O rescaldo da tragédia da Arena Kazan, por Lungaretti

O rescaldo da tragédia da Arena Kazan, por Lungaretti

Sempre temos algo a aprender com o grande Tostão, que foi um dos heróis do tri e hoje é o melhor comentarista esportivo do Brasil. Sua coluna deste domingo, 8 (vide aqui) sintetiza otimamente o que foi a tragédia da Arena Kazan:

O treinador Martínez usou a mesma formação tática do México, com quatro defensores, três no meio-campo e três mais adiantados (De Bruyne, pelo centro, e Lukaku e Hazard, um de cada lado). De Bruyne, livre, deitou e rolou.

Por outro lado, a Bélgica marcou mal, já que os três mais adiantados não voltavam. A Bélgica correu riscos. Deixava Marcelo livre e colocava Lukaku em suas costas. Deu certo.

O Brasil também correu riscos. Deu errado. A seleção brasileira criou um grande número de chances de gol e só não marcou por erros de finalizações e pela atuação do goleiro Courtois.

O perigo dessas eliminações são as conclusões tendenciosas, equivocadas e absurdas (…). O Brasil foi eliminado por causa de erros individuais e coletivos, do acaso e, principalmente, porque a Bélgica possui quatro jogadores que estão entre os melhores em suas posições no mundo (Courtois, De Bruyne, Hazard e Lukaku). Temos de deixar a soberba de lado e aprender com o óbvio, que, contra grandes seleções, as chances de vitória são iguais

Farei umas poucas ressalvas. Concordo que fosse mesmo um jogo de grandes seleções, embora a atuação pra lá de inconvincente da Bélgica contra o Japão me tenha levado a subestimá-la; mas não existia igualdade entre ambas, a brasileira era, teoricamente, melhor.

E foi por estar ciente da inferioridade do seu selecionado que o técnico Roberto Martínez (um espanhol que fez carreira medíocre como jogador e depois se tornou treinador de equipes menores do futebol inglês, até assumir o escrete belga em 2016) resolveu partir para o tudo ou nada contra o Brasil, colocando De Bruyne, Lukaku e Hazard à frente da linha da bola, na esperança de que sua defesa fragilizada segurasse as pontas e seu ataque reforçado fizesse gols.

Ou seja, acabou aplicando um nó tático em Tite, que se notabilizou exatamente por dar nós táticos noutros treinadores e assim obter vitórias surpreendentes contra adversários mais fortes.

Gol que desestabilizou o Brasil: uma sucessão de erros

Será que ninguém da Comissão Técnica estava ciente de que Martínez é conhecido como técnico inovador e seria bem capaz de atuar de uma forma inusitada contra o Brasil?!

O resto foi o que todos sabem: 

  • apagão de Philippe Coutinho (este por esgotamento físico), Neymar e Gabriel Jesus, no pior momento possível;
  • o azar de ter Casemiro fora e Fernandinho dentro;
  • o azar de não ter feito um gol logo de cara, na bola que Thiago Silva desajeitadamente empurrou contra a trave;
  • a imprecisão de Renato Augusto, que sucumbiu ao nervosismo e desperdiçou a grande chance que teve no finalzinho da partida; 
  • a insistência de Tite com Gabriel Jesus, Paulinho e Willian;
  • o erro de Tite ao promover o retorno de Marcelo, esburacando a defesa e não resolvendo na frente.

Tite costuma dar nós táticos; levou um no pior momento

Concordo com Tostão quanto ao fato de o Brasil ter sido eliminado por causa de erros individuais e coletivos, e do acaso; e não rasgaria tanta seda para os quatro melhores jogadores belgas, vejo apenas De Bruyne e Hazard como foras de série.

Por último, a grande pergunta é: mesmo Tite não sendo infalível, isto é motivo para jogarmos no lixo o trabalho mais consistente de um treinador do nosso escrete desde o de João Saldanha?

Mais: existe alguém melhor do que ele para tocar a renovação que se impõe a partir de agora (vide aqui)?

Pessoas simples muitas vezes precisam inculpar alguém quando das decepções mais dolorosas. E há também pessoas que não são simples e estão fazendo tudo que podem para direcionar tal catarse contra Tite, o único treinador em décadas que conseguiu isolar a seleção das influências nefastas da cartolagem.

Derrubar Tite abrirá caminho para a CBF voltar a priorizar outros interesses que não os do futebol, como marcar amistosos caça-niqueis, sem justificativa técnica nenhuma; e escalar jogadores apenas para valorizá-los no mercado internacional, em conluio com agentes e pilantras de todo tipo.

É patético que muitos empenhados no afastamento de Tite sejam exatamente os frustrados com o impeachment da Dilma e a prisão do Lula. Parecem querer que todos os circos peguem fogo ao mesmo tempo!

Comportam-se como se o Adenor fosse um mísero Dunga ou um Felipão qualquer, e não um homem politicamente consciente, que utiliza todo seu jogo de cintura para tentar atingir seus (justos) objetivos em meio às contradições brasileiras, mas, sem dúvida nenhuma, um cidadão contrário ao situacionismo. 

Ou seja, alguns que tanto o hostilizam com seus teclados são, além de injustos, míopes.

 

 

Redação

8 Comentários

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  1. Sugiro que o tema futebol e conexos…

    Sugiro que o tema futebol e conexos: Jogadores, times, seleções, copa, boleiros, treinadores e etc. vão à M. e de lá só voltem quando o Brasil sair de lá.

  2. E o tal Lungareti é o sabe

    E o tal Lungareti é o sabe tudo.

    Ele está certo e os outros errado.

    Certo estava eu que apostei que o Brasil não passaria das quartas, contra qualquer time que lá chegasse.

    O nosso futebol não está no mesmo nível de pelo menos umas seis seleções, pode ser mais.

    Digo isto no nível da seleção porque no nível do nosso campeonato nacional dá dó.

    Também pode ser que eu seja um dos frustrados com o impeachment da dilma e a prisão do Lula  e queira mesmo que tudo se foda. Aliás, acho que o Brasil só muda se o pau quebrar.

    Morte a todos os golpistas, sejam do judiciário, mpf, pf, pgr, mídia, empresários, militares, etc etc

  3. Tragédia? Faz Me Rir

    E ninguém sabe que no penúltimo capitulo da Novela o Vilão morre. E no último a Mocinha casa com o Herói? E que EMPATite foi elevado à condição de Gênio, como já haviam feito os Gângsters do Monopólio do Futebol com Lazzaroni, Parreira, Dunga,… Campeões de Copas das Federações ou outros factóides quaisquer para avalizar suas idas ao Mundial. No Mundial do Monopólio, o Monopólio ganha sempre. Ou alguém ainda crê que no Cassino, o maior vencedor é o Jogador? Na manutenção do Monopólio, o maior Lacaio ganhou todo tipo de pagamentos por serviços prestados. “Afinal, os Caras são Gângsters mas são meus Amigos”. Mundialito/Torneio de Verão que ninguém acredita. Nem os próprios, Libertadores, Mundial, Estádio-Esmola com Dinheiro Público, Diretoria de Futebol da Seleção com Sanchés, Comissão Técnica, Treinador, Convocações (inclusive de ex-jogadores em Atividade na China que Europeus compraram na correria e já devolveram. Coincidência?). Restolho dos 7 a 1 mantidos no Elenco. A mesma estrutura criminosa da CBF. Os mesmos parceiros de sempre. O Monopólio mantido com as bençãos do CADE. O Brasil crendo na sua fantasia eterna.    

  4. Burro

    Excelente a análise e Tostão para variar.

    Nelson Rodrigues estava certo em chamar o ‘vídeo-tape’ da partida de ‘burro’, agora reforçado pelo ‘VAR’, pois demolem a ilusão e se ‘a vida é sonho’, o futebol é o sonhar com a ilusão, atendendo a emoção e a paixão e o vídeo-tape e o VAR acordam-nos à realidade nua e crua, não dando margem a dúvidas ou a ilusões, daí a ‘burrice’, por transformarem o futebol apenas em realidade, limando as ilusões e sufocando o sonhar que elas permitem, ao vivo e melhor ainda se nos estádios.

    Belgas e brasileiros suscetíveis a emoção, a paixão e ao ‘comando’ da mídia também ‘ilusionista’, não tem dúvidas que a seleção belga é demais e foi muito superior a do Brasil na partida das quartas de final, da Copa do Mundo na Russia.

    Pois é, se o ‘burro’ do vídeo-tape convence-lo a assisti-lo, sem a emoção, a paixão e as vozes ‘ilusionistas’ do narrador e comentaristas, de forma tranquila, a partida Brasil e Belgica, observará que o Brasil foi superior no todo (a exceção fica por conta dos 15′ aos 35′ do primeiro tempo), só não vencendo, pelo acaso, algumas cochiladas da comissão técnica, listadas no post, e o VAR…, digamos, um tanto quanto “distraído”.

    O problema é castrar a ilusão e junto a emoção, a paixão, além de permitir perceber que o ‘VAR’, as vezes tem lado: Penalti em Gabriel Jesus, na dúvida, reveja o penalti marcado pelo dito na partida França e Austrália.     

  5. Tragédia foi aquilo que

    Tragédia foi aquilo que aconteceu em Mariana, por exemplo. A eliminação do brazil era um possibilidade real e a vitória belga não causou ao país sequer 0,0000000000000000001% do prejuízo que a Samarco provocou. Além disso, desde 1978 estou cansado desta conversinha de “vitória moral”, desde 1982 estou farto da história de que o brazil ganharia 9 em 10 jogos contra a Itália. Em 1990, o time do Lazzaroni foi eliminado graças a uma única jogada bem executada por Maradona e Caniggia. A Bélgica fez os gols e tratou de segurar o resultado, é a mesma coisa que Tite faria se tivesse conseguido 2 gols de vantagem no primeiro tempo. Aí os belgas partiriam pra cima tentando reverter a situação e diriam que a Bélgica jogou muito melhor que o time da CBF/Globo.

  6. Acho que precisamos aprender

    Acho que precisamos aprender um pouco mais de vocabulario.

    Palavras como TRAGEDIA e DRAMA viraram lugar comum no futebol.

    Que TRAGEDIA, meu amigo?

    “Do latim tragoedĭa, o termo tragédia está associado a um género literário e artístico do mesmo nome. Trata-se do tipo de obra dramática com acções fatais que causam espanto e compaixão.”

    Nao tivemos nada disto num time morno, sem criatividade e capitaneado por um cai-cai.

    TRAGEDIA foi Sarriá, em 82, houve ESPANTO e houve DOR/COMPAIXAO.

    Ate 2014 pode ser considerado uma tragedia, pelo ESPANTO, mas nem DOR teve, de tao patetico.

    E o grande, ilustre, Galvao Bueno DEFINE qualquer TOLICE como “vive um DRAMA”.

    “O termo drama é de origem latina e refere-se a qualquer obra que pertença à poesia dramática. Também se conhece como drama a obra de teatro ou o filme que inclua situações maioritariamente tensas e conflituosas.”

    Quem SEMPRE vive um DRAMA é Galvao, é a GLOBO, que nao entrega aos patrocinadores a selecao campea que promete e a cada dia perde mais $$$$.

    Drama? Que Drama? O brasileiro comum nao esta conseguindo nem comer direito, vai “viver um drama” com esta  Selecinha???

    Ah, sejamos pelo menos sóbrios.

     

  7. Ganhar e perder faz parte do

    Ganhar e perder faz parte do jogo. Perdeu mas poderia ter ganho chances a seleção criou.

    Tite fez um bom trabalho. 

    O poder da emissora detentora dos direitos de transmissão se esvai diariamente, por obra do avanço tecnológico.

    Sofremos com o golpe dado contra nossa frágil democracia.

    Talvez uma das lições que podemos ter é a necessidade de uma maior politização do povo. Os bons governos do PT falharam em não produzir uma maior politização do povo. Democracia é um processo contínuo.

    Tragédia é coisa séria: autos índices de violência (oficialmente são mais de 60.000 pessoas assassinadas anualmente); desperdício de rescursos humanos e economicos para combater o uso e comércio de drogas quando na verdade o usuário de drogas deve ser tratado como caso médico; desperdício de recursos na educação através de um modelo que produz milhões de analfabetos funcionais; quinto país do mundo em extensão, mas, o pobre tem que invadir terra para ter onde morar; pessoas sofrendo por não ter atendimento médico; a parcela que deveria ser a elite é a mais atrasada; país que não superou a ditadura militar e nem a escravidão; país dominado pelo individualismo.

    Temos muitas tragédias para superar.

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