Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O autêntico neoliberalismo à brasileira, por André Motta Araújo

São educados pelo Estado, vão ao exterior com bolsas pagas pelo Estado, depois ficam ricos operando com o Estado e assim que enriquecem passam a atacar o Estado assistencial.

O autêntico neoliberalismo à brasileira

por André Motta Araújo

Para os jecas fascinados com a civilização americana, aprendam a observar as RAÍZES dessa civilização e não suas perfumarias.

Os americanos se consideram CIDADÃOS e tratam o PODER como uma instituição a serviço dos cidadãos, não se rebaixam diante do Governo.

Como consequência:

1.A imprensa americana é CRÍTICA ao Governo em Washington, seja ele de que partido for, não é levemente crítica, é FEROZMENTE CRÍTICA. Imprensa morna, bajuladora, lisa, subserviente, reverencial como o Sistema Globo trata os governos não é o padrão do grande jornalismo americano de opinião.

2.Empresário americano não é puxa-saco do Presidente e de seus Ministros, não se conhece nos EUA “jantar de homenagem” ao Presidente com 1.100 talheres, um grosseiro espetáculo de bajulação rasteira. Existem jantares de arrecadação de fundos para candidatos, é finalístico e não bajulador. Empresário americano, quando quer tratar algum assunto com autoridade, se coloca em nível igual a ela e exige ser atendido como contribuinte, sem rapapés e sabujismo, muitas vezes é agressivo com a autoridade, já fui testemunha disso em vários episódios.

A CULTURA DO MUNDO DE NEGÓCIOS NOS EUA

Então, a cultura liberal de mercado não é só a BOVESPA, é uma cultura de civilização onde existe uma postura que não é de tratamento do Poder como se faz no Brasil, no exemplo degradante desse jantar da Câmara Brasileiro-Americana de Nova York , – não confundir com a Câmara Brasil-EUA, com a AMCHAM, nem com o Brazil Council da U.S.Chamber of Commerce -. Essa Brazilian American Inc. é uma central de eventos e deles vive, um espetáculo vulgar de bajulação, porque não tem outra finalidade ou lógica nessa altura dos acontecimentos, não há fato objetivo a homenagear um presidente que não teve tempo de apresentar feitos para serem comemorados. É uma festa de brasileiros para brasileiros que se realiza em país estrangeiro sem que tenha qualquer relação com esse país, o jantar poderia ser numa ilha do Caribe ou em Portugal, papagaios querendo tirar foto com o Presidente para colocar na mesa da sala e mostrar para outros basbaques “viu como estou assim com o home?”

O Presidente faz mal em se prestar a um evento baba ovo desse nível muito baixo na liturgia do cargo de Chefe de Estado de um dos maiores países do mundo, Presidente da 8ª economia é para jantar do G-20 com seus iguais, outros Chefes de Estado e não com executivos empregados de bancos, advogados de escritórios internacionais e consultores-lobistas, um público de interesses a curto prazo e sem interesse real no futuro  do país.

O mundo de negócios dos EUA tem muitos eventos, feiras, summits, convenções MAS todos têm um foco em temas e não foco numa pessoa e tampouco se cultua nos EUA o “negócio de homenagens” como se faz no Brasil, que nada mais é que uma picaretagem onde revistas e meios de comunicação inventam prêmios de “Personalidade do Ano” para executivos a troco de verbas de publicidade. Tem executivo que vive disso e gasta dinheiro da empresa para ganhar prêmios. De uns anos para cá o negócio tem caído, dada a recessão econômica, mas é um meio bem antigo de fazer dinheiro com a vaidade.

A VISÃO DO INTERESSE PUBLICO NO MUNDO DE NEGÓCIOS DOS EUA

Há outro vetor no mundo de negócios dos EUA muito diferente do Brasil. Lá há um respeito pelas instituições e interesse público que faz com que os executivos se dediquem a uma causa pública como obrigação de cidadão. O executivo brasileiro geralmente não está nem aí, seu único foco é ele mesmo, o país, os desassistidos, os pobres que se danem, é claro que há exceções, mas a regra é o egocentrismo e a ganância pessoal, não sobra nada para o país.

As fundações filantrópicas americanas têm em seu conjunto um patrimônio de mais de 400 bilhões de dólares, algumas são mais que centenárias, como a Fundação Rockefeller, que em 1914 financiou a construção da Faculdade de Medicina de São Paulo. Se copia tanta coisa ruim dos EUA e poucos se dão ao trabalho de copiar o lado civilizatório da sociedade americana.

Tenho um exemplo pessoal, minha irmã, que mora no Texas, por ser mãe de uma criança na escola do bairro presta serviço voluntario em asilos. Goste ou não, todas as mães são convidadas para dedicar algumas horas do mês para conversar com os velhinhos nos asilos e dar-lhes conforto moral e humanitário, espera-se de todos algum tipo de trabalho desse tipo, ninguém recusa.

OS INGRATOS NEOLIBERAIS BRASILEIROS

São educados pelo Estado, vão ao exterior com bolsas pagas pelo Estado, depois ficam ricos operando com o Estado e assim que enriquecem passam a atacar o Estado assistencial. Quer dizer, foi bom para eles, mas não pode ser bom para os muito pobres, que são hoje a esmagadora maioria da população brasileira.

Toda uma geração de economistas pés rapados que chegaram de fusquinha para fazer o Plano Real, com as conexões feitas no governo e no Banco Central tornaram-se banqueiros e viraram milionários. TUDO A CUSTO DO ESTADO, porque foi pelas ligações com o Estado que estabeleceram seus canais de enriquecimento. Executada a operação de ficar ricos, voltam-se contra o Estado que lhes deu abrigo e querem seu desmanche, essa é a saga egoísta dos neoliberais cariocas (90% dos neoliberais brasileiros são cariocas). São neoliberais a serviço de si mesmos, do seu grupo social e não do país, não estão nem aí para a catástrofe social onde a recessão atinge substancialmente os mais pobres, a camada de renda garantida de 30 milhões está bem e a economia se ajustou a servir a esse mercado, lançando ao mar os 170 milhões que sobraram. Quando atrapalham demais tem os helicópteros com atiradores para resolver.

Pesquisa feita pela indigesta XP Investimentos demonstra satisfação dos empresários brasileiros com o atual governo, a recessão não os incomoda.

A razão é simples, ajustaram seus negócios para atender quem tem emprego e renda, o resto do país que se vire. É o autêntico neoliberalismo à brasileira.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

9 Comentários

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  1. O Bolsonaro e sua trupe possuem péssimas intenções ao país. Os tempos não são mais (apenas) de debate, são de esclarecimento. Chamá-los de doidos é não encontrar na sandice um método…

  2. A elite se comporta como dono e não como parte na nação. PEdi uma análise do André Araújo e veio de acordo com meu pensamento. Criticam continuamente a política de inclusão e mudanças que o estado pode fazer para manter essas condições de forma eterna. O duro que nas minhas conversas e’ verificar a visão das pessoas de classe média baixa e ate pobres criticando as políticas de inclusão que poderia beneficiar a própria família, comportamento explicado no artigo de hoje do Jesse Souza.

  3. Como vão segurar os 170 milhões quando esse acrodarem……..

    Sim, a lógica é a mesma, quando esse pessoal ascendeu um pouquinho, ficou conservador, mas quando não se tem nada a perder, parte-se para o tudo ou nada………

    Ou esses imbecis engravatados acreditam que o povo irá passar fome passivamente enquanto passeiam de bmw?

  4. Caro André Araújo,
    Quais referências acadêmicas e bibliogáficas teríamos hoje com ideias que refutem o suposto sucesso libertário e neoliberal e que sustentem o que defendam um modelo de economia que considere o papel do Estado?
    Os defensores do liberalismo costumam trazer – para além dos tradicionais Mises e Friedman – nomes mais recentes (em termos de décadas) como Gwartney, Boaz, Stroup, Hoppe.
    Quais nomes, livros, teses e dissertações poderíamos usar como contraponto?

  5. A população ainda não foi pra rua protestar, e nem vai, por medo do Bozo mandar reprimir a tiros. Todos já sabem que o cara é ditador, fascista e maluco.

  6. Da leitura do magistral livro de Nassif sobre Walther Moreira Salles tive uma constatação pessimista: o quão triste perceber hoje a profunda escassez de um verdadeiro corps d’elite na sociedade brasileira atual.

    O que se vê, por exemplo, na mais reluzente elite brasileira atual – a chamada elite financista – é um conjugado de mesquinhos, jovens multimilionários, que primam tão somente pelo alavancar de suas já grandes estabelecidas fortunas. Nem se preocupam mais com bens materiais. Pensam tão somente na satisfação em si e para si, uma satisfação de ganhar para manter-se distante de “castas” inferiores, incluindo aí os sabujos medioclassistas. O Brasil? Somente uma plataforma. Sequer se vê um pingo altruísmo, nem sequer idealista ou ingênuo, nessas figuras, visíveis sob costume de grife, mocassins lustrados e paletó e camisas sem gravata (o “uniforme” padrão Doria desses meninos). Interesse nacional? Desenvolvimento? Nem sabem o que são.

    Se a geração do corpo de elite forjada na República Liberal, tão bem contemplado na biografia do banqueiro mineiro, estabeleceu as materialidades para o salta de desenvolvimento na segunda metado do século XX, a propósito, alguém sabe quem são a rapaziada das XPs da vida? Já viram sair deles algum pensamento minimamente articulado sobre o país? Agradeceria quem os achar.

  7. E onde se situa os governos petistas nesse seu quadro, André?
    Quando o país era inundado pelos chinadolares o governo, ao invés de investir, torrou esse dinheiro todo com itens supérfluos.

    Quando a dívida interna caia a níveis mais baixos só invés de seguir o caminho por mais 2 anos até ela se tornar a dívida irrisória, resolver soltar os gastos públicos e refistribui-los na forma de propina.

    Quando a discussão entrou na precariedade do ensino público, ao invés de atacar o problema criou-se o sistema de cotas nas universidades.

    Quando uma das teles, a BRT, foi colocada a venda, o governo petista ao invés de estatiza-la preferiu dar dinheiro do BNDES pra empresa menos qualifica comprar e criou a maior falência de empresa não financeira no Brasil.

    Os exemplos são tantos, mas vc de tempos em tempos culpa FHC e o plano Real de todos os males, quando os governos petistas tiveram 16 anos pra corrigir os rumos.

    Isso sem se falar na capacidade da Dilma de lançar o BRASIL NA MAIOR RECESSÃO COMONUNCASNTESNAHISTORIADESSEPAIZ, dois anos de queda de 3,5% voltando o PIB para 2011.

    Quando é que vc vai aprender, André, que a culpa não é do neo liberalismo e sim do governo. O desastre econômico não vem de uma teoria econômica, mas de quem as aplica.

    Há alguns anos vimos Portugal e Grécia derreterem suas economias, mas eles corrigiram os erros. O Brasil, todavia, está preso ao feitiço do tempo, e condenado a repetir por toda a eternidade os mesmos erros.

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