O nosso destino se o “ajuste” de Levy for levado às últimas consequências, por J.Carlos de Assis

Aliança pelo Brasil

O nosso destino se o “ajuste” de Levy for levado às últimas consequências

J. Carlos de Assis*

A sociedade brasileira tem o direito de saber o que virá depois do “ajuste fiscal” imposto ao País pelo ministro Joaquim Levy. O sacrifício em termos de perda de emprego, de salários, de investimentos em infraestrutura, de bem-estar social embutido em mais de R$ 140 bilhões de cortes de gastos públicos é grande demais para não ter uma contrapartida clara em termos de benefícios. E o que Levy prometeu, até agora, não passa de “ajuste” em cima de “ajuste”, numa escalada que nos levará da estagnação de 2014 à depressão em 2015.

Isso sem levar em conta a insanidade em curso em torno da Operação Lava Jato, que ameaça reduzir até as operações normais da Petrobrás, quebrar empreiteiras e fornecedores brasileiros, por na rua cerca de 500 mil trabalhadores, quebrar a cadeia produtiva, de pagamentos e recebimentos num segmento que representa algo como 13% do PIB e fazer afundar a sociedade brasileira num inferno social e político a pretexto da defesa de uma moral especiosa imposta por um bando de procuradores doutrinados por apostilhas de concursos.

Naturalmente, usando a linguagem neoliberal, Levy nos diz que com o “ajuste” se restabelecerá a confiança do empresariado na política econômica, e a restauração da confiança induzirá o empresariado a investir mais, assegurando o crescimento. Isso é puro charlatanismo. Não tem nenhuma base na realidade. Atribuir a retomada da economia a um fator psicológico é uma empulhação descarada. Empresário só investe quando tem a perspectiva de vender seus produtos. Ninguém investe para acumular produtos na prateleira.

Para o empresário vender bens produzidos, é preciso que haja demanda. E o tal “ajuste” fiscal é a forma mais simples, mais direta, mais eficaz de liquidar com a demanda na economia. De forma similar, o aumento e manutenção da taxa básica de juros em níveis escatológicos é outra forma de reduzir a demanda. E piorar as condições de empréstimos de longo prazo do BNDES é cortar na carne dos investimentos dos poucos empresários que ainda teimam em investir nessa economia em estagnação, caminhando para a depressão.

Já escrevi aqui que reconheço os poucos graus de liberdade da política econômica brasileira em face do extremo risco para a estabilidade cambial que representa o déficit em conta corrente que, no ano passado, atingiu 91 bilhões de dólares. Ele é crescente nas condições neoliberais É para cobrir este déficit, que resultou de uma política cambial irresponsável, que precisamos de taxas de juros escatológicas . Talvez fosse possível um pouco menos, mas de algum nível elevado de taxa de juros não temos como nos escapar.

Em condições neoliberais, estamos condenados também a fazer algum superávit primário. No ano passado, quando corretamente fizemos um déficit de caráter keynesiano para estimular a economia, a grande imprensa catequizada pelas agências de risco e pelo capital especulativo caiu de pau no ministro Mantega como se ele tivesse cuspido na cruz. Portanto, perdemos soberania na política macroeconômica. E isso, sim, nos levaria a um “ajuste” moderado, enquanto se prepararia para uma política restauradora pós-ajuste.

Mas de que nos fala Joaquim Levy para o futuro? Nada, rigorosamente nada. Apenas essa farsa do restabelecimento da chamada “confiança” do empresariado, como se isso fosse uma mágica saída da cartola dos fanfarrões neoliberais. Diante desse quadro exasperante, que em grande parte é manipulado por golpistas que querem ver aprofundada a crise econômica para a desestabilização do Governo e revogação do resultado das últimas eleições presidenciais, lançamos a Aliança pelo Brasil, com grande adesão dos movimentos sociais.

Nós, da Aliança, temos uma proposta para depois do “ajuste”, que poderá ser moderado, a despeito dos condicionamentos macroeconômicos. Nessa proposta, que estamos discutindo na sociedade e com alguns integrantes do Governo, sugerimos uma grande articulação com a China,  para que a China faça o outsourcing dos metais de que precisa em território brasileiro e sul-americano, garantindo, diretamente ou pelo Banco BRICS,  o financiamento do investimento na transformação mineral e a demanda do produto acabado.

Trata-se de integração produtiva com a China, não integração comercial. Integração comercial não nos interessa seja com a China, seja com os EUA ou com a Europa. Eles esmagariam a nossa indústria manufatureira e, sobretudo, a de bens de capital. Já integração produtiva significa gerar emprego, gerar valor agregado, gerar reservas cambiais. Com isso, a médio prazo, podemos equilibrar o balanço de pagamentos. E até lá poderíamos usar parte de nossas reservas internacionais, sem risco de crise cambial, para reduzir a taxa de juros.

Da mesma forma, com esse grande acordo financeiro estratégico com a China para financiar a industrialização de produtos primários no Brasil abrindo caminho para o resto da América do Sul num esquema BRICS-Unasul, poderíamos imediatamente liberar a política fiscal para fazer um déficit fiscal moderado, de estilo keynesiano, para incentivar imediatamente a demanda agregada. Não precisaríamos de temer a ditadura das agências de risco pois as nossas reservas estariam protegidas pelo acordo produtivo com a China.

Dirão: já combinaram com os chineses? Não precisa. Os chineses já deram o sinal. Há poucas semanas o Conselho de Estado da China anunciou que incentivará as empresas do país a investirem em siderurgia e metalurgia no exterior. De fato, em 2014 a China já se tornou  investidora líquida no exterior, ou seja, investindo mais fora do que recebendo investimentos do exterior. Isso significa que o caminho está aberto para o Brasil. Um programa nessa escala seria nossa redenção econômica por décadas. Dele darei mais detalhes no próximo artigo.

*J. Carlos de Assis – Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

 

 

Redação

28 Comentários

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  1. Procurei e não encontrei o

    Procurei e não encontrei o nome da Dilma no texto.

     

    Devia ter, pois ela é a responsável pelo ajuste, assim como FHC foi o responsável pelos ajuste de sua época.

    1. Concordo com a auditoria, mas não agora

      Primeiro prepara o terreno para a governabilidade, com o Brasil com Rumo, Norte e Estrela, ai sim, pega e audita, faz marola e se der afunda a barca dos rentistas.

      1. Boa ideia! A Argentina também

        Boa ideia! A Argentina também decidiu suspender o pagamento da dívida em 2001, com os resultados positivos que conhecemos. Hoje é um país respeitado, com crédito e em franco desenvolvimento.

  2. o artigo não menciona a

    o artigo não menciona a questão inflacionária, a causa do ajuste levy.. há muito o keynesianismo morreu, a sociedade brasileira não mais tolera inflação, se não for controlada é o fim do governo progressista do pt. palavra do expert.

  3. Ué, agora o ajuste é “do

    Ué, agora o ajuste é “do Levy”? Mas não é a Dilma que é Presidente da República?

    Se o governo não assumir a paternidade do ajuste, vai acabar mal…

    1. O Levy é o cobrador da Banca a Dilma a maestrina do Brasil

      O ajuste que a Dilma tem de fazer é  na administração pública, com a reforma ministerial que lhe devolva o comando das ações estratégicas do país e o controle do seu caixa.

      Dilma, faz a reforma ministerial com 14 pastas e 72 secretarias, assuma o comando e deixa este povo da mídia falando sozinho.

  4. E vamos, que vamos

    Após o Tesouro Nacional ter anunciado ontem um resultado primário de R$ 10 bilhões do Governo Central em janeiro, abaixo das expectativas do mercado e da própria equipe econômica, o governo limitou ainda mais as despesas públicas no ano. ..

    Os tetos mais elevados são os dos ministérios da Saúde, Educação, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e Defesa, com limites de, respectivamente, R$ 28,1 bilhões, R$ 9,9 bilhões, R$ 9,8 bilhões e R$ 3,3 bilhões. Foram fixados ainda outros R$ 15,1 bilhões como pagamentos máximos relacionados ao Programa de Aceleração dos Investimentos (PAC).

    http://brasileconomico.ig.com.br/brasil/2015-02-27/governo-federal-decide-limitar-ainda-mais-os-gastos-publicos.html

  5. O problema é convencer a

    O problema é convencer a cabeça dura da Dilma. Por mais que a população se organize contra essas medidas, não acredito que ela mude o Ministro Levy e suas medidas ortodoxas.

  6. A ideia de de integraçao

    A ideia de de integraçao produtiva parece bem promissora. E é isso que é necessário: ideias novas. Renuncia fiscal e marcha forçada de investimentos públicos já deu o que tinha que dar.

    O que também precisa ficar mais claro é: qual o limite entre o “ajuste moderado” keynesiano e a crendice na “fada da confiança”?

    Ou seja, pra mim a questão já não é mais econômica, é política. O jogo ganha ganha acabou. Por isso que fazemm tudo para enfraquecer o governo. O setor privado não quer e não vai abandonar o rentismo se não derem o que ele quer, ou seja, o que resta de patrimônio público, incluindo Petrobras e presal, e o arraso total no que eles chamam de “entulhos da era vargas”, como os Direitos Sociais e Trabalhistas.

    Na minha opinião aqueles que insistem em empurrar o “centro” pro colo da direita não temem como eu temo o que viria a ser o “ajuste” pra essa turma.

  7. É por isso que o Brasil está

    É por isso que o Brasil está nessa draga total. Muito economista que “sabe” teoria e não tem o menor comprometimento com a realidade falando as asneiras que o J. Carlos de Assis fala.

    Administrar uma empresa já é dificil. Para um economista, impossível. Imagine administrar um país…isso não é coisa pra gestores como Dilma ou sua Aliança Brasil. Isso é coisa pra administrador, pra profissional. 

    Tenho certeza que o economista e doutor que escreve o texto deve ter descido a lenha no único administrador que até hj participou do governo petista, Henrique Meireles. Foi esse administrador que elevou as reservas dos míseros US$30bi para US$ 300bi. Mas, para que um administrador que trabalha o presente e procurar resolver os problemas atuais, se temos milhares de economistas que tem todas as formulas para nosso futuro?

    Absurdo isso.

     

  8. Está me parecendo que a China
    Está me parecendo que a China deseja mesmo é retirar de seu território as indústrias poluidoras, transferi-las para paises que possuem matéria prima e ainda ficar com a preferência na compra do produto final. Em termos de desenvolvimento e geração de empregos é bom mas duvido que a administração vá permanecer em nas mãos dos países que aceitarem tal acordo. O Japão tomou essa providência nos anos 70 ou 80, se não estou enganado. Outra coisa, não sei como é a parte chinesa no contrato de exploração do pré-sal. Será que eles possuem o direito de transferir ou terceirizar sua parte? Se possuirem esse direito é bem provável que ofereçam aos EUA em troca de um outro acordo qualquer. Temos que entender que ambos são potências e não gostariam que países periféricos, como o nosso, viessem a interferir em seus planos estratégicos. Para os países centrais (as potências) não passamos de meros fornecedores de matéria prima, sem direito algum quanto a fixação de seus preços, controle da produção e administração das reservas. 

  9. no longo prazo…..

    proposta para depois do “ajuste”? “No longo prazo todos estaremos mortos” John Maynard Keynes! Ah, para os desavisados e ultraliberais bitolados, Keynes não era ‘comunista’. Na verdade era ‘anticomunista’.

  10. aiai…

    … Num tava ruim! quer dizer que vai continuar ruim! vai piorar?ué! eu acho que esses economistas são todos especulativos, num acertam uma. O levy tá colocando ordem onde a Dilma fez a festa;  o povo comeu, dançou e depois saiu falando mal. Acabou a festa; o Levy e a Dilma, está sim se afastando do sonho do PT que virou pesadelo. O povo de barriga cheia fala mal do servidor, pasciência agora, calma e canja de galinha não faz mal a ninguém, e  ” Todo castigo pra corno é pouco”.

  11. Levy o Troikaboy

    Por enquanto tudo dentro do script, não usaram nem Astrologia, nem Geometria e nem Tarot, que é o que funciona.

    O resto é Pão & Circo para o entretenimento dos escravos.

    Agora é sempre bom lembrar que em casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão.

    Acorda, Dilma!

  12. Dilma é um fenômeno =

    Dilma é um fenômeno = conseguiu pegar a maior das heranças benditas que um governante já pegou (que foi a condução muito competente da política econômica em seus dois mandatos – culminando com o seu acerto na crise de 2008, quando a maioria dos líderes mundias estava perdida ) e arrasou tudo, deixando ainda o último fio que não deixa a coisa ir pro buraco o baixíssimo desemprego. Se a habilidade política de Lula é enorme, a de Dilma é quase nula. A solução é a situação fazer um impeachment disfarçado de Dilma. O PMDB já tem as duas casas. Falta agora Lula, nos bastidores, voltar a conversar com a sigla e tentar consertar o máximo os erros de Dilma. Enfim, que ela só faça o papel de chefe de governo ( e mesmo assim, faz porcamente).  

    1. Joel, se pensarmos um pouco

      Joel, se pensarmos um pouco em como foi a gestão econômica na era Lula vamos perceber que após 2008 quando o país se segurou e superou a crise não houve investimentos para fortalecer nosso país econômicamente. A infraestrutura não avançou muito, nosso parque tecnologico não evoluiu, não foram feitos os ajustes fiscais que favoreceriam a produção e a geração de emprego/aumento da renda. Diante de tudo isso podemos concluir que o governo investiu mal quando teve a oportunidade e não preparou o país para possíveis crises futuras Sabemos também que a Sra. Dilma participou ativamente de todas as decisões do governo Lula, se não participou pelo menos acompanhou, e dessa forma não pode alegar desconhecimento e surpresa com o que está aí diante de nós.

  13. O Governo sozinho…

    Está levando o país para a recessão.

    Estas ações não se justificam.

    O povo brasileiro está endividado porque fez investimentos em coisas importantes.

    Estas decisões vão encerrar de forma vergonhosa os governos do PT.

    Foi como disse um colega de trabalho: Se o Aécio tivesse elegido e viesse tomando estas decisões, em 2018 o LULA vinha com 90% de aprovação.

    Realizar o abaixamento dos juros, uma hipótese ainda não testada.

  14. Sem pé nem cabeça

    O que vem de bom depois do ajuste ? Nada além de uma retomada lenta do crescimento.

    A festa do caqui já foi, agora é só limpar o pátio e pagar as despesas.

    Achar que a China vai vir  fazer siderúrgica no Brasil com nossas leis trabalhistas é uma piada. Como vão explicar para um chinês que o trabalhador no Brasil quer trabalhar só onze meses do ano e folgar um, e ainda por cima receber neste mes sem trabalhar. 

    Piada isso. A China só investirá no Brasil no dia em que os brasileiros aceitarem trabalhar pelo mesmo que trabalha um chines. 

    Vão investir fora da China ? Claro que vão. Em pouco tempo estaremos enviando minério de ferro para o Paraguai, para a Bolívia, para a Colombia, …

  15. A base do nosso crescimento,

    A base do nosso crescimento, ainda esta na microeconomia, bem vista pelo LULA. O Levy tá levitando, só olha para a macro. Deveria sentar em frente de uma caneca de vidro cheia dágua, esquentá-la até ferver, pra ver que a água sobe quente pelo centro da caneca, em cima esfria, se espalha para as laterais e desce para recomeçar o ciclo. A moeda é volátil, tem que ser esfriada em cima para ela voltar a descer, ou, botar mais fogo em baixo…né não ???

  16. Minha sugestão, como não sou economista, tem tudo pra dar certo

    Minha sugestão:

    1- Reduz-se a SELIC

    2- Separa a economia em setores

    3- Trimestralmente avalia os preços destes setores

    4- Aqueles em que tenha havido redução dos preços, os premia com desonerações tributárias  pelos próximos tres meses, com taxas vantajosas e proporcionais às reduções.

    5-  Segue este rocedimento trimestralmente, ” leiloando desonerações “.

    6- e, …nóis vai qui vai..né não ???

    Como não sou economista, tem tudo pra dar certo…é ou num é rapaziada ???

  17. A Mentira e a Guerra Civil
    1. Necessário dizer que a falta de competitividade da economia brasileira, num momento em que sobram toneladas e toneladas de produtos de alta qualidade e mais baratos, no exterior, eh um dos grandes responsáveis pela queda das exportações de produtos brasileiros e de outros países do mundo, e pela queda do preço das commodities. 2. A recessão, no Brasil, viria com ajuste fiscal ou sem ajuste fiscal, por conta das condições, negativas, do comércio internacional, descritas anteriormente. 3. Claro que, por questões políticas, os políticos e os partidos políticos começarão a dizer para a sociedade que o desemprego e a recessão são causados, apenas, pelo ajuste fiscal. 4. Será um discurso fatal, por que a população, afetada no emprego e na renda, no momento do desespero, culpará todos os políticos e partidos políticos pela sua situação de penúria, e, assim, o povo vai se revoltar contra o Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e Prefeituras Municipais, buscando “punir os responsáveis”, por que a população não está sendo esclarecida sobre a verdade dos fatos em sua totalidade.

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