O desembargador, o garçom, o autoritarismo e o farol

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Ia um porta-aviões de guerra em seu curso quando o comandante avistou uma luz à frente. Sinalizou para que a outra embarcação mudasse o curso. A resposta por luzes foi negativa, não mudaria o curso. O comandante enfurecido pegou o rádio e ordenou: Aqui é o almirante naval 4 estrelas John Stuart, comandante do porta-aviões nuclear Mississipi I, com prioridade internacional de navegação, ordeno que você mude o seu curso imediatamente, repetindo, isto é uma ordem, mude o curso! Veio a resposta, agora por rádio: aqui é um farol.

Foi mais ou menos o que aconteceu com o desastrado desembargador Dilermando Motta, do Rio Grande do Norte, que tentou humilhar e prender um garçom numa padaria porque o gelo não veio como ele queria. O farol do seu caso foi o povo. E o mensageiro de seu problema, um empresário de 44 anos chamado Alexandre Azevedo que saiu aos gritos em defesa do garçom. Está no Youtube.

O desembargador encontrou o poder máximo pela frente: o povo. Chamou a PM, ordenou prisão do garçom. O tenente, esperto, percebeu que a situação era oriunda de um piti autoritário e, claro, não cumpriu a ordem desembargadoriana.

Para uma cabeça formalista e imperial como a do desembargador que tenta oprimir pelo cargo público pago pelo povo, ter virado motivo de piada na internet e ter sido afastado de suas funções é a “morte”. Pode ser que daqui a 10 anos o caso continue vivo na cultura do povo de Natal. O caso do desembargador e do garçom na padaria. Um triste episódio de um Brasil que o Brasil não quer mais.

Será que este desembargador está na famosa reportagem do Estadão (10.12.2011) que relatou: “A radiografia da folha dos tribunais revela centenas de casos de desembargadores que receberam nos últimos meses mais que os R$ 26,7 mil estabelecidos como teto – o salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Em setembro deste ano, por exemplo, 120 desembargadores receberam mais do que R$ 40 mil e 23 mais de R$ 50 mil. Um deles ganhou R$ 642.962,66; outro recebeu R$ 81.796,65″?

Viva o farol.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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