O toque de silêncio das classes trabalhadoras, por Sergio Saraiva

Largo da Batata

 

Este ano, o 1º de Maio foi antecipado em alguns dias, começou na última sexta-feira do mês de abril. Sexta-feira santa.

Feriado prolongado, tudo parado como se fosse uma greve geral.

Uma greve sui generis, sem piquete e sem palavras de ordem. E tudo parado, como desencantados, os trabalhadores não foram trabalhar.

Estranha paz reinando nas cidades. Ruas silenciosas como as alamedas dos cemitérios. Comércio, escolas, bancos, fábricas e repartições. Portas fechadas. Tudo parado como se fosse dia de luto. Era dia de luta, feriado nacional.

O valor dos desvalidos se percebe na ausência e não na presença ignorada. E de repente, as manchetes de jornais trouxeram novamente palavras já quase esquecidas, já quase arcaísmos. Sindicato, trabalhadores, reivindicação – greve.

Alguns jornalistas tiveram de consultar os dicionários, já não sabiam como se escreviam essas palavras. Que assento dar a elas?

Outros se encolerizaram com tal petulância: uma greve em dia de semana, em pleno dia de trabalho.

“Vagabundo, gritou o patrão. Não vês o que te dou eu?  Mentira, disse o operário. Não podes dar-me o que é meu”. Versos de um velho poema novamente declamado.

Os poderosos, como o Deus velho e os patos amarelos, estão sempre indignados.

Mas, dessa vez, não sem razão. Haviam se acostumado com os protestos de apoio, por eles mesmos convocados, sempre realizados em fins-de-semana.

Surpreenderam-se com a ausência daquele povo invisível que agora não viam em lugar algum.

Algo acontecia sem a sua permissão. E o operário disse: não.

Em uma reação compreensível, refugiaram-se, os patrões e seus acólitos, na negação: a greve não existiu, tudo não passou de um feriado prolongado. Semana entra e tudo volta ao normal.

Mas não no coração do trabalhador. Como em um cântico negro, que ninguém me diga: “vem por aqui”. Não sei por onde vou, não sei para onde vou, sei que não vou por aí.

Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro. O corte se deu no gesto. O gesto feito em silêncio foi o gesto possível, mas foi um gesto autônomo.

Um toque de silêncio das classes trabalhadoras. Sábio quem o ouviu.

O próximo feriado é em 15 de novembro – dia de eleições.

1º de maio

PS1: para quem ainda não percebeu a grandeza deste 28 de abril de 2017- o mais legítimo 1º de Maio em muito tempo, a Oficina de Concertos Gerais e Poesia recomenda a leitura do texto publicado ano passado nesta mesma data: ”O 1º de Maio não é mais dia santo”.

PS2: as leis das quais necessitamos não são as que protejam o emprego, mas as que protejam o trabahador. Portanto, sinto pelas palavras utilizadas no pronunciamento temerário deste 1º de Maio. Atenazadas entre mesóclises e fibras de papel higiênico. Sim, porque papel aceita qualquer coisa, inclusive merda.

PS3: os que acreditam que a terceirização trará aumento do número de empregos devem ser lembrados de que, durante o período escravagista no Brasil, por 350 anos, os escravos viveram em regime de pleno emprego desfrutando de um único direito trabalhista – o de morrer.

PS4: não se deixe enganar, eles falam em crescimento, pedem que você aceite sacrifícios em nome desse crescimento, mas não discutem quem se apropriará das riquezas geradas, muito menos qual a parte de cada um nisso. 

Redação

4 Comentários

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  1. “Uma greve sui generis, sem

    “Uma greve sui generis, sem piquete e sem palavras de ordem.”

    Náo sei onde o autor do texto estava, mas onde eu estava e em muitas outras cidades existiram sim piquetes nas portas das emrpesas de transporte urbano e muitas e muitas palavras de ordem durante a passeata.

    Será que estava no Facebook?

     

  2. QUANDO A QUADRILHA DO JABURU TOMA O PAIS DE ASSALTO

    QUANDO A INJUSTIÇA SE TORNA LEI… A REBELIÃO TORNA-SE UM DEVER”.

     

    A HORA É : POVO NAS RUAS.

     

    O ESTADO MODERNO É SIMPLESMENTE UMA INSTITUIÇÃO CRIMINOSA

    “QUE DEU “CERTO”.

              A prova inequivoca da veracidade desse pensamento é o desfecho do golpe institucional, sofrido por um governo legítimo e democrático, referendado pela justiça cega, parlamento corrupto e pela mídia aristocrática. A quadrilha do Jaburu, tomou o pais de assalto, em um golpe sorrateiro com o apoio das instituições criminalizadas e da imprensa aristocrática tradicionalmente golpista. Desrespeitou-se a opção referendada nas urnas por  54 milhões cidadãos brasileiros, que votaram  em um projeto de governo e foram subestimados pela iniciativa de 360 deputados 61 senadores, majoritorialmente investigados e denunciados em atos generalizados de corrupção.

             Equivocaram-se, acreditaram na ingênua possibilidade da renúncia da Presidente eleita Dilma. Historicamente mal acostumados, quebraram a cara. Esqueceram que a dona é que nem vara verde, enverga mas não quebra. Grande exemplo de liderança feminina a ser  seguida, incondicionalmente, por todos nós.

              Cabe aqui salientar que, aqui no nosso Brasil, golpe institucional é meramente uma trágica tradição. Com 500 anos de existência, 120 anos de independencia enquanto pais, nossa República da Bananada, nossa adolescente democracia, tem apenas 50 anos, sendo porem, constantemente interrompida por sucessivos golpes institucional de estado. Tais fatos, possivelmente nòs ajude a compreender o motivo, pelo qual, sejamos de fato uma economia pujante, (9º maior PIB), ao passo de determos o vergonhoso Índice de desenvolvimento Humano (62o IDH), do nosso planeta. Em se tratando da América Latina ficamos em situação conforavel somente quando comparado à Venezuela.

              Mas por que devemos nòs permitir ser governado pela Quadrilha do Jaburu, por um governo ilegítimo, cujo vice- presidente, sem aprovação popular, rotineiramente se esconde do povo, se borra com poucas vaias ?. Por que acreditar na capacidade técnica e política de um governo usurpador, formado por um ministério com 13 nótaveis ministros denunciados em inquéritos da Lava Jato ?. Por que permitir que a conta da robalheira patrocinado por esses “notáveis” corruptos recaiam sobre o bolso do humilde trabalhador??.

              Dificil entender  como o cidadão brasileiro é capaz de matar  par subtrair um simples aparelho  celular do seu próximo, é capaz de se armar-se  até os dentes para traficar drogras, mas é incapaz de armar-se politicamente par defender-se de um ESTADO CRIMINOSO DE DIREITO. Tomaram o Brasil de assalto e agora já não sabem exatemente o que fazer. A a economia se disolve, a sociedade se marginaliza. O jogo de improviso é a regra. A ordem por hora é o caus notavelmente estabelecido.

              Mas o barulho dos indignados e mais forte que o silêncio dos omissos. Em respeito e reconhecimento a todos aqueles que deram suas vidas pela DEMOCRACIA, à dor dos familiares, que não tiveram a oportunidade de enterrar os corpos  dos seus filhos, vitimados pelo GOLPE MILITAR, mas sobretudo por um compromisso maior, por um futuro mais digno para os nossos filhos, devemos sim fechar esse trágico livro e escrever uma nova história. Os novos versos a serem escritos propõem ao povo ocuparem as ruas, em forma de manifestações, sem pedir licença e autorização a nenhuma instituição criminosa que representa o aparelho de segurança desse estado criminoso. Afinal de contas é um direito absolutamente constitucional e como tal, está a disposição para ser exercido por todo e quaisquer cidadão plenamente consciente.

              Caso a aventura evolua para a segunda fase do golpe jurídico-parlamentar e este venha a se concretizar, tornando o Presedente Lula um preso político, esse seguramente será tratado como heroi. A partir desse momento o AI-5, sob uma nova configuração do golpe institucional jurídico-parlamentar estará instaurado. Sendo assim esgota-se toda possibilidade a discursão pela vias políticas, dando assim margens para que todo tipo de revolta e indginação oculpem os espaços públicos e privados. Novas formas de instrumentação e intervenção política, aconvencionais seguramente surgirão e serão aplicadas, seguindo a receita das medidas amplamente adotadas e aplicadas pela resistência ao golpe militar instaurado no nosso pais, em passado recente.

              Quanto a repressão, não devemos nos preocupar, a história da humanidade resume-se aos conflitos de classes sociais. Fazer oposição política a um governo ilegítimo, usurpador, como todos sabem, é uma tarefa bem mais fácil do que governar. As eventuais sequelas provocadas pela máquina estatal de repressão, a despeito das que já veem sendo utilizadas, ficarão mais uma vez registradas nos autos da história da Republica da Bananada e dessa forma deverão ser objeto de preocupação daqueles que as praticam. Que o Estado Criminoso recorra a todas elas. O tempo e a história lhes darão a avaliação e as credencias necessárias.

    “Quando a injustiça se torna lei… a rebelião torna-se um dever”.

     

    NÃO DEVER, NÃO TEMER!!!.

    Abraços, a todos que se permitem indignar-se

  3. Todo sindicalista é trabalhador mas nem todo operário é sindical

    O Jornal ilustra a greve com uma foto e afirma que os sindicalistas, e não os trabalhadores, estão nas ruas.

    Se todo sindicalista é trabalhador mas nem todo trabalhador é sindicalista, o jornal tenta negar a realidade ao sustentar que tinha sindicalistas na rua, e não trabalhadores.

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