O Eu escondido (Segunda Parte), de William James

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

por Marcos Villas-Bôas

Essa segunda parte da tradução do texto de James trata de uma pesquisa de outro pioneiro da Psicologia, o francês Pierre Janet. É interessante notar como James se refere a quem faz esse tipo de estudo como filósofo. Aqueles eram estudos pioneiros da nova ciência que se formava. James trata cientificamente de transe, hipnose, aplicação de passes e outros assuntos tidos por místicos até hoje.

O Eu escondido (Segunda Parte)

James analisa a pesquisa de Pierre Janet sobre automatismo psicológico

de William James

Tradução: Marcos de Aguiar Villas-Bôas

No último verão, apareceram registros em Havre de observações feitas pelo Sr. Pierre Janet, professor de filosofia na faculdade daquela cidade, sobre certos sonambulismos histéricos, publicados num volume de 500 páginas intitulado “Do Automatismo Psicológico” (Paris, Alcan), que, servindo como a tese do autor para o Doutorado em Ciência em Paris, provocou certa comoção no mundo ao qual essas coisas pertencem.

A nova luz que esse livro lança sobre algo que foi vagamente conhecido como vida mental inconsciente parece tão importante que eu proponho entreter os leitores da Scribner’s dando alguma conta do seu conteúdo, como um exemplo do tipo de “pesquisa psíquica” que um homem astuto, com boas oportunidades, pode agora atingir.

O trabalho se apoia em fatos e é deficiente na forma. O autor objetiva, além do mais, generalizar apenas aonde os fenômenos os forçam que assim o faça, e afirmações abstratas sejam mais imbricadas, como se fossem intersticiais mais do que nas performances gaulesas.

Na mente do Sr. Janet, há um sabor inglês desse tipo que é prazeroso encontrar em alguém que é, por outro lado, francês. Eu devo citar também algumas das citações do Sr. Binet, o mais engenhoso e original membro da Escola Salpêtrière, pois os dois senhores, trabalhando independentemente e com diferentes assuntos, chegam a conclusões que estão surpreendentemente em acordo entre si.

Ambos podem ser chamados contribuintes para a ciência comparada do estado de transe. Os “sujeitos” estudados por ambos são sofredores das formas mais graves de histeria, e ambos os autores, eu imagino, são consequentemente levados a exagerar a dependência das condições de transe desse tipo de doença.

Os sujeitos do Sr. Janet, os quais ele chama de Léonie, Lucie, Rose, Marie, etc. eram pacientes no Hospital de Havre, sob os cuidados de médicos que eram amigos dele e que os permitiram fazer observações para o contentamento do seu coração.

Um dos mais constantes sintomas em pessoas sofrendo de doença histérica nas suas formas extremas consiste em alterações da sensibilidade natural de várias partes e órgãos do corpo. Normalmente, a alteração é um tipo de imperfeição ou anestesia. Um ou ambos os olhos são cegos, ou cego de metade do campo de visão, ou este é extremamente contraído, de forma que suas margens aparecem escuras ou, ainda, o paciente perdeu seu total senso para cores.

A audição, o paladar, o olfato podem similarmente desaparecer em parte ou totalmente. Ainda mais impactante é a anestesia cutânea. Os antigos caçadores  de bruxas, procurando pelas “focas dos demônios”, bem aprenderam sobre a existência dessas partes insensíveis da pele das suas vítimas, para as quais o minudente exame físico da Medicina recente dedicou atenção novamente apenas mais tarde.

Eles podem estar espalhados por qualquer lugar, mas estão muito aptos a afetar um lado do corpo. Não raramente, eles afetam um lado inteiro do corpo, da cabeça aos pés, e a pele insensível, vamos dizer, do lado esquerdo será então encontrada separada da pele naturalmente sensível da direita por uma perfeitamente bem definida linha de demarcação à frente e nas atrás.

Algumas vezes, mais marcante de tudo, toda a pele, mãos, pés, rosto, tudo, e as membranas mucosas, músculos e articulações, até onde elas possam ser exploradas se tornam completamente insensíveis sem as outras funções vitais serem gravemente prejudicadas.

Essas anestesias e hemianestesias, em todos os seus variados graus, formam o núcleo das observações e hipóteses do Sr. Janet. E, primeiro de tudo, ele tem uma hipótese sobre a anestesia ela mesma, que, como todas as hipóteses provisórias, podem prestar excelente serviço enquanto esperam o dia em que uma melhor tomará o seu lugar.

O pecado original da mente histérica, ele acha, é as contrações do campo da consciência. A atenção não tem força suficiente para tomar no número normal de sensações ou ideias de uma vez. Se uma pessoa normal puder sentir dez coisas de uma vez, um histérico pode sentir no máximo cinco. Nossas mentes são, todas elas, como vasos cheios de água e uma nova gota faz outra sair; somente a mente do histérico é sobrenaturalmente pequena.

O poder de unificação e sintetização que o Ego exerce sobre os múltiplos fatos que são oferecidos a ele é insuficiente para fazer todo o seu trabalho e um hábito arraigado é formado de negligenciar ou supervalorizar determinadas porções de massa. Portanto, um olho será ignorado, um braço e uma mão, ou uma parte do corpo.

E além da anestesia, histéricos são, com frequência, extremamente distraídos e incapazes de fazer duas coisas ao mesmo tempo. Quando conversando com você, eles esquecem todo o resto.

Quando Lucie parava para conversar com alguém, ela deixava de ouvir qualquer outro. Você podia ficar atrás dela, gritar aos seus ouvidos, sem fazer ela se virar; ou mesmo ficar perante ela, mostrar a ela objetos, tocá-la etc. sem atrair sua atenção. Quando finalmente ela toma conta de você, ela acha que você acabou de voltar ao recinto e lhe cumprimenta de acordo.

Esse esquecimento singular faz ela contar todos os seus segredos em voz alta, independente da presença de ouvintes inadequados. Esse campo mental contraído (ou estado de monoideísmo, como isso tem sido chamado) caracteriza também o estado hipnótico de pessoas normais, para que, nesse importante respeito, um histérico acordado é como uma pessoa normal em transe hipnótico. Ambos estão completamente perdidos na ideia presente deles, tendo seus redutivos e corretivos saído de visão.  

As anestesias da classe de pacientes de que estamos tratando podem ser feitas desaparecer mais ou menos completamente por vários processos estranhos. Foi descoberto recentemente que magnetos, pratos de metal, os eletrodos de uma bateria, colocados contra a pele, têm esse poder peculiar.

E, quando um lado é aliviado nesse sentido, a anestesia é descoberta do outro lado, que, até ali, estava bem. Se esses efeitos estranhos de magnetos e metais se devem à sua direta ação fisiológica ou a um efeito prévio sobre a mente do paciente (“atenção esperada” ou “atenção”) é ainda uma questão suspensa.

Um ainda melhor despertador de sensibilidade na maioria desses sujeitos é o estado hipnótico, que o Sr. Janet parece ter mais facilmente induzido por meio do ortodoxo método “magnético” de “passes” feitos sobre o rosto e o corpo. Foi fazendo esses passes que ele primeiro tropeçou sobre um dos mais curiosos fatos registrados no seu volume.

Um dia, quando o sujeito chamado Lucie estava em estado hipnótico, ele fez passes sobre ela de novo por meia hora como se ela estivesse já “adormecida”. O resultado foi jogá-la em uma espécie de síncope da qual, depois de outra meia hora, ela reviveu uma segunda condição sonambúlica inteiramente diferente daquela que tinha a caracterizado até então – sensibilidades diferentes, uma memória diferente, uma pessoa diferente, resumidamente.

No estado acordado, a pobre jovem mulher estava toda anestesiada, quase surda e com uma visão malmente contraída. Ruim como ela estava, todavia, a visão era o seu melhor sentido e ela a usou como um guia em todos os seus movimentos. Com os seus olhos enfaixados, ela ficava inteiramente desamparada e, como outras pessoas cujos casos semelhantes foram registrados, ela quase imediatamente caiu no sono em consequência de lhe ser retirado o seu último estímulo sensorial.

O Sr. Janet chama esse acordar ou estado primário (dificilmente, numa conexão como essa, alguém pode chamar isso de “normal”) pelo nome de Lucie 1. Em Lucie 2, o seu primeiro tipo de transe hipnótico, as anestesias haviam sido diminuídas, mas não removidas.

No transe mais profundo “Lucie 3”, acontecido como descrito há pouco, nenhum traço de anestesia existia. A sensibilidade dela se tornou perfeita e, ao invés de ser um extremo exemplo do tipo “visual”, ela foi transformada no que, na terminologia do Prof. Charcot, é conhecido como um motor.

Isso quer dizer que, ao passo em que, quando acordada, ela tinha pensado em termos visuais exclusivamente e podia imaginar as coisas apenas lembrando como elas pareciam, agora, nesse transe mais profundo, seus pensamentos e memórias pareciam largamente compostos de imagens de movimentos e toque – é claro que eu apresento aqui sumariamente o que aparece no livro como uma introdução de muitos fatos.

Tendo descoberto esse transe mais profundo em Lucie, o Sr. Janet naturalmente ficou ansioso por encontrar isso em outros sujeitos. Ele o achou em Rose, Marie e em Léonie; e, melhor de tudo, o seu irmão, Dr. Jules Janet, que era um estagiário no Hospital Salpêtrière, encontrou isso no celebrado sujeito Witt…cujos transes tinham sido estudados por anos por muitos dos médicos da instituição sem nenhum deles ter conseguido despertar essa muito peculiar modificação da personalidade.

Com o retorno de todas as sensibilidades no transe mais profundo, os sujeitos são transformados, como se assim fosse, em pessoas normais. As memórias deles, em particular, crescem em extensão; e aqui vem a primeira grande generalização teórica do Sr. Janet, que é essa: Quando um certo tipo de sensação é abolida num paciente histérico, também são abolidas com isso toda a coleção de sensações daquele mesmo tipo do passado.

Se, por exemplo, a audição for o sentido anestésico, o paciente fica impossibilitado até mesmo de ouvir sons e vozes, e tem que falar, quando a fala ainda é possível, por meio de pistas motoras ou articulatórias. Se o senso motor for abolido, o paciente deve querer o movimento dos seus membros primeiro definindo-os para a sua mente em termos visuais e deve inervar a sua voz por ideias premonitórias do modo como as ideias irão soar.

Os efeitos práticos dessa lei do Sr. Janet sobre as recordações do paciente seriam necessariamente grandes. Veja as coisas tocadas e seguradas, por exemplo, e movimentos corporais. Todas as memórias dessas coisas, todos os registros dessas experiências, sendo normalmente estocados em termos táteis, teriam que ser incontinentemente perdidos e esquecidos tão breve que a sensibilidade cutânea e muscular deveriam vir a desaparecer no curso da doença.

As memórias deles viriam a ser restauradas, por outro lado, tão logo o senso de toque voltasse. As experiências, de novo, vivenciadas numa condição de toque anestésica (e armazenadas por consequência em termos visuais e auditivos exclusivamente) pode não ter contraído nenhuma “associação” com ideias táteis, de modo que essas ideias são, para o ser-tempo, esquecidas e praticamente não-existentes.

Se, contudo, as sensibilidades de toque forem alguma vez restauradas, e suas ideias e memórias com elas, pode facilmente acontecer que elas, com suas associações agrupadas, podem temporariamente manter fora da consciência coisas como a consciência e outras experiências acumuladas durante o período anestésico que não tem conexão com elas.

Se o toque for o sentido dominante na infância, seria, portanto, explicado porque anestesiados histéricos, cujas sensibilidades táteis e memórias são trazidas novamente pelo transe, frequentemente assumem comportamento infantil e até se chamam por nomes de criança.

Essa é, ao menos, uma sugestão do Sr. Janet para explicar um nada raro tipo de observação. Bourru e Burot descobriram, por exemplo, no seu extraordinário sonâmbulo masculino Louis V., que recordar por sugestão uma certa condição de sentimento corporal nele iria invariavelmente transportá-lo de volta para a época de sua vida na qual aquela condição havia prevalecido. Ele esquecia os últimos anos e retornava ao caráter e tipo de intelecto que o tinham caracterizado nos tempos antigos.

A teoria do Sr. Janet provocará controvérsia e estimulará observação. É o que se deve pedir de qualquer teoria.  

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. Pow muito legtal estes

    Pow muito legtal estes artigos… A mente e o cérebro ainda têm alguns mistérios que nem Freud explica… Mas estamos desvendendo quase tudo… Se não já desvendemos tudo e as informações estão desencontradas…

  2. Nessa segunda parte apresenta-se algo já incorporado na academia

     

    Marcos Villas-Bôas,

    Esta segunda parte do artigo de William James, “O Eu escondido” que você traduziu pareceu-me mais interessante e menos sujeita à crítica do que a primeira parte que você apresentou com tradução sua no post “O Eu escondido, de William James” de quinta-feira, 08/12/2016 às 08:49, aqui no blog de Luis Nassif e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-eu-escondido-de-william-james

    Não tenho autoridade para fazer crítica nem à sua tradução nem ao tema proposto por William James, mas como leigo nada me impede de manifestar minha opinião e foi o que eu fiz em comentário que eu enviei sexta-feira, 09/12/2016 às 00:11, para junto do comentário de Antonio Uchoa Neto que fora enviado quinta-feira, 08/12/2016 às 09:55. Em meu comentário que eu expressei em tom crítico ao texto de William James, eu manifestei a minha concordância com o comentário de Antonio Uchoa Neto e fundamentei minha crítica utilizando o seguinte trecho do texto de William James:

    “Mas, por outro lado, se há algo que a história humana demonstra, é a extrema lentidão com a qual o acadêmico comum e a mente crítica toma conhecimento de fatos como existentes que se apresentam a eles como fatos selvagens sem espaço ou cabimento, ou como fatos que ameaçam romper com o sistema aceito.”

    Para mim essa lentidão até podia existir antigamente, e eu dou como exemplo a demora de aceitação na academia da Teoria do Heliocentrismo. Nos dias atuais o conhecimento científico validado incorpora rapidamente à corrente acadêmica dominante ou prevalecente ou talvez o correto seja dizer corrente acadêmica válida.

    E por curiosidade faço a você também uma pergunta que enviei sexta-feira, 09/12/2016 às 01:47, ao comentarista Ivan de Union junto ao comentário dele enviado quinta-feira, 08/12/2016 às 12:31, junto ao comentário de Nilton Almeida enviado quinta-feira, 08/12/2016 às 10:50. Comentei junto a Ivan de Union mais para discorrer sobre as nossas angúrias com o envio de comentários que se perdem sem nenhuma razão lógica e dada a oportunidade e a lembrança fiz a ele uma pergunta sobre os escritos guardados de Carl Jung que foram recentemente abertos.

    Assim, em meu comentário para Ivan de Union, eu lembrei dessa notícia sobre escritos de Carl Jung que foram recentemente disponibilizados e que me parecera que o Ivan de Union também havia comentado quando o assunto fora abordado aqui no blog de Luis Nassif. Só que posteriormente, passado um tempo, não mais houve repercussão. Os textos de Carl Jung teriam ficado guardados na Suíça sendo só mais recentemente – cerca de 3 a 5 anos – abertos (Provavelmente os escritos foram tornados públicos ou disponibilizados para algum grupo seleto quando dos 50 anos da morte de Carl Gustav Jung que falecera em 06/06/1961. Perguntei ao Ivan de Union e agora, como você tem-se voltado para um assunto que guarda relação com os trabalhos de Carl Jung, mas pelo qual eu tenho só interesse diletante de leigo, eu pergunto o que se sabe e o que há de novidade nos escritos de Carl Jung que foram abertos recentemente?

    E reafirmando o que já dissera no início deste comentário, nessa segunda parte do artigo “O Eu escondido”, o Willam James parece ter tratado de algo que não é desconhecido pela academia. A observar que na época do artigo, Sigmund Freud já estava com 34 anos.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 09/12/2016

    1. Obrigado por me dizer, eu nao

      Obrigado por me dizer, eu nao tinha te lido ainda.  Mas os “recentes” de Carl Jung sao so esses 6 ultimos items aqui:

      https://en.wikipedia.org/wiki/Carl_Jung_publications

      E embora tenha vaga lembranca de ter comentado, nao me lembro de qual assunto especificamente, e vou ter que rever:  voce ta falando do “Red Book”?  Nao sei se voce le ingles mas o NYTimes foi interessantissimo na resenha:

      http://www.nytimes.com/2009/09/20/magazine/20jung-t.html

      Eu tendo a ficar com Jung ate sem saber do que se trata o livro de Jung.  Freud, que viraria competicao de Jung e muito mais famoso, tinha um complexo de inferioridade em relacao a ambos consciencia e inconsciencia:  ele queria controle completo, queria uma “explicacao” pra tudo, e um proverbial charuto nao podia mais ser um charuto, necessariamente tinha que ser um simbolo falico(!).  Ou coisa parecida.  Tambem nao podia haver mais amamentacao sem haver “sexo” (por mais despida de malicia que fosse, a “explicacao” de Freud eh patetica).

      Mas…  nao, eu nao me aprofundaria em estudo de psicologia a esse ponto, portanto nao segui o sucesso ou nao do Red Book.  Eh uma questao de pragmatismo:  mediunica ou nao, ja tenho capacidade de mindset-acquire um monte de mindsets e seria meio irrelevante pra mim.  E tenho essa capacidade exatamente porque nao clamo nem controle nenhum nem propriedade nenhuma sobre eles, nem ao menos atravez de uma mera “explicacao” -danifica a minha teoria de mente fazer isso, alias.

      Abracao, Clever.

    2. Prezado Clever,
      Eu também não

      Prezado Clever,

      Eu também não tenho autoridade para questionar nem o tradutor, e muito menos o Dr. James.

      Apenas mantenho meu direito, como você também o faz, de ter minhas opiniões e desfrutar de espaços onde posso publicá-las. Agradeço muito sua atenção ao meu comentário.

      O Dr. James disse quase a mesma coisa que eu, evidentemente, com muito mais autoridade e clareza:

      “Essas anestesias e hemianestesias, em todos os seus variados graus, formam o núcleo das observações e hipóteses do Sr. Janet. E, primeiro de tudo, ele tem uma hipótese sobre a anestesia ela mesma, que, como todas as hipóteses provisórias, podem prestar excelente serviço enquanto esperam o dia em que uma melhor tomará o seu lugar.”

      Não fosse ele, além de intelectual brilhante, irmão de Henry James, o maior romancista de língua inglesa no século XIX.

      Gostaria de lembrar um trecho de Freud, em O Mal-Estar na Civilização:

      “Nossa tentativa parece ser um jogo ocioso…Mostra como estaremos longe de dominar as características da vida mental através de sua representação em termos pictóricos.”

      Um dos grandes avanços da medicina na era moderna, a tomografia computadorizada, representa em imagens a atividade cerebral, fazendo uma espécie de topografia das sensações de raiva, amor, ódio, etc., ou seja, a representação pictórica das áreas do cérebro que aumentam sua atividade ao responder a imagens que produzem os estímulos mencionados. Precisamente o que Freud julgou impossível, mas que representa um avanço na compreensão das características da vida mental.

      O que não invalida em nada a extraordinária contribuição dele à evolução da matéria, apenas mostra que, em certas situações, é melhor ser prudente e não ceder à tentação da especulação, para obter conhecimento.

      Esse é meu credo.

      1. “Gostaria de lembrar um

        “Gostaria de lembrar um trecho de Freud, em O Mal-Estar na Civilização”:

        NAAAAAAOOOOOOO…  Seria uh, dificil, mas eu conseguiria viver sem mais Freud.

        “Mostra como estaremos longe de dominar as características da vida mental através de sua representação em termos pictóricos”:

        Dai voce (Freud) parte de “caracteristicas da vida mental em termos pictoricos” para concluir que os “termos pictoricos” representariam a mente em si e nao estados individuais.  So que voce (voce) no proximo paragrafo nao faz esse erro e o corrige pra “oia aqui o que sua mente parecia no dia que nois tirou a fotinha”.

        Um estado mental, no entanto, nao corresponde aa “mente”.

        No mais, levei minutos pra entender o que significa “materia” no seu ultimo paragrafo (eu ser mineiro e nao entender portugueis direito) mas a “especulação” nao consegui entender ate agora:  que “especulação” eh essa, de quem, e em qual paragrafo?  Ele(s) nao estava(m) “especulando” da maneira que ce ta pensando:  nao havia outra alternativa a nao ser essa(s) a partir da(s) evidencias dele(s) aa epoca.

        (No mais, e antes que soe como critica (que nao foi):  seu comentario foi um barato!)

        1. Valeu, Ivan.
          Fique à vontade

          Valeu, Ivan.

          Fique à vontade para criticar!

          Você tem razão, eu deveria ter contextualizado a citação de Freud. Leia o 1º capítulo de O Mal-Estar na Civilização. Ele tenta fazer uma espécie de esquema da preservação da memória na mente, através de uma suposta superposição, em camadas, da sequência dos acontecimentos na vida mental, comparando-os a imagens, e reconhece que é inútil, daí a “representação em termos pictóricos”.

          Não sou freudiano, mas quando ele deslocou seu campo de interesse da psicologia individual para a psicologia das massas, ou grupos sociais, ele teve uma série de insights muito instigantes. Recomendo também a leitura de Moisés e o Monoteísmo.

          Quanto ao uso da palavra matéria, também foi mal escolhida. Está lá no sentido curricular, de disciplina.

          No mais, prezado, quando me refiro à especulação, quero me referir às tentativas – que considero infrutíferas – de estabelecer certezas, teóricas ou não, a partir não da experiência, da comparação, enfim, dos métodos da ciência, mas sim a partir de elementos não demonstráveis na natureza, ou sobrenaturais. Todos tem direito a “especular”, a partir do material que possuem, mas não creio que seja correto afirmar “verdades” com base em algo que não se demonstra, ou não se comprova, e nem se observa na natureza. A especulação gera convicções, e não fatos demonstráveis.

           

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