O planalto dos ventos uivantes, por Luciano Martins Costa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Observatório da Imprensa

NOTICIÁRIO POLÍTICO

O planalto dos ventos uivantes, por Luciano Martins Costa

A semana chega ao fim em clima de incerteza. O PMDB, que enterra solenemente o que restava da herança de Ulysses Guimarães, conforma-se em se tornar instrumento dos presidentes das duas casas legislativas, Renan Calheiros e Eduardo Cunha.

A corda estica de um lado e de outro, mas o que vai definir o resultado do jogo é, como sempre, a economia. Brasília tem assistido, nos últimos dias, a uma intensa movimentação de lobistas e executivos de grandes empresas encarregados das relações institucionais. Esses protagonistas tratam de defender os interesses específicos de seus setores, e corre no chamado mercado que os ajustes anunciados vão acontecer no máximo em um mês.

A imprensa não consegue captar eventos de bastidores, porque, de modo geral, colunistas e repórteres só falam com personagens muito visíveis, com os quais estabelecem os acordos para vazamentos de informações.

A crise política a que assistimos pode ser o sinal superficial de um movimento de grandes proporções, que ameaça levar o PMDB oficialmente para a oposição. Nessa condição, ou o partido abocanha o poder, o que só poderia ocorrer por meio do impeachment da presidente da República, ou verá desidratar-se a estrutura portentosa que montou ao longo de três décadas.

Mas o partido depende de um apoio explícito e incondicional da imprensa, que mantém no centro do palco o senador Renan Calheiros e o deputado Eduardo Cunha, líderes dessa campanha. Interessante observar que o colunista Merval Pereira, do Globo, afirma na edição de sexta-feira (27/3) do jornal que “o PT está morto”, repetindo o que lhe passam as fontes peemedebistas. Como se sabe, são manifestações como essa que estimulam a militância e afirmações provocativas podem colocar no cenário um novo protagonista, com suas bandeiras vermelhas.

Como se pode constatar na leitura cuidadosa das escolhas dos editores e das opiniões de articulistas, o que sai nos jornais é apenas o som do vento. O que sopra no Planalto tanto pode ser sinal de uma tempestade sem precedentes, como a manifestação uivante do vento haragano, que, como o cavalo xucro, muda de direção sem aviso prévio.

Mais um escândalo

Nas entrelinhas do noticiário destacado pelos principais diários constata-se que os dirigentes do Congresso Nacional tentam passar novas ordenações constitucionais com o propósito de alterar as atribuições dos poderes, como a de nomear ministros do Supremo Tribunal Federal, chefes do Ministério Público e das agências reguladoras.

Em algum momento, outros parlamentares haverão de colocar um limite nas ambições de Calheiros e Cunha, por interferirem no equilíbrio das forças institucionais da República. Os presidentes do Senado e da Câmara são movidos pela poderosa energia da sobrevivência: eles sabem que, se a ventania virar, não haverá tapume capaz de salvá-los do envolvimento na Operação Lava Jato.

Pode animá-los a pouca disposição que o sistema da Justiça parece ter para levar adiante os casos que não envolvem diretamente representantes do PT: o chamado “mensalão tucano”, por exemplo, completou um ano na gaveta. Depois que o STF remeteu o caso de volta à primeira instância, em Minas Gerais, não se acrescentou uma vírgula ao processo.

Enquanto isso, o escândalo da Petrobras segue ocupando o noticiário, que ganha um novo caso de corrupção, desta vez envolvendo o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, uma espécie de instância judicial da Receita Federal.

Como sempre, o novo escândalo começa com a divulgação de números volumosos: a suposta quadrilha teria patrocinado a sonegação de ao menos R$ 6 bilhões devidos por 70 grandes empresas, entre as quais são citados o grupo Gerdau e o Banco Safra.

O valor é três vezes superior ao que teria sido desviado da Petrobras.

Então, temos o seguinte quadro: pressionados pela Operação Lava Jato, os dirigentes do Congresso alimentam uma crise política que pode alterar o quadro das alianças partidárias; um novo escândalo coloca em segundo plano o caso da Petrobras; o mercado espera sinais positivos de ajustes para colocar o dinheiro em movimento.

O barulho na imprensa faz pensar que as placas tectônicas se movem sob o chão de Brasília. Mas pode ser apenas o barulho dos ventos uivantes.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1. Os tucanos são como os cylons

    Os tucanos são como os cylons da série  Battlestar Galactica (TV Series 2004–2009). Eles são parecidos com os humanos, mas não são humanos. Eles são programados para destruir a humanidade e tem um plano para derrubar Dilma Rousseff. Ignoram, porém, que todo plano é uma relação de coisas que quase sempre não acontecem. Ha, ha, ha…

  2. Quem não conhece aquela

    Quem não conhece aquela estória do macaco que enfia a mão na cumbuca e por não largar a comida acaba se prendendo e comido.

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