O PT, o PSDB e a arte de cevar os urubus, por Mauro Santayana

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de Mario R.

O PT, o PSDB e a arte de cevar os urubus, por Mauro Santayana

(Jornal do Brasil) – Se houve um erro recorrente, que pode ser trágico em suas consequências, cometido pela geração que participou da luta pela redemocratização do Brasil, foi permitir que a flor da liberdade e da democracia, germinada naqueles tempos memoráveis, fosse abandonada, à sua própria sorte, no coração do povo, relegada a segundo plano pela batalha, encarniçada e imediatista, das suas diferentes facções, pelo poder.

Perdeu-se a oportunidade – e nisso também devemos nos penitenciar – de aproveitar o impulso democrático, surgido da morte trágica de Tancredo Neves, para se inserir, no currículo escolar de instituições públicas e privadas, obrigatoriamente, o ensino de noções de cidadania e de democracia, assim como o dos Direitos do Homem, estabelecidos na Carta das Nações Unidas, e esse tema poderia ter sido especificamente tratado na Constituição de 1988 e não o foi.

Não se tendo feito isso, naquele momento, a ascensão ao poder de um auto-exilado, o senhor Fernando Henrique Cardoso, poderia ter levado ao enfrentamento dessa mazela histórica, e, mais ainda, pelas mesmas e mais fortes razões – a questão deveria ter sido enfrentada quando da chegada ao poder de um líder sindical oriundo da camada menos favorecida da população, pronto a entender a importância de dar a outras pessoas como ele, o acesso à formação política que lhe permitiu mudar a si mesmo, e tentar, de alguma forma, fazer o mesmo com o seu país.

Em vários anos, nada foi feito, no entanto, nesse sentido.

Mesmo tratando-se de questão fundamental – a de explicar aos brasileiros para além das eventuais campanhas feitas pela Justiça Eleitoral a divisão e a atribuição dos Três Poderes da República, noções do funcionamento do Estado, dos direitos e deveres do cidadão, e de como se processa, por meio do voto, a participação da populaçao – nunca houve, e tratamos do tema muitas vezes, nenhuma iniciativa desse tipo, mesmo que pudesse ter sido adotada, a qualquer momento, por qualquer administração municipal.

Pensou-se, erroneamente, que bastava voltar à eleição, pelo voto direto, do Presidente da República, e redigir e promulgar um novo texto constitucional, para que se consolidasse a Democracia no Brasil.

Na verdade, essas duas circunstâncias deveriam ter sido vistas apenas como o primeiro passo para uma mudança mais efetiva e profunda, que teria de ter começado por uma verdadeira educação cívica e política da população.

Imprimiu-se a Democracia em milhões de exemplares da Constituição da República, mas não nos coraçôes e mentes da população brasileira.

De um povo que vinha, historicamente, de uma série de curtas experiências democráticas, entrecortadas por numerosos golpes, contra-golpes, de todo tipo; educado ao longo das duas décadas anteriores, dentro dos ritos e mitos de uma ditadura que precisava justificar, de forma peremptória, a derrubada de um governo democrático e nacionalista – ungido pelo plebiscito que deu vitória ao presidencialismo – com a desculpa do bovino anticomunismo da Guerra Fria, cego e ideologicamente manipulado a partir de uma potência estrangeira, os Estados Unidos.

À ausência de um programa de educação democrática para a população brasileira – e da defesa da Democracia como parte integrante, permanente, necessária, no nível do Congresso e dos partidos, do discurso político nacional, somou-se, nos últimos tempos, a deletéria criminalização e judicialização da política, antes, depois e durante as campanhas eleitorais.

Assim como parece não perceber que a desestruturação da Petrobras, do BNDES, das grandes empresas de infra-estrutura, de outros bancos públicos, criará um efeito cascata que prejudicará toda a nação, legando-lhe uma vitória de Pirro, caso venha a chegar ao poder em 2018, a oposição também não compreende, que ao incentivar ou se omitir, oficialmente, com relação a ataques à Democracia e aos apelos ao golpismo por parte de alguns segmentos da população, está dando um tiro pela culatra, que só favorecerá uma terceira força, com relação à qual comete terrível engano, se acredita que tem a menor possibilidade de vir a controlar.

A mesma parcela do público radicalmente contrária ao Partido dos Trabalhadores, estende agora, paulatinamente, o processo de criminalização da política ao PSDB e a outros partidos contrários ao PT, e já há quem defenda, na internet, e nas redes sociais, a tese de que o país precisa livrar-se das duas legendas, e de que a saída só virá por meio do rápido surgimento de outra alternativa política, ou de uma intervenção militar.

Bem intencionado na área social, na macroeconomia, em alguns momentos, e em áreas como as Relações Exteriores e a Defesa, e atuando quase sempre sob pressão, o PT cometeu inúmeros erros – e não apenas de ordem política – nos últimos anos.

Deixar de investigar, com o mesmo rigor que vigora agora, certos episódios ocorridos nos oito anos anteriores à sua chegada ao poder, foi um deles.

Abrir a porta a páraquedistas que nada tinham a ver com os ideais de sua origem, atraídos pela perspectiva de poder, também foi um equívoco.

Como foi fechar os olhos para o fato de que alguns de seus militantes estavam caindo, paulatinamente, na tentação de se deixar seduzir e contaminar, também, pelas benesses e possibilidades decorrentes das vitórias nas urnas.

O maior de todos, no entanto, foi se omitir de responder, do começo, àqueles ataques mais espatafurdios, sem outra motivação do que a do ódio e do preconceito, que passou a receber desde que chegou à Presidência da República.

Ao adotar, de forma persistente, essa posição, o PT prestou um terrível, quase irreparável, desserviço à Democracia.

Em um país em que blogueiros são condenados a pagar indenizações por chamar alguém de sacripanta, a própria liturgia do cargo exige que um Presidente ou uma Presidente da República usem a força da Lei para coibir e exemplar quem os qualifica, pública e diuturnamente, na internet, de fdp, ladrão, bandido, assassina, terrorista, vaca, anta, prostituta, etc, etc, etc.

E tal liturgia exige que isso se faça desde a posse, não apenas para preservar a autoridade máxima da República, que a ninguém pertence pessoalmente, já que conferida foi pelo voto de milhões de brasileiros, mas, sobretudo, para defender a democracia em um país e uma região do mundo em que quase sempre esteve ameaçada.

Existe, é claro, a liberdade de expressão, e existem a calúnia, o ataque às instituições, ao Estado de Direito, à Constituição, que ameaçam a estabilidade do país e a paz social, e o governo que se furta a defender tais pressupostos, nos quais se fundamentam Estado e Nação, deveria responsabilizar-se direta, senão criminalmente, por essa omissão.

Se Lula, Dilma, e outras lideranças não se defendem, nem mesmo quando acusadas de crimes como esquartejamento, o PT, como partido, faz o mesmo, e incorre no mesmo erro, ao omitir-se de ampla e coordenada defesa da democracia – e não apenas em proveito próprio – dentro e fora do ambiente virtual.

Em plena ascensão do discurso anticomunista e “anti-bolivariano” – o Brasil agora é um pais “comunista”, com 55 bilhões de reais de lucro para os bancos e 65 bilhões de dólares de Investimento Estrangeiro Direto no ano passado, e perigosos marxistas, como Katia Abreu, Guilherme Afif Domingos e Joaquim Levy no governo – sua militância insiste em se vestir de vermelho como o diabo, como adoram lembrar seus adversários,a cada vez que bota o pé na rua.

Isso, enquanto, estranhamente, abandona, ao mesmo tempo, o espaço de comentários dos grandes portais e redes sociais, lidos pela maioria dos internautas, a golpistas que se apropriam das cores da bandeira, agora até mesmo como slogan.

Ao fazer o que estão fazendo, o Governo, o PT e o PSDB, estão fortalecendo uma terceira força, e especializando-se na perigosa arte de cevar os urubus.

De que se alimenta a extrema direita?

Do ódio, da violência, do preconceito, da criminalização da política, da infiltração e do aparelhamento do estado, do divisionismo, da disseminação terrorista da calúnia, do boato e da desinformação.

No futuro, quando for estudado o curto período de 30 anos que nos separa da redemocratização, será possível ver com clareza – e isso cobrarão os patriotas pósteros, se ainda os houver, nesta Nação – como a hesitação, a imprevisibilidade, a aversão ao planejamento, a anemia partidária e a mais absoluta incompetência por parte da comunicação do PT, principalmente na enumeração e disseminação de dados irrefutáveis; e o irresponsável fomento ao anti-nacionalismo e à paulatina criminalização e judicialização da política, por parte, PSDB à frente, da oposição, conseguiram transformar o país libertário, uno e nacionalista, que emergiu da luta pela Democracia e que reunia milhões de pessoas nas ruas para defender esses ideais há 30 anos, em uma nação fascista, retrógrada, politicamente anacrônica, anti-nacional e conservadora, que reúne, agora, nas ruas, pessoas para atacar o Estado de Direito, a quebra das regras que o sustentam, e a interrupção do processo democrático.

Um país cada vez mais influenciado por uma direita “emergente” e boçal – abjeta e submissa ao estrangeiro e preconceituosa e arrogante com a maioria da população brasileira – estúpida, golpista e violenta, que está estendendo sua influência sobre setores da classe média e do lumpen proletariado, e crescendo, como câncer, na estrutura de administração do estado, na área de segurança, nos meios religiosos, na mídia e na comunicação.

Destruiu-se a aliança entre burguesia nacionalista e trabalhadores, que conduziu o país à Campanha das Diretas e à eleição de Tancredo Neves como primeiro presidente civil, depois de 21 anos de interrupção do processo democrático.

Destruiu-se a articulação das organizações e setores mais importantes da sociedade civil, na defesa do país, do desenvolvimento e da democracia.

Destruiu-se, sobretudo, a esperança e o nacionalismo, que, hoje, só a muito custo persistem, no coração abnegado de patriotas que lutam, como quixotes aguerridos e impolutos, em pequenas organizações, e, sobretudo, na internet, para evitar que a Nação naufrague, definitivamente, em meio à desinformação, ao escolho moral e à apatia suicida da atualidade; ao pesado bombardeio das forças que cobiçam, do exterior, nossas riquezas; e que o Brasil abandone e relegue, como quinto maior país do mundo em território e população, qualquer intenção que já tenha tido de ocupar, de forma altiva e soberana, o lugar que lhe cabe no concerto das Nações.

Quando se vêem brasileiros encaminhando pedidos à Casa Branca de intervenção na vida nacional, defendendo a total privatização, desnacionalização e entrega de nossas maiores empresas, em troca, alegadamente, de comprar, como no país do Tio Sam, por um real um litro de gasolina – se for por esta razão, por que não se mudam para a Venezuela, e vão abastecer seus carros em postos PDVSA, empresa 100% estatal, onde ela está custando 15 centavos ? – tratando meios de comunicação estrangeiros e pseudo organizações de todo tipo sediadas na Europa e nos Estados Unidos como incontestáveis oráculos aos que se deve reverência e obediência absolutas, os inimigos do Brasil riem, e sua boca se enche de saliva, antecipando a divisão e o esgarçamento da nossa sociedade, e nossa entrega e capitulação aos seus ditames, com a definitiva colonização da nossa Pátria, e, sobretudo, da alma brasileira.

Pouco mais há a fazer – correndo o risco de sermos tachados mais uma vez de loucos, ridículos e senis, extintos, e sem mais lugar neste mundo, do que os répteis que outrora cruzavam as planícies de Pangea – do que pregar, como João Batista, no deserto, mastigando os gafanhotos do ódio e do sarcasmo.

É preciso reunir os democratas e os nacionalistas onde os houver, para evitar e se contrapor, de forma inteligente, coordenada, ao fortalecimento descontrolado, já quase inevitável, das forças antidemocráticas e anti-nacionais.

O governo e a oposição – ao menos a mais equilibrada – precisam parar de cevar as aves de rapina, que, dentro, e fora do país, anseiam e já antevêem nossa destruição, e o controle definitivo de nossa população e de nossas riquezas.

Quando acabarem, pelo natural esgotamento e imposição das circunstâncias, os equívocos, as concessões, os enganos, as omissões, as pequenas felonias, as traições à verdade, ao passado e ao futuro, de que se alimentarão os urubus ?

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  1.  Lamento profundamente quando

     Lamento profundamente quando leio neste blog de um jornalista, comentarios denegrindo todos os demais profissionais, devido a nefasta atuação dos veiculos de comunicação tradicionais,os chamados PIGs.

    Alguns chegam a afirmar que os jornalistas são profissionais desnecessarios.

    Que pena, quanta desinformação.

    Nunca a sociedade necessitou tanto de jornalistas.

    É claro que de verdadeiros jornalistas, não de lacaios do patrão.

    Santayana é o exemplo maximo de talento, inteligencia e retidão no exercicio da profissão.

    Ha muitos anos não o vejo, apesar de na minha mocidade ter trabalhado em redações que ele ja dirigia.

    Deve estar com idade avançada,mas sua inteligencia persiste mais avançada ainda, alem da coragem e o dominio total da escrita.

    É um genio.

    Aconselho aos interessados lerem um de seus ultimos textos, abordando as palavras do Papa sobre o dinheiro.

    Trata-se de uma obra prima.

    Emoldurei e a pendurei em cima de minha mesa de trabalho para le-la sempre.

  2. IIrretocável!
    Destaco o

    IIrretocável!

    Destaco o seguinte trecho:

    “O maior de todos, no entanto, foi se omitir de responder, do começo, àqueles ataques mais espatafurdios, sem outra motivação do que a do ódio e do preconceito, que passou a receber desde que chegou à Presidência da República.

    Ao adotar, de forma persistente, essa posição, o PT prestou um terrível, quase irreparável, desserviço à Democracia.

    Em um país em que blogueiros são condenados a pagar indenizações por chamar alguém de sacripanta, a própria liturgia do cargo exige que um Presidente ou uma Presidente da República usem a força da Lei para coibir e exemplar quem os qualifica, pública e diuturnamente, na internet, de fdp, ladrão, bandido, assassina, terrorista, vaca, anta, prostituta, etc, etc, etc.”

  3. Uma das origens do problema

    Uma das origens do problema que enfrentamos hoje e que também tem a ver com a tal de “governabilidade” é que a redemocratização do Brasil teve a participação de grupos, empresas e políticos que participiram do golpe de estado. Depois do golpe estes mesmos seguiram dando apoio ao regime, dividindo o poder com os militares (os governadores, prefeitos de capitais, políticos da ARENA, donos dos grandes veículos de comunicação eram civis, não é?) enquanto foi conveniente. Quando a ditadura começou a fazer água, bandearam-se para a frente liberal, entraram na campanha pelas “diretas-já!”, esqueceram de sua parceria com os militares e empurraram para as pessoas da minha geração a idéia de que os militares é que foram os únicos vilões da história… E estes grupos e pessoas continuaram ao lado do poder. Será que é preciso citar o PFL, do qual um político ocupou vice presidência e este partido teve papel de relêvo nos anos FHC? A origem do PFL foi a ARENA. Tá, o PSDB saiu da presidência, mas, e daí?, aquelas mesmas pessoas que orbitavam o poder continuaram participando da política. Agora o que vemos é que aquelas mesmas forças que fizeram tudo que fizeram neste país nos últimos 50 ou mais estão tentando começar tudo de novo porque veem uma oportunidade de voltar ao comando pleno em vez. Será que os militares estariam dispostos a fazer o trabalho sujo para arcar com a responsabilidade toda mais uma vez?

    Qual foi o grande jornal das diretas-já? A folha. E aquela publicação da abril, não fez até capa com a foto de Osmar Santos e uma legenda que o chamava de locutor das diretas? Não fez até capa com fotos de comícios? No entanto, de que lado estão estes agora, de que lado a folha esteve antes e durante a ditadura? Foi tudo oportunismo político e financeiro.

  4. Democracia e liberdade de expressão – As lições de Aristóteles

    “O maior de todos, no entanto, foi se omitir de responder, do começo, àqueles ataques mais espatafurdios, sem outra motivação do que a do ódio e do preconceito, que passou a receber desde que chegou à Presidência da República.

    Ao adotar, de forma persistente, essa posição, o PT prestou um terrível, quase irreparável, desserviço à Democracia.”

    A esquerda em relação a mídia, parece aqueles pais que foram pobres e muito reprimidos na infância e agora não querem que os filhos passem por “aquilo que passaram”. Talvez não leram, ou esqueceram as lições de Aristóteles na Ética a Nicômaco. Nela, o grande filósofo ensina que a virtude está no caminho do meio.

    “… o homem [sic] que a tudo teme e de tudo foge, não fazendo frente a nada, torna-se um

    covarde, e o homem que não teme absolutamente nada, mas vai ao encontro de todos os perigos, torna-se temerário; e, analogamente, o que se entrega a todos os prazeres e não se abstém de nenhum torna-se intemperante, enquanto o que evita todos os prazeres, como fazem os rústicos, se torna de certo modo insensível.

    A temperança e a coragem, pois, são destruídas pelo excesso e pela falta, e preservadas pela mediania.

    Por isso deveríamos ser educados de uma determinada maneira desde a nossa juventude … a fim de nos deleitarmos e de sofrermos com as coisas que nos devem causar deleite ou sofrimento, pois essa é a educação certa.”

     

    Pois não é que a esquerda em geral e o PT em particular, ao sofrer na juventude as agruras de uma ditadura que a todos silenciava e crescer e prosperar numa democracia livre das amarras da censura, se tornaram pais indolentes. Os traumas de sua juventude e a prosperidade na sua maturidade o fizeram esquecer as lições de Aristóteles sobre as virtudes da mediana, entre a liberdade de expressão e a violência do poder de quem detém o monopólio da narrativa.

    Preservar a democracia é garantir o espaço para o contraditório, impondo limites ao monopólio da comunicação.

    Por mais terrríveis que tenha sido o passado de silêncio, não se pode abrir mão do combater os abusos da liberdade de expressão. Eles também existem, tal qual a mordaça. São dois lados de uma mesma moeda que os antigos militantes de esquerda parece que não conseguem enxergar. 

    De que adianta pedir, implorar, apelar para isenção; se o interesses de poder e lucro se sobrepõe? De que adianta controle remoto, se todos produzem a mesma narrativa?

    É preciso fazer valer a lei contra a propriedade cruzada de meios de comunicação, fortalecer a pluralidade das novas mídias e investir em conteúdo público e acesso à internet (banda larga) para todos.

  5. …os inimigos do Brasil

    …os inimigos do Brasil riem, e sua boca se enche de saliva, antecipando a divisão e o esgarçamento da nossa sociedade, e nossa entrega e capitulação aos seus ditames, com a definitiva colonização da nossa Pátria, e, sobretudo, da alma brasileira…

    Se deixarmos isso acontecer, só mesmo com uma guerra recuperaremos a independência e a soberania.  

  6. Só fatos não adiantam

    Não é só uma questão de fornecer dados inquestionáveis. O governo tem que travar, como diz o Wilson Roberto do blog “Cinegnose”, a “guerrilha semiótica”, para além da batalha da comunicação. Hoje a comunicação se faz dominando corações, não só as mentes. É uma guerra mais sutil e técnica, do ponto de vista da área de comunicação. O PT conseguiu travar essa batalha nas eielções, até pela natureza do que é uma campanha (influenciada pela linguagem publicitária, que é mais nesse caminho da emoção e das figuras indiretas). Mas desmontou tudo no dia seguinte e voltou ao velho modelo “declaração ocasional à imprensa”, que é devidamente manipulada, recortada, girada, colocada de ponta-cabeça etc.

    O site Muda Mais era um bom exemplo de como se fazer essa batalha. No conteúdo, dados inquestionáveis, apoiados em diversas e diversas fontes, mas na linguagem visual, no design: clareza, beleza, cores agradáveis, com forte expressão visual ligando a Dilma a um passado de luta e à ideia de um “coração valente”. Isso formava um todo coerente e visualmente impactante, atingindo simultaneamente a razão e a emoção.

    Essa parte mais formal da comunicação é importantíssima. Não adianta um blog ou um site ser ótimo do ponto de vista ético e de conteúdo se tem o design feio. Simplesmente ninguém lê. É assim. 

    Dou aqui um exemplo também retirado de artigo do Wilson, para entendermos melhor a questão. Qualquer um de nós consegue, 10 minutos após deixar a sala de um cinema, descrever com relativa precisão o roteiro do filme (ou seja, “o que aconteceu”). Isso equivale a um conteúdo, por exemplo, de uma matéria jornalística – é a sua parte mais evidente. Porém, a não ser que você seja alguém da área de cinema, terá dificuldades de dizer qual foi a fotografia utilizada, qual foi o ângulo de câmera e outros detalhes formais, técnicos. Então, pela própria natureza desses recursos (que existem justamente para não serem notados conscientemente), a crítica acaba por recair muito pouco neles. Mas o papel desses recursos é tão, ou mais importante, que o próprio conteúdo em si na hora de atingir o público ideologicamente.

    Os cabeças da comunicação e os jovens talentos acabam indo, quase todos, para o mercado privado. Trabalham em grandes empresas, no mercado publicitário, integram grandes redações (hoje decadentes, é verdade), fazem parte de assessorias de imprensa. A área é um tanto técnica, e diria até mesmo árida, para os não iniciados. Suspeito que muitos aí do governo não fazem a menor ideia desses tais aspectos formais. 

    Não importa mais hoje o que a Dilma fala ou não fala no Jornal Nacional. O que importa é a repercussão do que ela falou nas redes sociais. A edição já domina a própria fala de Dilma – aí já está o primeiro problema. Depois disso, a batalha é perdida uma segunda vez, pela sucessão de memes, de imagens com textos, montagens, dando um segundo significado aquilo que já estava perdido inicialmente pela edição do jornal. Em ambos os processos (redes sociais e edição do jornal), o papel dos defensores do governo, dos progressistas e da esquerda no geral é muito pequeno. 

    Outro exemplo: na sexta-feira imediatamente anterior ao segundo turno das eleições de 2014, a Veja lança capa caluniosa, incluindo Lula e Dilma em denúncias de corrupção. Quase que imediatamente, as redes (empolgadas por causa das eleições) já criaram um tumblr (site de imagens) com paródias da mesma capa da Veja, com piadas envolvendo o tal “Lula e Dilma sabiam”. Por exemplo: o Titanic afundou – Lula e Dilma sabiam! Quem matou Odete Roithman? Lula e Dilma sabiam. E assim por diante.

    Diria que isso foi mais importante, para neutralizar o ataque da Veja, do que dezenas de artigos respeitáveis publicados em blogs e veículos progressistas pro aí espalhados (sem minimizar a importância deles, um importante contraponto à “ideologia única” da grande mídia).

    Não se pode deixar de lado as redes sociais e a sua dinâmica (fundamentada em memes, em imagens rápidas, em montagens divertidas, que se espalham semi-espontaneamente), os aspectos semióticos da comunicação, seus detalhes formais, sua linguagem visual e publicitária. É certo que o governo tem muitos dados a seu favor, mas quem liga? Esses dados precisam vir dentro de um contexto, de apropriação de um espaço comunicativo.

    Há atualmente um vácuo, em termos de comunicação, entre o conservadorismo/anti-governismo da grande imprensa e  o progressismo/governismo dos blogs e portais sujos. Esses últimos ainda não conseguem passar uma noção de neutralidade. O primeiro ainda consegue, para boa parte das pessoas. No meio, temos um espaço imenso para ser ocupado pelas forças progressistas, mas com um viés mais crítico ao governo federal (ou seja, mais progressismo e menos governismo). O desafio aí está em equacionar uma crítica progressista (que quase não aparece hoje) que seja contundente e, ao mesmo tempo, afastada do golpismo.

    Dentro desse mesmo espaço, tem que entrar o entretenimento, o “faits divers”, com a criação de veículos completos, autônomos. Algo agradável de ler, de ver, de ouvir, do início ao fim. Nem eu aguento só circular por blogs sujos, é 90% do tempo falando só de política. Até eu preciso ir àquilo que Paulo Henrique Amorim chama de “PiG” para ter a minha dose de guilty pleasure com algum entretenimento barato. 

    Imagina então quem não tem o menor contato com uma outra visão política…

    A guerra da comunicação vai muito além das simples reproduções de conteúdo e da menção dos fatos. Se ficarmos só nessa, vamos perder o jogo. 

    Recomendo o artigo do Wilson e a sua leitura atenta abaixo.

    http://bit.ly/1Euybpd

  7. A politica histórico-mesquinha no Brasil, em uma frase de Vargas

    Depois de ser a figura política central no Brasil por quase um quarto de século, Getúlio declarou algo como:

    “Em todo esse tempo em que estive no poder sempre recebi pedidos de interesse pessoal ou grupal. Nunca recebi nenhum pedido de interesse do país”.

    Política no Brasil (ainda) resume-se a briga de patotas.

    Embora isto seja verdadeiro em outros países como EUA, Alemanha, Inglaterra, França, Japão, China, Russia, India, Suiça, escandinávia e tantos outros, é também verdadeiro que um percentual variável desta luta, em todas as facções envolvidas é pelo interesse de seus próprios países! 

    No Brasil, a soma algébrica deste percentual é zero. Quando não negativa, em interesses externos aos nossos.

    Pouco adianta reformar a política, a lei. Há que se “reformar” a cultura, principios e valores das pessoas. E isso leva tempo!

    Continuado…

  8. Nada a acrescentar neste

    Nada a acrescentar neste artigo perfeito. Santayana é um craque na análise correta do momeno tenebroso que o país vive, provocado pela desinformação.

  9. É preciso reunir os democratas e os nacionalistas onde os houver

    “É preciso reunir os democratas e os nacionalistas onde os houver, para evitar e se contrapor, de forma inteligente, coordenada” – mas se o PT tanto contribuiu ao longo de sua história: expulsões, opor-se ao CPMF, à Lei de Responsabilidade Fiscal, recusa a assinar a Constituinte, intervenção no Rio de Jneiro (gota dágua pra minha simbólica filiação desfiliar-me formalmente e pela minha consciência ficar tranquila).A DN e intermediários, simpatizantes, militantes de base, mentir que Ciro Gomes era um novo Collor, não se renovar direções, sindicatos ou doidos pra serem cooptados em seus carreirismos (digo, sindicalistas que se rodiziam nas direções), ou mesmíssimos grupos se rodiziando nas direções sindicais, dificultar boicotar novas lideranças, amostras do distanciamento das bases, sem falar que ainda tem quem acredite que as negociações constituem em trocas de amor. E que ninguem pôs a mão no bolso. Cansa essa infantilidade, beatice, como disse Gunter Zibell, ou Irmandade como chamo eu. Sou infiel. Vivas aos infiéis.

  10. O Mauro Santayana (que é um

    O Mauro Santayana (que é um dinossauro stalinista) deste vez tocou fundo no meu coração.

    Estou cansado de passar o ano inteiro trabalhando duro e cumprindo uma das mais nobres missões que a sociedade pode oferecer a alguém (não vou dizer nem onde nem no que estou envolvido, mas envolve crianças) e conviver com a absoluta de infraestrutura do país.

    Estou cansado de a cada 4 anos me oferecerem uma lista de PILANTRAS e SAFADOS para que eu vote neles e perpetue o atual “status quo”…

    Políticos tinham que trabalhar pelo salário que precebiam à época que foram eleitos.

    Polítiicos tinham que ter um (ou no máximo) dois mandatos, sendo proibida a reeleicão.

    Políticos deveriam prestar contas à sociedade. 

    Para aqueles que acham que a Imprensa é submissa ao PIG (ou seja lá que outra coisa vão inventar) eu pergunto: qualk é a alternativa? Silenciar? Deixar os safados (de TODOS os partidos) lndos, leves e soltos?

     

  11. Acho que após a

    Acho que após a redemocratização houve vários equívocos nos currículos escolares.

    Lembro bem da discussão sobre se deveríamos tirar a matéria OSPB ou mudar o conteúdo, assim como tirar a obrigatoriedade de se cantar o Hino Nacional e ensinar quais eram os símbolos pátrios, porque supostamente seria coisa da ditadura.

    Exageros à parte e direcionamento por parte dos militares, sempre achei importante esse conhecimento.

    Isso não foi ensinado e tampouco lições de cidadania, de direitos e deveres.

    Ninguém precisa saber o nome de todos os ministros, mas seria importante saber a divisão dos poderes, as esferas de governo, o que cabe a cada ente federativo etc.

    Ninguém sabe nada e a culpa é da Dilma porque o subprefeito não tapou os buracos ou desentupiu os bueiros.

    Mas o mais insano, foi ter tirado a DITADURA das aulas de História ou descrita como “Revolução Redentora”.

    Vejo professores de História na faixa dos 50 anos, clamando pela volta da ditadura e incutindo isto na cabeça dos alunos.

  12. Que artigo!

     

    Se houvesse algum prêmio de melhor artigo escrito em toda a mídia brasileira nos últimos, digamos, dois meses, este seria um forte concorrente. É daqueles que a gente copia e salva no HD.

  13. Falo isso há anos. é

    Falo isso há anos. é inacreditável que pessoa dol tipo “revoltados on line” escreva o que quiser, calunie, difame e injurie impunemente, porque os caluniados, injuriados e difamados, normalmente do PT, ao invés de enchê-los de processos, ficam de xororô em discursos vazios.

  14. Já estamos divididos
    Já estamos divididos devidamente para que outrem conquiste!
    O pacto não deu certo. Não haverá retorno da submissão dos trabalhadores aos patrões nem com relaçao a ideologia, nem com relaçao a direitos. Resta a revolução? Pelo menos foi assim que ela veio aos russos: como opção de combate unificado aos pretensos invasores europeus. As classes beneficiadas com o feudalismo estavam querendo jogar os trabalhadores ao mar de sangue da 1a guerra (como querem as classes abastadas fazer os pobres pagarem pela crise econômica), e, sem opção, os trabalhadores resolveram então fazer a sua própria batalha junto aos bolcheviques. Nao a toa, a Russia é um país impenetrável e bem armado, e mais preparado que nós para o inimigo tal como mostrou ao derrotar os alemães. Estamos dispostos ou seremos conquistados?

  15. Excelente texto – leitura imprencindível

    Como sempre, uma excelente aula e de uma importância ímpar para os verdadeiros  brasileiros!! Espero que não tenha chegado tarde essa avaliação.

  16. Clap! Clap! Clap! Só faltou

    Clap! Clap! Clap! Só faltou dizer que estes que antinancionais estão infiltrados principalmente nos órgãos aplicadores e ficalizadores da lei e na mídia.

  17. excelente artigo do mestre

    excelente artigo do mestre santayana.

    o parágrafo final é memorável, antológico.

    de que se alimentarão os urubus?

    se eles querem sempre o pior,

    o o que sobrará a eles além da putrefação em que vivem?

  18. texto imperdível

    Obrigado pelo excelente e reflexivo texto. Será que os “autores” do panelaço de varanda gourmet ( que não entra no cálculo de área construída, lubridiando a lei de uso do solo, tem noção de que estão fazendo um mal terrivel à democracia e imaginam que as repecursões política, economicas e sociais serão boas até mesmo para sua parcela de classe social? 

     

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