O cobertor é curto e as mulheres sentem mais frio, por Juliane Furno

A presidente Dilma e o governo federal estão ‘puxando a coberta’ para um lado. Resta aos trabalhadores, e em especial às organizações protagonizadas por mulheres, puxá-lo para o outro
 
 
Juliane Furno | Brasil Debate 

O ano de 2015 parece encerrar um ciclo no qual os governos PT desafiaram a máxima da ciência política, que afirmava a impossibilidade de distribuir ganhos sem gerar conflitos de classe.

A melhora no cenário internacional e a opção por um modelo – ainda que incompleto – de desenvolvimento aliando crescimento econômico, melhora nos indicadores do mercado de trabalho e políticas públicas foi possível por condições conjunturais que permitiram ao Brasil maximizar suas vantagens comparativas e auferir taxas maiores de crescimento.

Ademais, a passagem recente de um modelo neoliberal demasiadamente precarizador das condições de trabalho e emprego contribuiu para que o ambiente político e econômico dos anos 2000 – com queda no desemprego e reajustes salariais com aumento real – reestruturasse o mercado de trabalho e construísse uma percepção subjetiva de que rumávamos para um novo momento na trajetória de superação das desigualdades no Brasil.

O Brasil, no entanto, parece estar em novo caminho de inflexão da política econômica, privilegiando a riqueza financeira e penalizando os trabalhadores. Isso, somado à crise internacional pela qual o capital passa desde 2007, fez com que o nosso cobertor ficasse mais curto, em um período gelado da economia mundial.

O professor Armando Boito já falou que a opção conciliatória dos governos petistas esbarra em condicionantes estruturais que os impedem de avançar, qual seja: a manutenção de uma política econômica neoliberal, representada pelo tripé macroeconômico.

Nos períodos de crise, os trabalhadores têm pagado a conta. Dentre eles, as mulheres sentem os retrocessos de forma mais significativa e no curto prazo. Do ponto de vista subjetivo, com o aumento do desemprego, as mulheres são chamadas a “retornar ao lar”, aliviando a pressão sobre a taxa de desocupação.

Programas como “salário-família” e auxílio à saída do emprego para dedicar-se à maternidade já têm sido implementados em diversos países europeus. Nos recentes dados de 2015 percebe-se que as mulheres seguem com o maior percentual de desemprego, superando a média nacional e ficando em torno dos 9,8%.

O diferencial de rendimento entre homens e mulheres também caiu nessa última década, associado à maior presença de mulheres auferindo rendimentos vinculados ao salário mínimo. Com a queda do crescimento e as perspectivas de cortes de gastos, o hiato salarial tende a voltar aos mesmos patamares.

Os anunciados cortes de gastos públicos – em uma clara política pró-cíclica – também recaem de forma mais significativa sobre as mulheres, que sofrem com a diminuição dos equipamentos públicos e das políticas de transferência de renda.

O avanço das pautas conservadoras e precarizantes também tendem a atingir as mulheres de forma diferenciada, como é o caso da possível aprovação do PL da terceirização. As mulheres são mais atingidas que os homens pelo trabalho precário, ausência de regulação, frequentes disputas judiciais pelo pagamento de direitos e outros elementos flexibilizadores da terceirização.

Além disso, percebe-se que o emprego doméstico é altamente correlacionado com o crescimento econômico, ou melhor, com a falta dele.

Se a trajetória recente tem apontado queda do percentual absoluto de mulheres ocupadas no emprego doméstico (formal ou não), a queda na presença de jovens e o aumento do rendimento, o ano de 2015 já apresenta reversão desse quadro, aumentando o contingente de mulheres que, ao ficarem desempregadas, encontram no emprego doméstico uma forma de inserir-se no mercado de trabalho.

Enfim, o cobertor ficou curto e parece que a estratégia de manter um modelo de desenvolvimento associado à distribuição e ao não conflito chegou a fim.

A presidente Dilma e o governo federal de forma geral estão “puxando a coberta” para um lado. Resta aos trabalhadores, e em especial às organizações protagonizadas por mulheres – puxá-lo para o outro. Nessa queda de braço, a direita ainda tenta “tirar a coberta”, em uma clara oposição ao Brasil.

 

Redação

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Eu tive que rir…

    Nos períodos de crise, os trabalhadores têm pagado a conta. Dentre eles, as mulheres sentem os retrocessos de forma mais significativa e no curto prazo. Do ponto de vista subjetivo, com o aumento do desemprego, as mulheres são chamadas a “retornar ao lar”, aliviando a pressão sobre a taxa de desocupação.

     

    CAda um que me aparece…

      1. Anarquista, pelo amor de

        Anarquista, pelo amor de deus.

        Isso parece um texto retirado de Drácula, já leu? Eu morri de rir.

         

        Mas me diga aí, vc vai colaborar com o Brasil, abandonar seu emprego e voltar pro fogão?

        Eu não vou nem comentar porque é coisa de MALUCO! E não vou perder meu tempo. 

        Isso só existe na cabeça de esquerdopata maluco!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador