O goleiro, a vida e a perna, por João Sucata

Esporte Bretão

O goleiro, a vida e a perna

por João Sucata

As muitas estórias sobre um avião que caiu por falta de combustível

Na semana passada elogiamos sem a ênfase merecida o Chapecoense. Lembramos como passou por cima de times argentinos, o que não é fácil para os brasileiros, pois los hermanostem jogadores habilidosos, técnica, técnicos e garra. Se soubesse da tragédia seria mais elogioso, afinal, tragédia nos sensibilizam, especialmente quando são muitos jovens que começavam a vida realizando verdadeiros contos de fada. Elogios pós morte também vale, mas não é a mesma coisa.  Mas ninguém sabe quando um avião vai cair.

Dos que ficaram vivo o goleiro reserva da Chape foi pragmático, perdeu uma perna, mas logo que abriu os olhos disse que preferia a vida à perna. Uma perna e tudo para um goleiro, principalmente dentro de campo. Morreu o goleiro. Interessante porém é que devem achar os argentinos se fosse o titular, Danilo que dissesse isso. Nos últimos segundos do jogo Danilo defendeu com a perna direita, por puro reflexo, um chute de um atacante do San Lorenzo que ia direto para o gol. Foi o lance que deu a vitória a Chape e encomendou a viagem para a Colômbia, que resultou em sua morte e de outras 70 pessoas. Ah se Danilo não tivesse aquela perna. Ou ela tivesse sofrido uma câimbra, ou ele fosse mais lento nos reflexos…Não teria havido a vitória e a viagem, nem tragédia e nem velório, a vida seguiria a rotina.

O piloto devia, também, ter espírito de jogador. Quem já não sofreu pane seca dirigindo seu carro para algum lugar e deixando de por gasolina por achar que no tanque tinha o suficiente para chegar. Mas é diferente a gente andar com o carro no limite da reserva e parar numa rua ou estrada, sempre se dá um jeito de ir até um posto buscar gasolina, e fazer o mesmo no avião é inviável. Jogou e perdeu. Sabe-se lá o quanto se arrependeu ele nos minutos finais, quando os motores começaram a falhar e logo depois se iniciou a queda. Quanto. Quanto. Jesus, teria sido sua ultima palavra.

A tragédia serviu para revelar gente de bom e mau caráter. Os colombianos ganharam no primeiro item, o Atlético Nacional pediu para os dirigentes do futebol dar o título  a Chape. E deram. No mínimo deveria ser Chape campeã de honra ou algo parecido. O presidente do Internacional foi destaque no segundo item. Como bom cartola quis melar o Brasileirão e assim evitar o risco de cair para a série B.

Mas bom mesmo é o pessoal do marketing.   Pessoas, empresas, políticos tentaram tirar uma casquinha. Filma eu Galvão, pareciam dizer alguns que acompanharam a cerimônia. Bem, existe em todo lugar. Nas manifestações da Paulista são bem mais comuns. Todo mundo leva sua plaquinha, que acha o máximo, para receber seu segundo de glória. E como as TVs ficam horas filmando, a chance é grane.. O Presidente Temer entrou discreto no velório e saiu mesmo jeito, sem levar vaia,  o que convenhamos é sensato. Nelson Rodrigues, que dizia que brasileiro dá vaia até em minuto de silêncio ficaria decepcionado. Dar vaia em velório, tentar distribuir folheto, como fizeram em um que Lula foi, de um grande amigo,  não está com nada, é tão feio como prender pessoas em hospitais ou bater na mãe.

Os coxinhas de redes não poderiam deixar passar a oportunidade. Logo pós a notícia do acidente apareceram as mensagens dizendo da culpa era da Venezuela, de onde seria a empresa.  Mas também teve os de esquerda, que disseram que a culpa era da ANAC, que teria impedido que a Chape viajasse com um avião venezuelano.

Ninguém acusou ainda Lula, mas se fosse outros tempos… Quem não lembra a queda do avião da TAM em Congonhas, anos atrás.  A Folha colocou com chamada em primeira página um de seus colunistas dizendo que a culpa era toda do então presidente. Era só o começo..

Em meio a chuvas e trovoadas, viva a Chape, campeã sulamericana.

João Sucata

Redação

1 Comentário

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  1. o….

    O acidente serviu para mostrar que o Brasil pode até sair do 5.o Mundo mas o 5.o Mundo não sai do Brasil.  Todas nossas desculpas de dificuldades, de pobreza, de distância, de isolados no meio da Amazônia, de América Latina, de falta de tudo, principalmente auto respeito e amor próprio, foram jogados por terra, quando surgiram as atitudes do clube, das autoridades, mas principalmente do povo colombiano. Que lição?! Que baile?!  

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