O brasileiro médio é educado para o individualismo, por Alexandre Tambelli

O brasileiro médio é educado para o individualismo

por Alexandre Tambelli

Tentando pensar e entender o Brasil e o individualismo do brasileiro médio nasceu este texto e surgiram as reflexões particulares que seguem. Compartilho aqui.

(brasileiro médio entendido como aquele que não foi à escola ou recebeu (mesmo que poucos anos de estudo) e recebe uma Educação formal voltada para o individualismo (mercado de trabalho, vestibular, carreira, sucesso profissional), para conquistas materiais e individuais, com os princípios da meritocracia arraigados e que se informa e compreende a realidade do Brasil e do Mundo a partir da velha média, em especial via Rede Globo de Televisão, e sua defesa intransigente da Ideologia Neoliberal e do mérito pessoal). E não uma formação educacional em busca de uma cidadania plena.

Para entender o Brasil de hoje é preciso buscar a pergunta básica:

Por que a população consegue se revoltar contra Lula e Dilma e derrubar o Governo que lhe estava dando viagens para Miami, SUV, feriados em praias paradisíacas, almoços em restaurantes bacanas, cinema e teatro com dinheiro no bolso para o pós-filme/peça, que estava dando o churras regado com muita cerva nos finais de semana, universidade para os jovens, intercâmbio no estrangeiro, etc. + emprego com estabilidade e carteira assinada e, em um Governo que lhe está tirando tudo isto, esta mesma população se cala? (brasileiro médio que sabemos valoriza o consumismo e o acúmulo de bens materiais).

Quem é o brasileiro médio real? Quem o molda e como?

Como querer o brasileiro médio consciente de seus atos, dos deveres de cidadão, lúcido para enxergar o futuro sombrio na economia e na sociedade deste País sem se ir ao centro de tudo o que nos move hoje:

A Rede Globo de Televisão?

Todo lugar que vamos a TV está ligada na Globo. Na tríade: futilidades tautológicas, telenovelas ideológicas e noticiário neoliberal, mais nada…

A realidade do Brasil é filtrada pelas imagens e edições e falas dos apresentadores da Vênus Platinada.

É interessante observar um fato marcante do dia, qualquer dia, por exemplo, prendem o Eike Batista.

De repente só se observa as telas de TV ligadas e a população fissurada na notícia via Rede Globo. Até na academia que frequento é assim. Dos canais de esporte para a Globonews. E, o que a Globo quer que seja notícia vira notícia no Brasil inteiro e no viés Ideológico dela. O Eike que ela desenhar será o Eike dos brasileiros.

Não há vontade própria no brasileiro médio, na classe média nem na classe C. Há uma gangorra que sobe e desce, uma boiada que vai da montanha ao mar, do mar à montanha conforme lhes comandem o berrante Global.

Pensávamos que seria possível a observação da realidade e a capacidade de se opor a esta realidade atual, não como uma estatística de desaprovação de Temer, mas como uma organização capaz de um Fora Temer!, e não há.

A mediação da sociedade pela velha mídia é o fio condutor da nossa sociedade. E não adianta fugir deste diagnóstico atual. Mesmo que se proponha 49 anos para podermos aposentar com salário integral a população parece acreditar que é uma fantasia inventada por algum “blog sujo” e depois, acreditará que é bom trabalhar até a velhice, como diz a capa da Exame, o que temos em comum com Mick Jagger: ele trabalha até a velhice, e saberemos o quanto é bom trabalhar até a velhice. Esquecendo o Brasileiro médio de pensar que ele não carrega peso como o estivador horas a fio, não capina terra de sol a sol, não trabalha numa mina de carvão, etc., Mick Jagger é apenas um músico, certo?

E o cortador de cana que pode morrer antes de se aposentar seria comparável com Mick Jagger?

O brasileiro médio, a maioria de nós, é o sujeito que vê a realidade como um mérito seu. – Eu consegui comprar um carro novo com meu esforço individual e vem o Governo (Estado) atrapalhar… Os políticos, todos corruptos, me tiraram o carro… (quando o carro é vendido ou fica defasado em relação a um novo). Somos educados assim, em casa, na escola, no trabalho e na TV, educados para o individualismo coletivo.

Quase nenhum senso de coletividade, quase nenhuma noção da importância de políticas públicas, de um Projeto de Estado Nacional, de um Estado organizador da economia, de um Estado como construtor de uma sociedade melhor para todos viverem nos é ensinado.

No Brasil o prazer é poder chegar ao ponto de poder morar em um condomínio fechado, cheio de seguranças na porta e os filhos brincarem numa grande prisão, onde podem sair dela para estudar e quem sabe viajar nas férias para um hotel fazenda, aos Estados Unidos e ir ao Shopping com os amiguinhos, ali tem seguranças, também. Esta a realidade a ser enxergada, nenhuma outra.

Não há condições de se construir o novo em uma sociedade onde o novo é apenas o indivíduo ser bem-sucedido na vida: materialmente, para poder se mostrar aos amigos e parentes e se sentir realizado, ver a família orgulhosa e ser respeitado no seio da sociedade burguesa.

Somos educados assim, para TER e no TER nos sentimos mais importantes. A meta é chegar ao topo, mesmo que só 0,1% possam chegar. E, o que importa se só 0,1% chegará? Eu posso ser esse 0,1% se eu fizer o esforço individual e não desistir, não pisar em falso, não fraquejar, não me dar ao medo, não der um respiro, essas coisas todas. E tudo vale, até não enxergar o outro (outro ser humano), até a destruição de um País inteiro, se o que fizer estiver no caminho que me levará até o seleto grupo do 0,1% dos brasileiros. 

Além da Educação para o TER cada brasileiro busca as suas comodidades, tornando desimportante o coletivo, o bem-estar de todos. Meu automóvel em primeiro lugar.

Mesmo o intelectual de esquerda busca suas comodidades, boa parte é o filho da classe média tradicional, é o revolucionário dos/nos livros e discursos e não fora dos livros e discursos, pois, tem a vida cômoda e sonha fazer a “Revolução” sem ter que passar os apertos do trabalhador comum da fábrica, do comércio, do campo e boa parte deles, não tem a preocupação da atividade doméstica, foi feita por um terceiro, e, ainda, tem o luxo de não enfrentar o CPTM às 6 horas da tarde, por exemplo, nem estar no trânsito na hora do rush. É a “Revolução” dos livros sem os percalços da realidade dura do trabalhador braçal. É a Teoria bem-intencionada, mas sem sacrifícios e ideação particular, desprovida do real, desprovida de enxergar o que o outro quer, o que o brasileiro médio quer e quem ele é, para, então, se propor um novo palpável, uma nova sociedade brasileira e que seja possível para além dos livros.

No Brasil corremos para algum lugar, sem parar para refletir o porquê da pressa, sem uma pausa, sem constrangimentos, sem indignação, sem nenhuma atitude mais radical de dizer um basta à correria.

Cabeças decepadas em brigas de facções em presídios e nós deixamos tudo para lá. Não nos indignamos. Não cobramos uma solução imediata para o fato aterrorizante que chocou o Mundo. Não é conosco que se exploda.

Que sociedade civilizada pode se construir desta realidade brasileira. Da destruição em massa dos alicerces econômicos, da destruição em massa do conhecimento, da engenharia nacional, da inviabilidade de inserção do Brasil nos mercados globais e da inviabilidade do convívio social das diferenças religiosas, políticas, culturais, sexuais, etc.?

E tudo assistimos como se não fosse algo que tem a ver conosco. Assistimos sem maiores questionamentos e tudo vai acontecendo. O 0,1% alcançar é a meta, ou quem sabe acreditar que não precisamos se mexer para nada, porque nada pode mudar, ou, ainda, crer que estamos no caminho certo (há quem acredite).

E pensando nas esquerdas, temos pouca organização social no Brasil para além do discurso bonito, para além do dizer: – vamos fazer uma Greve Geral contra os retrocessos sociais, previdenciários e trabalhistas do Governo Temer! E ela não acontece, porque tudo se acomoda, até os que a propõem se acomodam, talvez, preocupados com a forma e comando do ato e não com a realização concreta do ato: da Greve Geral.

Por que me vem a ideia de pensar causas possíveis para uma Greve Geral não se concretizar na Era Temer e ter pouca chance de se concretizar hoje?

Uma Greve Geral pressupõe um processo de conscientização da classe trabalhadora na sua base real, o bairro onde mora, principalmente. Levar Educação Política nos bairros das classes trabalhadoras. Panfletos vão para o lixo, mobilizações (passeatas, atos na Avenida Paulista) levam sempre as mesmas pessoas. Ir à porta das fábricas, hoje, enquanto milhões e milhões trabalham no comércio, em pequenas empresas, em escritórios, e outros milhões estão desempregados?

Mudar é ir de encontro aos que precisam da mudança, não pode se querer que o povo venha de encontro aos proponentes de uma Greve Geral, pouco entende o povo do que querem fazer do Brasil e dos brasileiros. O povo trabalhador, na sua grande maioria nem sindicalizado e/ ou participante de ações sindicais é e tem medo, diante da crise, de aderir a um movimento que lhe pode custar o emprego, hoje escasso. (2011 na PNAD eram 17% os trabalhadores sindicalizados).

Lembrando que os meios de comunicação no Brasil estão praticamente todos à-serviço de uma Ideologia única: a do mercado e do individualismo.

Greve Geral é um processo prolongado, nos anos finais da Ditadura Militar tinha uma realidade propícia: Ditadura nos seus estertores + Movimento Sindical do ABCD + uma Igreja Católica Progressista e atuante nas periferias (Teologia da Libertação), um clamor pela volta da Democracia, uma classe média amadurecida em quase 20 anos de um regime de exceção, dentre os fatores. E, hoje?

Qual tipo de trabalhador, de Igreja e classe média é predominante?

Ficamos combinados que no Brasil: a gente passa a acreditar que a culpa do Golpe é da Dilma: pelo Levy e dos ministros do STF escolhidos sem critério por Lula, também, e Dilma, do republicanismo da escolha do PGR e da não diminuição das verbas publicitárias da velha mídia. E, pela acomodação do PT no Presidencialismo de Coalizão.

E, segue a roda.

Quando vamos sair deste processo de acomodação à realidade? O Golpe de Estado vem e a gente com o discurso: – quando voltar o período Democrático…

– Estamos organizando eventos e manifestações pra o ano todo. Quem vai participar? Os mesmos das manifestações contra o Impeachment de Dilma? Ou já somos milhões, os politizados?

Como se faz para mudar uma mentalização coletiva de individualismo: algo enraizado como prazeroso, para mudar uma população tão passiva se um agente externo, a Rede Globo, que nos tem moldado a personalidade nos últimos 50 anos, não incita a população a se mexer? População que nem sequer se revolta com uma Reforma da Previdência nos moldes propostos, se resigna apenas?

Infelizmente, é preciso dizer que o Brasil é uma amálgama de diferentes etnias, de diferentes povos que chegaram até aqui, e, ainda, chegam, e não há uma Identidade coletiva. É chato dizer que se a minha família e amigos, minha etnia for o mundo inteiro e eles estiverem bem basta!

Porém, o Brasil é a alegria particular, ela nos basta. Somos um mundinho fechado em si mesmo.

E a Rede Globo ensinando que se nos esforçarmos ao máximo e formos empreendedores individuais e tivermos criatividade, nosso mérito prevalecerá e seremos os vencedores num futuro próximo ou distante. Isto basta! Nem que para a minha alegria ser realizada eu precise abdicar de viver a Vida para além dos muros do trabalho, quando tiver, e da correria diária em busca de um dinheiro imaginário, que está lá no fim da estrada, se eu não desviar um olho, uma perna nem pegar um atalho para respirar um ar mais puro do que as relações hierárquicas de trabalho.

O Brasil parece uma grande pirâmide: milhões na base convencidos de que se conseguirem colocar outros milhões na base sobem de andar e um dia chegam ao topo, ao 0,1% e todos podem chegar ao topo! É só não tergiversar, não fugir da estrada retilínea da meritocracia, onde lá no final, no topo está o prêmio sonhado: o POTE DE OURO!

Infelizmente, para terminar, me veio uma imagem do Brasil e do brasileiro médio:

Vivemos em um circuito fechado.

Há uma carapaça impedindo as diferenças de entrar, há um não incentivo ao prazer coletivo acima das conquistas materiais, há uma Educação sem quase atalhos para o diverso e nos ensinando a não pensar, a não refletir, a sermos egoístas, donos de uma “felicidade particular”, reféns do individualismo e a pouco compreender o Brasil e o Mundo.

Somos um espelho que reflete o padrão da Vênus Platinada e a defesa da Ideologia do mercado, do mérito, do privado e só.

Fechados em uma única visão de mundo não refletimos ideias, sentimentos, diversidades, coletivo, País que queremos, dentre outras coisas.

Não se rompe o circuito fechado, a energia se isola do contato externo, não se dispersa para implodir a bolha do individualismo coletivo. A realidade se repete e somos reféns dela. Sabemos aonde ela vai nos levar, mas, deixamos energizar o caos, o caos se aproxima, o caos nos aproxima, porque ele não solidariza, não vê o outro, não quer o outro, odeia o outro, deseja o extermínio do outro. E o caos se instaura.

Só há no horizonte do brasileiro médio a se avistar ou além do visível o sonhado POTE DE OURO.

E é de quem pegar! 

25 Comentários

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      1. é ganancioso, mas pelo menos no final olha p sociedade.

        O americano vive para acumular $.

        Mas talvez devido ao sistema tributário, que come toda herança, nao a deixa p os filhos. Não é “cordial”.

        Deixa para instituiçoes. Beeeeeem menos pior.

         

        1. Uma sociedade nacional é o

          Uma sociedade nacional é o conjunto de pessoas que se reunem para cuidarem de si mesmas. Pode ser por conta de território e cultura, a maioria das sociedades nacionais, ou por outros fatores. Por exemplo pode-se falar em nação judaica.

          O fato é que a sociedade estadunidense não cuida bem de seus membros, de seus cidadãos. Basta olhar a imensidão de pessoas que a própria sociedade joga às margens de si mesma. O tenente Dan, de “Forrest Gump”, e o sargento Elias, de “Platoon” são apenas dois dos mais gritantes exemplos que chegam a nós. Mas quem vive naquele país vive diariamente dramas muito mais importantes – porque reais – sabe da desigualdade de condições… Isso, claro, falando da forma como o estado enxerga seu cidadão, a pessoa que se organiza nesse próprio estado.

          E se levarmos em consideração a forma como esse estado nacional, os EUA, se relaciona com outros estados nacionais, aí é que vai tudo para a lata do lixo, mesmo. Que outro estado nacional tem cometidos tantas barbaridades contra outros quanto esses EUA? Contra quase todos os outros estados nacionais do mundo!

          Dizem – mas não se sabe se é verdade – que os melhores perfumes foram criados na Freança porque seus cidadãos eram muito fedidos. Da mesma forma, a mais sofisticada propaganda comercial e ideológica é produzida para que a imagem dos EUA fique aceitável porque, se tirar a propaganda, pouco restaria da imagem daquele país tanto para consumo interno – seus cidadãos – quanto para outros países. Os EUA dependem de que as pessoas se alienem e se estupefaçam para se manter.

      1. Entre outras coisas, podemos

        Entre outras coisas, podemos nos matar entre si por causa de assuntos banais (veja democratas versus republicanos) mas quando o assunto é defender o nosso país nós o fazemos com unhas e dentes. Por mais corrupto que seja um senador americano ele pensa duas vezes antes de trair o país e se cometer mesmo tal ato ele é executado.

        Enquanto no Brasil vocês premiam os traidores da pátria.

        1. O que lhe falta, amigo, é um

          O que lhe falta, amigo, é um mínimo de perspectiva do que é ser um latino-americano.

          Você fala constantemente sobre nossa covardia, como povo.

          Mas o que você entende por “povo”?

          O povo brasileiro não existe porque não existe Nação brasileira.

          Povos, como sentimento e identidade nacional, são o resultado da evolução natural de civilizações autóctones, civilizações para as quais não foi necessário criar “mitos fundadores”. Bastaram as lendas de heróis fundadores, já míticos de per si, para acomodar eventuais contribuições trazidas por outros grupos sociais.

          Nenhum país com passado colonial tem identidade nacional.

          Entenda-se por passado colonial, um país fundado por colonos em uma terra desabitada, ou escassamente habitada por nativos sem organização social complexa. Brasil e EUA, por exemplo.

          É diferente, por exemplo, do passado colonial da Índia, ou mesmo do México.

          Nesses casos, especialmente na Índia, a identidade nacional, ou algum tipo de traço cultural assemelhado, sobreviveu às mazelas características do colonialismo. No México, nem tanto.

          Falar de povo, identidade nacional, entre nós, um amálgama de ibéricos, índios, e negros, e outros em menor quantidade, tudo fervendo num caldeirão, durante 350 anos de sociedade escravocrata, não me convence.

          Fico pensando, que significa a gloriosa expressão, “We, the People…”?

          Certamente, não designam os colonos americanos como um todo, recém-libertados da colonização britânica.

          “We the People” significa, nós, “aqueles que nos pusemos à frente de vocês”.

          Como literatura, é ótimo, de resto, é engodo.

          Aqui não teve “We, the People.”

          Aqui teve o “Vai meu filho, antes seja para ti, do que para um aventureiro qualquer”.

          Com direito a uma coda, alguns anos depois, “Diga ao povo que fico”.

          Colonos não querem fundar nações, querem ficar ricos. De resto, a diferença entre a ideologia, ou, melhor dizendo, o ideário protestante, e a ideologia católica permite começar a explicar a diferença entre nós e os americanos do norte.

          Digo ideário protestante porque essa vertente preza o individualismo, o que lhes permite seguir e desenvolver ideias próprias, mesmo dentro de uma moldura geral de pensamento.

          E digo ideologia católica, porque esta é imposta, à força de sermão ou martelada, aos seus seguidores.

          Na minha visão, “povo norte-americano” é uma ilusão tão grande quanto “povo brasileiro”.

          Existe, sim, o Estado americano, um estado privado, (We the Bankers, we the Corporations, etc.) fundado sobre a visão não só de desfrutar de riqueza, mas também de gerá-la. A qualquer custo. Principalmente se esse “qualquer custo” for pago pelos outros.

          E existe o Sub-estado, ou Não-Estado brasileiro, também privado, mas que só conhece o verbo “desfrutar”.

          O outro verbo é coisa de esquerdopata, comunista, ou qualquer outro achincalhe à disposição em seu vocabulário.

        2. Um senador estadunidense não

          Um senador estadunidense não é considerado corrupto se aceita dinheiro em troca de voto a esse ou aquele projeto. A isso esse país chama candidamente de lobby. O mesmo com acordos entre “o povo”, a procuradoria, e algum criminoso: “Pagando bem, que mal tem?” Ou seja, o conceito de corrupção difere entre essas duas sociedades.

          E sobre o que é um traidor da pátria, também há diferenças de conceito. Por exemplo, Snowden é considerado traidor por ter sido honesto e transparente, justamente o que o estado dos EUA diz ser.

          Os conceitos e as definições da cultura estadunidense são nada para outras culturas, servem apenas para aquele país.

          E não me consta que traidores da pátria, segundo o conceito que cada pátria tem para si própria, sejam premiados em lugar nenhum. Quem premia, por exemplo, juiz, procurador ou político que entrega o Brasil não é a sociedade brasileira, é apenas uma parte dela. Basta uma pequena passada pela academia brasileira, por historiadores sérios, ou mesmo dentre pessoas do vulgo, que se constata facilmente que há uma grande parte do povo que enxerga com clareza essas traições e as denuncia. Talvez mais até do que cidadãos estadunidenses capazes de enxergar os defeitos de si mesmos. Temos muito mais facilidade em fazer auto-crítica, e se a auto-crítica que fazemos nos impulsiona para buscar soluções, também pode ser maldosamente aproveitada para estrangeiros tentarem nos depreciar. Coisas apenas de imagem, aparência… Faz parte da ideologia estadunidense – assim como de toda propaganda comercial – trabalhar para que as pessoas criem pontos cegos em si mesmos. Os EUA não têm cultura, têm simulacros criados artificialmente que são, na verdade, apenas propaganda comercial. Cultura é fenômeno espontâneo e vai de baixo para cima, não ao contrário.

    1. Hummmmm….

      Somebody e um “ranzinza” e provocador, mas tem uma certa razão……..

      Quanto as respostas aqui embaixo, os USA são a maior potencia do planeta………..acho dificil alcançar esta posição “fazendo tudo errado” …….uma coisa é criticar a politica internacional ou nacional americana, outra é negar toda a historia americana e seu povo…..ai meio que estamos num certo “anti americanismo” primario que não leva a parte alguma…..

      1. E como, prezado Manu Guitars

        E como, prezado Manu Guitars (americano também?), os EUA chegaram a essa posição de maior potência do planeta?

        Fazendo tudo certo? Agindo dentro da moral, dos costumes, com civilidade, so help me God?

        Se você considera que invadir, pilhar, apoiar golpes sangrentos (e outros nem tão sangrentos assim), cometer genocídio – paramos por aí ou você quer mais? – tudo isso, tudo, nas terras dos outros, é fazer a coisa certa, então tudo bem, eu retiro o que disse, e me declaro um dickhead anti-americano.

      2. A mim parece que, se não

        A mim parece que, se não exatamente primária, podemos chamar de inconsequente a admiração incondicional a um país cujo gigantismo provém de violência. É como se se dissesse que não importa o que você faz para ganhar desde que ganhe. Essa postura me parece imatura e inconsequente. E da mesma forma a postura de quem a admira.

        Quanto à história dos EUA e seu povo… creio que incorreremos em sério erro se pusermos no mesmo balaio os negros dos estados do sul daqiele país e os brancos da região chamada de Nova Inglaterra, por exemplo. E se as pessoas que detêm poder sobre as instituições estatais de lá, que decidem, por exemplo, um ataque ao Iraque, o fazem na contramão do processo civilizatório, o que dizer do cidadão comum, do vulgo estadunidense, e até mais, de seus cidadãos de algum sucesso profissional ou como “celebridade” criada por marketing – artistas, cineastas, cientistas, jornalistas etc. – que se calam ante as barbaridades que o estado que os fomenta comete? No mínimo, a meu ver, complacência, leniência e cumplicidade. Pergunta se algum humanista estadunidense desses que têm destaque na mídia de lá – e por isso ganhos financeiros e psicológicos – abre mão de seus ganhos para que o país deles para de atacar outros países do mundo.

        – “Ok, paramos de agredir outros países mas vc fica sem sua fama de ‘ator de Hollywood’, topa?”

        ou

        – “Ok, paramos de atacar mas você não terá mais tanta verba para desenvolver suas pesquisas.”

        No entanto, se a gente procurar encontra sucesso tanto na ciência quanto nas artes em todos os povos do mundo. O modelo cubano de medicina – e o avanço na criação de medicamento e vacinas – é apenas um dos muitos exemplos. Poderia citar também o enriquecimento de urânio desenvolvido pelo almirante Othon Pinheiro da Silva, a tecnologia de extração do petróleo do pré sal, isso só no Brasil. E Grigori Perelman, russo que resolveu um dos maiores desafios matemáticos do mundo, a Conjectura de Poincaré, também recusou não apenas o prêmio estadunidense de US$ 1 milhão como declinou do convite para ser professor e pesquisador em universidades dos EUA. Acontece excelência profissional em todos os lugares do mundo. Tirando a compra e a sabotagem, os EUA não contribuem mais que ninguém.

        São muitos os exemplos de que, sob o capitalismo ou não, sob a ideologia dos EUA ou não, as ciências, as artes, a humanidade e todo o processo civilizatório não apenas segue avançando como certamente avançariam mais rápido sem a sabotagem que os EUA impõem ao mundo. Algo como “o que não criamos, se outros criarem, compramos; e se não quiserem vender, destruímos.”

         

        ***

        Fico imaginando a extrema irritação de “negociadores” dos EUA ao se defrontarem com califas árabes assim que se formou a OPEP. “Como assim nossa extrema simpatia não os seduz? Nossas ofertas de corrupção não os alicia? Que negócio é esse de ‘orgulho árabe de civilizações milenares’? Não reconhecem que somos feitos por deus para sermos os maiores do mundo?¹ Que negócio é esse de que não posso cruzar as pernas que, se aparecer a sola do meu sapato, o dono do petróleo ofendido me deixa falando sozinho? E o bosta ainda quer negociar numa barraca no meio do deserto. E chama de tenda, ainda por cima! Ora, bomba neles!”

         

        ¹ – “Deus não criou esse país para ser uma nação de seguidores. A América não é destinada a ser uma das várias potências globais igualmente equilibradas. A América precisa liderar o mundo, ou alguém tomará a frente.” Mitt Romney em campanha presidencial.

        Primeiro que “Deus criou” já denota algo parecido com o que a ideologia estadunidense diz ser barbárie dos muçulmanos. Além disso fica claro o medo de que alguém os vença.

        A questão da divindade está bem expressa no Destino Manifesto, dogma político-religioso daquele país: https://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrina_do_destino_manifesto

        Essa ideologia, de que “somos o melhor e o maior país do mundo”, é martelada na cabeça de seus cidadãos desde que nascem. Com eficiência maior até do que aquela história nazista, da superioridade ariana.

  1. Dois reparos

    1. Não é só no Brasil. É no mundo. É a vitória total do capitalismo: justo quando ele provavelmente está entrado em sua crise final. E aí mora o perigo: corações e mentes narcisistas-consumistas, moldadas por/para um sistema em derrocada, que exclui cada vez mais gente do seu paraíso consumista. As violentas reações neofacista e fundamentalista vêm desta decepção dos narcisistas frustrados.

    2. Globo e grande mídia, nacionais e internacionais só têm tal poder de influência porque atendem às expectativas individualistas das pessoas. A mídia não molda/manipula as pessoas, mas pessoas e mídia estão num circutio de influência recíproca. Se há algum sujeito por trás da “manipulação” é o sujeito automático do capital, como Marx mostrou há muito tempo.

    No mais é isso aí, o desejo de todo mundo é ser classe média e viver em

    bunkers

    os vidros fechados dos carros
    os muros altos das casas
    condomínios fechados
    edifícios fortificados
    câmeras, sensores, alarmes
    a segurança dos shoppings

    lá fora o mundo
    favela sem fim

    o egoísmo venceu
    palmas pra mim

     

    1. Wilton!

      Podemos pensar que as manifestações pró-impeachment foram manifestações em defesa de menos competidores em busca do pote de ouro?

      Uma sociedade que inclui e dá condições a todos de competir pela porta da frente no mercado de trabalho diminui a chance “minha” de ser “eu” o vencedor.

      Quando da ameaça de outros concorrentes a classe média tradicional surtou e quis implodir o novo, ele implodiu, mas as elites mundiais, o 0,1% age idêntico à classe média e a exclui, também, da busca do pote de ouro. 

      Cada pessoa, neste Sistema fechado e perverso, quer eliminar o outro e todos querem chegar ao topo: ao 0,1%. 

      Como disse o Professor Allyson Mascaro, hoje, o Capitalismo e esse processo de destruição neoliberal do Planeta, de acúmulo da riqueza mundial em poucas mãos, 8 pessoas têm o mesmo capital que metade da população mundial, chegou no centro do Sistema, vide Grécia, Itália, Espanha, etc. É a fase final deste processo de acumulação selvagem, que irá implodir, infelizmente, passando por Trump, até por aqui com a possibilidade de um Bolsonaro crescer eleitoralmente. 

      Abraço,

      Alexandre!

    1. Celulares são aparelhos

      Celulares são aparelhos eletrônicos e Facebook, programa de computador.

      Desculpe-me se isso que digo parece estupidez da minha parte mas a responsabilidade sobre a opção e o uso dssas coisas, caro drigoeira, é minha, é de quem usa, e não das pessoas que se reúnem para produzir peças de propaganda para me convencer a usar e menos ainda dos inanimados aparelhos.

      A gente pode até dizer “mas eu só faço porque me mandam, me impõem”. Mas isso não tira a responsabilidade sobre o fazer. Quem faz, afinal de contas, sou eu.

  2. Diz a turma que estuda isso

    Diz a turma que estuda isso que nossos desejos e expectativas não vêm de dentro da gente, não são inatos, são impostos e aí aprendidos. Inclusive o desejo de se renovar, de aprender, em contraposição ao desejo de manter-se numa zona de conforto de onde se tem a ilusão de que já se sabe tudo que precisa. Os EUA produziram uma série de TV chamada “Papai sabe tudo”. Para ficar preciso faltou dizer “e o que papai não sabe, dá uma enrolada, se impõe pela ‘autoridade’ e tudo bem.” Aqui, em 1800 e alguma coisa Arthur de Azevedo zoou disso em “O Plebiscito”…

    Tem dois filmes do esloveno Slavoj Zizec que tratam desse tema com muita clareza: “The pervert’s guide to ideology” (2012) e “The pervert’s guide to cinema” (2006), fáceis de serem encontrados nos torrents da vida. As legendas também não são raras.

    Mas quando se diz que os desejos – e até a forma de desejar – nos são impostos, vem a questão: Quem é que nos impõe? Nós mesmos? Somos todos a um tempo vilões e vítimas? Imagine utopicamente que de repente, por algum fator inexplicável, toda forma de propaganda comercial fosse interrompida. Por quanto tempo continuaríamos desejando o que desejamos?

    E lembrei de um outro filme chamado “Branded” (2012), do estadunidense Jamie Bradshaw e do russo Aleksandr Dulerayn, que trata da questão de sociedades especialmente hiper estimuladas e, portanto, deslumbradas com mitos criados pela mídia. Nossa classe média brasileira que se acha VIP bem como a classe média da Rússia pós-U.R.S.S. são citadas, creio eu, com muita propriedade.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Father_Knows_Best

    http://contobrasileiro.com.br/plebiscito-conto-de-artur-azevedo/

    https://en.wikipedia.org/wiki/The_Pervert%27s_Guide_to_Ideology

    https://en.wikipedia.org/wiki/The_Pervert%27s_Guide_to_Cinema

    https://en.wikipedia.org/wiki/Branded_(2012_film)

     

  3. O texto tateia na direção

    O texto tateia na direção correta, mas gostaria de uma análise bem mais aprofundada.

    Para ser franco, gostarai de pôr o olho nos relatórios psicológicos sobre os brasileiros que devem existir na CIA, FBI e NSA. Seria impossível a Globo fazer o que fez sem a ajuda dessa gente. E essa gente não saberia o que fazer se não conhecesse a fundo a psíque doentia e deformada dos brasileiros.

    Acho, também, que esses relatórios deixariam muita gente chocada ao expôr a verdadeira “alma” dos brasileiros. Pessoalmente espero ler palavras pouco abonadoras sobre esse animal extremamente primitivo conhecido genericamente como “brasileiro”.

    1. Marcos!

      Uma coisa que devemos sempre lembrar.

      O Golpe, a Lava-Jato e a destruição do Brasil, de sua economia e da própria sociedade em desenvolvimento satisfatório até 2014 são realizações praticadas por brasileiros. Todos os particpantes do Golpe nasceram aqui, residem aqui e destroem o próprio País em que vivem. 

      É uma loucura total.

      Abraço,

      Alexandre!

      1. Alexandre,
        Concordo em parte.

        Alexandre,

        Concordo em parte. Existe a dimensão nacional do golpe, essa que você colocou. Mas acho que os atores nacionais não passam de marionetes. São burros demais pra fazerem o que fizeram.

        Quero conhecer quem manipula os mariontes e estes, tudo indica, não estão no Brasil. Há indícios de dedo CIA, FBI, NSA, NED, ONGs e quejandos na história. São os documentos que provam seu envolvimento os que me interessam.

        Abraço.

         

  4. A cruel sociedade de classes brasileira

    A nossa sociedade é tão cruel, Alexandre, que o individualismo virou tabua de salvação. Certa vez, um tio engenheiro contava, rindo e muito satisfeito, que tinha dito ao filho para pular da mesa que ele o pegava. O filho pulou e ele o deixou cair. Eh essa a nossa classe média, são esses os valores que transmetem. O de um individualismo atroz. Precisa dizer que esse meu primo hoje, com trinta anos, é um coxinha de marca maior, ultra-individulista…

    A classe média se cerca como ela pensa que deve, ela faz por todos os meios “colocar” os filhos numa posição social que considera boa, e os de baixo vivem a exclusão social cotidiana. Não ha meio termo. A pirâmide no Brasil é muito bem definida, dado o tipo de sociedade escravista que tivemos e essa herança persiste.

    Quais as possibilidades para sairmos deste modelo? Mudar mentalidades. E isto é algo muito dificil. Para começar, teriamos que revolucionar a educação no Brasil, principalmente a educação publica para os mais pobres. Soh levando consciência a esses de que eles são explorados, de que é historica sua condição, é que se poderia mudar o sistema de apartheid social brasileiro. Com instrução e meios de comunicação outros que temos até aqui. Greves e manifestações são apenas ações paliativas [necessarias neste momento], como foram os anos petistas no governo federal.

  5. No segundo parágrafo

    Porque a população se revoltou contra Lula e Dilma? Diz o ditado: quem não se comunica se trumbica.

    Se um décimo do dinheiro doado pra globo em forma de publicidade, fosse usado em comunicação de verdade amenizaria a lavagem cerebral imposta pela mídia.

  6. Vocês não são o brasileiro médio, por isso se confundem

    Um vício comum do intelectual de esquerda é se identificar tanto com o povão que defende ou julga defender, que acaba achando que o povão é como ele, pensa como ele, daí ficar aparvalhado quando descobre que não é assim, e começam as teorias conspiratórias, tipo culpar a Globo por haver “desencaminhado” o povão…

    Mas vocês não são o povo. Vocês são pequeno-burgueses intelectuais. O povo é individualista, sim, e quanto mais pobre, mais imediatista (é compreensível, pois como diz o ditado, quem tem fome, tem pressa). Daí não ter havido reação popular ao impedimento do Dilma. Vocês criaram a narrativa de um governo que vinha concedendo “viagens para Miami, SUV, feriados em praias paradisíacas, almoços em restaurantes bacanas, cinema e teatro com dinheiro no bolso para o pós-filme/peça, que estava dando o churras regado com muita cerva nos finais de semana, universidade para os jovens, intercâmbio no estrangeiro, etc. + emprego com estabilidade e carteira assinada” e inexplicavelmente foi derrubado por esses ingratos que tanto se beneficiaram. Esquecem-se de que a crise vinha tomando volume desde o primeiro mandato de Dilma, e as manifestações de 2013 assinalaram bem a desilusão. A crise não foi inventada pelo governo Temer, o governo Temer apenas não conseguiu sair dela. É notório que já em 2015 o governo petista vinha fazendo inevitáveis cortes por todo lado, e era mais do que óbvio que os bons tempos tinham ficado no passado. O impedimento de Dilma, portanto, não foi um raio em céu sereno, e o povão não reagiu justamente porque já tinha percebido que o saco de bondades estava vazio. Não tem nada a ver com a Rede Globo. O povão assiste, sim, a Globo, mas para ver novela e não editorial de jornal. Quem lê editorial de jornal são vocês, o povão olha é o preço no supermercado e o valor do contracheque.

     

    1. Como não te conheço, não

      Como não te conheço, não quero te julgar. Mas tendo como base o que escreveu é mais do que óbvio que entender de história e política não é uma das tuas qualidades. PENSAR também não.

      Faça o seguinte: vai estudar um pouco de história do Brasil e aceite que a Globo te fez de idiota. No começo pode doer um pouco, mas depois passa.

  7. O brasileiro médio é educado para o individualismo, por Alexandr
    O artigo do Alexandre Também liguei é irretocável, disse o que tinha de dizer. Só aplausos.

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