O Brasil pós-Temer, uma tragédia nacional. Parte 3: “whoever wins… we lose”, por Cesar Cardoso

O Brasil pós-Temer, uma tragédia nacional. Parte 3: “whoever wins… we lose”

por Cesar Cardoso

(Lembrando: a parte 1 e a parte 2.)

“whoever wins… we lose” é uma tagline popularizada pelo filme Alien vs Predador, de 2004; significa que, não importa quem vença a batalha, a humanidade perderá. Esta tagline serve perfeitamente para o Brasil de 2017, porque não importa quem vença, as corporações estatais+rentismo+mídia ou o Grande Acordo Nacional, o Brasil perde.

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Em qualquer situação, a democracia brasileira recuará a níveis inferiores ao preconizado pela Constituição de 1988; seja nos limites ao questionamento aos privilégios do rentismo e das corporações estatais, seja pela volta aos tempos do clientelismo, a participação popular será desestimulada ou mesmo banida. Vejo não apenas limites ainda maiores a mecanismos de democracia direta, mas também a imposição de limites à organização social via sindicatos, associações sociais e congêneres.

Os mecanismos formais da democracia representativa certamente continuarão em pé, o que significa que qualquer lado vencedor vai poder bravatear ao mundo que a democracia brasileira saiu fortalecida; no entanto, este discurso não resiste à prática de uma democracia formal que promove a retirada da sociedade da discussão política – incluindo aí a terrível ideia de unificação da data das eleições, para que as pessoas lembrem de política apenas uma vez a cada 4 anos, deixando o resto do período a política na mão dos “políticos”, que certamente prosperará cada vez mais até que o Congresso passe quase unanimemente.

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Da mesma maneira, ambos os lados em luta concordam que o Estado deve desconfiar, espionar e controlar seus cidadãos; além da ABIN efetivamente se tornar o SNI com outro nome (e, olhem só, quando Dilma tentou tornar a ABIN uma agência de inteligência moderna e descolada dos militares a decisão foi revogada na primeira medida provisória de Temer), certamente haverá uma forte ofensiva contra os princípios do Marco Civil da Internet de uma rede livre e sem vigilância estatal, seja pela boa e velha desculpa-padrão da “luta contra o crime”, ou mesmo da espionagem política assumida.

E ainda sobre internet: não me assustaria se o infame artigo 222 da Constituição, o que garante que o setor de radiodifusão aberta é o único setor constitucionalmente protegido do capital estrangeiro, seja estendido para a internet, retirando concorrentes como El País Brasil, BBC Brasil e BuzzFeed News Brasil (!) do mercado, deixando o caminho livre para os G1, R7 e UOL da vida.

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Em termos econômicos, nenhum dos dois lados se compromete com uma política econômica que promova o desenvolvimento industrial, científico e tecnológico. Foco único na inflação, câmbio subvalorizado, recuo do estímulo do Estado à economia… a política econômica praticada no primeiro governo FHC, com suas inevitáveis crises cambiais e recessões de origem externa, certamente vai ser o template do que virá.

Talvez o Grande Acordo Nacional tente atrair indústrias de montagem, com pouquíssimo efeito em emprego e desenvolvimento mas muito efeito psicológico, mas as corporações estatais, que como todos os deslumbrados que se prezam acreditam demais nas modas que surgem no exterior, vão falar em startups e outras coisas do gênero enquanto destroem qualquer atividade econômica que não seja a exportação in natura de produtos primários.

E, em ambos os casos, teremos décadas de crescimento de voo de galinha.

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A fuga de cérebros já começou, e não há motivo para acreditar que parará a curto prazo. Mas, como fuga de cérebro só é matéria de jornal quando o órgão de comunicação, por algum motivo financeiro, quer convencer seu público que a solução é mandar seu filho estudar no exterior…

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A privatização de educação e saúde está em marcha, foi acelerado pela PEC da Morte, e em algum momento será completada.

Em termos de assistência e desenvolvimento social; em vez de um sistema organizado, voltaremos ao tempo do assistencialismo, em vez de LBA, certamente “obras sociais” de políticos e igrejas.

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Grupo Globo e igrejas evangélicas são os grandes instrumentos de controle popular, e numa situação em que o Estado vê a população como um potencial inimigo, é importante não incomodá-los. Talvez as corporações estatais pelo menos finjam – como já fingem hoje em dia – que estão combatendo a ocupação das rádios e TVs abertas pelas igrejas evangélicas. Mas é e será tudo jogo de cena.

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Poderia ficar aqui listando pelo menos mais dez efeitos, mas o que está listado já é depressivo demais. Melhor passar logo para a parte 4, onde daremos 4+1 motivos para não haver eleição presidencial em 2018 e, para alívio de todos, terminarei esta viagem.

Redação

3 Comentários

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  1. Qual o seu objetivo?

    Qual o seu objetivo com esses posts?

    Fazer todo mundo desistir de lutar e ficar em casa?

    Estimular migração em massa?

    E ainda tem mais uma  parte?

    1. Para conseguirmos propor

      Para conseguirmos propor saídas ao que aí está, precisamos entender o que está acontecendo. Análise de conjuntura é o básico.

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