O que muda com a troca do comando da Polícia Federal? Por Marcelo Auler

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Marcelo Auler
 
GSI indica Segóvia no DPF. O que muda?
 
A unanimidade em torno do nome do novo diretor-geral do Departamento de Polícia Federal (DPF), delegado Fernando Querióz Segóvia Oliveira, reside em um ponto. Todos que o Blog ouviu e o conheceram o consideram um “homem de bem”. Verdade que o conceito em torno do termo pode variar de acordo com o interlocutor.
 
A troca, porém, desperta preocupações. Primeiro por ser de um governo ilegítimo e ocupado por políticos envolvidos em escândalos de corrupção. Isso, como lembrou uma das fontes ouvidas, já faz desacreditar ou gerar preocupação por si só. “Não há o que celebrar. Nada que surja desse governo pode nos gerar boas expectativas“, expôs.
 
Notadamente, as possíveis comemorações por parte de políticos envolvidos em operações que investigam a corrupção que há décadas movimenta o mundo político,  gera preocupação.
 
Os críticos, porém, esquecem um detalhe: o diretor-geral que sai, Leandro Daiello, mesmo tendo sido sustentado no cargo pelo apoio que deu e recebeu da Força Tarefas da Lava Jato, foi o responsável pelo início do sufocamento da mesma.  Na sua gestão, já no governo do acusado Michel Temer, deu-se os cortes de verbas e as remoções de policiais lotados ou cedidos à Superintendência do DPF no Paraná.
 
Antes, no governo de Dilma Rousseff, acusavam-na e seus ministros da Justiça de terem esse objetivo. Mas, ao contrário, o que se viu foi em 2016 o ministro Eugênio Aragão (março a maio) garantir antecipadamente todo o orçamento do DPF para aquele exercício.
 
Aparentemente, porém, erram os que indicam os políticos como os principais padrinhos do novo DG (maneira como é tratado o diretor-geral na instituição). Estes podem até ter torcido por ele. Mas, quem atuou nos bastidores, armou essa troca e se viu contemplado com a mudança foi o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o General de Exército Sergio Westphalen Etchegoyen. Um dos defensores da ditadura civil-militar (1964/85), considerado linha dura, em especial junto a movimentos sociais.
 
Prova clara disso foi a nota publicada na quarta-feira (08/11/17), no Painel da Folha de S.Paulo. Embora feita para negar o envolvimento do GSI nesta troca, ela demonstra justamente o contrário. Não é algo corriqueiro e normal o GSI (entenda-se a  Agência Brasileira de Inteligência – ABIN) vir a público desmentir este ou aquele fato. Ao fazê-lo com relação a um suposto dossiê contrário a Segóvia, sinaliza o seu envolvimento na substituição.
 
A nota Nada consta reitera que “a suposta troca no comando é de competência exclusiva do Ministério da Justiça.” Não foi suposta, já que horas depois foi confirmada. Tampouco foi da exclusividade da Justiça. Afinal, não era o que defendia o ministro da pasta.
 
A depender de Torquato Jardim, não haveria mudanças. Entre seus assessores muito se falou que ele preferia “permanecer com Daiello a perder mais uma para o general“. Perdeu.
 
Digital da ABIN – Em 24 de junho passado, Torquato Jardim criticou a imprensa dizendo que a notícia da troca do diretor da PF era uma “pós verdade“. Na coletiva que convocou, porém, não garantiu a permanência do diretor-geral. Calou-se e não respondeu a perguntas, como noticiaram os jornais, entre eles a própria Folha (25/06/17): Torquato critica ‘pós-verdade’, mas não garante chefe da PF no cargo.
 
O ministro, aos poucos sentiu que não tinha condições de permanecer com Daiello. Afinal, na avaliação geral, o DG não tinha domínio da instituição, estava preso a grupos (em especial, à Força Tarefa da Lava Jato) e manteve a polícia inerte.
 
Mesmo o esvaziamento da Força Tarefa da chamada República de Curitiba ocorrido nesse final de gestão foi algo imposto, em especial pelo corte orçamentário que o governo enfiou goela abaixo de todos.
 
Na busca por um nome que não fosse ligado ao general, Torquato Jardim quedou-se por uma indicação do próprio Daiello: o diretor-executivo da instituição, Rogério Viana Galloro.
 
Chegou a ser flagrado em um almoço no qual dividiu a mesa com os dois delegados. A foto, sem origem aparente, saiu na Coluna do Estadão (1/09/17), da jornalista Andreza Matais. Há quem aposte que o registro tem digitais da ABIN.
 
Na Enciclopédia do Golpe – Ao que parece, chegou ao conhecimento de assessores do ministro que jornalistas já teriam levantado informações sobre Galloro a serem tornadas públicas diante de sua indicação para o cargo. Não se sabe se isto influenciou Torquato Jardim a mudar de posição e desistir das suas indicações. Ele teve, ainda que contrariado, que engolir Segóvia também goela abaixo. Manter Daiello, seria a continuação de um erro.
 
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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Muda o comando. O resto

    Muda o comando. O resto continua tudo a mesma coisa. Tiro ao alvo na Dilma, condução coercitiva e prisão de petistas e blindagem total de tucanos e traficantes aéreos de cocaína (uns não excluem os outros).

  2. Mudança pra melhor com certeza

    O ex- delegado Daielo foi responsável pela operação ” carne fraca” que destruiu as maiores empresas de carne do Brasil, ( e do planeta ), isto jogou centenas de milhares de pais de família na rua, no desemprego, manchou a imagem dos frigoríficos brasileiros no exterior, imagem esta que levou décadas para ser consolidada, bloqueou nossas exportações de carne em dezenas de países. O Brasil, nesta época, se assemelhou a uma nau sem rumo, numa noite tempestuosa.

    Daielo, foi mais uma das ” pérolas ” das nomeações petistas. Junto com outras ” pérolas ” como a nomeção de Cardozo, de Joaquim Barbosa, de Mercadante, e da pŕopria Dilma. Eram nomeações de um republicanismo irresponsável e leviano, que só desastres trouxe ao país.

    Por mais incrível que pareça. Daielo dizia que ” só sairia do cargo, se deixassem ele nomear seu sucessor “, pois queria manter a Lava Jato a todo vapor , quer dizer, o subordinado mandava na ex- presidente Dilma, que obedecia medrosamente.

    ————-

    Deveríamos estar comemorando festivamente a mudança do comando da policia Federal.

    É só por causa destas mudanças tão esperadas, que ainda mantém o odioso presidente Temer no poder, pois sabem que ele tem a coragem que faltou aos governos petistas, para banir o republicanismo do poder.

    Com certeza, a saída deste senhor significará alguns pontos a mais no crescimento do PIB e aumentará a confiança de empresários que queiram investir no país, o que ajudará a reverter o desemprego gigantesco que passamos .

    Mais uma jogada de Mestre do odioso presidente Temer.

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