Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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O golpe, a salvação de Cunha e a história como um equívoco, por Aldo Fornazieri

O golpe, a salvação de Cunha e a história como um equívoco

por Aldo Fornazieri

Ainda existe e existirá forte polêmica acerca da natureza do processo político que levou ao afastamento da presidente Dilma Rousseff. Ou seja: o impeachment foi um processo legal e legítimo ou foi um golpe de Estado? Com o passar do tempo, este embate perderá importância política imediata, mas continuará como uma longa batalha pelas décadas futuras no âmbito da historiografia. O que estará em jogo é uma disputa de narrativas e de interpretações acerca dos acontecimentos históricos ocorridos no presente.

Existem dois tipos de equívocos naqueles que dizem que o afastamento de Dilma não foi um golpe. O mais simples é  aquele que identifica o golpe de Estado apenas como uma intervenção militar que afasta o governante legítimo e instaura um regime de força. Para estes, bastaria ler o verbete “Golpe de Estado” do Dicionário de Política de Norberto Bobbio para perceber o reducionismo de seus raciocínios. Bobbio nota que o conceito de “Golpe de Estado” é pluralista e vai mudando de significado ao longo da história.

Surgido no século XVII, somente a partir do século XX, o coup d’Etat teve como atores principais chefes militares, detentores da força na burocracia estatal. A questão de um golpe de Estado, indica o verbete, é quem o faz. E neste aspecto, há uma constante histórica nos golpes de Estado: “é um ato de órgãos do próprio Estado”. Pode ser desfechado pelo próprio governante, por lideranças políticas do governo ou da oposição, por funcionários da burocracia civil, por militares ou por uma combinação desses vários segmentos.

Dentre os cinco principais indicadores destacados por Bobbio para caracterizar o golpe de Estado, um chama a atenção: “As consequências mais habituais do golpe de Estado consistem na simples mudança da liderança política”. Se o golpe é militar, normalmente ocorre a dissolução dos partidos políticos, repressão e restrição de direitos. Quanto aos partidos, não parece ser o caso presente, com exceção de um notório golpista – Gilmar Mendes – que quer dissolver o PT.

Desfeito o equivoco daqueles que reduzem a ideia do golpe de Estado a uma intervenção militar, resta um segundo equívoco, mais difícil de combater: a ideia de que não se trata de um golpe porque o impeachment seguiu um rito previsto na Constituição e teve um amplo direito de defesa. É preciso observar que nem tudo o que é praticado em nome da lei e da Constituição é legal e constitucional. Tanto em 1964, quanto nos confiscos de Collor de Melo, o Supremo Tribunal Federal conferiu constitucionalidade a atos flagrantemente anticonstitucionais.

Já existem evidências legais suficientes para sustentar a tese de que os atos de que Dilma é acusada de crime de responsabilidade não constituem crime de responsabilidade. Se a natureza de um golpe de Estado diz respeito a quem o pratica, aqui surge o problema da sua essência: Bobbio resgata o conceito francês de golpe de Estado caracterizando-o como “uma violação deliberada de formas constitucionais por um governo, uma assembleia ou um grupo de pessoas que detém autoridade”. No caso do afastamento de Dilma, houve uma conspiração deliberada de parcela do governo, de boa parte da Câmara dos Deputados e do Senado (assembleias) e de setores situados no Judiciário (STF, etc.) e no Ministério Público.

Sem subtrair os enormes erros do governo Dilma e do PT, é preciso analisar também o processo do golpe, aqui apenas indicado: boicote ao governo no Congresso por parte do PMDB e de outros partidos que integravam o governo; articulações sediciosas de lideranças governistas com a oposição, com setores do Judiciário e com o presidente da Câmara; sedição do PMDB, revelada por Sérgio Machado, com o objetivo de tomar o poder e bloquear a Lava Jato e evitar prisões; ações politicamente orientadas do juiz Moro, do Ministério Público, do TCU e de juízes do STF e de tribunais superiores.

O impeachment foi uma grande farsa, comandada por grupos de interesse que ser articularam dentro e fora das instituições e na grande mídia. Lamentavelmente, a farsa foi convalidada pelos partidos de esquerda e pelo próprio governo Dilma na medida em que participaram do processo. O governo, o PT e os demais partidos de esquerda acreditaram nas suas próprias ilusões, apostaram em forças institucionais que não tinham e revelaram o quanto a esquerda é pueril e inconsequente. A forma mais correta de enfrentar o golpe consistia em deslegitima-lo desde o início, não participando da farsa dos ritos do impeachment e de defesa nas casas legislativas.

A salvação de Cunha e o custo do impeachment

A última votação no Senado acerca do relatório do impeachment sinaliza que Dilma será afastada em definitivo com o voto contrário de mais de 60 senadores, circunstância que mostra que ela e o PT vêm perdendo forças desde que foi afastada da presidência. Mas o afastamento de Dilma não será o último ato formal do golpe. Esse ato consistirá na salvação do mandato de Eduardo Cunha. Este movimento está sendo articulado na Câmara dos Deputados, com o aval de seu presidente, Rodrigo Maia, e pelo Palácio do Planalto.

Cunha será salvo por duas razões: 1) porque controla, ainda, parte significativa da Câmara, pois muitos deputados lhe devem favores; 2) porque, se cair, representará um enorme perigo para os ocupantes do Palácio do Planalto com uma provável delação premiada. Cunha joga com a arma na qual é perito: a chantagem. Foi assim com Dilma e está sendo assim com Temer. Consumado o afastamento de Dilma e se se confirmar a salvação de Cunha, o caráter conspirador do impeachment ficará ainda mais indesmentível.

Com a área limpa das principais indefinições políticas – Dilma e Cunha – o governo terá condições de avançar para consolidar o seu programa via a aprovação do PEC 241, em meio a várias concessões aos governadores e aos deputados e senadores que votaram pelo afastamento de Dilma, dificultando o ajuste fiscal. A redução de direitos trabalhistas e sociais será inevitável.

O outro viés que se acentuará, será o da repressão aos movimentos sociais, numa articulação entre o Ministério da Justiça e governos estaduais. Há que se acompanhar também qual será a conduta do STF, do Ministério Público e do juiz Moro em face de denúncias pendentes e de delações que atingem figuras do atual governo e do PSDB. Tudo indica que o judiciário entrará no jogo das protelações, buscando acomodar-se ao estado de coisas do novo governo.

A história do Brasil como equívoco lamentável

Tudo isto somado, começará o jogo de longo prazo: o jogo das narrativas e das biografias. As circunstâncias do afastamento de Dilma e o significado do atual governo sinalizam a tendência de que o processo em curso será visto com os olhos desabonadores da historiografia. O processo será visto como um golpe de Estado. Mesmo que os vitoriosos de hoje sejam vistos como golpistas amanhã, não terão muito que lamentar. Em primeiro lugar, venceram e exercerão o poder. Em segundo lugar, tendem a se salvarem dos percalços da justiça, dada a natureza cúmplice do judiciário brasileiro.

Em terceiro lugar, e isto é trágico, as narrativas, a historiografia e as biografias no Brasil não significam grande coisa. No Brasil há uma convivência promíscua entre a tragédia e a farsa, entre a moralidade e a corrupção, entre a dignidade e a covardia, entre a grandeza e a mediocridade. No Brasil, nem a biografia dos malvados deixa lições negativas e nem a biografia dos heróis (se é que os há) deixa lições positivas. Nem as biografias e nem a historiografia são capazes de exercer a pedagogia do exemplo reclamada por Maquiavel. Com um histórico de vários golpes, os brasileiros não aprenderam o valor da democracia e não têm compromisso com ela. Sérgio Buarque de Holanda asseverou que a democracia, no Brasil, é um grande mal entendido. Na verdade, deve-se acrescentar que a nossa história é um grande mal entendido, um enorme desconforto, uma junção de fatos lamentáveis.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. 

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

21 Comentários

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  1. Democracia Mostrenga então…

    com um poder executivo eternamente sob marcação cerrada de três estados paralelos e fechados em si, acrescento

    marcação que sempre nos leva a confundir o erro com a pessoa

    portanto sob marcação três ilegalidades que levam tudo para o lado pessoal ” eu sou o Estado “

    eu diria que nossa história é lixo puro justamente por isso, porque como temos três ilegalidades paralelas e um executivo, incluindo a mídia sempre alheia ou fora da sua função principal, nada corrigimos, só trocamos ou substituímos erros por mais erros

    mas, vez em quando, e no caso do executivo não atender interesses escusos, podemos dizer que além de trocarmos erros por mais erros, também punimos, mas só a pessoa

  2. Golpe Fascista

    É um golpe, sim !  Um golpe com valores fascistas.

    Um golpe executado por parlamentares corruptos, controlados pela elite econômica.

    Tudo com a proteção e cumplicidade dos Tribunais, do Ministério Público e da “grande” mídia.

  3. Professor Aldo, parabéns pelo

    Professor Aldo, parabéns pelo texto! Ficarei com seu último parágrafo: aqui em Bruzundanga o povo nunca conheceu democracia e portanto não sabem o que ela significa.

    Este é o único país populoso do mundo ocidental que jamais houve uma revolução do povo que levou a independêcia (EUA), mudança de fato na forma de governo (Russia, China) ou no trato com a cidadania (Revolução Francesa). Somos um povo sem rumo.

  4. O maior dos erros foi Dilma

    O maior dos erros foi Dilma não ter chamado eleições diretas pra presidente quando o impechment era inevitável. Pois com a renúnica dela e do vice, os brasileiros iriam ter escolhido um novo presidente e, principalmente, evitaria que Temer e sua corja de desqualificados apoiados pelo que há de mais retrógrado no país recebessem o poder numa bandeija de prata. Vimos como o país é frágil = tendo o azar de ter nos cantos opostos do ringue uma presidente absolutamente incompetente no mínimo de articulação políica e do outro uma das figuras políticas mais inescrupulosas que eu já vi, Eduardo Cunha, não houve nenhum freio que funcionasse pra chegar aonde chegamos. STF se revelou de uma pequeneza tamanha= Teori votou se podia ou não entrar comida no cinema, mas não pelo afastamento de Eduardo Cunha antes de ele concluir o impeachment. Nossos homens públicos ganham salário de categoria internacional, mas prestam um serivço de décima terceiro mundo. 

    1. É contraditório seu

      É contraditório seu raciocínio: primeiro culpa a Dilma e depois acha mais uma penca de culpados. Não tenho dúvida que culpar Dilma significé como culpar a mulher (não a presidenta), pelo seu próprio estupro.

      1. Contraditório aqui é você, Clovis !! Reflita.

        Afff….Você é que não entendeu nada do comentário do Joel. Seja honesto na crítica porque a contradição que você vê nesse comentário é toda sua !!!  Por que?? Porque, primeiro, o comentarista deixou claro que  – PRÁ ELE –  o que existe são DOIS POLOS [ DOIS PERSONAGENS no ringue da disputa do impeachment ]: 1) A Dilma [referindo-se claramente à Presidente do país pelo seu nome civil, algo muito comum porque na intenet há essa liberdade de nos referirmos à autoridas públicas sem a necessidade de usar de formalidades quanto ao uso de pronomes de tratamento em função do cargo, certo?]; 2) e os opositores inescrupulosos [ referindos-e especificamente ao parlamentar Cunha e também ao apoio recebido do stf nessa jogada do impeacment].

        Apesar de você negar, no comentário do joel, ficou explícito que ele se refeiriu – o tempo todo –  à Dilma como Autoridade Pública, ou seja, à Presidente do país ou, se preferir. á 1° Mandatária da Nação,  e NÃO à mulher da Presidente da República. Essa interpretação sua de se estar a “culpar a mulher e não a Presidenta” não reflete a verdade exposta no comentário em questão. Isso é pura distorção sua, nada mais do que isso. Por que a pressa nessa crítica quanto ao gênero feminio/masculino da pessoa do/a Presidente/a da República?? O problema quanto à isso é seu, só seu..

        Voce acha mesmo que o fato de Dilma ser mulher e ocupar o cargo de maior destaque  – o de 1° mandatária da Nação –  a exime das responsabilidades que o cargo por ela ocupado acarreta?? Qual o problema de o comentarista Joel apontar em seu comentário o fato de Dilma[referindo-se à Presidente] ser ” presidente absolutamente incompetente no mínimo de articulação políica” ??  Se voce não concorda, tudo bem, mas distorcer o cometário dele para não apresentar argumentos contrários honestos é de lascar…

        Veja bem…, comparar o impeachment ao crime de estupro já é um despropósito total, porque no estupro a violência é contra a pessoa da mulher, mas no impeacment a questão central é centrada na figura da pessoa pública que exerce um cargo político, e isso independente da figura pública/política ter sexo feminino ou masculino. E Getúlio Vargas, Joao Goulart são exemplos disso…

        Discordar é fácil; o difícil é sustentar a crítica no campo das idéias apelando para o bom senso e argumentos honestos..

        #DebateHonestoJá! 

         

         

         

         

         

         

         

         

         

         

         

         

         

  5. Esse consenso em torno do impeachment não vai durar muito tempo.

    Esse consenso em torno do impeachment não vai durar muito tempo. Os grupos empenhados em promover o golpe são muito heterogêneos e com muitas pendências na justiça e rivalidades entre si. A narrativa dos golpistas só deverá durar até a derrubada da presidenta. É uma questão de conveniência momentânea que atende a todos os grupos. A partir do momento que o golpe se consumar o consenso termina.

    Dificilmente haverá harmonia e paz no país com um presidente ilegítimo, corrupto e frágil. Será um verdadeiro banzé, uma espécie de briga de rua generalizada no país. Ninguém vai querer sair perdendo, todos os envolvidos vão querer “o seu”. Além disso, o Eduardo Cunha é uma espécie de bomba relógio que pode explodir a qualquer hora e implodir o governo. Tentar preservá-lo é tão perigoso quanto descartá-lo.

    É difícil prever quais serão as consequências quando esse governo golpista começar a efetivamente meter a mão nessa cumbuca das reformas trabalhistas e previdenciárias e nos aumentos de impostos. Uma coisa é certo, esses dois anos de governo interino não será um passeio num campo florido com girassóis imensos.

    1. Se na França que tem um povo

      Se na França que tem um povo DE VERDADE conseguiram fazer essas reformas, não vejo pq com esse zé povinho daqui nmão seria um passeio.

  6. Salvação de Cunha é muito incerta

    Não tenho tanta certeza da salvação de Cunha, pois:

    1) porque controla, ainda, parte significativa da Câmara, pois muitos deputados lhe devem favores.

    A) Realmente muitos deputados devem favores ao Cunha, e dever favor é sempre uma situação desagradável, muitas vezes é mais facil se livrar do credor do que da divida.

    B) Politica trata do futuro, da próxima eleição e neste caso acho que Cunha perdeu muito de sua utilidade. A presença de Cunha é uma sombra indesejavel para Temer, Rodrigo Maia entre outros, ele impede que os novos atores de exercerem todo o seu poder.

    2) porque, se cair, representará um enorme perigo para os ocupantes do Palácio do Planalto com uma provável delação premiada. Cunha joga com a arma na qual é perito: a chantagem.

    A) Se tem algo que a lava-jato mostrou é que as denuncias tem peso relativo, mesmo que Cunha tenha documentos mortais contra os deputados, presidente, ministros, etc. estas “provas” podem dormir indefinidamente nas gavetas dos tribunais e afins. O mais provavel é que outra entidade assuma a posse destas “provas” e do poder que elas representam.

    B) A esposa e a filha de Cunha estão envolvidas nas negociatas, se ele criar caso, vai botar a familia toda em cana.

     

    Enfim, acredito que Cunha vai perder o mandato, vai enfrentar processos, mas não acredito que seja preso e se for, vai ser por um periodo muito curto de tempo (só pra dar uma satisfação para a sociedade)

    1. E se Cunha chegar a ir em

      E se Cunha chegar a ir em cana, vai ser com tornozeleira eletrônica e em alguma mansão que ele comprou com o dinheiro que roubou de nós – e não uma prisão estilo josé dirceu, isso nunca. 

      Tenho um casal amigo que tem duas filhinhas pequenas e que estão pensando se tentam ou não recomeçar a vida no exterior, tamanho é o desânimo que estão tendo com a política.  Eu digo a eles que deveriam sair do país, pois nossa elite aqui sofre de mania de pequeneza em grau mórbido rss Países como Rússia e China possuem uma elite que tentam fazer do seu país um país importante, uma potência, um império – por mais injustificáveis que sejam os meios para atingir isso [restrição de liberdade de expressão,, desrespeito aos direitos humanos, guerras, esmagamento de minorias que se rebelam, etc]. Aqui nossa elite quer é vive no bem bom, tendo um escravo, quer dizer, um empregado pra lhe fazer todas as tarefas, como tirar a toalha da cama, e , no caso da elite financeria, ainda ganhar dinheiro sem ter o risco de produzir um alfinite. Não veja como isso possa mudar num longo, longo prazo, infelzimente. 

  7. Verdade dolorida

    O último parágrafo é uma verdade muito dolorida e é “a” explicação para todos os males que sofremos.

    Povo sem educação, sem memória, produto de anos e anos de alienação e adestramento…

  8. Para não dizerem que sou implicante.

    Prezados leitores,

    Os que leram o texto se depararam com as seguntes passagens, no penúltimo e último parágrafos do tópico de abertura do artigo:

    “Sem subtrair os enormes erros do governo Dilma e do PT, é preciso analisar também o processo do golpe, aqui apenas indicado: boicote ao governo no Congresso por parte do PMDB e de outros partidos que integravam o governo; articulações sediciosas de lideranças governistas com a oposição, com setores do Judiciário e com o presidente da Câmara; sedição do PMDB, revelada por Sérgio Machado, com o objetivo de tomar o poder e bloquear a Lava Jato e evitar prisões; ações politicamente orientadas do juiz Moro, do Ministério Público, do TCU e de juízes do STF e de tribunais superiores.”

    “O impeachment foi uma grande farsa, comandada por grupos de interesse que ser articularam dentro e fora das instituições e na grande mídia. Lamentavelmente, a farsa foi convalidada pelos partidos de esquerda e pelo próprio governo Dilma na medida em que participaram do processo. O governo, o PT e os demais partidos de esquerda acreditaram nas suas próprias ilusões, apostaram em forças institucionais que não tinham e revelaram o quanto a esquerda é pueril e inconsequente. A forma mais correta de enfrentar o golpe consistia em deslegitima-lo desde o início, não participando da farsa dos ritos do impeachment e de defesa nas casas legislativas.”

    Reparem que  Aldo Fornazieri não consegue elaborar qualquer artigo sem lançar mão daquela manjadíssima técnica, ‘uma no cravo, outra na ferradura. Mesmo que não faça qualquer sentido ou não seja útil ao desenvolvimento das idéias centrais, Aldo sempre dá um jeito de apontar ‘armas’ e criticar a Esquerda, sobretudo o PT e os governos petistas. Ele e outros chamados ‘intelectuais esquerdistas’ pensam assim garantir espaço no PIG/PPV, para divulgar artigos, livros e trabalhos acadêmicos. Os egos e vaidades desses ‘intelectuais esquerdistas’, assim como os o dos magistrados, não conhecem limites. Enquanto isso a direita golpitsa se refestela na pilhagem do Estado Brasileiro e dá risada desses vaidosos. O Romulus foi didático e preciso ao mostrar as contradições e fragmentação da Esquerda.

  9. Somos fruto da “inteligência” do senso comum.

    “…  e isto é trágico, as narrativas, a historiografia e as biografias no Brasil não significam grande coisa. No Brasil há uma convivência promíscua entre a tragédia e a farsa, entre a moralidade e a corrupção, entre a dignidade e a covardia, entre a grandeza e a mediocridade. No Brasil, nem a biografia dos malvados deixa lições negativas e nem a biografia dos heróis (se é que os há) deixa lições positivas. Nem as biografias e nem a historiografia são capazes de exercer a pedagogia do exemplo reclamada por Maquiavel. Com um histórico de vários golpes, os brasileiros não aprenderam o valor da democracia e não têm compromisso com ela. …”.

    Como um povo pode compreender a essência dos valores democráticos, das liberdades, dos direitos se quase a totalidade desse povo sequer derramou gotas de suor para conquistá-los? Não se valoriza aquilo que não se batalhou verdadeiramente para conquistá-lo. E a história dos povos nos ensina sobre isso.

     

    1. O saudoso Ivan Lessa, sempre

      O saudoso Ivan Lessa, sempre referiu-se a nós como ‘O Bananão’, por anos isso me irritou profundamente. Ele tinha razão, que merda!

  10. Que pena. Mas vamos à luta!

    Não foi falta de aviso:

    – “Não gosta do PT, de Dilma e Lula? Nem eu. Mas evite nesse momento as críticas. Não é preciso ser bidu para antever a alternativa a esse partido no poder institucional, e nem que essa alternativa será catastrófica para o nosso país. Você viu Aloysio Nunes Ferreira dando o tom e o ritmo dessa alternativa? ‘Não quero tirar Dilma, quero é vê-la sangrar'”. Não viu Aécio Neves da Cunha e sua irmã Andrea no “imbroglio” da Cidade Administrativa, em BH e na perseguição a Marco Aurélio Carone?

    Tempos tenebrosos nos esperam. E, de novo, não é preciso ser bidu.

    ***

    Ok, talvez não seja simples assim. O que podemos nós contra a chegada do achaque que o capital internacional “us dolar based” vem promovendo contra governos de outros países desde 2008, contra o Euro e os BRICS? Temos poder para evitar a chegada da recessão, se nem o governo federal tem? Temos como conter um judiciário que se mostra ilegal desde o “Mensalão”? Ou até antes disso, desde o Banestado, a Satiagraha, Vampiros da Saúde, Privataria Tucana… faz tempo que o Judiciário comete barbaridades nas nossas caras e só fazemos babar o lustro de FHC, uma criticazinha aqui, outra ali mas só.

    Ok, Cunha e Temer ameaçam nosso país, nossa democracia. Mas até que ponto o PSDB não os usa como bois de piranha, em rio cujas piranhas somos nós? Estaremos mordendo o boi certo? De quem é, afinal e historicamente, o projeto de Brasil que está sendo tocado pelo PMDB? Aliás o PMDB de Cunha alguma vez teve algum projeto? Já o PSDB dessa corja além de Geraldo Alckmin sempre teve: manter o Brasil pequeno, pobre, sem saúde nem educação, desarticulado para que eles se impusessem como os líderes lustrosos, para que eles ou seus prepostos vendam-nos saúde e educação. Usando expressão da moda, Democracia mas só até a página dois. “O povo, oras… o povo é ignorante, nós devemos conduzí-lo. Democracia mas só enquanto nós mandarmos, centralizadamente. Nada de democractizar poderes, nem econômico nem político.”

    E assim mantemo-nos por mais algum tempo usurpados da prática política, necessária ao amadurecimento do povo, do país… Postergamos mais um pouco nossa nação.

  11. Vol. 1 de 3

    Velha questão: direita unida, esquerda estilhaçada. Vol. 1: Por quê?, por Romulus      

     ROMULUSSAB, 13/08/2016 – 08:06ATUALIZADO EM 13/08/2016 – 08:07

    Velha questão: direita unida, esquerda estilhaçada. Vol. 1: Por quê?

    Por Romulus

    – O mito do conflito entre irmãos ao ponto do fratricídio povoa a psique humana desde sempre: Seth e Osíris, Caim e Abel, Esaú e Jacó, Romulo (opa!!) e Remo…

    – Esquerda e direita: de um lado, guerra fratricida. Do outro, irmãos trabalhando (juntos) em uma empresa familiar.

    – A distância entre a “vaidade” na esquerda e o “preço” na direita.

    *   *   *

    De um lado guerra fratricida. Do outro, agem como irmãos em uma empresa familiar: a distância entre a(s) “vaidade(s)” na esquerda e o(s) “preço(s)” na direita.

    É interessante notar como a direita – pragmática que só ela – consegue aparar arestas e fazer convergir seus interesses com muito mais facilidade do que as esquerdas.

    E isso em qualquer lugar do mundo: há um filme do neorrealismo italiano (o nome me escapa agora) em que, numa cidadezinha, prendem-se na carceragem de uma delegacia todos os militantes locais das esquerdas: stalinistas, trotskistas, maoístas, anarquistas, etc.

    Há, momentos depois, um diálogo antológico entre os dois agentes do conservadorismo no local:o prefeito e o delegado. Esse último expressa ao primeiro seu temor em ter aqueles militantes – “todos vermelhos” – na mesma cela. Teme que, confinados, conspirem e formem uma frente perigosíssima, capaz de subverter a ordem da cidade.

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  12. Vol. 2 de 3

    Velha questão Vol. 2: cláusula de barreira, por Romulus      

     ROMULUSDOM, 14/08/2016 – 10:52

    Velha questão: direita unida, esquerda estilhaçada. Vol. 2: cláusula de barreira

    Por Romulus

    – Fenômeno da fragmentação da esquerda não ocorre só no Brasil: na França, com eleições no ano que vem, o presidente Hollande terá de se submeter a prévias no PS, caso tente a reeleição. Há, também, uma miríade de candidatos mais à esquerda.

    – Já no Brasil, a cláusula de barreira ensaia o seu retorno.

    – Prof. Wanderley G. Santos: os tempos são tenebrosos! Ilumine a nós com mais um brilhante artigo. Agora sobre a cláusula de barreira, por favor. 

    – Sabe quem a patrocina desta vez, professor? Vem pelas mãos de não outro que Aécio Neves!

    – E de Gilmar Mendes e do STF também?

    – Sim, pode ser: tudo é possível no Brasil de Cunha/Temer, Gilmar – e Janot!

    *   *   *

    França

    A fragmentação das esquerdas não é um fenômeno que ocorre apenas no Brasil. Na França, por exemplo, com eleições gerais no ano que vem, o presidente Hollande terá de se submeter a prévias dentro do seu partido caso tente a reeleição. Há diversos outros pré-candidatos.

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  13. Vol. 3 de 3

    Velha questão Vol. 3: a complicada relação PT x PSOL, por Romulus      

     ROMULUSSEG, 15/08/2016 – 08:01ATUALIZADO EM 15/08/2016 – 12:07

    Velha questão: direita unida, esquerda estilhaçada. Vol. 3: a complicada relação PT x PSOL

    Por Romulus

    – A esquerda “pura”: “não fazer política” é também “fazer política”, ora.

    – Nicho nanico mas certo: o conforto do pequeno, mas seguro, quartinho na casa dos pais.

    – Minorias relevantes da sociedade a quem o “petismo” não apela: esquerda “pura”, anti-petistas e “centristas”.

    – Perspectivas temporais diferentes: (i) a “Guerra” e (ii) as “batalhas”. Ou seja, a luta de 10 mil anos entre proprietários e despossuídos; e a luta de cada geração em particular dentro desse conflito (eterno).

    – Da metáfora à realidade: PT, lesa ao Estado e fim do Estado do bem-estar.

    – Exemplos concretos: diferença entre exceções e avessos. As atuações de Jean Wyllys, Paulo Pimenta, Tarso & Luciana Genro.

    – Bônus (de peso): Delfim Netto, a cabeça por trás do fim do Estado social da Constituição de 88. Resisto e não usarei a expressão “gênio do mal” (bem… não usarei de novo, né?).

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  14. Trilogia de posts depois de ler seu artigo da semana passada

    Professor,

    O Sr. por acaso viu a trilogia de posts, que publiquei aqui no GGN nos ultimos dias, sobre a divisao das esquerdas?

    Comecei a escrever a serie depois de ler o seu artigo da semana passada.

    Na verdade, tudo começou com um comentario que ia postar la.

    Ficou grande demais e virou post.

    Que tb ficou grande demais e virou 3 posts.

    Rs

    Ficaria muito feliz de saber a sua opiniao sobre eles.

    Abs

    Para facilitar, posto os 3 aqui embaixo:

  15. contato JESSÉ DE SOUZA

    gostaria de receber um e-mail de Jessé de Souza para entrar em contato com ele. Alguém poderia me fornecer?

    Obrigado

    Alexandre Faccioli

     

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