O vírus da desinformação pode matar também, por Silvia Ferraro e Ana Maria Mello

Uma resposta ao jornalista Demétrio Magnoli

O vírus da desinformação pode matar também

Uma resposta ao jornalista Demétrio Magnoli

por Silvia Ferraro e Ana Maria Mello

Nesta quarta-feira (05), a Câmara dos Vereadores de São Paulo aprovou o PL 452/2020, que pretende criar as condições para um retorno às aulas presenciais na rede de ensino municipal. O projeto vem enfrentando uma ampla resistência de educadores e especialistas da área da saúde por não garantir a segurança sanitária da comunidade escolar, além de aprofundar as desigualdades e a privatização na educação.

Na contramão desse movimento, o articulista Demétrio Magnoli escreveu recentemente um artigo, intitulado “Um ano sem aula cobrará preço devastador em vidas intelectuais e profissionais amputadas” (Folha de S.Paulo, 01/08/20), no qual não só defende o retorno às aulas, como também desqualifica as posições contrárias a ele, principalmente as dos trabalhadores da educação.

Foi Miguel Nicolelis, o médico e neurocientista que coordena o Projeto Mandacaru,  quem afirmou: “nesta autêntica guerra que atinge e envolve a todos, seria necessário contar com a voz firme e coerente de pessoas que orientassem a população, e que ajudassem sobretudo os que estão na frente de batalha a realizarem as tarefas essenciais para a sociedade”. Esse conselho vale perfeitamente para Demétrio Magnoli

O texto de Demétrio, que se propõe a trabalhar voluntariamente para o governo do estado de São Paulo, substituindo o que ele chamou de “professores recalcitrantes” até a disponibilidade das vacinas, revela uma enorme desinformação. Será que o jornalista não sabe que as escolas do estado operam hoje com seus gestores e suas professoras e professores trabalhando de forma remota e/ou visitando estudantes vulneráveis, atendendo a casos extremos? Não paramos de trabalhar, não estamos em férias.

Alertamos, prezado professor, que o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) emitiu uma nota pública sobre o tema, afirmando “ser temerário o retorno às atividades presenciais em um momento em que os dados disponibilizados nos relatórios oficiais do Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde evidenciam que a taxa de contaminação pelo novo coronavírus está em crescimento”.

Destacamos ainda que a Fundação Oswaldo Cruz publicou uma nota (22/07/20) afirmando que: “A volta às aulas pode representar um perigo a mais para cerca de 9,3 milhões de brasileiros (4,4% da população total) que são idosos ou adultos (com 18 anos ou mais) com problemas crônicos de saúde e que pertencem a grupos de risco de Covid-19. Isso porque eles vivem na mesma casa que crianças e adolescentes em idade escolar (entre 3 a 17 anos)”.

Salientam o CONANDA e a FioCruz, igualmente, que vários estudos elucidam os perigos de um retorno prematuro das atividades escolares. A FioCruz publicou 11 critérios para o retorno das atividades presenciais. Confira, caro professor voluntário, e compare-os com as condições as escolas brasileiras, públicas e privadas.

Nós também queremos que estudantes possam voltar às cadeiras e espaços escolares, mas isso só poderá ocorrer quando não correrem o risco de passarem pelas camas frias de um necrotério. Infelizmente, a desinformação de Demétrio Magnoli resulta em ideias que ignoram esse perigo.

Silvia Ferraro é professora da rede pública municipal de São Paulo e pré-cocandidata à vereança na cidade pela pré-candidatura coletiva Bancada Feminista do PSOL.

Ana Maria Mello é doutora em Psicologia da Educação pela USP e coordenadora da Frente Nordeste Criança.

Redação

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