesmo Miguilim visse beleza no Mutum – nem ele sabia distinguir o que era um lugar bonito e um lugar feio. Mas só pela maneira como o moço tinha falado: de longe, de leve, sem interesse nenhum; e pelo modo contrário de sua mãe – agradava de calundu e espalhando suspiros, lastimosa. No começo de tudo, tinha um erro – Miguilim conhecia, pouco entendendo. Entretanto, a mata, ali perto, quase preta, verde-escura, punha-lhe medo.

       (GUIMARÃES ROSA, 2001, p. 28-29).

      “E Miguilim olhou para todos, com tanta força. Saiu lá fora. Olhou os matos escuros de cima do morro, aqui a casa, a cerca de feijão-bravo e são-caetano; o céu, o curral, o quintal; os olhos redondos e os vidros altos da manhã. Olhou mais longe, o gado pastando perto do brejo, florido de são-josés, como um algodão. O verde dos buritis na primeira vereda. O Mutum era bonito! Agora ele sabia”

      “Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso o encarava. Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo da vista? (…) Miguilim espremia os olhos. (…) Este nosso rapazinho tem a vista curta. (…) E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito. — Olha agora! Miguilim olhou. Nem podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo … (…). Coração batia descompassado.”

      Guimarães Rosa, Campo Geral, Manuelzão e Miguilim.

      1. Quebra de contrato

        Vou filmar orgias e putarias

        E farei a consultoria e a revisão do seu novo livro erótico, de grátis!

        Se outra editora

        Se interessar pelos seus belíssimos poemas,

        teremos que discutir a rescisão unilateral com elevadas penas.

        Meu irmão mais novo, que não sabe da Bíblia a metade, já sugeriu para o Gafanhoto Mineiro escrever um livro memorialístico, o que se trona, definitivamente, uma Operação Impossível, porque os personagens estão todos “Vivinhos da Silva”.

        Pelos meus vídeos, nota-se que a Vida Loka, não é bem assim, mas, infeliz ou felizmente, quem faz a fama, deita na cama.

        Outro Mano

        Estava comprando a minha nova câmera, enquanto trocávamos informações e fotos por mensagens no WhatsApp.

        Entre um chiste e outro, ele, lá nos Isteits, me disse: – “Ô krai!, você tá matando ‘o Cara’ de rir, kct!”

        Não fiquei surpreso porque havia acabado de pedir um desconto, oferecendo, em contrapartida, enviar, futuramente, vídeos eróticos pro vendedor.

        Ele quis saber mais informações sobre o Mineirinho e perguntou que tipo de Esporte ele praticava e que destinação daria à câmera recém-adquirida, para, espertamente, oferecer aquela penca de acessórios caros que ela dispõe.

        O Mano Véi aproveitou, então, para matar no peito e devolver na lata do americano folgado:

        – “Ele não pratica nenhum Esporte… só vai filmar orgias e putarias…”

        Concluindo

        Estou habilitado para fazer a consultoria e a revisão do seu livro erótico, ou não?

        Fui!

          1. Odonir

            Eu acho que esse mineirinho está se referindo a mim,  com a minha história de ser censora do blog. Ele acreditou kkkkkkkk

        1. O “Seo” Nassif

          disse que vai me nomear como censora do Blog. Vou ficar rica s/ com o jns e a Odonir.  Mas eu combinei com ele que a censura vai ser feita posteriormente à publicação. Não sou boba, nem nada : quero rir muito primeiro !!!!!!!!!!!!!  kkkkkkkkkkkkk

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