O divisor das águas de São Paulo, por Sandro Caje

O Sistema Cantareira abastece aproximadamente 6,5 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. Além de parte da capital, o sistema fornece água para 10 municípios, incluindo partes de São Caetano do Sul, Santo André e Guarulhos, cidades com grande atividade industrial. A capacidade de armazenamento do Cantareira é de aproximadamente 980 milhões de metros cúbicos. Uma conta simples: 150 metros cúbicos para cada pessoa, se a água fosse distribuída igualmente para todos. O consumo mensal por pessoa, para termos uma referência, é estimado em torno de 5,4 metros cúbicos por mês. Se cada pessoa gastasse a sua cota mensal, a água se esgotaria em aproximadamente 28 meses, no caso de uma seca absoluta e, ainda assim, se não houvesse a natural evaporação da água. Se minha conta estiver errada, peço o favor de pessoas mais capazes corrigirem o cálculo. Mas há outro cálculo, mais realista, também baseado na vazão declarada pela Sabesp.

A verdade é que numa região tão populosa a água é consumida num ritmo muito mais intenso, pois temos indústrias e serviços que consomem muita água. É fácil perceber que com uma vazão de 33 metros cúbicos por segundo, o consumo chega a quase 120.000 metros cúbicos por hora e quase três milhões por dia. Com sua vazão normal, em 365 dias sem chuva, o Sistema Cantareira terminaria o período com um déficit de aproximados 50 milhões de metros cúbicos. Ou seja, fecharíamos o período de um ano devendo o volume que temos neste momento, em torno de 5% do total.

Fiz essas contas, mesmo com o risco de estar enganado, para tentar compreender a dimensão do problema, que desde o ano passado se anuncia aos habitantes das cidades abastecidas pelo sistema. E, com esses cálculos, percebemos que a crise no abastecimento da água sempre foi previsível. Faltava apenas que fatores climáticos determinassem um período nem tão prolongado de estio e poucas chuvas na região onde estão as represas que formam o sistema. Os outros fatores para o problema já estavam dados: aumento da população, aumento do número de habitações, impacto de obras como as do Rodoanel sobre os mananciais, poluição, campanhas tímidas a respeito da necessidade de economia da água, falta de interesse do setor privado e das instituições de nível superior de participar de projetos que produzam meios de economia da água potável, etc. Mas há, ainda, o fator mais letal: a incompetência moral dos gestores públicos que, como parte do jogo eleitoral, deixaram de cumprir com suas responsabilidades de avisar à população a gravidade da situação.

É da cultura política em nosso país colocar os interesses pessoais como mais importantes do que as demandas sociais. Vencer uma disputa eleitoral é prioridade absoluta, mesmo que se sacrifique toda a sociedade. O resultado da falta de responsabilidade dos gestores públicos paulistas é, hoje, a possibilidade de a escassez de água causar uma devastação imensa na economia, na educação e na saúde pública.

Por falta de água – ou mesmo pelo aumento do preço da água – as empresas e o comércio poderão sofrer uma redução na produção e nas vendas, chegando ao extremo de provocar desemprego. A precarização nas condições de higiene nos ambientes públicos, como escolas, clubes e empresas poderão obrigar estudantes, frequentadores e trabalhadores a ficar em casa. Hospitais, postos de saúde, clínicas, casas de repouso, centros de tratamento também serão afetados, assim como as residências mais humildes onde o uso da água para beber e para o preparo dos alimentos terá prioridade sobre a higienização do ambiente e das pessoas. A falta de água desencadeará problemas gravíssimos e diversos.

No lugar de promover campanhas educativas e propor algumas soluções já existentes para que a população economize a pouca água disponível, o governo de São Paulo se empenha na aplicação de multas para as residências que aumentarem o consumo de água. No lugar de reconhecer os erros, de pedir desculpas à população, abre seu inesgotável repertório de malabares semânticos para atribuir a responsabilidade a São Pedro e ao governo federal. Segundo informações colhidas na imprensa, o governador só admitiu que há racionamento de água há poucos dias. Coincidentemente, quando o órgão federal que regula o uso da água se envolveu no problema.

É óbvio que a sociedade precisa economizar água, que precisamos inventar novos modos de aproveitar a água, que precisamos de sistemas mais eficientes no manejo da água. Mas precisamos mais de gestores públicos competentes, responsáveis e honestos, capazes de mobilizar a sociedade para a construção de um panorama que evite as catástrofes já anunciadas: escassez de água, de alimentos, de empregos. Mas o que estamos vendo é o anúncio de um futuro desumano em São Paulo. Comenta-se, nas ruas e nos botecos, que a crise hídrica foi planejada pelo governo atual para aumentar o preço da água, que é distribuída por uma empresa parcialmente privatizada.

O Cantareira só se recomporá se a sua vazão for reduzida a uma fração da atual durante vários anos. Só um dilúvio milagroso colocaria um bilhão de metros cúbicos no Cantareira a curto prazo. Se o Cantareira secar, como o Mar de Aral, os outros mananciais, menores, ficarão sobrecarregados e também se esgotarão.  Durante esse processo a água ficará mais cara.

As catástrofes, naturais ou gerenciadas, são hoje oportunidades de lucro para investidores. Toda a sociedade perde, mas há quem ganhe. A serviço de quem estão os nossos gestores públicos? Da sociedade ou do lucro? O futuro dos sistemas hídricos e da população de São Paulo depende, fundamentalmente, dessa definição. O que nos distingue do Haiti é que aqui o lucro das devastações e a irracionalidade política têm  uma geografia mais extensa para explorar. Podemos estar, hoje, no divisor entre as águas da abundância e as da catástrofe. O Mar de Aral não secou por causa de adversidades climáticas, mas por causa da ganância e da má gestão da água e do meio ambiente.

A questão da água, que o governo atual trata como problema econômico é, acima de tudo, um problema social decorrente da incompetência moral de pessoas mais preocupadas com o lucro do que com a vida. Mas não são apenas os gestores atuais que devem satisfação à população: os antecessores precisam explicar o que foi feito com o dinheiro para a despoluição dos rios.

Sandro Caje
dois pontos 

Redação

3 Comentários

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  1. O Governador pode até ter

    O Governador pode até ter admitido que estamos em situação de aacionamento, mas não decretou oficialmente o racionamento, portanto, o povo de São Paulo pode e deve acionar judicialmente a SABESP se ela cortar a água de suas residencias, e é isso que farei na segunda feira logo cedo.

     

    “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES é um braZil-Zil-zi lpara TOLOS”

  2. O GOVERNO É O CULPADO

    NÃO HÁ DESCULPAS, DEIXARAM DESMATAR 70% DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO!

    SERIA A NOVA ÉPOCA DAS VACAS MAGRAS?

    Devemos continuar confiando nosso destino a pessoas inescrupulosas, a maioria já caduca, em idade avançada? Pois são eles que se enriqueceram absurdamente, já que só pensam em dinheiro, e como fazer seus trambiques; pouco se importando com nosso meio ambiente. Para isso, usam o poder econômico, e compram o voto de nossos deputados e senadores. 

    Gente assim é quem governa o país! Pessoas amarguradas, que odeiam o povo, a natureza, a si mesmos e a própria família. Preocupam-se apenas com seu jogo insano, para ver quem morre mais rico que o outro.

    MESMO COM ATIVIDADE SOLAR QUASE NULA, NOSSAS TEMPERATURAS NÃO PARAM DE SUBIR, E O GELO DOS POLOS DERRETER

    COMO FICAREMOS QUANDO O SOL VOLTAR À ATIVIDADE MÁXIMA?

    Levando em conta, que ao longo de milhões de anos a temperatura da terra acompanhou a atividade solar. Isso quer dizer que deveríamos estar enfrentando hoje uma era do gelo, já que o sol está praticamente dormindo. Vejam:

    http://thebentangle.files.wordpress.com/2009/12/temperature-and-solar-activity.jpg

    http://thebentangle.files.wordpress.com/2009/12/solar-irradiance-1975-2009.jpg

    http://www.globalwarmingclassroom.info/images/6-TempPrecedesCO2_lg.jpg

    http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/thermo/solact.html

    Entretanto, a poluição esquentou tanto o planeta, que o gelo dos polos continua derretendo em ritmo acelerado, e estamos batendo todos os recordes de temperatura. Veja o gráfico abaixo, é indiscutível! As temperaturas pararam de acompanhar a atividade solar. Enquanto o sol estava praticamente inativo, as temperaturas subiram, em vez de despencar. Como ficaremos agora, que a atividade solar voltou a crescer, devendo chegar ao seu máximo daqui a uns seis anos. Parece que a seca nos reservatórios de água de São Paulo é apenas o começo…

    http://wattsupwiththat.files.wordpress.com/2010/12/lagged-solar-cycle-length-and-temp-stephen-strum-frontier-weather-inc.png

    Observe o gráfico abaixo:

    http://www.globalwarmingclassroom.info/images/6-TempPrecedesCO2_lg.jpg

    Fica muito claro que talvez nosso planeta não tenha um clima propenso à vida. Veja como que ao longo de milhares de anos as temperaturas vão se elevando, e depois caem novamente. Se não houvesse algo que as fizesse despencar, ninguém sabe até onde poderiam chegar; mas com certeza seriam bem maiores do que hoje.

    O QUE PODE FAZER ESSAS TEMPERATURAS DESPENCAREM?

    Existe duas hipóteses que destacamos, dentre outrras:

    1) A pressão interna do magma terrestre chega a um limite, e detona a explosão de um supervulcão ciclicamente, que lança detritos no ar, provocando algo semelhante ao inverno nuclear, previsto no caso de uma guerra utilizando bombas atômicas. A terra se revestiria de gelo, que reflete mais a luz do sol, e permaneceria por um longo tempo com temperaturas reduzidas.

    2) O gelo derretido pelo calor resfria as águas dos oceanos, na medida em que vai dos polos para o equador, resfriando todo o planeta, e provocando grandes nevascas. A neve reflete a luz solar, e temos um longo período de frio chamado de “era do gelo”.

    .
    O FUTURO QUE PODEMOS DEIXAR AOS NOSSOS FILHOS!

    Como podemos ver em nosso gráfico, o fenômeno que sempre provocou a derrubada de nossas temperaturas, PROPICIANDO A VIDA NO PLANETA, parece ter nos abandonado!

    Observem como nos dias de hoje, o marco zero do gráfico, as temperaturas estão se mantendo no pico, e não despecam. 

    Temos algumas explicações. Se dependíamos de supervulcões, para regular a temperatura do planeta; elas sofriam um aumento natural ao longo do tempo, porque o planeta sem essas explosões tenderia a esquentar para temperaturas inóspitas à vida. Como a pressão do magma pode ter sido reduzida, devido ao seu resfriamento, não haverá mais essas explosões, e as temperaturas não despencarão novamente. Se estão se mantendo por algum tempo, isso ocorre apenas, porque o gelo derretido nos polos está resfriando o planeta inteiro. Como ele está acabando, quando chegar no ponto em que a quantidade de gelo não for suficiente, para resfriar nossa temperatura; ela disparará, até chegar num patamar onde a vida se tornará impossível. Basta ver as projeções que temos no gráfico, caso o “evento cíclico” não venha. 

    Se dependíamos do resfriamento do planeta através do derretimento dos polos, para regular nossa temperatura. A partir de agora, devido à poluição, ele já não é mais suficiente para trazer a “era do gelo”. Tendo em vista, que a poluição esquentou tanto o planeta, que os bilhões de toneladas de água super gelada, próxima de zero graus, vindas do gelo derretido nos polos, não são suficientes para provocar nevascas gigantes, e nos recobrir novamente de gelo. 

    Isso explica, porque mesmo no verão, quando o sol está encoberto por nuvens, as temperaturas despencam. É por causa dos oceanos repletos de águas extremamente frias, vindas do gelo derretido nos polos. Faça sua própria experiência, hoje em dia é comum irmos na praia, e por mais quente que esteja, encontrar a água muito fria. Como a maior parte do planeta é recoberto por água, os oceanos são os principais responsáveis pela determinação de nossa temperatura ambiente. no passado, os ventos frios vindos dos oceanos eram suficientes para recobrir todo o planeta de neve. Só que a poluição está esquentando tanto a Terra, que acaba impedindo esse fenômeno. Por isso, quando não tem nuvens, a temperatura aumenta rapidamente. Porque ficamos expostos aos raios de sol, com seu calor sendo acumulado pelos poluentes. As temperaturas, embora se mantenham estáveis por algum período, tenderão a subir assustadoramente, depois que a quantidade de água resfriada não for mais suficiente para essa estabilidade…

    No “zero” do gráfico, representando os dias de hoje, vemos que as temperaturas chegaram ao máximo, mas não despencaram. Pelo contrário, estenderam as temperaturas de pico ao longo do tempo, estabilizando-as. 

    Isso deve estar acontecendo por causa das emissões de CO2. Mesmo com o sol praticamente dormindo, o que nos levaria a outra era do gelo; tanto pelo ciclo menor do sol, que duraq cerca de 12 anos; quanto pelo ciclo maioir, que dura milhares de anos. Em ambos os ciclos, deveríamos estar vendo nossas temperaturas caindo vertiginosamente, mas, ao contrário, as temperaturas não apenas continuam altas, como também estamos batendo todos os recordes de calor. 

    A atividade solar começou a subir há cerca de um ano atrás, e teremos mais calor chegando do sol por cerca de seis anos, já que esse seu ciclo menor é em torno de 12 anos. Como ficarão as novas temperaturas do planeta, com tanta poluição retendo a energia do sol, e com menos gelo para resfriar os oceanos e amenizar o clima? É provável que o planeta nunca tenha enfrentado algo assim. Mesmo logo após sua formação, e o início da vida na terra, as super erupções vulcânicas eram constantes, impedindo que a luz do sol torrasse a vida do planeta; que se desenvolvia graças ao bom isolamento térmico, que a crosta terrestre propiciava em relação ao magma vulcânico.

    .
    NÃO É BRINCADEIRA, NEM PALHAÇADA!

    PODEMOS ESTAR MATANDO NOSSAS CRIANÇAS, SEUS FILHOS, E DESCENDENTES…

    Se vocês têm dúvidas sobre como as temperaturas do planeta acompanham a atividade solar, que constitui a principal determinante de nosso clima, vejam o terceiro gráfico, e a partir de quando (nossa industrialização) esse acompanhamento parou de existir:

    http://carlosorsi.blogspot.com.br/2012/02/aquecimento-global-numeros-e-argumentos.html

    Pense bem, se é inteligente continuar deixando que os donos do poder econômico, a DITADURA DO MERCADO, continuem decidindo questões desse tipo por todos nós. O que eles chamam de “racionalidade do mercado” é uma verdadeira aberração. Não conseguem ver além do que entrará na conta deles mês que vem. 

    Se nossas colheitas forem perdidas, e o preço dos alimentos disparar; a indústria e o comércio venderão menos, porque o povo gastará mais com comida. Onde está a racionalidade deles, quando insistem em afirmar, que uma usina elétrica eólica (por vento) é mais cara que a termoelétrica?

    Precisamos assumir nossa responsabilidade com a máxima urgência, e participar ativamente dos debates e decisões políticas mais importantes.

    DEMOCRACIA DIRETA JÁ!

    Saiba o que pode ser feito:

    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=314356765366659&set=a.300951956707140.1073741826.300330306769305&type=3&theater 

    DEMOCRACIA DIRETA NÃO É COISA DE COMUNISTA, COMO ALGUNS FALAM POR IGNORÂNCIA!

    Se fosse, os oito países com melhor padrão de vida do mundo, seriam comunistas!

    Confiram as infromações. Entrem nos links, para ver que não é manipulação, nem boato:

    https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/503107126491621/?type=3&theater

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