O “pobre de direita” e a esquerda perplexa: um esclarecimento, por Marcos Verlaine

O objetivo deste brevíssimo texto é tentar lançar luz sobre essa incompreensão da militância de esquerda, que a deixa perplexa no debate político, nas redes e nas ruas, e que, portanto, a desalenta

Pobreza atinge principalmente a população negra ou mestiça, que representa 72,7% dos pobres do Brasil

O objetivo deste brevíssimo artigo é tentar lançar luz sobre essa incompreensão da militância de esquerda, que a deixa perplexa no debate político, nas redes e nas ruas, e que, portanto, a desalenta — que é o inconformismo ou revolta com o chamado “pobre de direita”. Vamos tentar entender esse “fenômeno”.

Este debate — que poderia envolver uma compreensão mais clara e esclarecedora sobre a questão das ideologias —, está cada vez mais obscuro e cheio de preconceitos nas redes sociais. Não deveria, pois a internet transborda com boas e alentadas informações sobre as chamadas “ideologias” — esquerda, direita e centro. Fora os livros disponíveis sobre o assunto. Os títulos são incontáveis.

Sobre o que diferencia a esquerda da direita, recomendo a leitura do breve, mas esclarecedor artigo do jornalista Ricardo Cappelli — “A esquerda morreu?1 Quem desejar aprofundar um pouco mais sobre o assunto, sugiro a leitura do livro Direita e Esquerda – razões e significados de uma distinção política, de Norberto Bobbio2.

Como o artigo de Cappelli é absolutamente completo para o que se propõe, não cabe aqui perder tempo com essa temática, pois entendo que o mesmo esgota o assunto de forma clara, objetiva e inteligente. Vale a pena lê-lo!

Assim, o objetivo deste brevíssimo texto é tentar lançar luz sobre essa incompreensão da militância de esquerda, que a deixa perplexa no debate político, nas redes e nas ruas, e que, portanto, a desalenta — que é o inconformismo ou revolta com o chamado “pobre de direita”, que traz consigo também uma carga de perigosos preconceitos3 com a pobreza4. Vamos tentar entender esse “fenômeno”. Há outras “lacrações” pseudo-esquerdistas. Mas “dinamitar” esta já ajuda bastante nesse debate ainda muito rasteiro e precário.

Pré-condição para tomada de consciência política
Uma pessoa pobre tem de ser necessariamente de esquerda? Qual o pré-requisito para sê-lo? Por quê?

Não. Porque não é a condição social ou econômica que determina a tomada de posição política ou determina ainda a consciência político-ideológica e social. Há nessa “exigência” da militância de esquerda contra os mais pobres muita abstração.

O fator determinante é a formação da consciência social, que não se dá imediatamente pelas experiências vividas. Essa formação requer estudo e reflexão. Requer mediações. Do contrário, as favelas e periferias estariam cheias de esquerdistas!

Desse modo, diante da realidade brasileira, é até mais fácil uma pessoa pobre ser de direita. Isto é, alguém que mesmo sendo uma pessoa pobre, sem posses, defenda interesses diametralmente opostos aos seus. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com a eleição de Bolsonaro, quando quase 58 milhões de brasileiros o escolheram presidente da República em 2018.

Por que é mais fácil, mesmo sendo uma pessoa pobre, ser de “direita”?

Ideias dominantes, da classe dominante
Porque, segundo Marx5, “As ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante”. Isto explica, portanto, para quem concordar com essa tese, porque, em geral, os pobres são majoritariamente de “direita”, ainda que sequer essa maioria domine ou compreenda, ao menos rudimentarmente, esse conceito.

Ou seja, como os detentores do poder econômico também detêm os meios de difusão de massa, esses difundem massivamente suas ideias, como as dominantes. Fazem isso, cotidianamente, por meio da chamada indústria cultural, que reproduz aos borbotões as ideias da classe dominante.

Outrossim, diante disso, nada tem de antinatural alguém que seja pobre se posicionar à direita do espectro político. Ao contrário! Nem é preciso uma educação formal para isso. Os meios de comunicação fazem isso no dia a dia e, desse modo, massificam as “ideias dominantes da classe dominante”. Então, por que alguém que é pobre (sem posses) não poderia/deveria ser ou votar na direita?

Não cabe à esquerda essa estupefação ou preconceito em relação a isso. Esse espanto nada mais é que uma espécie de consciência ingênua [da esquerda], que imagina ser possível aprender e/ou apreender algo sobre determinado objeto, no caso o chamado “ser político”, sem mediações, isto é, sem estudo sobre esse determinado objeto. Isso é uma abstração ingênua, portanto, falsa!

Aquisição de consciência de classe e/ou social é resultado ou produto de estudo e reflexão. Não existe conhecimento sem mediação. Ou dito de outro modo: todo conhecimento é mediado.

O pobre não se rebela porque é pobre. Pobre não tem necessariamente que votar na esquerda porque é pobre. Esse raciocínio é ingênuo. Os pobres só irão se rebelar e/ou votar conscientemente ou até mesmo tomar o “céu de assalto” se houver uma consciência e compreensão sobre a estrutura social perversa reinante que lhe massacra.

A esquerda está perdendo no campo da batalha das ideias, porque não está conseguindo se contrapor às ideias dominantes da classe dominante. Para mudar a realidade é preciso compreendê-la.

A dianteira de Bolsonaro, que pauta o debate político a todo momento, e outras incredulidades da cena política ora reinantes são produto dessas e de outras incompreensões.

Por fim, é importante não esquecer que mais de 2/3 desses quase 58 milhões de votos obtidos pelo atual presidente da República outrora foram depositados em Lula (2003-2010) e depois em Dilma (2011-2016).

Marcos Verlaine – Jornalista, analista político e assessor parlamentar licenciado do Diap
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NOTAS

1 Portal Disparada – Ricardo Cappelli: A esquerda morreu? – https://bit.ly/3hC5caS– acesso em 3/01/21

2 BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda – Razões e significados de uma distinção política, 1994. Editora Unesp, 1ª reimpressão, 129 páginas.

3 Revista Imagem – Pesquisadora alerta para discurso preconceituoso contra “pobre de direita” – https://bit.ly/3n8q8Y1 – acesso em 3/01/21

4 DW Notícias – Pobreza extrema cresce no Brasil e afeta 13,5 milhões de pessoas – https://bit.ly/38Ux0mV – acesso em 3/01/21

5 Karl Marx (1818-1883) formulador do que se convencionou chamar “marxismo” morreu pobre, esquecido e sem pátria: exilado em Londres, foi velado por apenas 11 pessoas, incluindo o coveiro. Suas ideias, porém, se refletiriam na vida de bilhões durante o século 20 e ainda refletem. Poucos pensadores exerceram influência política tão clara quanto Marx. Certamente, nenhum foi discutido com tanta paixão — mesmo por leigos. Um pouco disso se deve à missão que Marx julgava ter, hoje estampada em sua lápide: “Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias formas. A questão, no entanto, é mudar o mundo”. Foi com espírito revolucionário que o alemão, com seu amigo e financiador Friedrich Engels, lançou o Manifesto Comunista, em 1848 — texto curto que ainda hoje ofusca sua obra mais célebre e muito mais complexa — O Capital.

Redação

16 Comentários

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  1. É natural a esquerda no Brasil estar perdida, ficou gorda nos gabinetes e perdeu a musculatura que tinha quando andava nas ruas. Prova maior? Foi alijada do poder em 2016 sem resistência alguma,sem disparar um tiro, um miserável tiro. Que saudades de um Brizola com METRALHADORA na mão quando tentaram derrubar Jango. LIDERENÇAS DE ESQUERDA FROUXAS, e posso falar pois que milito nas esquerdas desde a universidade.

  2. A foto é emblemática. O pobre precisa ser um patrimônio da Esquerda. E esta pseudo Esquerda faz de tudo para não acabar com esta pobreza. Sem o tal “pobre”, onde encontrar ouvidos para sua doutrinação fútil? Isto se houvesse uma Esquerda. O que temos é uma Esquerdopatia construída pelo conluio, pela cumplicidade de Golpe Civil Militar arquitetado por baixas patentes de estábulos entre Getúlio Vargas e Luiz Carlos Prestes e Nepotismo de seus Familiares que encamparam esta falácia esquerdopata. Entre eles Tancredo Neves, Leonel Brizola e o Latifundiário Estancieiro João ‘Jango’ Goulart. Latifundiários, Nepotismo, Golpe, Ditadura, Militares, Déspotas, Coronelato Político, Fascismo, misturados ao pretenso Stalinismo Marxista de Luiz Carlos Prestes e Jango. Como será que construímos estes 90 anos de Estado Ditatorial Caudilhista Absolutista Assassino Esquerdopata Fascista? Pobre país rico. A culpa será de quem, diga para nós FILINTO MULLER? Quem comandava suas ações? Mas de muito fácil explicação.

  3. O texto tem dois problemas cruciais e uma obviedade.
    Vamos à obviedade.
    A ideologia dominante é a da classe dominante.
    Ok.
    Nenhum reparo.
    A questão é o que vem depois.
    Sim, há uma propensão a imaginar que a pobreza gere uma tomada de posição política, e que esta posição seria anti-estamento.
    Esse é o erro da esquerda chamado espontaneísmo, ou seja a condição e contradição de classe gera o sentimemto anti-classe.
    Ele até gera, mas os mais pobres tendem, como qualquer ser humano, a aderirem a soluções táticas ou de curto prazo, até porque suas urgências e carências são mais dramáticas e impõem isso.
    No entanto, o texto sugere que alguma mediação ou a mediação dê conta de solucionar o problema.
    Assim o autor sai da hierarquia, quando há um preconceito contra os saberes dos pobres, e vai para a “evangelização” ou paternalismo político.
    (Risos).
    Na chamada guerra ideológica atual há muitos erros da esquerda, mas certamente não residem em sua tentativa de dizer aos pobres que porcos não podem se associar politicamente ao dono da fábrica de bacon.
    Isso tem que ser dito, inclusive reconhecendo que, embora turbada pela ideologia, escolhas políticas são escolhas, que trazem resultados, e mais, processos de mediação não são em si mais bem sucedidos que outros quaisquer, pois não lidamos com autômatos.
    O erro da esquerda (e do autor) é imaginar que o processo de politização é possível dentro das estruturas institucionalizadas, ou seja, que ganharemos a guerra de comunicação nos limites da comunicação consentida e essas chamadas mediações.
    Pobre adere ao rico porque sonha em ser como ele.
    Enquanto tolos keynesianos pregarem a possibilidade de um meio termo, sendo que não há estado de bem estar social possivel à vista, a direita seguirá ganhando espaço com a rejeição popular à política no arranjo capitalista para impor aos pobres mais capitalismo e pobreza.
    Quem deveria estar aproveitando os sentimentos anti política (nós) chora a morte das instituições.
    Trágico.

    1. Felipe, não entendi duas coisas:
      1 – Quando cabe “classe” e quando cabe “estamento”?
      2 – Como seria possível então o “processo de politização”, uma vez que o gradualimo social-democrata – minha escola – não funciona, segundo sua tese?

      1. Nem sempre o conflito de classes leva a compreensão da imperatividade da luta anti-estamento, que em última instância é o cenário onde se dá a luta de classes.
        É o que temos agora: o bolsonarismo(como outra formas de autoritarismo)se aproveitam bem do ressentimemto dos mais pobres em relação aos mais ricos, mas seu compromisso é manter os pobres onde estão, enquanto classe, mesmo que em alguns casos, como na Alemanha nazista, tenha havido algum ganho econômico destas classes pobres.
        Sobre o gradualismo, é simples, ele não funcionou como modelo de superação em nehum lugar.
        Nem ao menos como modelo reformador, porque o capitalismo não se reforma.
        Ele se altera internamente e amplia as suas bases de acumulação.
        E toda sua estrutura social e política está voltada para esta premissa.
        Quando a ptemissa é desafiada, usam o golpe como alternativa.
        Neste sentido, nenhum modelo conseguiu mediar a tomada de consciência.
        Os movimentos de ruptura, é verdade, foram momentos de cisão do tecido (social) descontrolados politicamente, quando movimentos específicos souberam dar a direção destas revoltas anti-políticas.
        Agora, o debate sobre o que se deu depois é outra coisa…

  4. O pobre, que sabe que é pobre, pensa que a única alternativa a esse estado de coisas é ser rico.
    Ou seja, seu raciocínio é binário: se não sou pobre, só posso ser rico. Mas, ainda que a realidade se imponha e ele perceba que as coisas não são tão simples assim, ao menos uma certeza eles retém: eu não sou pobre.
    O pobre de direita – ao menos os que eu conheço, e são muitos, aqui, no Engenho Velho de Brotas, Salvador-BA, inclusive na família – não se julga, de fato, pobre, e não faz a menor idéia do que é “direita”. Para ele, esquerda e direita são como o caviar do Zeca Pagodinho: não sei, nunca vi, só ouço falar.
    Já disse isso aqui, algumas vezes, mas repito: moro em bairros pobres desde que cheguei a Salvador, em 1989.
    E é sintomático (de uns tempos pra cá tenho percebido), que eu diga “moro em bairro pobre”, e não “sou pobre, portanto moro em bairro pobre”. Paciência, ninguém é perfeito. A meu favor, apenas o fato de não ter nascido pobre, e sim remediado, para usar terminologia datada.
    Já há alguns anos, e eu, após a leitura de algum artigo no GGN, ou nos demais blogs progressistas, tinha o costume de compartilhar esses textos no whatsapp da família de minha mulher, no qual fui “entrado” sem a minha anuência, ou com meus irmãos – um, tucano convicto, hoje residente em Manaus (que Deus, ou a sorte, o proteja) e o outro, bolsonarista de ocasião, já devidamente arrependido, pois finalmente aprendeu, na carne, o que é neoliberalismo, coisa que tentei, dentro de minhas limitações, explicar-lhe dezenas de vezes, sem sucesso.
    Nunca obtive uma reação sequer, de ninguém. Nem um mísero “kkkk”.
    Conversando eventualmente – antes, hoje já não tenho a mesma disposição – com esses mesmos interlocutores, não só da família da minha mulher, como também com vizinhos ou mesmo conhecidos, percebi, desde cedo, que alguns ficavam mortalmente ofendidos quando eu insinuava sermos, todos nós, moradores de bairro pobre, pobres.
    Alguns casais, com um ou dois filhos, morando em casa alugada, e renda familiar em torno de 5 a 8 mil reais, igualmente se manifestavam tremendamente contrariados com essa “classificação”.
    Não sei a que atribuir isso.
    O que sei é que não adianta a esquerda produzir toneladas de textos, todos bem fundamentados e com argumentações coerentes e plausíveis: O POBRE NÃO LÊ.
    O pobre não tem condições de absorver um texto, compreendê-lo e criticá-lo, e finalmente, posicionar-se diante do que leu. O povo sequer se detém, hoje, em frente a banca de jornais, para ler manchetes, porque essas coisas não existem mais; só ouve o que o William Bonner – ou o outro canastrão de plantão, nos demais veículos – fala, ou a mais nova cavalice lacradora que circula no whatsapp, ou outra praga qualquer do gênero.
    Penso, com tristeza, em alguém como Paulo Freire, que não queria apenas ensinar o que é um pronome, ou uma equação, ou a diferença entre um planalto e uma planície, mas ensinar o povo a pensar, que é, até hoje um anátema para a classe dominante, na avaliação de um intelectual, ou a encarnação do demônio comunista sobre a terra, na avaliação de quem fala língua que o povo entende.
    E a língua do povo, do pobre, quem domina, hoje, é o bolsonarismo.
    A grande obra da elite brasileira: 521 anos mantendo o povo na ignorância, longe de qualquer possibilidade de acesso ao estudo, e ao desenvolvimento de um mínimo de capacidade crítica.

    1. Muito bonito seu texto. Estive apenas duas vezes em Salvador, sempre na condição de “turista paulistano”, então não dá pra dizer que eu conheço a cidade e sua população, porém não creio que as coisas sejam muito diferentes aqui embaixo, apesar de por causa do tamanho da cidade de São Paulo, os bairros pobres estarem muito longe dos bairros de classe média, onde sempre vivi. Pelo que leio, o perfil social paulistano não muda nada em relação ao que você contou de Salvador.

    2. Os banners de internet não seria um meio de chegar nesses que não curtem leitura? E se tivéssemos uma fábrica desses banners com aspiração de virar meme?

  5. Algumas ideias são tão velhas que me dão dor de cabeça. Situação de classe não leva à consciência de classe (em-si e para-si em termos hegelianos e blablabla).
    Talvez a “esquerda” (qual?) fique perplexa com alguém “exterior” a ela e não consiga entender: será que a “esquerda” é realmente de “esquerda”? Talvez considerem que a solução foi encontrada e resolvida em uma militância política, mas disso pode surgir alguma circunstância que mostre sua consciência fraturada. Quer dizer, faltará, em algum momento, a boa e velha autocrítica (afinal, o seu “para-si” se tornou “em-si” em novo momento dialético) e vai faltar chão.
    Solução: “pobre e de direita”. Ué, mas pra que serve a militância, o slogan surrado “educação e propaganda”?
    Parece que a militância se tornou um exercício de livre iniciativa, um microempreendedorismo na prática com um cartesianismo de vontade (só reflete quem decide refletir).
    Uma pessoa, em uma palestra na TV Boitempo, falou sobre as questões de gênero, raça, identidade e classe, e de que modo, cada uma destas questões, possui alcance e tem limitações. Sintomaticamente, a questão de classe mostrou-se insuficiente, mas a prevalência das discussões atuis sobre as duas primeiras obscureceram as questões de classe. Melhor ainda ler os comentários, sempre agradecidos e “este professor é o máximo” (está na sala de aula, cadê sua lancheira?). É a “militância”, precisando de autorização para pensar o que sempre esteve à luz do dia. Curiosamente, grupos identitários cobram posturas da “esquerda”, mas ela mesma não tem necessariamente consciência de classe (muitos curtem umas fofocas de gente rica, e sua microssociologia transborda de micropreconceitos e tabus): é o “efeito Djamila Ribeiro”, da qual não nutro a menor estima.
    Pequeno-burguês é um termo que deveria voltar à moda.

    1. Como se dizia na França depois da morte do rei Luís XV:
      “Luís XV não morreu, saiu de moda.”
      A frase serve para Marx, ele não morreu, saiu de moda, não serve mais. Procure outra coisa, esquerda, o alemão barbudo escreveu no século XIX, não serve para lidar com essa população de mais de 7 bilhões de pessoas e esse hiper capitalismo do século XXI.

      1. A sua referência a Marx somente faz sentido como erro, de considerar que a “esquerda” toda é marxista. Por isso que pergunto “qual?” (esquerda), para não cometer o erro que você comete. Quanto a Marx, a sua análise econômica continua válida. Compreendo que não esteja preocupado com estas questões, como a substituição do trabalho vivo pelo trabalho morto, por exemplo, mas de celebrar o seu “fracasso” num camarote mórbido. Curiosa mentalidade esta que se diz social-democrata que não se considera de esquerda. Trata-se de uma jabuticaba derivada da confusão entre o termo, a definição e a prática, ou de simples má-fé.

        1. Não má-fé nunca, moço. Falo e escrevo tudo que penso, tentando sempre não ser mal educado ou deselegante. Marx é um historiador, um teórico da história muito bom, não serve mais como inspirador para pensamento e ação política neste século pavoroso que vivemos. A maior potência econômica da Terra é hoje o centro do capitalismo do mundo, mas mantém a bandeira da foice & martelo, mesmo para representar um país que já tem mais de 500 bilionários, segundo as revistas que medem essas coisas; um país onde trabalhadores não têm praticamente nada que se possa chamar de “direitos trabalhistas”, não existe na China nem sequer a noção de acidente de trabalho, descanso remunerado, férias, pagamento de horas extras etc.
          Tenho duas lembranças. Uma vez eu li uma entrevista do Eduardo Gianotti da Fonseca, em que ele contava que ganhou uma bolsa de especialização na Universidade de Oxford, nos anos 1980; lá ele escreveu um paper, que foi devolvido pelo seu orientador com a seguinte anotação: “Ninguém mais fala de Marx nessa universidade, cite outras fontes”. Gianotti conta que ficou perplexo, porque nos anos 80 Marx ainda era a fonte da sabedoria para a USP inteira.
          E uma singela experiência pessoal. Em 2012 eu visitei o túmulo dele no cemitério Highgate, em Londres, levei flores vermelhas em respeito a tudo o que ele representou para o mundo por mais de 150 anos. Quando eu estava lá em pé, em silêncio diante do belo monumento na cabeceira da sepultura, apareceu um grupo de velhos e velhas; eles ergueram o punho esquerdo e começaram a cantar a Internacional em espanhol; eu cantei com eles. Essa imagem me ficou como o símbolo do fim do marxismo fora das faculdades. Não cabe mais no mundo real, apesar de obviamente e mais do que nunca continuarem sendo necessárias todas as bandeiras de defesa dos trabalhadores e dos vulneráveis do mundo. Quando digo que Marx não serve mais como referência para ações políticas, quero dizer que não dá mais para usar o “Manifesto Comunista” ou o capítulo “Um Dia de Trabalho” de “O Capital” como programa. Os instrumentos de exploração do grande capital, de acumulação e reprodução chegaram a um nível de sofisticação, que jamais foi imaginado pelo filósofo alemão.

        2. Tudo isso para dizer que eu nunca acreditei em fim do capitalismo por ação de forças revolucionárias. Termina sempre em ditadura. Acredito em reformas graduais, em arrancar concessões dos capitalistas, uma a uma, passo a passo, como aliás também acredita o Lula.
          Entendo também que deve haver umas 300 esquerdas, tem até jacobinos ainda. Eu falei em esquerda = Marx de um modo genérico, mas que creio seja abrangente de todas as correntes esquerdistas.

  6. A questão fundamental é que as pessoas seguem um conjunto de ideias não baseadas em se essas ideais obedecem as leis da lógica ou não mas sim baseadas em seus valores morais. Por exemplo, uma pessoa egoísta nunca irá ser a favor do comunismo não importa se essa pessoa souber que distribuir a riqueza de modo igualitário seja a maneira mais eficiente de evitar desperdício e produzir mais riqueza.
    Se essa é a causa de todos os problemas, a contradição principal, então em vez de si perguntar como ensinar sobre capitalismo e comunismo? A pergunta que esquerda deveria fazer é como mudar os valores morais do seres humanos?
    Os valores morais, conjunto de coisas que uma pessoas da importância, é aprendido através da experiência mas principalmente na infância. Porém essa explicação está incompleta. O ser humano é um organismo vivo e o comportamento de um organismo é o resultado da interação do ambiente interno do organismo com a interação com o ambiente externo do organismo. O ambiente externo é determinado pela cultura que o ser humano está inserido e o ambiente interno de um organismo é determinado pelo seu material genético.
    Existem pesquisas que mostram que 80% dos seres humanos possuem traços de personalidade que pertencem a tríade negra(https://en.wikipedia.org/wiki/Dark_triad). Esse número é a proporção de pessoas que votaram na esquerda no 1º turno e também o número de deputados de esquerda no congresso nacional.
    A solução então seria de algum modo retirar do material genético do ser humano os traços de personalidade indesejáveis e mantém apenas aqueles que são desejáveis.

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