O Par Educativo nos Dias Atuais, por Zélia Gouveia

Partimos do que tínhamos como paradigma sobre a escola ser o lócus privilegiado de transmissão e construção de conhecimento e que sob a   situação pandêmica se reconfigura,  ̶  esperemos que provisoriamente.

O Par Educativo nos Dias Atuais

por Zélia Gouveia

Iniciamos esta reflexão, acerca da relação professor/aluno sob a égide da pandemia, considerando a brutal ruptura que se estabeleceu sobre a humanidade e seu viver cotidiano e como afetou, particularmente,  os agentes do processo de aprendizagem/ensino.

O mundo sob ameaça de um novo vírus obriga, à medida que aumenta sua prevalência nos países, que suas sociedades reorganizem suas vidas nas suas mais variadas dimensões, afetando, sobremaneira, áreas como as do trabalho e da educação. Desse modo,  incidindo na rotina de inúmeras famílias, escolas e profissionais.

Partimos do que tínhamos como paradigma sobre a escola ser o lócus privilegiado de transmissão e construção de conhecimento e que sob a   situação pandêmica se reconfigura,  ̶  esperemos que provisoriamente. De um momento para o outro, o sujeito que aprende não precisa mais do ritual de  se organizar para sair de seu ambiente doméstico, da sua relação familiar, para ir ao espaço acadêmico no qual as relações se organizam visando, prioritariamente, o desenvolvimento acadêmico dos sujeitos.

O sentimento que envolve a todos é  o da desordem e do medo. Tudo está fora do lugar. E é sob essas condições e incertezas que está determinado que a “Educação não pode parar”.

O novo ritual para que haja a interação dos agentes entre si e com o conhecimento precisa ser reinventado, não podendo prescindir de mídias tecnológicas para que se faça a comunicação entre eles. Aquele que aprende e  aquele que ensina, cada qual, fica em seu espaço doméstico, ao mesmo tempo em que compartilham um espaço virtual,  não mais dividindo o mesmo espaço escolar. As famílias, muitas delas, participam mais do que deveriam, e, em alguns casos, mais do que podem ou gostariam, desse tempo específico da aprendizagem/ensino. Professoras e professores se expõem, na sua lida, por vezes,muito mais do que estavam preparados. O novo ritual se dá, sem que tivesse havido um planejamento. É um aprender fazendo, quase que no improviso, para muitos. Se constrói em espaços que antes eram designados à privacidade e agora, de certo modo, se tornam “salas de aula”. Professor e aluno, não raro, trocam os papéis, pois o que aprende ensina, ao que está no papel de ensinante, como utilizar as novas ferramentas para que a relação aconteça de modo virtual. O vínculo  entre os agentes vai se reconfigurando mediado por câmeras e microfones.

Sendo  o vínculo entre os agentes do processo de aprendizagem  o disparador do processo de internalização do conhecimento, se faz necessário perceber o que os afeta e como ficam os afetos nessa jornada de ensino/aprendizagem remoto.

A questão que fica é: em que medida, a internalização do conhecimento nesse novo contexto, no qual, a relação interpessoal dos agentes está sofrendo com tantos “novos ruídos”, pode, ao constituir o agente que aprende, causar danos ao seu desenvolvimento como produtor de conhecimento? E: Caso ocorram danos significativos ao desenvolvimento do agente que aprende, como ficará  o agente que ensina ao constatar o fracasso de seu maior objetivo? Em suma, como ficam os corações e mentes envolvidas nessa relação de aprender/ensinar  nos tempos atuais? Quais  sentimentos permearão essa relação entre o par educativo e deles com o conhecimento?

Zélia Gouveia é atriz, professora e pedagoga com especialização em psicopedagogia. Ativista da educação e membro do projeto Escuta Pedagógica que se destina a construir um repositório de laboratórios didático-pedagógicos e vocalização dos experimentos de aprendizagem e educação social e popular.

Redação

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