Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
[email protected]

O debate Keynes versus Hayek, por André Araújo

Livro imperdível da Editora Record, autor Nicholas Wapshott, com o título de KEYNES x HAYEK, uma síntese do grande choque de ideias entre os dois maiores pensadores econômicos do Seculo XX, pelo seu impacto na economia real. A abordagem do autor se dá pelo confronto das ideias, entre o Estado com maior poder de intervenção, de Keynes, e o Estado mínimo de Hayek.

Muitos dos adeptos de cada uma dessas linhas simplificam a visão subjacente à exposição de cada Escola, sem prestar atenção às nuances de cérebros sofisticados. Keynes NÃO defendia sempre a intervenção do Estado e sim quando circunstancialmente necessária e Hayek não desprezava o Estado, atribuía a este tarefas muito importantes, como a regulação, que os neoliberais de hoje desprezam.

Ambos eram muito mais que economistas, eram pensadores político-econômicos muito maiores do que economistas puros. Ambos tinham a sólida formação humanística das grandes universidades europeias e ambos lecionaram na mesma escola, a London School of Economics, portanto se cruzaram nas mesmas salas de chá das cinco.

O mais estatizante era muito mais rico do que o pró-mercado – Keynes era milionário e forte especulador de bolsa. Hayek teve um histórico de dificuldades financeiras. Ambos tiveram vidas pessoais complicadas. Keynes era homossexual mas casou-se com uma bailarina, Lydia Lokopowa, e Hayek teve um divórcio complicado por causa de uma paixão tardia. Hayek viveu bem mais que Keynes e este era bem mais velho que Hayek.

Esses dois homens legaram monumentos intelectuais únicos. Keynes foi o pai dos acordos de Bretton Woods que consagraram o dólar como moeda reserva mundial (apesar de ele ser contra), criaram o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial e o embrião da globalização no GATT, hoje OMC. Hayek é o pai do neoliberalismo dos anos Thatcher e Reagan, cujos reflexos hoje dominam a maior parte da economia mundial.

A leitura dessa livro instigante vale a pena para quem quiser ter uma noção do pensamento econômico que rege nossas vidas. Uma conclusão que fatalmente decorre de sua leitura, as ideologias econômicas são obras de circunstância, não têm nada a ver com fé ou crença numa economia definitiva. Tudo depende do ciclo, o que pode ser o necessário hoje pode não ser amanhã, nada é muito sólido e o capitalismo é apenas um modelo que funciona com um Estado forte para regá-lo.

Recomendo a leitura para aqueles economistas que vivem de cartilhas imutáveis, sempre a mesma teoria para qualquer situação, sem atentar para a circunstância. Essa deve ser a mãe de todas as politicas economicas e não a teoria imutável de um monetarismo paralisante.

Como dizia Keynes, “a história da humanidade é a história do pensamento econômico e pouco mais que isso.”

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. boa dica

    Vou encomendar o livro. Boa sugestão, André. Tenho algum fundamento das ideias de Keynes mas meu conhecimento sobre Hayek não vai muito além dos chavões e manipulações grosseiras de alguns anarco capitalistas.

  2. Uma coisa constante na

    Uma coisa constante na história da humanidade é ideias complexas dos grandes pensadores serem transformados em dogmas ou clichês que se aplicam a tudo e a qualquer hora – isso quando não dão no oposto do que o seu criador formulou (alguém imagina Cristo sendo um torturador na Inquisição? ) . Se você pega um livro que é o marco do pensamento político moderno, O Príncipe de Maquiável, Maquiavel deixa claro que não há fórmula mágica que sirva para todas as ocasiões. Que o mesmo ato pode resultar em sucesso ou em fracasso, pois deve-se sempre avaliar as circunstâncias do momento. Mas é algo muito sofisticado pra nossa elite econômica atualmente. É um primarismo no estilo = “Fulano tem que emagrecer 20 kg o mais rápido possível. E os ‘gênios’ decidem parar de dar comida ao fulano. E ainda ficam espantados que Fulano no final morra. 

     

  3. Parabéns pela resenha. É
    Parabéns pela resenha. É difícil encontrar por aí análises com tanta imparcialidade e equilíbrio. Pelo contrário, ambos costumam ser demonizados pelos seus oponentes.
    O fato de um resenhista dessa qualidade ter gostado do livro fez com que eu me interessasse pelo livro.

    1. Gunnar Myrdal esquecido? É um

      Gunnar Myrdal esquecido? É um dos pensadores economicos mais conhecidos do Seculo XX, Premio Nobel junto com Hayek, com grande produção intelectual e atividade politica, foi Ministro e Chefe da Comissão Economica Europeia da ONU,]

      é um grande nome do pensamento economico, não sei de onde vc tirou que Myrdall é esquecido.

      Keynes teve um impacto politico maior assim como Hayek e se tornaram nomes emblematicos, o que não aconteceu com

      Myrdall..

      1. Faça uma pesquisa entre
        Faça uma pesquisa entre alunos de último ano nas melhores faculdades de economia, para testar o conhecimento sobre a obra do Myrdal, o resultado será decepcionante.

        1. Nas faculdades de economia no

          Nas faculdades de economia no Brasil o que menos se estuda é a formação do pensamento economico, basta fazer uma pesquisa sobre os 50 maiores pensadores economicos do Seculo XX e seguramente não conhecerão mais do que 5.

  4. Curiosidades

    Hayek é muito interessante. Guardo de mais importante, além dos conceitos principais de ordem espontânea do mercado, seus comentários sobre progresso e renda mínima. Ele defendia que os desempregados tivessem uma renda mínima assegurada, para necessidades básicas. Sobre o progresso, que dizia ser o principal objetivo da sociedade, defendia que uma pequena elite, com recursos privilegiados, impulsionasse o progresso e o avanço da técnica, e que conlhessem antes os benefícios de suas descobertas, para que depois o resto da humanidade também usufruisse. Disse que integraria de bom grado essa parcela da humanidade a ser beneficiada posteriormente.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador