O triste Brasil sem ferrovias e sem prioridades, por José Manoel Ferreira Gonçalves

O setor vive entregue à própria sorte, sem nenhuma diretriz ou planejamento, a mercê de empresas que já estão há décadas com a concessão das ferrovias

O triste Brasil sem ferrovias e sem prioridades

por José Manoel Ferreira Gonçalves

Em recente conversa com empresários, o governo federal sinalizou que não é prioridade da atual gestão articular uma política de Estado de longo prazo para a expansão do transporte ferroviário de passageiros, em que pese os técnicos da infraestrutura apontarem o enorme potencial que as viagens sobre trilhos possuem para a integração e o desenvolvimento econômico do país.

Ora, num país em que a saúde pública é tratada pelas autoridades com negligência não é surpresa que assuntos como as ferrovias não comovam o atual governo. O setor, na verdade, está abandonado. Vive entregue à própria sorte, sem nenhuma diretriz ou planejamento, a mercê de empresas que já estão há décadas com a concessão de nossas ferrovias nas mãos, sem nenhum benefício ao transporte de passageiros e, não raro, contribuindo com sua inoperância para a dilapidação de um patrimônio que deveria estar a serviço da população.

Sem uma política de desenvolvimento para as ferrovias, vimos as prorrogações de contrato se tornarem a norma, fundamentadas em promessas de investimentos que só beneficiam os detentores das concessões. Preocupações limitadas, como o aumento da receita com a exploração das ferrovias, dominam as tratativas que deveriam girar em torno de um planejamento a longo prazo.

Tivemos a oportunidade de avançar no diálogo sobre investimentos públicos e privados em ferrovias quando aconteceu a grande greve dos caminhoneiros, em 2018. Mas a sociedade civil não deu atenção à necessidade de resgatarmos o modal ferroviário como alternativa para o transporte de passageiros e também para o transporte de carga. Todas as nações continentais reservam às ferrovias um papel preponderante na movimentação de grandes cargas e passageiros, com segurança e menor custo energético. A exceção é o Brasil.

Temos 30 mil quilômetros de trilhos, mas a maior parte está desativada devido ao descaso e o desgaste temporal. Os poucos trechos operantes recebem composições que funcionam à velocidade média de inacreditáveis 15 km/h.

É o retrato de um Brasil sem ferrovias e sem esperança.

*José Manoel Ferreira Gonçalves é engenheiro, jornalista, advogado, professor doutor, pós-graduado em Ciência Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, integrante do Engenheiros pela Democracia e presidente da Ferrofrente.

Redação

5 Comentários

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  1. Pois é, mas noa “anos milagrosos” do ociólogo, venderam tudoi com o engodo de que teriamos trens cortando o pais de norte a sul………..e ainda tentam, décadas depoiis, nos enganar com privatizações

  2. Uma Maria Fumaça de 1891 seria ainda uma revolução no transporte ferroviário e sua lentidão:
    “O Empire State Express foi um dos trens de passageiros nomeados e outrora carro-chefe da New York Central and Hudson River Railroad (um predecessor da mais tarde New York Central Railroad ). Em 14 de setembro de 1891, cobriu 436 milhas (702 quilômetros) entre a cidade de Nova York e Buffalo em 7 horas e 6 minutos (incluindo paradas), com média de 61,4 milhas por hora (98,8 km / h), com uma velocidade máxima de 82 mph (132 km / h).”

  3. ….esse modelo adotado eliminou uma série de empresas como a nossa velha COBRASMA em Osasco-SP e, milhares de outras pequenas empresas e, por consequencia milhares de empregos. Como referencia, nos anos 70 – os mais velhos vão lembrar – apenas citando a linha Sorocabana, saindo da estação Julio Prestes – tínhamos os super luxuosos trens suburbios, que eu usava todos fins de semana, indo e voltando para minha cidade de S. Roque, além dos trens de longo percurso até Presiente Prudente, com vagões restaurante, dormitório, 1a. e 2a. classe. A impressão que tenho que regredimos há mais de 100 anos. Perdemos qualidade de vida, empregos , em troca de quê?

  4. Tomei o trem de prata ate SP. Dai tomei um trem ate Joao Pessoa. Levou muito tempo. Paravamos no cerrado e de manha viamos gente chegando pra vender o “cafe da manha”. No caminho o trem parava pra desce gente, comprar de tudo que era possivel e imaginavel, da agricultura destes locais. Viajem maravilhosa. Gente fina e amiga.
    Alem disso fui de Pirapora a Juazeiro pelo Sao Francisco, antes de destruirem o Rio com diques e mergulhar cidades inteiras em agua.

    Ai que saudade que tenho/Da aurora da minha vida/ Daminha juventude querida/ Que os tempos nao trazem mais.
    Vivi um Brasil incrivel, solidario, fraterno e acima de tudo de portas e coracoes abertos.

  5. O artigo poderia ter destacado o impulso que o setor ferroviário tomou com as obras do PAC, com destaque para a conclusão do projeto original da Ferrovia Norte-Sul, sua extensão até SP e outras obras importantes.

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